A vida cristã e a tirania das metas
Metas, objetivos e alvos numéricos, quem está livre deles hoje? Vivemos
em uma sociedade massacrada pelos números. Em sua empresa você está
moralmente obrigado a produzir cada vez mais sob risco de demissão caso
falhe no cumprimento de suas metas. Na escola ou na faculdade seus
professores exigem uma quantidade mínima de leitura e produção
acadêmica, além da tirania dos ponteiros da balança que insistem em
jogar na sua cara que você não está cumprindo a meta do peso ideal. Os
números te sufocam. Os números te acusam insolentemente.
Entretanto você encontra em sua comunidade de fé um ambiente acolhedor,
livre da opressão dos números e das metas, certo? Infelizmente isso nem
sempre é verdade, pois, algumas igrejas acham que a grande comissão dada
por Jesus está atrelada ao cumprimento de metas numéricas. “Você deve
trazer durante este mês pelo menos uma pessoa não salva!” – pedem alguns
líderes. “Quantas almas você ganhou para Jesus no ano passado?” –
acusam outros. E, onde deveria ser um ambiente de restauração e
refrigério, acaba tornando-se outro lugar para o cumprimento de mais
tarefas e metas. Os números te acusam até mesmo na igreja.
A justificativa que muitos líderes dão está supostamente baseada no
texto de João 15. “O crente deve dar frutos, senão será cortado da
árvore!” - asseveram os feitores dos números. Certa vez, ouvi de um
destes pastores numerólogos que os frutos que Jesus menciona neste
trecho são as almas que ganhamos para o Reino de Deus. “E agora? Ainda
não levei ninguém a Cristo este ano” – preocupa-se aquele irmão dedicado
e envolvido com a obra de Deus. “Eu testemunhei, mas ninguém se
converteu.” – confessa ele ao seu travesseiro. “Eu convidei meus
vizinhos e parentes para o musical anual da Igreja, mas ninguém aceitou
meu convite” – desabafa com sua pesada consciência.
Ao mesmo tempo em que a meta de quantas “almas” ganhamos para Jesus é
apresentada também ouvimos que o Evangelho liberta. E isso causa
confusão e frustração na mente de muitas pessoas que desejam viver uma
vida cristã coerente. Porém, este conceito de um evangelho baseado em
metas numéricas pode ser desfeito pelo estudo do contexto de João 15.
Nesta passagem Jesus diz que seus discípulos devem dar frutos, e isso é
incontestável. Mas a qual fruto Jesus está se referindo? Uma leitura
cuidadosa vai nos mostrar que Jesus esta falando do amor que seus
discípulos devem mostrar uns aos outros, tal como o próprio Jesus
mostrou por eles. Aqui Jesus sequer menciona o processo de evangelização
que tomamos como certo para gerar tais frutos. Jesus não condiciona o
discipulado a qualquer método numérico, nem projeta um sistema de
crescimento por meta alcançada.
Jesus nos liberta da tirania das metas e dos números ao nos mandar amar
ao próximo e não condiciona nossa ligação ao tronco com o cumprimento ou
não da meta. Nossa ligação com o tronco está condicionada ao amor que
temos uns pelos outros, pois, se não amamos aqueles a quem vemos como
poderemos amar a quem não vemos? Se não temos amor uns pelos outros não
temos o amor do Pai, e, se não temos o amor do Pai, logo não estamos
ligados ao tronco.
Portanto, o fruto não é uma meta numérica de quantas almas ganhamos para Jesus, mas o ideal de uma vida de amor pelo próximo.
Que o Senhor te abençoe e te guarde.
Alexandre Milhoranza
Muito Bom! Excelente meditação! Vejo pessoas que cresceram "na igreja", tem versos como "...E a minha glória não a darei a outrem." Isaías 48:11 na "ponta da língua", mas gabam-se dizendo: "eu fiz a minha parte", quando vão "a igreja" no domingo pela manhã, e quando levaram visitantes, e quando estes visitantes "se converteram"! Aí vão enumerando, quantas "almas ganharam" para o Senhor! E tudo com base "nos frutos que o cristão precisa dar"!
ResponderExcluirQuando normalmente são frios em suas respostas, não têm um contato aquecido pelo amor, mas pela obrigação de apresentar números, "frutos", obras mortas!