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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

31 de janeiro de 2014

A NOVA ONDA DE ECUMENISMO DO PAPA FRANCISCO



A busca pela unificação religiosa em submissão ao catolicismo romano

O Papa Francisco é considerado o 266º papa do catolicismo romano, tendo sido eleito no dia 13 de março de 2013. É o único papa jesuíta da história e único nascido na América do Sul (Argentina), até agora. Desde a sua eleição tem se destacado em diversos aspectos e atraído uma multidão cada vez maior. Diferentemente de outros papas, inovou com um estilo e ações não praticadas por seus antecessores: quando eleito não sentou no trono de ouro para ser saudado pelos cardeais que o elegeram, antes, ficou de pé; em sua primeira aparição pública, no balcão da Basílica de São Pedro, saudou os fiéis com uma veste simples, abrindo mão de usar a mozeta[1]; Após a primeira aparição pública, retornou à Casa Santa Marta de ônibus com os demais cardeais, para o mesmo quarto simples em que estava hospedado, dispensando carro oficial (papa móvel), a comitiva e os seguranças; na manhã seguinte, foi pessoalmente pagar sua conta e pegar suas malas, cumprimentando a todos e dispensando o carro papal, comitiva e seguranças; ligou pessoalmente para um padre amigo, para um jornaleiro argentino, amigo de muitos anos e retornou a ligação de seu dentista; recusou usar os sapatos papais vermelhos e continuou usando os sapatos pretos que trouxera; escolheu o nome de Francisco em homenagem a Francisco de Assis, por sua pobreza; continuou usando o crucifixo de aço e não de ouro; não tem usado o anel de ouro dos papas, mas um de prata; usa um relógio de plástico; recusou a limusine blindada; na ida para a missa inaugural, na Praça de São Pedro, saiu do carro, desviando dos seguranças, e foi beijar uma pessoa deficiente no meio da multidão; abdicou do torno papal de ouro para um de madeira e mandou retirar o tapete vermelho; comemorou o seu aniversário de 77 anos com quatro moradores de rua, compartilhando seu café da manhã; todas as manhãs reza uma missa para cerca de 90 funcionários, sem seguir um roteiro manuscrito e sem utilizar o latim, olhando para os rostos das pessoas; os primeiros a serem chamados para as missas matinais do Vaticanos foram os garis, depois os seguranças, jardineiros, freiras e por último os consultores do Banco do Vaticano. No final da missa, saiu de seu lugar no momento da oração e sentou-se junto aos funcionários, em um banco na parte de trás da igreja.

O papa Francisco, de fato, tem trazido um revigoramento e novo fôlego ao catolicismo romano. A jornalista Fiona Ehlers (online, 2013)[2] disse o seguinte sobre ele:
Francisco é um pescador de homens, da mesma maneira que o papa João Paulo 2º o foi. Quase quatro meses após sua eleição, em 13 de março deste ano, e depois de seu primeiro e quase tímido "buona sera" ("boa noite") proferido a partir do balcão da Basílica de São Pedro, Francisco elevou seu papado às alturas celestiais. Ele facilita para as pessoas a tarefa de amá-lo. Elas gostam de sua abordagem diferente e incomum e de suas palavras simples. "Orem por mim", ele lhes diz, ou "bon appetit" (bom apetite). As pessoas gostam do fato de que ele ignora o protocolo, de que ele lavou os pés de uma mulher muçulmana durante a Páscoa, de que ele dirige um Ford Focus ou de que ele pega ônibus e de que ele preferiu viver na casa de hóspedes do Vaticano em vez de morar no Palácio Apostólico.
Antes mesmo de completar um ano de “pontificado” ele já conseguiu um feito que poucas pessoas alcançaram, foi capa da Revista Times pelo menos três vezes, é constantemente capa de revistas e tem conseguido realizar façanhas impressionantes em um curto período de tempo. Isso é claramente o resultado de dois fatores juntos: 1) A sede do povo por alguém que, de fato, represente os seus anseios e que fale a “sua voz”; 2) O estilo de vida do papa Francisco que se encaixa nessa necessidade.

Essa enorme popularidade está acontecendo não só pela posição que ele ocupa, pois Bento XVI também ocupava a mesma posição e não conseguiu nos oito anos em que foi papa aquilo que Francisco tem conseguido em menos de um ano. Isso tem acontecido pela soma desses dois fatores.

