No capítulo 5 do seu livro “Autoridade Final”, que
estamos a acabando de traduzir, o Dr. William P. Grady nos dá um bom
esclarecimento sobre o “rapto” da passagem bíblica de Marcos 16:19-20 de
algumas versões modernas da Bíblia. Vamos dar-lhe a palavra:
“Quando uma comparação doutrinária é feita
entre Marcos 16:9-20 e o Catolicismo emergente da Alexandria do século 3, um
intrigante cenário se apresenta.
Dentre outras perversões, as raízes do Catolicismo
Romano podem ser rastreadas a uma não bíblica extensão da ordem mosaica, para
além das prescritas fronteiras do calvário. Com a vanguarda dos teólogos
católicos proclamando um divino desligamento do povo escolhido, Roma foi
tão “humilde” a ponto de aceitar o manto
caído. Assim, a grande prostituta do Nicolaísmo tem estado sempre repleta de
elementos judaicos como: vestimentas sacerdotais, altares, sacrifícios, velas,
cânticos e dias santos, etc. O iludido Agostinho (354-430) foi até o extremo de
anunciar (através de seu livro “A Cidade de Deus”) que Roma havia sido
privilegiada a se destacar no reinado milenar (que se tornaria conhecido como “Era das Trevas”).
Em seus esforços de suplantar o judaísmo do Velho
Testamento, logo os hierarcas católicos demonstraram uma compreensível
preferência pelos escritos de Pedro – principal apóstolo das ovelhas perdidas de Israel – contrária aos
escritos de Paulo – apóstolo aos gentios, nascido em tempo
oportuno.
Por isso, não ficamos surpresos diante da
conveniente (embora sem base) teimosia de Roma em afirmar ter sido Pedro o seu
primeiro papa. A perpétua imagem dessa antiga rivalidade pode ser vista nas
contrastantes catedrais de S. Pedro em Roma e de S. Paulo, em Londres. Para os católicos “que conhecem a verdade”,
o “Papa Pedro” representa exatamente um paradoxo: ele era tão pontifício que recusou que lhe beijassem os pés
(Atos 10:26), tão infalível que Jesus o chamou de Satanás (Mateus 16:23), tão autocrata que Paulo o censurou na face (Gálatas
2:11) e tão celibatário que tinha uma sogra (Mateus 8:14.
Com a “cadeira de Pedro” firmemente estabelecida em
Roma, uma segunda tradição importante foi atribuída ao iletrado pescador da
Galiléia. Clemente de Alexandria (150-217 d.C.) promoveu a idéia de que Marcos
não era realmente o verdadeiro autor do seu Evangelho, mas sem dúvida, apenas o
amanuense de Pedro.
Em clássico estilo nicolaíta, a forte evidência
para a suposta base desse esforço conjunto é a alegorizada luta de Pedro, na 1
Pedro 5:13 (conforme preservada na Bíblia Viva de Keneth Taylor) citada por Eusébio, da seguinte maneira:
Mas Pedro fez menção de Marcos na
primeira epístola, o qual diz também ter sido ela composta na mesma cidade de
Roma, e que ele mostra este fato, chamando esta cidade, com um apelido não
costumeiro, de Babilônia; desse modo, “A vossa co-eleita em Babilônia vos
saúda, e meu filho Marcos”.(1 Pedro 5:13b)
Qualquer pessoa pode procurar - em vão - uma designação mística desse tipo em todos os dezesseis
capítulos da Carta de Paulo aos Romanos, de Antioquia (Atos 13:1). Contudo, com
o seu país carente de autógrafos, Clemente ainda tentou construir uma ponte
sobre a lacuna de credibilidade ao declarar que Marcos levou o Evangelho de
Pedro para Alexandria. Eusébio prossegue:
O mesmo Marcos, dizem também, tendo
sido o primeiro enviado ao Egito, proclamou aí o Evangelho que havia escrito e
logo estabeleceu igrejas em Alexandria.
Contudo, a completa confiabilidade dessa tradição
Clementina tem sido colocada em questão por uma subsequente descoberta
arqueológica. Em 1958, enquanto examinava o antigo Mosteiro Judeu de Mar de
Saaba, o Professor Morton Smith, do Departamento de História da Universidade de
Columbia, descobriu uma carta escrita por Clemente.
