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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

19 de novembro de 2012

PARA CONHECER O AMOR DE DEUS?






Algumas vezes, ouço alguém questionar o amor de Deus. Se para mim o amor de Deus parece óbvio deve ser porque em minha caminhada de vida – desde a infância até os meus dias atuais – sempre estive cercado de amor. Tive uma mãe e um pai amorosos, tias que devotaram carinho, amor e atenção e, irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas que cresceram comigo em um clima de fraternidade, afeto e amor.
Reconheço, no entanto, que há muitos que não experimentaram esse grau de amor, cumplicidade e fraternidade em suas vidas, bem como o fato de que estar cercado de amor não nos impede de errar e tomar certos caminhos que parecem bons, mas que conduzem a morte e ao engano. Ser cercado desse tipo de amor não impede de que possamos nos envolver em drogas, prostituição, bebedeiras e em outras formas de sentir-se livre quando se está aprisionado.
E nessas prisões que estamos inseridos a nossa visão se turva e não conseguimos enxergar ou compreender o amor de Deus. Alguns me dizem: “Deus mandou dizimar povos inteiros e matar crianças e animais, que amor é esse?”. Outros, como um comediante ateu norte-americano, acredita que Deus é um manipulador. Para alguns, Deus é uma ideia! E há outros que fazem de Deus um incômodo, afirmam que Ele não existe, mas vive remoendo e atacando a igreja arguindo que é uma força opressora, sem enxergar que a sua própria maneira de agir com violência verborrágica é ainda mais opressora. São muitas imagens que o homem construiu para o Deus que escolheu não ser representado por nenhuma delas.
Para eles é difícil compreender o amor de Deus. Deus não é um facínora, nem um genocida, Deus é simplesmente Deus. Dentre os seus muitos atributos, nós o entendemos como justo e como santo. Pois bem, em sua santidade, Deus não se obriga para como nenhum de nós e quando o faz, decide assim fazê-lo em amor. Decide fazê-lo demonstrando o seu amor por aqueles a quem escolheu. Mas essa escolha não é injusta!?!? Se você me apontar um ser humano que não tenha defeitos, que não seja capaz de fazer o mal, que nunca tenha se corrompido com seus próprios prazeres, certamente te diria que Deus é injusto! Mas se não existe tal pessoa, Deus é justo e, assim sendo, está acima de nossa natureza transgressora e decadente.
Em verdade, sou tentado a afirmar que o mundo de hoje está tão carente, tão vazio de amor que se tornou incapaz de compreender o amor de Deus. Estamos tão cercado de atrocidades, de crimes inacreditáveis, da banalização da vida, dos sentimentos, da família, da beleza, da moralidade. Essa geração é uma geração estética, que aprecia mais a superfície que a profundidade, que proclama o carpe diem e não o projet de la vie (de Jean-Paul Sartre). Não pensamos no amanhã, mas apenas no agora, no imediato. Queremos viver tudo de uma só vez, ao invés de planejarmos viver uma vida inteira. Como afirmou Renato Russo, somos a geração do “o pra sempre sempre acaba”.
Não se pode pedir a um mundo imerso na violência, na impunidade, nas mais diversas formas de corrupção que compreenda o sublime amor de Deus. 
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24;12), muitos já esfriaram e, com isso, perderam a fé. Acusam Deus de ser indiferente por permitir tais atrocidades e concluem, sem a solidez da argumentação científica, que por essa razão Deus não existe. É mais fácil ignorar as próprias culpas e encontrar um bode expiatório. Mas como nos permite concluir, a partir das leituras do polonês Zigmunt Bauman, somos uma geração de imediatistas, de uma crítica desdentada, incapaz de tomar uma atitude para transformar a realidade social pela qual todos somos responsáveis. Entretanto, como cobrar daqueles que se escondem por trás de uma imagem de inteligentes, intelectuais, mas esbarram que é mais correto encher a cara, fumar um baseado e se afirmam mais livres que aqueles que buscam em Deus a sua satisfação e liberdade? Quem está a enganar quem?
Procuramos em Deus o amor que nos liberta e aqueles que realmente mergulham com intensidade nesta busca é verdadeiramente livre. Não me refiro aos que mergulham na institucionalização, na religiosidade, no formalismo, no dualismo ignorante e sectário pautado no dualismo pode/não pode. Deus não tem nada com isso! Deus é gracioso e a graça é a expressão maior de Seu amor e foi manifesta na ousadia e extremismo da crucificação.
