by Estrangeira |
Estou lendo O Livro Negro do Cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus, que conta a história menos agradável dos cristãos desde seus primeiros tempos. Embora saibamos por alto dos crimes da Inquisição e das Cruzadas, é intrigante ver que de lá para cá pouca coisa mudou (talvez apenas os métodos de tortura dos chamados "hereges", os contrários aos poderosos das religiões - e denominações - cristãs).
Abaixo alguns trechos deste livro dos autores Jacopo Fo, Sergio Tomat e Laura Malucelli. E pensar que Jesus nos ensinava, entre outras coisas, a amar nossos inimigos...
"No século X, começam a nascer em toda a Europa grupos de fiéis que pregam e aplicam a comunidade do bem, a fraternidade, e recusam a autoridade eclesiástica. Combatendo esses movimentos, as hierarquias eclesiásticas e nobres (que muitas vezes são a mesma coisa) se organizam para exterminar os habitantes de regiões inteiras, condenando os sobreviventes ao suplício público. No ápice dessa perseguição, muitas pessoas são torturadas e assassinadas de formas horrendas apenas por TEREM APOIADO A TESE DE QUE JESUS E OS APÓSTOLOS NÃO POSSUÍAM RIQUEZAS OU BENS MATERIAIS (...)." [grifo nosso]
"(...) Constantino é aquele que adota o cristianismo como religião oficial do Império. O mesmo imperador que mandou matar o próprio filho, a mulher, o sogro e o cunhado. Reza a lenda que Jesus apareceu para ele e lhe prometeu vitória na batalha em troca da adoção do cristianismo como única religião do 'mundo civilizado' e do uso do símbolo da cruz, alçado de forma triunfante na batalha. Naturalmente, nem todos os seguidores de Jesus concordaram com esse pacto, que implicava uma verdadeira renúncia aos valores cristãos fundamentais. E, então, um dos primeiros gestos cristãos do Constantino foi perseguir todos os cristãos que seguiam o Evangelho literalmente e, assim, forçosamente, estavam em conflito com os devotos do poder. Um sem-número deles foi morto, outros tantos acabaram no exílio, desprovidos de qualquer bem, outros foram reduzidos à escravidão."
"Estes [os valdenses] devem seu nome a Pierre Valdo (ou Valdense), rico mercador de Lyon, que abriu mão de seus bens, doando-os aos necessitados, e, em 1176, reuniu um grupo de paupérrimos pregadores errantes. [...] Os valdenses atacavam a corrupção na Igreja romana e atribuíam o sacerdócio a todos os fiéis, homens ou mulheres. Para eles, todo bom cristão tinha o direito de pregar, absolver dos pecados e ministrar os sacramentos. Rejeitavam a comunhão, as orações pelos mortos, as indulgências, a confissão, a penitência, os hinos cantados, a récita de ladainhas em latim e a adoração aos santos. [...] A conduta dos valdenses era irrepreensível: eram trabalhadores operários e humildes, vestiam-se de forma simples, esquivavam-se dos ataques de raiva e evitavam as formas de prazer terreno, como a dança ou a reunião em tabernas. Mas sua vida pacífica e a popularidade não conseguiram salvá-los. Alguns acabaram na fogueira em Estrasburgo, em 1212. O Concílio de Latrão os condenou definitivamente em 1215, e em seguida tiveram de enfrentar também os ataques da Inquisição, que prendeu centenas deles. Em 1393, foram queimados na fogueira 150 valdenses em um único dia.[...]"
"Nem as ordens reconhecidas pela Igreja escaparam da acusação de heresia. Antes mesmo da morte de seu santo fundador, os franciscanos se dividiam em duas correntes: os conventuais, favoráveis a uma flexibilização da regra de pobreza, e os espirituais, também chamados de zelosos, fiéis à regra original e fortemente críticos em relação à Igreja. [...] Sua [dos franciscanos espirituais] heresia consistia em pregar as profecias apocalípticas que circulavam no meio franciscano, mas principalmente na interpretação extrema da regra da pobreza. A afirmação de que 'Cristo e os apóstolos não possuíam nenhum bem' custou a fogueira a nove deles durante o pontificado de Urbano IV (1261-1264). A partir de 1316, o papa João XXII (1316-1334), condenado pelos "fraticelli" [franciscanos espirituais] como o anticristo, ordenou sua perseguição. Em 1322, a assembléia geral dos frades menores (os franciscanos espirituais) assumiu sua posição no debate teológico, declarando que 'Cristo e os apóstolos haviam vivido em pobreza absoluta'. No ano seguinte, o pontífice declarou heréticas as teses franciscanas e ordenou que a Inquisição perseguisse quem quer que as defendesse. Nos anos sucessivos, vários freis católicos acabaram na fogueira [...]."
