Por João Rodrigo Weronka
Em minha caminhada cristã, me
impressiono ao ver como alguns irmãos exageram numa inocência forçada
quando se fala a respeito dos problemas presentes na comunidade cristã.
Fato é que efetivamente existem problemas – e muitos – neste ambiente.
Ao longo do tempo, formou-se um sistema anexo à Noiva de Cristo, um
sistema que na verdade é uma falsa igreja, um regime apóstata que trata
do Reino como algo absolutamente antagônico a sua própria essência. Não
estou falando da igreja institucionalizada, pois ela é fundamental para
o Reino. Sou absolutamente contra o movimento dos ‘cristãos
desingrejados’, pastores de si mesmos. Mas este assunto fica para outro
artigo.
Não sei se defino essa visão das coisas
como inocência ou como cegueira. O próprio Senhor Jesus nos adverte a
respeito do joio que cresce junto ao trigo, porém, qual deve ser nossa
postura como cristãos diante desse cenário monstruoso que está se
formando debaixo de nossos narizes?
Falado a pouco a respeito da noiva, que a
Bíblia define tipologicamente como a Igreja, façamos uma breve reflexão
a respeito dela. Quem teve a oportunidade de preparar uma celebração
matrimonial sabe como é, para o noivo, o anseio em ver sua amada noiva
adentrando o templo, adornada, preparada, perfumada, embelezada para o
encontro com o noivo. Do outro lado, a noiva, que passou longas horas se
preparando para o momento máximo, pronta para agradar o noivo, com sua
beleza, preparação absoluta de entrega, e que segundo reza o padrão
moral e espiritual cristão, devendo estar pura e limpa, para que celebre
junto ao noivo e enfim esteja unida a ele.
Diante disso, vamos refletir um pouco nas Escrituras.
Amigo do Noivo
‘Vós mesmos sois testemunhas do que vos
disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que
tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que lhe serve e o ouve,
alegra-se grandemente por causa da voz do noivo. Portanto, essa
satisfação já se cumpriu em mim. É necessário que Ele cresça e que eu
diminua’. João 3.28-30 (Versão King James – KJ).
João Batista, ao declarar tais palavras,
estava se referindo – em primeira instancia – aos seus discípulos, que
deveriam passar a seguir ‘aquele que estava batizando do outro lado do
Jordão’ (v.26), mas por inferência, aplica-se o texto à noiva de Cristo,
a igreja. Convém que ‘os amigos do Noivo’ dessa geração operem da mesma
forma, diminuindo, anulando-se, para que Ele cresça e para que a noiva
seja apenas do Noivo.
No entanto, temos visto uma geração de
sacerdotes pregadores do erro crescendo sobremodo e impondo-se como os
donos da noiva, e não como amigos do Noivo.
Paulo, apóstolo, amigo do noivo
O pragmatismo é um veneno muito
pernicioso. De um modo geral, o homem acredita que as coisas que
‘funcionam são as que estão certas’, e tal via é extremamente perigosa.
Diferente de alguns cristãos modernos, a
igreja ao longo de sua existência sempre lutou contra as heresias
vindas não somente de fora, mas também o erro apregoado dentro. Veja as
palavras do teólogo reformado Louis Berkhof:
Pela dádiva de sua Palavra à Igreja, Deus a constituiu em guardiã do precioso depósito da verdade. Enquanto forças hostis são colocadas contra ela e o poder do erro transparece em toda parte, a Igreja deve providenciar para que a verdade não pereça na terra, para que o grau no qual ela está incorporada seja mantido puro e sem mutilações, a fim de que o seu propósito não seja derrotado, e para que ela seja transmitida de geração em geração. Ela tem a grande e responsabilizante tarefa de manter e defender a verdade contra todas as forças da incredulidade e do erro. [1]
Paulo trata deste assunto com uma igreja que, nos padrões atuais, seria a mais perfeita de todas: a igreja em Corinto.
A cidade de Corinto, na época com população estimada em 250 mil cidadãos livres e 400 mil escravos tinha localização privilegiada. Possuía dois portos e pleno acesso ao Mar Mediterrâneo, o que fazia dela uma espécie de encruzilhada por onde viajantes de todo o mundo passavam. O comércio era exuberante, a cultura cosmopolita e os cultos aos deuses helênicos eram intensos, uma vez que a cidade abrigava doze grandes templos, sendo que um dos mais infames era dedicado à Afrodite, deusa grega do amor, onde mais de mil mulheres eram escolhidas todos os anos para que seus corpos servissem de oferendas religiosas em cultos regados a sexo cultual. [2]
Numa cidade com tais costumes, estava a
comunidade de cristãos da Igreja em Corinto, uma igreja cheia dos dons
(1Co 1.7), porém imatura ao ponto de dividir-se em concórdias (1Co
1.10-17).