Culturalmente, a cruz no século I era a pior humilhação a que um homem poderia ser submetido, mas Deus não poupou a si mesmo ao entregar Seu único filho e lançar sobre toda a ira reservada para nós que somos falhos, pecadores e merecedores de Sua ira. Jesus foi humilhado, torturado e morto por uma culpa que não tinha, condenado por um pecado que era meu e seu. Ele é nosso redentor, nosso salvador, nosso libertador.
A redenção é o pagamento feito para libertação de um escravo. Na antiguidade, quando alguém era tomado por escravo, poderia livrar-se de sua condição se um parente pagasse a sua dívida. Esse parente ou benfeitor era conhecido como resgatador ou redentor. Tomando por referência o direito romano, sabemos que o escravo é res, é instrumenta vocalia (uma coisa que fala) e não persona (pessoa), ou seja, não há como o escravo que é uma coisa, possa voltar a ser pessoa. Por isso, o redentor comprava o escravo para um deus, o que significa que a sua liberdade era sinônimo de servidão a um determinado deus. Se Jesus é nosso redentor, isso significa dizer que ele nos resgatou da escravidão do pecado para sermos escravos do Deus Todo-Poderoso (Romanos 6:18), e não há liberdade real fora dEle.
A nossa salvação se opera no plano interior, pois somos salvos de nós mesmos, somos salvos de uma natureza frívola e entregue as próprias paixões, inflamada e desejosa pelo mal. Nunca vi ninguém morrer de oração, mas vejo todos os anos muitos morrerem por causa do cigarro. Nunca vi famílias serem destruídas pelo amor, mas já vi e vejo muitas destruídas pelas drogas e pelo álcool. Nunca vi acidentes provocados por alguém estava indo ou voltando para igreja, mas vi e vejo muitos provocados por pessoas embriagadas voltando de farras e festas. Vemos famílias e pessoas inocentes sendo mortas pelos erros e pelas inconsequências de uma vida distante da Verdade, mergulhada na ilusão e na alienação de uma liberdade irresponsável, inconsequente e imediatista.
As pessoas nunca se sentiram tão livres para amar. O sexo é coisa fácil. Uma vez perguntaram a um morador de uma cidade no sertão nordestino se havia por ali algum bordel e o morador respondeu: “Tem mais não... as ‘menina’ num deixa! Elas tão dando tudo de graça!”.  Ninguém preserva mais o seu corpo, pois isso é retrógado, é caretice! Coisa ultrapassada! E para que muitos não acreditam que isso não é generalizado, ouço pessoas na igreja pensar do mesmo modo. Se eu amo, eu quero e se eu quero, eu faço. Não há freios, não há limites. E o que nós encontramos, pessoas decepcionadas, que algumas vezes se sentem desvalorizadas. Encontramos pessoas descartáveis, vivendo relacionamentos descartáveis e proclamando e perpetuando a seus filhos e filhas a irresponsabilidade, a inconsequência, a ausência de moralidade e ética, e a ideia de que ser livre é fazer o que se quer, mesmo que isso implique em destruir lares, em destruir seu corpo, em ferir pessoas, em frustrar expectativas.
É triste constatar que a igreja não está livre de tais coisas. Há muitos na igreja que não compreendem o amor de Deus. Pessoas que se tornaram tão religiosas a ponto de se acharem boas. Pessoas que estão tão feridas que são incapazes de perdoar. Em muitos aspectos são diferentes daqueles que estão no mundo. Vivem uma religiosidade superficial e moralista, que enfatiza um conjunto de regras, a perceber ou mergulhar na graça de Deus. Pessoas que afastam, que destroem as pontes, ao invés de servir como pontes para que as pessoas atravessem o abismo que as separam do Senhor. Pessoas que pensam o mal e que em seus corações estão ocultas as paixões e desejos carnais. Pessoas para quem o profeta falou: “Lava o teu coração da malícia, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão no meio de ti os pensamentos da tua iniquidade?” (Jeremias 4:14).
Não raro vemos pessoas que buscam a igreja ou ao Senhor para aliviar as suas tenções e não para mudar as suas vidas. Se apegam ao conforto que uma boa igreja causa a sua consciência pesada, mas quer em suas atitudes, quer em seus valores apregoam e se dedicam as mesmas transgressões. Não mudança sincero, não há entrega, mas tão somente uma presença vazia, um número a mais, um corpo presente. São os cristãos comedores de fast food, experimentam, mas não se saciam. Comem, mas permanecem desnutridos. A. W. Tozer escreveu: “Ninguém pode ‘experimentar’ Jesus. Ele não está à disposição de ninguém para ser testado. Cristo não está sob teste. Você está. Eu estou. Ele não!”. Muitos não compreendem essa verdade e continuam acreditando que estão com Deus, mesmo quando é apenas Deus quem deseja estar com eles.
