Nunca fui de me queixar ou me fazer de vítima. O post que ora escrevo tem o objetivo de dar voz a minha realidade e de tantos outros amigos que são companheiros de luta há anos na causa da fé e são pessoas íntegras, inteligentes e acima de tudo apaixonadas.
Algumas experiências aqui são pessoais, outras ouvi. Para quem pensar que estou em lua de fel com o povo que lidero, digo o seguinte: você não entendeu nada.
Vamos aos fardos…
1. Ter de explicar a toda hora que sua igreja não é a mesma que a do Edir Macedo, do Valdemiro Santiago e assemelhados.
2. Ter de suportar a cara de desconfiança da atendente da loja quando pergunta a sua profissão e você responde: “pastor”. A gente tem a impressão que alguém escreveu na nossa testa sem a nossa permissão: “vigarista”.
3. Ser o bode expiatório dos problemas que as pessoas estão passando. Problemas que se arrastam muito tempo acabam sendo debitados na conta do pastor. A mulher foi traída pelo marido e depois de pensar um pouco chega a conclusão que a culpa do “angu” é do pastor e decidem os dois sair da igreja. O pastor era muito fraquinho!
4. Expectativas de que os filhos do pastor, não vivam sua infância e adolescência e sejam seres super dotados espiritualmente que oram, pregam e dão conselhos como um obreiro veterano.
5. Desejo que o casal pastoral sejam ambos, bem humorados, sorridentes, extrovertidos e que causem boa impressão a primeira vista.
6. Expectativa de que o pastor reúna em si todos os dons relatados na Bíblia. Que seja teólogo como foi Paulo, excelente pregador como foi Apolo, bom ouvinte como foi Barnabé e competente dirigente de música como foi Asafe, e de vez em quando como Jesus, entreter as crianças na Escola Bíblica Dominical.
7. Ter de ouvir brincadeiras tipo: “Cansado do que, se pastor só trabalha domingo?”. Infelizmente as pessoas não veem que a maior parte do trabalho do pastor não é feita diante dos olhos dos membros da igreja. Aconselhamento nos lares, visita a doentes, discipulado um a um, preparo para estudo e pregação, planejamento de eventos são todas atividades que passam despercebidas dos olhares do membro comum da igreja.
8. Não ter a chance de estar em um dia ruim, chorar, se sentir ferido ou abandonado. Eu conheço uma nuvem de pastores que tomam omeprazol direto porque ninguém lhes dá o direito (nem eles mesmos) de expressarem o que estão sentindo. Um dia um amigo foi se abrir com um diácono da igreja e o diácono chamou sua atenção: “Que é isso pastor, o senhor não pode se sentir assim!"
9. A crença injusta e precipitada de que se há qualquer rumor sobre a vida pessoal do pastor deve ser verdade. O famoso bate e depois pergunta. Havia um boato em uma certa igreja, uma conversa de que o pastor andava com outra mulher, mas o que ninguém sabia ou deu-se conta é que era a mesma mulher, só que ela havia pintado o cabelo de loiro.
10. Não aceitar que o pastor tire férias, afinal Deus não descansa, então o pastor não deveria descansar já que ele tem ligação direta com o “homem lá de cima”. Além disso como um pastor pode descansar sabendo que milhares estão indo para o inferno…
11. O pensamento de algumas pessoas de que o lider espiritual, não tem sentimentos, nem expectativas de retorno nos relacionamentos. Muitas são as vezes em que o pastor não é visto como amigo pois habita o panteão das idealizações das pessoas o que certamente torna a vida dele um pouco mais difícil. As pessoas se sentem a vontade para agirem como em nenhum outro relacionamento: descompromissadas em palavras e ações. Bate que o pastor aguenta!
Sim há um outro lado que talvez você nunca pensou. Seu pastor também é gente.
Recebi por email da minha amiga Lalá Emerick, mas o autor é o Fabiano Bohi Goulart, em seu blog. Os grifos são meus.
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