Nesse levante de popularidade, o papa Francisco foi eleito a personalidade do ano pela Revista Time, e até a tradicional revista americana The Advocate, que é publicamente a favor do movimento homossexual, o escolheu, também, como sua “personalidade do ano” de 2013, em 16 de dezembro de 2013, um dia antes do aniversário do papa[3]. Hoje, o papa Francisco já tem mais de 10 milhões de seguidores no Twitter[4], sendo mais popular que o New York Times.

 
Com essa popularidade e ascensão do papa e do catolicismo no mundo, o ecumenismo[5] tem crescido cada vez mais e a sua propaganda tem se sido disseminada mais comumente. Desde o Concílio Vaticano II, o catolicismo vem se empenhando esforçadamente pela promoção do ecumenismo e João Paulo II conseguiu fazer isso com maestria, diferentemente de Bento XVI. Com a chegada de Francisco essa onda ecumênica volta à tona com mais força. Francisco foi o primeiro papa a se encontrar com um líder do candomblé e foi o primeiro papa, desde 1504, a estar com o patriarca da igreja católica ortodoxa em sua entronização, assim como representantes de outras religiões.

As suas ações demonstram essa busca ecumênica e suas declarações e documentos confirmam isso. No ‘Discurso do Papa Francisco aos participantes na plenária do pontifício conselho para o diálogo inter-religioso’, ele afirmou que “uma atitude de abertura na verdade e no amor deve caracterizar o diálogo com os fiéis das religiões não cristãs, apesar dos vários obstáculos e das dificuldades, particularmente os fundamentalismos de ambas as partes”[6]Então, o discurso de amor entre as religiões vem sendo propagado com uma frequência cada vez maior, e isso faz com que os princípios básicos de uma fé cristã bíblica sejam silenciados e negligenciados em nome de uma convivência amorosa e politicamente correta. E mais, tudo isso vem ocorrendo em submissão à liderança do catolicismo romano.

Alguns outros exemplos podem ser dados: Em 19 de setembro de 2013, o papa Francisco afirmou que a “igreja não pode 'interferir espiritualmente' na vida de gays”[7]. Em 20 de março de 2013 o “Papa Francisco promete continuar dialogando com outras religiões”[8]. Em 20 de maio de 2013 afirmou que “todos os que fazem o bem serão redimidos, até os ateus”[9]. Em 30 de setembro de 2013 pediu “união de todas as religiões em defesa da paz”[10]. Em 27 de outubro de 2013 afirmou “que católicos e evangélicos devem pedir perdão mutuamente”[11]. Em 20 de janeiro de 2014 voltou “a pedir que católicos e evangélicos se unam”[12].

Em entrevista à revista Época[13], quando perguntado se a unidade cristã é uma prioridade?, respondeu:
Sim, para mim o ecumenismo é uma prioridade. Hoje, há ecumenismo de sangue. Em alguns países, cristãos são mortos por usar uma cruz ou ter uma Bíblia. Antes de matar, não perguntam se você é anglicano, luterano, católico ou ortodoxo. Para os que matam, todos somos cristãos. Somos unidos pelo sangue, mesmo se não resolvemos dar os passos nessa direção, ou mesmo se o momento certo ainda não chegou. Unidade é uma dádiva pela qual temos de pedir.
  


O trabalho em busca do ecumenismo tem surtido efeito desde longo tempo, especialmente no meio “evangélico”. Porém, a ideia de ecumenismo sempre foi um problema para o cristianismo bíblico, seja em termos doutrinários quanto práticos. Por exemplo, na Alemanha nazista, a ideia central de liberdade religiosa existente no cristianismo alemão nazista era a de um Cristianismo Positivo, que consistia na liberdade religiosa e permissão de qualquer forma de expressão religiosa desde que esta não prejudicasse a existência do Estado, e nem entrasse em conflito com os costumes, regras e imposições da raça Germânica. Em outras palavras, a igreja deveria se submeter a tudo que o Estado determinasse. Isso conduziria à formação de uma Igreja do Reich, unida por meio do ecumenismo religioso e submissão Estatal. Da mesma forma, esse modelo de ecumenismo tem sido proposto pelo catolicismo romano, sob a liderança do papa.

