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17 de novembro de 2020

Ataque hacker na eleição vira arma política de desinformação para apoiadores do presidente Bolsonaro

No domingo (15), quase 500 páginas de apoiadores do presidente Bolsonaro e outras páginas de direita se uniram no Facebook visando a defesa do voto impresso, para questionar a integridade das urnas eletrônicas e do TSE.

O movimento foi crescendo conforme informações sobre a possibilidade de um ataque de negação de serviço e um vazamento de dados antigos do tribunal foram divulgados no fim da manhã da votação, resultando em um atraso nunca visto antes.

Segundo especialistas, o DDoSS, alegado pelo TSE, não tem interferência direta com a lentidão da apuração.

Houve um monitoramento de um grupo de apoiadores do presidente Bolsonaro, incluindo investigados no inquérito envolvendo as fakes news, que acontece desde outubro em inúmeras postagens que questionam a credibilidade do TSE, bem como a segurança das urnas. Esse monitoramento foi realizado pela organização SaferNet, que também investiga uma provável operação coordenada para os ataques hacker no dia das eleições municipais. 

Uma publicação com a imagem de uma pessoa com a máscara do grupo hacker Anonymous e uma frase do empresário Winston Ling que dizia: "Em dia de eleição, TSE é hackeado ? Hoje, 15/11, dia das eleições municipais, o grupo hacker Cyber Team anunciou que invadiu os servidores do TSE, e para comprovar o ator, expôs uma base de dados da entidade". Esse post foi realizado pelo perfil da parlamentar Bia Kicis (PSL-DF) e foi compartilhada centenas de vezes por grupos e páginas de bolsonaristas e outras figuras da direita, como o escritor Olavo de Carvalho e o ex-ministro da justiça Sergio Moro.

O grupo reivindicou o ataque e o TSE confirmou o vazamento de dados, porém afirmaram que a ofensiva não comprometeu o pleito, agências de checagem julgaram que o conteúdo disseminado era parcialmente falso.

As redes sociais Facebook e Twitter disseram que não tem um balanço sobre os posts rotulados para compartilhar, já o Google afirmou que "em anúncios, não permitimos mensagens sensacionalistas ou que se vinculam a eventos de comoção nacional. Conteúdos que violam nossas políticas podem ser removidos imediatamente das nossas plataformas."

A deputada Bia Kicis afirmou a Folha que não insinuou fraude, já Ling não respondeu aos questionamentos sobre a postagem. Além destes, as mensagens de outros parlamentares apoiadores do presidente Bolsonaro viralizaram nos grupos de direita, como do deputado Filipe Barros (PSL-PR) e da deputada Alê Silva (PSL-MG).

O blogueiro e bolsonarista Oswaldo Eustáquio, escreveu em sua página do Twitter, sem nenhuma prova que "a esquerda está decidindo quem vai para o segundo turno" acompanhada da hashtag fraudenaseleições. Vale lembrar que em junho o mesmo foi preso no âmbito das investigações sobre atos antidemocráticos.

Entre as mensagens que foram compartilhadas pelos internautas, há crítica às urnas eletrônicas, pedidos pelo voto impresso e a acusação de fraude nas eleições.

A segurança das urnas eletrônicas brasileiras tem sido tema de discussão na comunidade cientifica há anos. 

Segundo o professor Diego Aranha, uma das principais referências do assunto, o grupo de conspiradores fizeram uso da crítica para justificar os argumentos técnicos que não se sustentam, como se as urnas fossem compradas de China ou da Venezuela e que o país estaria sob influência internacional. O mesmo é defensor de um sistema que permita maior auditoria às urnas, mas também afirma, que se baseando no conjunto de evidências possíveis de se coletar hoje, não houve nenhuma fraude que tenha impactado as eleições municipais. 

Os ataques cibernéticos ao TSE foram feitos por diversão e como miniprotesto sobre os estabelecimentos prisionais, que foi reivindicado pelo grupo hacktivista Cyber Team e foi afirmado à Folha por e-mail por um dos líderes do grupo, que também disse que o grupo não gosta do governo e que invadiu o TSE para demonstrar a vulnerabilidade do mesmo.