A cada vez que — na definição de Ricardo Boechat — pilantras como Silas Malafaia, Marco Feliciano ou Magno Malta proferem suas imbecilidades, alguns evangélicos correm a dizer que eles não os representam.
Se isso é verdade, e é de se supor que seja, por que essas vozes discordantes não estão fazendo mais barulho? Onde a condenação veemente dessa pregação intolerante, histérica, ignorante, homofóbica, obscurantista?
Outros líderes precisam iniciar um diálogo com os brasileiros que seja baseado em premissas diferentes, sob risco de virarem, graças ao ódio que jorra dos malafaias, o grupo mais odiado do Brasil.
No bairro da Penha, no Rio, uma menina de 11 anos levou uma pedrada na cabeça ao sair de uma festa do candomblé. Os homens carregavam bíblias na mão, segundo testemunhas.
A maior igreja pentecostal local se solidarizou com ela e a mãe. Mas é pouco. É necessário que pastores parem de clamar, no púlpito, que seguidores da umbanda ou do candomblé praticam feitiçaria. (Feliciano declarou, certa vez, que Caetano e Veloso e a Mãe Menininha do Gantois tinham “um pacto com o diabo”).
Os evangélicos sofrem hoje de uma crise de autoridade. Quem fala por eles, afinal?
Até quando a alegação de que “não é a religião, são apenas esses caras”? É razoável acreditar que a esmagadora maioria deles são pessoas normais, que não atacam crianças de outras fés, não acham que gays têm uma doença para ser curados. Mas onde eles estão?
Algo precisa mudar. É urgente opor-se publicamente aos fanáticos de ocasião. Há uma demanda para que crentes se mostrem aliados da decência humana, contra o que pregam os felicianos.
Quem, no meio evangélico, está desafiando esses doutrinadores? Eles precisam resgatar Jesus das mãos dessa canalha que grita cada vez mais e mais alto. Eles estão no Congresso, orando, afrontando o laicismo do estado com sua retórica de vergonha e desesperança. E aí?
É difícil se insurgir contra eles? Sim, mas começa com uma pessoa. Há uma fotografia tirada em Hamburgo, em 1936, que simboliza a força da resistência de um indivíduo.
Foi no porto, no lançamento de um navio de treinamento. No meio da multidão fazendo a saudação nazista, um homem está de braços cruzados. Mais tarde ele foi identificado como o operário August Landmesser.
Um único sujeito pode fazer a diferença. Depois vêm outros. Não é o caso, eventualmente, de atirar um ovo no púlpito ou cruzar os braços. Um bom começo é acertar onde mais dói nesses fundamentalistas: não dar dinheiro.
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