A proposta do ecumenismo é um problema para o cristianismo bíblico, porque reside na ideia da promoção de unidade entre as religiões, de forma geral, sem a direção e submissão aos princípios bíblicos Divinamente estabelecidos. Este ecumenismo é também denominado de diálogo inter-religioso. Ele ataca os princípios bíblicos estabelecidos para a verdadeira comunhão, que não deve ser baseada em simples tolerância, mas na identidade bíblico-doutrinária. O que deve unir é a doutrina bíblica. Por isso, o Ecumenismo ataca a verdadeira base para a comunhão cristã.

Mendonça (2008, online)[14] declara que o ecumenismo moderno possui suas raízes no protestantismo, devido à expansão colonial dos povos protestantes que proporcionou a expansão missionária, afirmando que “as missões constituíram forte elemento de aproximação das igrejas pela necessidade de companheirismo e cooperação entre os agentes missionários”. Daí, em 1846, é criada a Aliança Evangélica em Londres, que buscava congregar os diversos ramos do protestantismo, tentando criar um “concílio ecumênico evangélico universal”.

Em meados do século XIX, surgem as Associações Leigas de Jovens que buscavam o desenvolvimento do ecumenismo. Porém, no final do século XIX, em 1895, o papa Leão XIII institui um ecumenismo que visava unificar católicos e protestantes em sua Encíclica Provida Mater. Aqui surge o Movimento Ecumênico nos moldes como se conhece hoje.

Como resultado da iniciativa de Leão XIII, em 1908, Spencer Jones e Lewis Thomas Wattson, anglicanos, promoveram entre a Festa da Cátedra de São Pedro e a Festa da Conversão de São Paulo (de 18 a 25 de janeiro) oito dias de oração em prol da unidade entre os grupos cristãos. Como resultado futuro, Lewis Thomas Wattson abandona a Igreja Anglicana e converte-se ao catolicismo.

Em 1905, tem início o Conselho Nacional das Igrejas, nos EUA, que lança os alicerces para a futura criação do Conselho Internacional de Missões (1921), do Conselho Universal da Vida e do Trabalho (Estocolmo, 1925) e do Conselho Mundial Fé e Ordem (Lausanne, 1927) que buscavam estruturar uma entidade internacional que gerisse as igrejas cristãs.

Em 1928, o papa Pio XI afirma que “a única religião revelada é a Igreja Católica” e que esta igreja é a “depositária infalível da verdade” na Encíclica Mortalium Animos, e, em 1948, é criado o Conselho Mundial das Igrejas (CMI), que visava a unificar as igrejas cristãs a despeito de suas diversidades doutrinárias. Em 1960, o papa João XXIII cria o Secretariado Romano para Unidade dos Cristãos e marca a integração oficial do catolicismo na propagação do movimento ecumênico mundial moderno, iniciando o Concílio Vaticano II em 1962, que foi concluído pelo papa Paulo VI, em 1965.

Mas, seguinod na mesma direção do ecumenismo, no dia 27 de julho de 2013, a Aliança Evangélica Mundial decidiu apoiar o papa Francisco[15].

Cairns[16] utiliza a expressão “ecumenismo” com duas conotações: 1) ecumenismo “mecânico e organizacional”, para se referir a união instável entre igrejas e entre as diversas religiões; 2) ecumenismo “orgânico, confessional e espiritual”, para se referir a unidade entre verdadeiros irmãos em Cristo. Muito embora a utilize com duas conotações, entendemos que a origem da palavra em si não deve ter um emprego sadio ou positivo. Antes, ecumenismo deve ser entendido como união entre pessoas de diversas religiões, crenças distintas e confissões de fé divergentes. Enfim, o último padrão estabelecido se refere a verdadeira união entre irmãos, verdadeira koinonia. Pois devemos lembrar “que nossas diferenças com outros cristãos não devem separá-los deles [...] enfrentar e discutir essas questões de forma racional e amorosa vai gerar princípios que podem nos advertir e encorajar na consideração de perspectivas futuras” e que “dar atenção a elas vai produzir uma Igreja mais forte” (2008, p.579).

Entendemos que o caminho para a Igreja de Cristo não é a união com aqueles que não compartilham da crença nos princípios bíblicos como regra de fé e prática, pois entendemos que a Sagrada Escritura é Divinamente inspirada, inerrante, infalível e, por isso, suficiente para tudo na vida do cristão, sendo, mais uma vez, a sua única regra de fé e prática. Por essa razão, é preciso reafirmar o Sola Scriptura da Reforma Protestante.

