DENÚNCIAS CONTRA A IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR EM MG
16 Julho 2007
FONTE: Jornal O Tempo
Rádio da Quadrangular na mira do MP
Promotor vai apurar desvios de verbas publicitárias da 107 FM, uma das principais fontes de arrecadação da Igreja
EZEQUIEL FAGUNDES
Rádio da Quadrangular na mira do MP
Promotor vai apurar desvios de verbas publicitárias da 107 FM, uma das principais fontes de arrecadação da Igreja
EZEQUIEL FAGUNDES
Para ler a denúncia apresentada pelo Ministério Público Estadual, clique aqui.
Gestores da rádio 107 FM, controlada pela Fundação Educativa Quadrangular, entidade filantrópica ligada à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), estão na mira da Promotoria de Tutela das Fundações do Ministério Público (MP), por suposta apropriação indevida de contratos publicitários da emissora. A Igreja é comandada pelo deputado federal Mário de Oliveira (PSC-MG), suspeito de planejar a morte de seu colega de parlamento, Carlos Willian (PTC-MG).
Atualmente, a estação de rádio, responsável também pela realização do Sermão da Montanha – evento religioso realizado anualmente em Contagem – tem como presidente o pastor Jerônimo Onofre da Silveira, denunciado pelo MP, no ano passado, pelos crimes de desvio de dinheiro público, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Ele teve seus bens bloqueados pela Justiça, na última quinta-feira. A Escola de Ministério Jeová Jiré, que tem Jerônimo Onofre como presidente perpétuo, também sofreu bloqueio de seu patrimônio.
O fato de a emissora sem fins lucrativos estar nas mãos de Jerônimo Onofre chamou a atenção do promotor de Justiça Marcelo Oliveira Costa. "A aplicação da publicidade precisa ser investigada na medida em que o atual presidente da emissora está enfrentando problemas com a Justiça", adiantou o integrante do MP. Líder da Quadrangular Ministério "Templo dos Anjos", Jerônimo Onofre é braço direito e amigo particular de Mário de Oliveira, citado também na denúncia do MP como "o chefe da quadrilha" que teria desviado R$ 1,1 milhão da Prefeitura de Contagem, por meio de convênio firmado com a Escola de Ministério Jeová Jiré.
As verbas publicitárias da FM 107 supostamente desviadas seriam utilizadas para benefício dos dirigentes da Quadrangular, o que levanta a suspeita de um outro crime, o enriquecimento ilícito. O dinheiro seria aplicado na manutenção de luxuoso estilo de vida dos pastores Jerônimo e Mário de Oliveira. Os dois se especializaram na chamada "teoria da prosperidade". Jerônimo Onofre é autor de livros como o "O Dom de Adqüirir Riquezas" e "Provisões de Riquezas".
Juntos, eles usufruem de um patrimônio que inclui carros importados (BMW e Mitsubishi Pajero), lanchas, fazendas no Mato Grosso e em Felixlândia, apartamentos de luxo em Cabo Frio, um avião bimotor Cênica com inscrição PTRGR, avaliado em U$S 200 mil, além de uma ilha, onde Jerônimo mora com a família e funciona a Jeová Jiré. A emissora vem acumulando ganhos financeiros desde sua fundação, em 1998. Com uma programação formada exclusivamente por músicas evangélicas, a rádio da Quadrangular alcançou o segundo lugar na preferência dos ouvintes da capital e da região metropolitana.
Em paralelo ao sucesso de audiência, a rádio 107 FM se transformou também em uma das campeãs em número de anúncios publicitários durante sua programação. Atualmente o departamento comercial da emissora conta com um gerente e pelo menos sete contatos comerciais, que atendem clientes não só em Minas Gerais, mas também em São Paulo, terra natal do pastor e deputado federal Mário de Oliveira, além de Brasília e Rio de Janeiro. Em média, 700 mil ouvintes sintonizam todos os dias a emissora da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Lucro é dividido entre pastores
Segundo fonte que já foi membro da alta cúpula da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e que era muito próxima do pastor e deputado federal Mário de Oliveira (PSC), a rádio 107 FM se transformou na maior fonte de renda dos dirigentes da Quadrangular. Conforme o relato do exintegrante da IEQ, a emissora possui um faturamento bruto em torno de R$ 500 mil mensais e o lucro é repartido entre Jerônimo Onofre da Silveira e Oliveira.