"Pareceria lógico, portanto, que a Igreja da época promovesse energicamente a tradução da Bíblia para as novas línguas nacionais, de modo que os fiéis pudessem, se não estudá-las (pouquíssimos sabiam ler e escrever), pelo menos ouvi-la em uma língua compreensível. Mas não. Pelo contrário, a partir do século XIII, todas as tentativas de tornar as Escrituras compreensíveis para o povo foram condenadas e seus artífices foram perseguidos. Por quê? Os hereges e aqueles que contestavam o poder da Igreja utilizavam as Sagradas Escrituras para demonstrar para o povo como a Igreja oficial havia se distanciado do mandamento evangélico originário de pobreza e humildade. Em 1199, o papa Inocêncio III (o promotor da Cruzada contra os cátaros) lançou-se contra os leigos, homens e mulheres que 'em reuniões secretas chamaram para si o direito de expor os escritos e pregar uns aos outros'. Em 1229, o Concílio de Toulouse, convocado no sul da França, onde haviam sido exterminadas dezenas de milhares de hereges, proibiu que os leigos possuíssem e lessem a Bíblia, especialmente aquela em língua vulgar, com exceção dos Salmos e dos passos contidos nos breviários autorizados. De fato, o estudo e a pregação da Bíblia eram atividades reservadas ao clero. Os que ousavam infringir o status quo corriam o risco de ser acusados de heresia e mandados para a fogueira. É possível até afirmar que, a partir dessa época, não houve mais processo contra hereges em que os réus não fossem acusados também de 'tradução e leitura não autorizada dos Evangelhos'."
"[...] Eis o que escreveu uma comissão de prelados sobre o assunto, em um relatório enviado ao papa em 1553: É preciso fazer todos os esforços possíveis para que a leitura do Evangelho seja permitida o mínimo possível... O pouco que se lê na missa já basta, que ler mais do que aquilo não seja permitido a quem quer que seja. Enquanto os homens se contentaram com aquele pouco, os interesses de Vossa Santidade prosperaram, mas quando se quis ler mais, começaram a ficar prejudicados. Em suma, aquele livro [o Evangelho] foi o que, mais que qualquer outro, suscitou contra nós aqueles turbilhões e tempestades em que por pouco não nos perdemos inteiramente. E se alguém o examinar inteira e cuidadosamente e depois comparar as instruções da Bíblia com o que se faz nas nossas igrejas, perceberá logo as divergências e verá que nossa doutrina muitas vezes é diferente e, mais ainda, contrária ao texto: o que quer que o povo entendesse, não pararia de reclamar de nós até que tudo fosse divulgado, e então nos tornaríamos objeto de desprezo e de ódio de todo o mundo. Por isso, é preciso tirar a Bíblia da vista do povo, mas com grande cautela, para não dar ensejo a tumultos."
Qualquer semelhança com parte das igrejas ditas evangélicas (não) é mera coincidência. Sinal que "evoluímos" muito!!!
"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." - 1 Timóteo 6:10
Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!
Nesse artigo (http://estrangeira.wordpress.com/2012/06/04/desafio-do-malafaia-5-a-resposta-aos-desvarios-da-prosperidade-a-luz-da-biblia/) temos um exemplo de como se pode tirar a Bíblia do povo de forma "cautelosa" e sutil: usando de partes de versículos de forma isolada, certo telepastor tenta convencer os fiéis da "maravilha" que é a demoníaca, bizarra e obscura Teologia da Prosperidade (assista ao vídeo no decorrer do artigo e veja como é fácil falsificar um ensino bíblico). Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê discernimento, para que consigamos compreender a verdade em Sua Palavra.
Ótimo post... Parabéns amigo!
ResponderExcluirConfira também:
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