Para tal comunidade Paulo lança uma severa advertência que ecoa em nossos dias: a lábia da serpente através dos falsos obreiros. Eis o trabalho daqueles que amam a noiva!
Sugiro ao leitor que leia 2Co 11 integralmente antes de prosseguir. Feito isso, continuamos nossa reflexão.
Pois tenho verdadeiro ciúme de vós, e
esse zelo vem de Deus, pois vos consagrei em casamento a um único
esposo, que é Cristo, a fim de vos apresentar a Ele como virgem pura. (2Co 11.2, KJ)
1. Zelo pela Noiva: Neste
versículo, Paulo fala sobre zelo e ciúme por aquele povo cristão, o
qual ansiava em apresentar diante de Deus como noiva virgem e pura. Uma
noiva sem a mancha do erro, do engano, do pecado pré-nupcial, ou seja,
uma noiva que não fosse usurpada pelo maligno e por seus falsos
obreiros.
Como li num artigo recentemente, a noiva
tem sido estuprada, violentada, usada, envergonhada por homens que
aparentam serem amigos do noivo, mas que na verdade servem a Mamon, a
seu próprio ventre – ministros de Satanás. Homens que lideram impérios
religiosos voltados a si mesmos. Onde estão os amigos da noiva para
ecoar o alarde que tal caminho voltado para o homem, e não para Deus, é
uma via de engano? Dói para poucos ver esta situação e infelizmente é
cômodo para muitos calar-se consentido com a tragédia.
Entretanto, receio que, assim como a
serpente enganou Eva com sua astúcia, também a vossa mente seja de
alguma forma seduzida e se afaste da sincera e pura devoção a Cristo. (2Co 11.3, KJ)
2. O engano da serpente: Seguindo
em 2Co 11.3, Paulo fala sobre o engano da serpente, a sedução que Eva
sofreu e que, pela astúcia do diabo, poderia seduzir aqueles cristãos,
de tal modo que suas mentes seriam ludibriadas a ponto de afastá-los da
pura e sincera devoção a Cristo. Os falsos mestres que se infiltraram no
meio do povo estavam pregando ensinos pervertidos, que se
desencontravam da Verdade. O anseio do apóstolo era que o povo tivesse o
coração e mente íntegros ao Senhor e que nada nem ninguém tivesses
parte na glória única de Deus. E de que forma o engano estava sendo
sorrateiramente colocado naquele contexto?
Porquanto, se alguém vos tem pregado
um Jesus que não é aquele que ensinamos, ou se recebeis um outro
espírito, que não o Espírito que creio, terdes recebido, ou ainda um
evangelho diferente do que tendes abraçado, a tudo isso muito
facilmente, tolerais. (2Co 11.4, KJ).
3. Falso evangelho, falso Jesus: Em
2Co 11.4, o apóstolo Paulo adverte a igreja que infelizmente estava
sendo tolerado um falso ensino, falso evangelho, falso Espírito, falso
Cristo. Não existe nada pior que a mentira disfarçada de verdade.
Repito: a mentira disfarçada de verdade é um veneno dado em doses
homeopáticas ao povo, que nem percebe que aos poucos estão caindo em
destruição. Um pedófilo jamais mostrará sua intenção e face à inocente
criança, assim como o estuprador agirá de modo frio e calculista em
busca de sua vítima. O erro caminhará com cara de verdade, mas não
tardará mostrar-se profundamente tenebroso e diabólico. Os falsos
mestres dão o atestado de sua falsidade, em curto, médio ou longo prazo.
Contudo, não me julgo em nada inferior a esses “eminentes apóstolos”. (2Co 11.5, KJ).
Em nada me considero inferior a esses “superapóstolos”. (2Co 11.5, Almeida Século 21 – A21).
4. Eminentes apóstolos; Superapóstolos: Aqui
em 2Co 11.5 um dos verdadeiros apóstolos de Cristo, Paulo de Tarso,
alerta sobre os falsos mestres que estavam conduzindo a igreja de
Corinto ao erro. Eram esses homens que estavam contaminando a Noiva,
abusando da Noiva! Eram esses homens que se julgavam em posição de
eminência que estavam correndo as bases doutrinárias. Neste sentido
vamos nos aprofundar um pouco.
Superapóstolos
É necessário um aprofundamento de
contexto para entender melhor o que estava acontecendo ali. Em 2Co
11.6-9 Paulo fala que não cobrava a respeito do ensino ministrado ali
naquele lugar, uma vez que recebeu apoio das igrejas da Macedônia e
Filipos e trabalhava com artesanato, costurando tendas (At 18.1.4). E
por que ele não queria pesar financeiramente para a igreja de Corinto?