“Hoje o Jerônimo é muito mais que um simples pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ). Ele exerce uma função de liderança nos negócios da Igreja. Mas quem continua mandando mesmo é o pastor Mário de Oliveira. Eles dividem o lucro da Quadrangular. Cada um fica com 50% de tudo”, declarou a fonte sob a condição de manter-se no anonimato.
O horário mais cobiçado da emissora evangélica é o período da manhã, entre 8h e 11h59, quando vigora o chamado horário nobre do rádio. Pelo espaço de 30 segundos, o departamento comercial da rádio evangélica cobra o valor de R$ 160. Se o intervalo da programação durar pelo menos três minutos, entram nos cofres da 107 FM R$ 960 a cada rodada de comerciais.
Se conseguisse vender todos os espaços publicitários que coloca à disposição, somente no período da manhã, considerados os intervalos de meia em meia hora, o lucro alcançaria R$ 6.720 por dia. Em um mês, as manhãs da 107 FM renderiam R$ 201.600. A 107 FM cobra ainda as chamadas de 60 segundos (testemunhais dos locutores) e os “links de 90 segundos”. A primeira modalidade de inserção custa três vezes o valor do anúncio de 30 segundos (R$ 480), o preço da segunda alcança 30% a mais do que o testemunhal (R$ 640).(EF)
107 FM pode perder concessão
A coordenadora geral de assuntos jurídicos de comunicação eletrônica do Ministério das Comunicações, em Brasília, Glória Tuxe, informou que o governo federal está aguardando o resultado do processo em tramitação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) sobre a denúncia contra Jerônimo Onofre da Silveira, presidente da rádio 107 FM, para tomar uma providência imediata. Mas, ela não descarta a possibilidade de perda da concessão e afastamento do atual presidente da emissora.
A advogada do ministério explicou que a União não pode se manifestar oficialmente sobre o caso embasado somente na investigação do Ministério Público (MP) mineiro, mas avisou que a concessão com caráter educativo, recebida pela emissora, pode ser cassada. Ela ainda admite que, dependendo da avaliação do órgão, o presidente da rádio, pastor Jerônimo Onofre, pode ser afastado de suas funções até que o processo seja concluído. De acordo com a legislação, podem pleitear a outorga para execução de serviços de radiodifusão com fins exclusivamente educativos as pessoas jurídicas de direito público interno, inclusive universidades, e fundações instituídas por particulares e demais universidades brasileiras.
A Fundação Rádio Educativa Quadrangular, mantenedora da 107 FM, obteve a homologação da concessão no segundo mandato do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na época, 2001, o governo discutia com o Congresso Nacional a renovação dos processos de permissão para funcionamento de rádios. O pastor Mário de Oliveira (PSC) cumpria, naquela ocasião, o quinto mandato como deputado federal por Minas e era amigo do deputado Carlos Willian. (EF)
Advogado das entidades sob suspeita
Investigação do promotor de Justiça Mário Antônio Conceição, do Ministério Público (MP) de Contagem, mostrou que a Fundação Rádio Educativa Quadrangular, mantenedora da 107 FM, e a Escola de Ministério Jeová Jiré possuem o mesmo advogado, Túlio Sérgio Camargo. Ele é citado na denúncia ofertada pelo MP de desvio de R$ 1,1 milhão dos cofres da Prefeitura de Contagem, por meio de convênios firmado com a Jeová Jiré. Além de prestar serviços advocatícios, Túlio Camargo, ocupou o cargo de 1º secretário da Jeová Jiré e hoje é pastor auxiliar de Jerônimo Onofre da Silveira, que comanda a entidade civil e é atual presidente da 107 FM.