Conforme Clemente, Marcos recusou entregar a mais
substancial porção do Evangelho de Pedro ao público geral de Alexandria. Como
se fosse para lançá-lo como o patriarca do movimento da “vida mais profunda”,
Clemente poderia ter-nos levado a crer que Marcos preservou o seu segundo
evangelho para a “elite espiritual” de sua paróquia. Em sua correspondência
enviada a Teodoro dos Carpocratianos, notem a sua gravada mas não registrada
síndrome:
Marcos, então, durante a estada de
Pedro em Roma, gravou os atos do Senhor, contudo não os registrou a todos, pois
não indicou os místicos, mas selecionou os que achou serem mais úteis para um
crescimento da fé daquelas instruções secretas.
Quando Pedro manteve o seu testemunho
(isto é, sofrendo o martírio), Marcos chegou em Alexandria trazendo suas
próprias memórias e as de Pedro. A partir destas ele copiou em seu primeiro
livro as coisas apropriadas para os que estavam fazendo progresso no conhecimento,
porém compilou um evangelho mais
espiritual para o uso dos que já
estavam chegando à perfeição.
Com tanta condução a uma futura aceitabilidade dos
manuscritos egípcios, Jerônimo conferiu a Marcos a honra póstuma adicional de
ter sido o primeiro bispo de Alexandria. Com este expediente de reafirmação da
autoridade petrina (como sendo preservada por Marcos) a cidade capital de Ham
atingiu um segundo plano em importância, depois de Roma, como um dos centros de
liderança da Cristandade.
Digno de atenção é o fato de que o erudito
evangélico F.F. Bruce atirou o seu voto contra esse repugnante complô
promocional:
A qualquer custo a história de Marcos
fundando a Igreja de Alexandria é da mais questionável autenticidade... A
descrição de Marcos como fundador do Cristianismo
alexandrino representa uma tentativa de prover a igreja daquela cidade com um
pedigree ortodoxo, além de tudo para ligá-la mais intimamente à Igreja de Roma,
o pilar e campo da ortodoxia, incidentalmente lhe deu um status quase
apostólico... Pois se a associação de Marcos a Pedro deu autoridade apostólica
ao seu evangelho, que ele escreveu, do mesmo modo iria dar linhagem apostólica
à igreja que ele fundou.
Contudo, quando o “departamento de propaganda” de
Clemente andou circulando em busca de sua celebrada exigência de fama, logo
empalideceu com apenas quatro versos remanescentes. Com toda a sua traiçoeira
manipulação de ordenanças judaicas (para ser aperfeiçoada na doutrina papista
da sucessão apostólica) esses hereges nicolaítas foram eles próprios
confrontados por uma passagem que ameaça expor sua impostura satânica. Como os
antigos efraimitas que foram traídos pela sua inabilidade
de pronunciar a senha shiboleti (Juízes 2:6), os discípulos de Clemente
experimentaram uma idêntica consternação ao descobrir os sinais indicativos de
um autêntico ministério apostólico.
“E estes sinais seguirão aos que
crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas
serpentes, e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e
porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” (Marcos 16:17-18).
Visto como o evangelho foi “primeiramente aos judeus” (Romanos 2:9-10) e porque os judeus “pediam sinais” (1 Coríntios1:22), os apóstolos foram agraciados com um exclusivo
arranjo de sinais sobrenaturais. Tendo antecipado uma resistência satânica
através dos arquétipos de James e Jambres (2 Timóteo 3:8) o Senhor manteve os dele próprio, “...cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais
que se seguiram. Amém ” (Marcos 16:20).
Como se tudo isso ainda não fosse bastante
amedrontador para Clemente, o contexto confirmou que os “crentes” operadores de
sinais do verso 17 devem ser os projetados “crentes” do verso 16. Em outras
palavras, não apenas podiam os apóstolos produzir esses sinais, mas os seus
convertidos pessoais também o podiam.
Exatamente como tantos desses corruptores egípcios
da Bíblia faziam, supõe-se que eles tenham confirmado sua “autoridade
apostólica” ao produzir pelo menos um destes cinco sinais? Enquanto Paulo podia afirmar aos Coríntios que: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a
paciência, por sinais, prodígios e maravilhas” (2 Coríntios 12:12), a única maravilha produzida pelos aduladores de Clemente foi uma surpresa perante o seu dilema. A terceira solução
mostrou uma herética ingenuidade, ao oferecer essa opção de substituição do
terminal, conforme exibido na Velha Latina, K e outros manuscritos
dispersos. Tendo examinado a premissa de um
“judaísmo catolicizado”, note-se mais significativamente a preeminência
concedida ao judeu Pedro nesta conclusão apócrifa:
E tudo de qualquer maneira que havia sido ordenado,
eles explicaram resumidamente aos que estavam com Pedro; depois destas coisas o
próprio Jesus apareceu e de leste a oeste enviou por intermédio deles a santa e
incorruptível pregação da salvação eterna.
