Igreja evangélica da prancha de surfe, frequentada basicamente por jovens, tenta censurar livro que revela o conservadorismo por trás do discurso aparentemente liberal de suas lideranças
Rodrigo Cardoso
A Igreja Bola
de Neve Church se inseriu no mercado das igrejas evangélicas brasileiras
sob a aura de uma instituição religiosa amparada por uma embalagem
contemporânea e liberal. É assim desde 1999, quando o surfista Rinaldo
Luiz de Seixas, 41 anos, o apóstolo Rina, transformou em púlpito a
prancha de surfe e abriu as portas de suas unidades, que hoje somam
cerca de 200 e têm 60 mil fiéis. Mas, desde o mês passado, com o
lançamento de “A Grande Onda Vai te Pegar – Marketing, Espetáculo e
Ciberspaço na Bola de Neve Church” (Fonte Editorial), livro que
investiga essa igreja composta majoritariamente por jovens de classe
média e alta, em sua maioria internautas e fãs de gêneros musicais como
reggae, rock, rap e hip-hop, ganhou evidência a filosofia de conduta
conservadora com que a denominação tenta controlar o cotidiano de seus
fiéis. Os pastores interferem nas escolhas dos parceiros amorosos e
chegam a sugerir uma cartilha ‘informal’ sobre posições sexuais
permitidas.
Na Bola de Neve do apóstolo Rina, (abaixo) há, segundo o historiador Maranhão Filho
(acima), indicações aos fiéis sobre as posições sexuais mais e menos aceitas
Especialista em marketing e comunicação social, Maranhão Filho expõe ainda uma estratégia da Bola de Neve conhecida apenas no meio religioso. Em Florianópolis, Santa Catarina, onde ele passou a ter contato com a denominação, líderes da igreja relataram a ele que há um grande esforço para que a evangelização foque com mais empenho na classe universitária. “Querem formar crianças, adolescentes e universitários cristãos”, diz. “O objetivo é mudar para perto das universidades para ter gente deles dentro da academia e falar da igreja dentro e fora da instituição. É proselitismo forte”, afirma o autor, cuja obra é resultado de oito anos de pesquisa, fruto de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESCC) em 2010.
A dissertação deu origem ao livro e, com
isso, veio à tona outro componente conservador da denominação
evangélica: a censura religiosa. A Bola de Neve tentou barrar, na
Justiça, a publicação da obra. Sem sucesso na esfera legal – a ação e um
agravo de instrumento foram indeferidos por um juiz e um desembargador
de São Paulo –, a Bola de Neve enviou à Universidade de São Paulo (USP),
onde ocorreu o lançamento do livro no dia 30 de outubro, um advogado
que, acompanhado de dois rapazes, disse, segundo o autor: “Se você
lançar, publicar ou divulgar o livro, vai ter problemas.” A tentativa de
censura prévia chocou a comunidade acadêmica. “No mês passado, durante a
17ª Jornada de Estudos da Religião da Associação dos Cientistas Sociais
da Religião do Mercosul, foi discutido o risco de um grupo religioso
barrar pesquisas acadêmicas e científicas”, afirma o professor de
pós-graduação em ciências da religião da Universidade Metodista de São
Paulo, Leonildo Silveira Campos. Referência internacional em pesquisas
sobre relações entre religiões, marketing e mídia, Campos resume o
sentimento com essa manobra da Bola de Neve Church. “Há um medo por
parte dos cientistas da religião de que a moda (da censura religiosa)
pegue.”
Para Tais Amorim, advogada da igreja, essa ação não se trata de um episódio de intimidação, mas uma tentativa de negociar amigavelmente com Maranhão Filho a não publicação do livro, além de tomar conhecimento dele, adquirindo um exemplar. Ou seja, no mínimo, fica claro que a Bola de Neve entrou na Justiça sem ao menos conhecer o conteúdo completo da obra que repudiou. “A obra trata da entidade como uma agência mercadológica. Essa não é a igreja Bola de Neve. Ela não tem nenhuma estratégia de atuação, de marketing, para crescimento. As estratégias são divinas”, diz ela. Ironia do destino, o autor lançou sua obra em um simpósio internacional da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR), cujo tema era “Diversidades e (in)Tolerâncias Religiosas”.
Para Tais Amorim, advogada da igreja, essa ação não se trata de um episódio de intimidação, mas uma tentativa de negociar amigavelmente com Maranhão Filho a não publicação do livro, além de tomar conhecimento dele, adquirindo um exemplar. Ou seja, no mínimo, fica claro que a Bola de Neve entrou na Justiça sem ao menos conhecer o conteúdo completo da obra que repudiou. “A obra trata da entidade como uma agência mercadológica. Essa não é a igreja Bola de Neve. Ela não tem nenhuma estratégia de atuação, de marketing, para crescimento. As estratégias são divinas”, diz ela. Ironia do destino, o autor lançou sua obra em um simpósio internacional da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR), cujo tema era “Diversidades e (in)Tolerâncias Religiosas”.
Aparentemente resignada com o lançamento do
livro, a Bola de Neve diz não ter intenção de continuar sua campanha
contrária à publicação. A igreja pedia, além da suspensão do lançamento e
do cancelamento do simpósio, que Maranhão Filho retirasse de circulação
todos os artigos sobre a instituição, excluísse a fanpage do livro no
Facebook e não fizesse mais nenhum tipo de menção a ela em trabalhos
futuros. Mais: estipulava uma multa de R$ 50 mil caso o livro fosse
lançado e uma multa diária de R$ 10 mil após o lançamento. “Seria o
início de uma mordaça cristã em relação a trabalhos sobre evangélicos?”,
questiona Maranhão Filho, que, depois de passar a ser vítima de
ciberbullying e receber ameaças, procurou um advogado e a polícia para
garantir sua integridade.
fotos: Gabriel Chiarastelli; JOSE PATRICIO/AE Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/340567_O+QUE+A+BOLA+DE+NEVE+QUER+ESCONDER?pathImagens&path&actualArea=internalPage
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