Segundo apurou o MP, entre outras tarefas, coube ao advogado orientar os dirigentes da Quadrangular sobre o que deveriam dizer durante os depoimentos. Na época da denúncia, o promotor solicitou a quebra de sigilo fiscal do advogado e da emissora, mas a Justiça não acatou o pedido. Para o MP, quem geria a contabilidade fraudulenta da Jeová Jiré era Jerônimo Onofre a mando do “seu pai de fé”, o deputado federal Mário de Oliveira (PSC-MG), suspeito de contratar um matador profissional para executar o colega de parlamento e desafeto, Carlos Willian (PTC-MG)
Preletores
O acusado Túlio Camargo, a pedido do pastor Jerônimo, acompanhou alguns dos depoimentos prestados no inquérito que apurou o rombo nos cofres da Prefeitura de Contagem, durante o convênio firmado com a Jeová Jiré. Após processo de seleção aleatório, o promotor ouviu algumas pessoas que aparecem nos registros de contabilidade da entidade como sendo beneficiárias de supostas preleções proferidas na entidade.
O acusado Túlio Camargo, a pedido do pastor Jerônimo, acompanhou alguns dos depoimentos prestados no inquérito que apurou o rombo nos cofres da Prefeitura de Contagem, durante o convênio firmado com a Jeová Jiré. Após processo de seleção aleatório, o promotor ouviu algumas pessoas que aparecem nos registros de contabilidade da entidade como sendo beneficiárias de supostas preleções proferidas na entidade.
O promotor classificou como “estarrecedores” o resultado dessas oitivas, pois foi descoberto que eles nunca haviam proferido palestras na Jeová Jiré. Em panfleto publicitário, os pastores da Quadrangular prometiam a cura de dependentes viciados em drogas e alcoólatras em apenas 15 dias. Os internos recebiam tratamento com “óleos milagrosos” e sermões. O fato levou o MP a suspeitar que o advogado teria norteado os depoimentos dos “preletores”. (EF)
Recibos mostram desvio de R$ 1,1 milhão da prefeitura
Documentos do Ministério Público (MP) remetidos ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) foram fundamentais para o juiz Marcus Vinícius Mendes do Valle, da 2ª Vara Municipal de Contagem, determinar a indisponibilidade dos bens do pastor Jerônimo Onofre da Silveira e da Escola de Ministério Jeová Jiré. Eles revelam indícios de várias fraudes envolvendo a contabilidade da entidade, conforme mostrou O TEMPO nas últimas semanas, e motivaram o promotor de Justiça, Mário Antônio Conceição, a instaurar outro inquérito civil contra a entidade.
Além de ter utilizado parte da verba dos cofres da Prefeitura de Contagem para pagar o aluguel de imóvel, que na realidade pertence ao pastor Jerônimo Onofre da Silveira, presidente perpétuo da entidade, a Jeová Jiré usou empresas fantasmas e comprovantes de pagamentos falsos para justificar os repasses da prefeitura. Agora, recibos suspeitos apontam para pagamentos irregulares em favor do Posto REM Ltda. e da empresa Transportes Jovimar Ltda. O posto de combustível teria abastecido veículos particulares de propriedade dos pastores da Quadrangular.
Em depoimento, um frentista contou que os próprios pastores emitiam as autorizações para o consumo de gasolina. Segundo o formulário da prestação de contas de 2002, em junho, a Jeová Jiré apresentou, em um único comprovante fiscal, despesas de R$ 4.477,50 com gasolina. A empresa Jovimar Transportes seria a responsável pelo fechamento da contabilidade da Jeová Jiré, fornecendo notas fiscais no valor necessário. Nas notas fiscais, a empresa de ônibus oferece preços abaixo de mercado. Pelo aluguel de uma frota de 14 ônibus e uma Van, a entidade pagou apenas R$ 1.480. Cada aluguel saiu por R$ 98,60. (EF)
"E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." 2Pe.2:3
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