Até aqui, temos visto boa razão para uma antiga
hostilidade contra Marcos 16:9-20 pelo sistema católico em desenvolvimento. Contudo, ainda falta considerar uma aplicação do
século XX para esta controvérsia. Edward Hills fez a astuta observação de que
esta passagem contém a única referência do falar em línguas feita pelo nosso
Salvador.
Não é coincidência que o movimento carismático de
hoje tenha sido grandemente usado pelo Vaticano para acelerar o processo
ecumênico. A presença do falar em línguas no Campus da Universidade Notre Dame
é um sinal inicialmente claro de que todos os caminhos levam a Roma.
Quando se lê o que Jesus nos deu com o propósito de
legitimar os dons espirituais, entende-se melhor a renovada animosidade contra
estes versos. Embora o trono da graça tenha se tornado acessível ao povo de
Deus em todas as épocas, a atual ênfase carismática sobre a cura divina é um
abuso não bíblico desse privilégio. Que o autêntico falar em línguas dos dias
de Paulo tenha um fim específico é confirmado da maneira mais clara: “havendo línguas, cessarão...” (1 Coríntios 13:8b).
Agora acontece exatamente que a Escritura que mais
condena a farsa carismática é encontrada na odiada passagem em questão. Hills cita Marcos 20 como chave para uma
apropriada exegese deste texto: “E eles, tendo partido, pregaram por
todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os
sinais que se seguiram. Amém”. (Marcos 16:20).
Estes dons de sinais não apenas confirmaram o
cumprimento de uma necessidade particular dos judeus que pediam sinais, mas
também proveram um endosso autorizável à pregação dos apóstolos, na ausência de
um Novo Testamento concluído. Hills prossegue explicando:
Aqui vemos que o objetivo dos milagres
prometidos por nosso Senhor era o de confirmar a pregação da Palavra Divina
feita pelos apóstolos. Estes milagres eram sinais que confirmavam a pureza de
sua doutrina. Sem dúvida, em seguida estes sinais cessaram após a morte dos
apóstolos. Hoje não temos necessidade destes sinais, visto como temos a posse
das Sagradas Escrituras. (53)
Assim, temos visto uma satânica resistência
dirigida contra estes doze versos através da instrumentalidade carismática católica e evangélica. Esta oposição tem sido tudo, menos um
esforço desorganizado. Embora a confusão seja o persistente objetivo do diabo,
este nunca tem sido o seu modo de operar (Efésios 6:12).
Em face do seu dilema, os pais alexandrinos eram
limitados a três simples alternativas. A problemática passagem poderia ser
ignorada ao custo potencial de repetido confronto e embaraço. Com a “bandeja da
coleta” na estaca, esta seria a menos popular. Sua segunda opção teria parecido
a mais provável. Com o “longe da vista, longe do coração”, a maneira mais fácil
de suprimir a descabidas exigências feitas ao “Bispo Primaz de Alexandria”,
seria simplesmente cortar esses versos da Bíblia. E se o corte fosse
feito no verso 9, um desvio conveniente poderia ser encontrado nas dificuldades
previamente mencionadas que alguns piedosos harmonizadores do Evangelho estavam
tendo com a aparente contradição da cronologia de Mateus. Uma raspagem da faca de
Jehudi resolveria tudo! (Jeremias 36:23)
Para uma ilustração final quanto à coerência desta
perniciosa estratégia, considerem o seguinte ataque duplamente contundente.
Você deve lembrar-se de que a primeira “Bíblia falsificada” sob sanção
nacional, a American Standard Version, chegou em 1901. Você pode imaginar quando
surgiram os faladores de línguas? Conforme o Dicionário de Cristianismo na América, a primeira ocorrência registrada foi em Agnes Ozman, na Escola Bíblica Charles F. Parham, em Topeka, Kansas.
A data foi o Dia do Ano Novo de 1901”.
As bíblias modernas que apresentam os versos finais
do Evangelho de Marcos 16:19-20 sempre colocam uma nota de rodapé colocando em
dúvida a autenticidade dos mesmos. Contudo, os antigos pais da Igreja confirmam
que os primeiros manuscritos do Novo Testamento continham esses versos, embora
os apóstatas Westcott e Hort tenham dito o contrário, na organização do seu
Texto Grego do Novo Testamento.
Mary Schultze, 21/10/00 – 21/10/2012.
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