Não seria ele como obreiro digno de seu salário?
Paulo estava fazendo forte oposição aos
‘superapóstolos’, uma vez que no século 1 era comum nas províncias
gregas (e Corinto ficava na Acaia, ao sul) o pagamento aos mestres de
religião e filosofia que atuavam de modo itinerante. Estes lobos estavam
sangrando a igreja e ensinando heresias, e como cobravam pelo ensino,
ainda difamavam o apóstolo Paulo, alardeando que seu ensino era fraco,
pois era gratuito. Como são astutos os filhos do diabo! Inversão da
graça.
O anseio dos lobos era que Paulo mudasse
seu proceder, cobrando pelo ensino para que se igualasse a eles em
atitude. Fica o alerta para você, amado em Cristo: não siga as tendências de ‘sucesso pragmático’ dessa era. Seja fiel e firme na sã doutrina. Veja o comentário abaixo:
Historicamente, líderes religiosos, hereges, despóticos e carismáticos têm sido mais ovacionados pelo mundo do que os santos servos do Senhor. Por isso, os crentes e as igrejas precisam ter cuidado para não se deixarem influenciar pelos “superapóstolos” ou “eminências”, conforme a ironia usada por Paulo, e, assim, em se afastar da verdade (Gl 1.6-9). [3]
Estes falsos apóstolos estavam atuando
deste modo itinerante, bem como tentando difamar Paulo (que ficou em
Corinto um ano e seis meses – At 18.11) com o propósito de levar uma
falsa doutrina, sedentos por dinheiro. Situação idêntica ao que vemos
nos nossos dias. Como disse William MacDonald, “como a maioria dos
líderes de seitas, não trabalhariam em um lugar que não lhes desse
lucro” [4].
Por fim, Paulo lança a todos os olhos aquilo que aqueles homens – e seus similares de nossos dias são:
Porquanto, tais homens são falsos
apóstolos, obreiros desonestos, fingindo-se apóstolos de Cristo. E essa
atitude não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de
luz. Portanto, não é surpresa alguma que seus serviçais finjam que são
servos da justiça. O fim dessas pessoas será de acordo com o que as suas
ações merecem. (2Co 11.13-15, KJ)
As Escrituras deixam claro que o trunfo
desses hereges – um verdadeiro canto de sereia – está em seu grande
poder de dissimulação, de manipulação. Estes homens tem o “poder” de
levar aos ouvidos incautos uma idéia e esperança decisivamente boa,
quando de fato não é. E como mostra o versículo 15, que o próprio Diabo
se disfarça para enganar, como podem muitos fechar os olhos para
realidade que os falsos mestres estão espalhados pelos quatro cantos, na
mídia, na internet, no rádio e na TV, e ainda, nos púlpitos, utilizando
de linguagem religiosa e aparência de piedade, quando no fundo não
passam de mensageiros do Maligno.
Por fim, fica a preocupação de que,
todos aqueles que de alguma forma, com coração sincero, querem um
relacionamento com Cristo, não caiam na cilada:
Entretanto, receio que, assim como a
serpente enganou Eva com sua astúcia, também a vossa mente seja de
alguma forma seduzida e se afaste da sincera e pura devoção a Cristo. (2Co 11.3, KJ)
Louvo a Deus pois em breve o sistema apóstata ruirá, e prevalecerá por todo sempre a igreja gloriosa, a verdadeira Noiva:
Esta é a Igreja que será verdadeiramente gloriosa no final. Quando toda glória terrena tiver passado, então esta igreja será apresentada sem mancha diante do trono do Deus Pai. Tronos, principados e poderes sobre a terra não serão nada; mas a igreja do primogênito brilhará como as estrelas no final e será apresentada com alegria diante do trono do Pai no dia da aparição de Cristo. [5]
Sola gratia!
Soli Deo gloria!
Notas
[1] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2009. p. 548-549
[2] Novo Testamento King James, nota introdutória 1Coríntios. São Paulo: Abba Press, 2007. p. 377
[3] Novo Testamento King James, comentário 2Co 11.5, p. 427
[4] MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 572
[5] RYLE, John C. “A Igreja Verdadeira”, in TORREY, R.A. Os Fundamentos. São Paulo, Hagnos, 2005. p. 556
***João Rodrigo Weronka é fundador do NAPEC e colunista do Púlpito Cristão
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(2) A única coisa que eu não aceito é vir com a teologia do “não toque no ungido”, que isto é conversa para vendilhão dormir... Faça como os irmãos de Beréia e vá ver se o que lhe foi dito está na Palavra Deus!
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