Não há cristianismo sem mudança, sem conhecimento ou sem profundidade. E a ignorância nos faz envergonhar o evangelho de Cristo e nos faz viver e sofrer a perseguição – que muitos precipitados acreditam ser um sinal de um caminho certo – pelos nossos desvios e devaneios que pela verdadeira pregação do Evangelho de Jesus Cristo. A esse respeito, são contundentes e esclarecedoras as palavras de Nicodemus: “O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios que a palavra da cruz é loucura para a mente carnal e natural, para aqueles que estão perecendo (1Co 1:18, 21, 23; 2.14; 3.19). Ele mesmo foi chamado de louco por Festo quando lhe anunciava esta palavra (Atos 26.24). Pouco antes, ao passar por Atenas, havia sido motivo de escárnio dos filósofos epicureus e estóicos por lhes anunciar a cruz e a ressurreição (Atos 17:18-32). O Evangelho sempre parecerá loucura para o homem não regenerado. Todavia, não há de que nos envergonharmos se formos considerados loucos por anunciar a cruz e a ressurreição. Como Pedro escreveu, se formos sofrer, que seja por sermos cristãos e não como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outros (1Pedro 4.15-16). [...]Infelizmente os evangélicos - ou uma parte deles - não deu ouvidos às palavras de Paulo, de que é válido tentarmos não parecer loucos. Existe no meio evangélico tanta insensatez, falta de sabedoria, superstição, coisas ridículas, que acabamos dando aos inimigos de Cristo um pau para nos baterem. Somos ridicularizados, desprezados, nos tornamos motivo de escárnio, não por que pregamos a Cristo, e este, crucificado, mas pelas sandices, tolices, bobagens, todas feitas em nome de Jesus Cristo. [...] Infelizmente os evangélicos - ou uma parte deles - não deu ouvidos às palavras de Paulo, de que é válido tentarmos não parecer loucos. Existe no meio evangélico tanta insensatez, falta de sabedoria, superstição, coisas ridículas, que acabamos dando aos inimigos de Cristo um pau para nos baterem. Somos ridicularizados, desprezados, nos tornamos motivo de escárnio, não por que pregamos a Cristo, e este, crucificado, mas pelas sandices, tolices, bobagens, todas feitas em nome de Jesus Cristo.”
Talvez por essa razão, Charles Swindoll escreveu A Igreja Desviada, exortando a igreja a reencontrar o caminho da Palavra de Deus. Precisamos de um reforma para assim reformarmos o mundo. Precisamos compreender as verdades mais básicas do Evangelho, como a graça, o perdão e o amor de Deus.
Mas mesmo dentro da igreja, muitos não tem se deixado conduzir pelo amor de Deus e tem deixado de amar o perdido a ponto de conhecer a Palavra de Deus para anuncia-la, de amar a igreja – não a denominação ou a instituição assim chamada – a ponto de lutar por ela. Não tem sido grato pela cruz e se entregado totalmente ao Senhor, mas tem frequentemente aberto concessões que tornam demasiadamente perigosa a caminhada.
Somos, em muitos momentos, uma igreja que ilumina caminhos tortuosos, enlameados e inseguros, ao invés de que indicar, sinalizar e apontar o caminho íngreme, mas seguro ao Trono do Rei dos Reis. Em Cartas do diabo ao aprendiz, C. S. Lewis escreveu: “Com efeito, a estrada mais segura para o inferno é aquela ladeira gradual e suave de chão macio, sem curvas acentuadas, sem marcos de quilometragem e sem placas de sinalização.” Uma estrada que não indica nada, que não alerta para os perigos, que não mostra as curvas acentuadas, os desvios ou a direção a ser tomadas em suas muitas bifurcações, mas parece sempre agradável, retilínea, rápida e segura.
A igreja precisa acordar da letargia e despertar para a necessidade que nós e o mundo tem de ser amado e de viver – não experimentar – o profundo amor de Deus que se materializou no caminho ao Calvário e que se consolidou na cruz de Cristo. Precisamos ter a ousadia de orar poderosamente com o apóstolo Paulo: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,
Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;
Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera,
A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém.” (Efésios 3:14-21).
O meu convite a você é de refletir sobre quem você é diante de Deus, sobre o que você tem feito com a sua vocação (a de ser santo) e, acima de tudo e ante de tudo, se você tem compreendido, abraçado, vivido e transmitido o amor de Deus sobre ti e sobre o mundo que vos cerca. Mais uma vez afirmo, o mundo está tão carente de amor que se tornou incapaz de compreender o amor de Cristo. O mundo nos olha e não ver esse amor, porque muitos ainda têm vivido em suas próprias redomas e para seus próprios desejos que se esqueceram que o mundo espera e anseia por aqueles que o amem e que façam diferença em suas vidas. O mundo espera por mim, o mundo espera por você!

Mamanguape, 12 de novembro de 2012.
 
Fonte: http://ivandromenezes.blogspot.com.br/

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