Portanto, temos o mesmo entendimento e perspectiva que Cairns (2008, p.580):
O estudante de história da Igreja que tem observado a operação do poder transformador do evangelho no curso dos séculos na recomposição das vidas de homens e nações encara os problemas da Igreja como desafios para renovado esforço no poder do Espírito Santo. Ele compreende que Deus é tanto o provedor do Universo como o redentor dos homens através da obra de Cristo na Cruz. Tanto a história como o seu fim estão nas competentes mãos de Cristo, o senhor da história. Com serena confiança em seu Senhor ressurreto, a Igreja irá enfrentar os desafios do presente da mesma forma como enfrentou os desafios no passado.
É preciso entender que a existência da Igreja está nas mãos do seu Senhor, mas a forma como esta Igreja subsiste e como ela se porta é algo que depende daqueles a quem foi confiada. A sua existência é uma garantia, mas a forma como ela existe, sem se descaracterizar e preservando com integridade a sua identidade, é algo pelo qual devemos lutar diligentemente. A sua identidade deve ser preservada íntegra, à luz da Sagrada Escritura, dentro da cultura, ante a política, diante dos ataques religiosos e das tentações a que é submetida, e tudo para a glória de Deus, que é seu chamado inicial e sua razão final. Por tudo isso, o ecumenismo se apresenta como um ardiloso inimigo que busca invadir o coração da igreja para lhe descaracterizar.

Por fim, devemos nos lembrar das orientações e promessas sublimes da Sagrada Escritura, que deverão estar presentes em nossas mentes continuamente para que, constantemente, inundem nossos corações:

“Mas agora vos escrevi que NÃO VOS ASSOCIEIS com aquele que, DIZENDO-SE IRMÃO, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1Coríntios 5:11)

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS ATÉ À CONSUMAÇÃO DO SÉCULO.
(Mateus 28:19,20)




[1] A Mozeta é um precioso manto vermelho com detalhes em ouro.

[2] Roma parece ter despertado do sono após a eleição do papa Francisco. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/07/24/roma-parece-ter-despertado-do-sono-apos-a-eleicao-do-papa-francisco.htm>. Acesso em: 30 jan 2014.

[3] Person of the Year: Pope FrancisDisponível em: <http://www.advocate.com/year-review/2013/12/16/advocates-person-year-pope-francis>. Acesso em: 30 jan 2014.

[4] Papa atinge 10 milhões de seguidores no Twitter. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2013/10/27/aleluia-papa-atinge-10-milhoes-de-seguidores-no-twitter.htm>. Acesso em: 30 jan 2014.

[5] Ecumenismo é um esforço realizado que visa unificar as religiões.

[6] Discurso do Papa Francisco aos participantes na plenária do pontifício conselho para o diálogo inter-religioso. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/november/documents/papa-francesco_20131128_pc-dialogo-interreligioso_po.html>. Acesso em: 30 jan 2014.

[7] Papa diz que Igreja não pode interferir espiritualmente na vida de gays. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/09/papa-diz-que-igreja-nao-pode-interferir-espiritualmente-na-vida-de-gays.html>. Acesso em: 30 jan 2014.

[9] Todos os que fazem o bem serão redimidos, até os ateus, diz papa Francisco.Disponível em: <http://noticias.gospelprime.com.br/bem-redimidos-ateus-papa-francisco/>. Acesso em: 30 jan 2014.

[10] Papa pede união de todas as religiões em defesa da paz. Disponível em: <http://noticias.gospelprime.com.br/papa-francisco-uniao-religioes-paz/>. Acesso em: 30 jan 2014.

[11] Papa afirma que católicos e evangélicos devem pedir perdão mutuamente. Disponível em: <http://noticias.gospelprime.com.br/papa-catolicos-evangelicos-perdao/>. Acesso em: 30 jan 2014.

[12] Papa Francisco volta a pedir que católicos e evangélicos se unam. Disponível em: <http://busca.gospelprime.com.br/Papa-Francisco-volta-a-pedir-que-cat%F3licos-e-evang%E9licos-se-unam>. Acesso em: 30 jan 2014.

[14] MENDONÇA, Antonio Gouvea. O movimento ecumênico no século XX – algumas observações sobre suas origens e contradições. Disponível em: <http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=236&cod_boletim=13&tipo=Artigos>. Acesso em: 30 jan 2014.

[15] Aliança Evangélica Mundial quer apoiar o papa Francisco. Disponível em: <http://noticias.gospelprime.com.br/alianca-evangelica-mundial-apoio-papa-francisco/>. Acesso em: 30 jan 2014.

[16] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 2008.



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