Por Josemar Bessa
Qual é o
verso preferido da Bíblia de nossa geração? Qual o texto preferido do
mundo e de muitos cristãos de nossos dias? Ele fala sobre a santidade de
Deus? Sobre o pecado? Sobre o verdadeiro arrependimento? Sobre a ira de
Deus? Sobre a condenação no inferno?...
O mundo e
muitos cristãos podem conhecer muito pouco ou praticamente nada da
Bíblia, mas tão certo como o sol nasceu hoje, eles podem citar sem
dificuldades Mateus 7.1: “Não julgueis para que não sejais julgados”
– E ironicamente, como não podia deixar de ser, o versículo que nossa
cultura e grande parte dos cristãos, por estarem completamente aliados a
ela mais gostam, eles menos entendem.
Esta é a
passagem bíblica mais abusada e mal compreendida... é óbvio que por uma
conveniência que despreza Deus. Nada é tão mal aplicado como essa
passagem. O mundo, a cultura, cristãos... a usam para denunciar todo e
qualquer um que se aventure a criticar ou expor os pecados, falhas ou
aberrações do coração caído que se deleite em tudo que Deus despreza.
Jamais se atreva a falar mal do homossexualismo, adultério, fofoca,
mundanismo, alteração do imposto de renda, aborto, a condenação de
qualquer um que não está em Cristo nos termos bíblicos... e assim por
diante... sem estar certo de você vai estar sobre a ira da multidão do
mundo e da “igreja” que se convenceram de que Jesus, a quem eles
desprezam e rejeitam – (pelo menos o Jesus real que diz: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama...” – João 14.21) - disse que não devemos julgar uns aos outros.
Isto
acontece por que? Por que este é o texto que está na boca de todos?
Acontece pelo fato de que as pessoas ODEIAM absolutos, especialmente
absolutos morais. Dizer que existe diferença absoluta entre o bem e o
mal, a verdade e o erro... é o caminho para ser chamado de Medieval,
mente fechada, fundamentalista... e hoje nada mais é temido, mesmo por
pessoas que dizem serem pregadores da verdade absoluta de Deus. Ser
dogmático é o maior temor dos que querem ser vistos como “relevantes”
por uma sociedade que abandonou Deus e que foi abandonada por Ele:
“Dizendo-se
sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes,
e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de
seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois
mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a
criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.” - Romanos 1:22-25
O
diagnóstico que flui dos problemas tratados por Paulo em Corinto, por
exemplo, é exatamente o oposto do diagnóstico que é feito hoje. “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação.” - 1 Coríntios 5:2
Hoje,
quando a disciplina não acontece o diagnóstico muitas vezes é que somos
muito humildes para julgar e disciplinar uma pessoa: Quem somos nós para
apontar o dedo? Quem somos nós para julgar? Quem somos nós para atirar a
primeira pedra? E assim uma suposta humildade é construída na base da
tolerância a imoralidade impenitente.
Por
outro lado, hoje, se uma igreja seguir na aplicação da disciplina é
muitas vezes diagnosticada como agindo direto com orgulho farisaico.
Indignação com o pecado é muitas vezes retratada como um disfarce para a
insegurança e um véu sobre suas tentações sexuais dos fariseus. Um tipo
de atitude "mais santo do que tu" é dito ser a base da indignação e a
arrogância é dita ser a base da disciplina e exclusão.
Mas
quando você lê este versículo 2, o diagnóstico de Paulo sobre o problema
em Corinto era exatamente o oposto. Não, a arrogância foi a base da
tolerância e a humildade de coração partido deveria ter sido a base da
excomunhão.
Ele disse: "Vocês se tornaram arrogantes."
As pessoas na igreja estavam se vangloriando desta imoralidade. Agora,
como pode ser isso? Que tipo de teologia daria origem a jactância na
imoralidade? Temos visto isso nas cartas de Paulo em outros lugares. Ele
diz: "E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns
dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação
desses é justa” - Romanos 3:8 – “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?” - Romanos 6:1
Então, é
uma teologia que não entende o poder da graça e a transforma em licença
para a vida mundana. É uma teologia que não entende a liberdade e usa-o
como "uma oportunidade para a carne" ( Gal. 5:13 ), e diz (como diziam em Corinto) "todas as coisas me são lícitas"
( 1 Co 6:12. , 10:23 ). E assim eles estavam se gabando de sua
liberdade e tolerância que anula a graça. Orgulho disfarçado de
humildade aqui foi a base da tolerância pecaminosa e não o julgamento
farisaico.
Neste
mesmo lugar ficamos tendo nos tornado espelho da nossa cultura. Ser
chamado de mente fechada é a maior dor imaginável para aqueles que
querem se abraçados pela cultura! Em suma, para a vastíssima maioria em
nossos dias o único inimigo é o homem que não está aberto para tudo.
Que
Jesus de forma nenhuma nos proíbe de expressar claramente a opinião,
declaração bíblica sobre o certo e errado, o bem e o mal, a verdade e a
falsidade... pode ser demonstrado observando dois fatores simples – o
contexto imediato do texto ( Mateus 7.1) e todo o ensinamento do Novo
Testamento sobre julgar.
Praticamente
todo o Sermão do Monte, antes e depois do texto mencionado, baseia-se
no pressuposto básico de que devemos usar nosso poderes críticos
instruídos pela Verdade de Deus para fazer julgamentos morais, éticos,
lógicos... Jesus disse para os cristãos serem completamente diferentes
do mundo que os cerca, para buscar a justiça que excede a dos fariseus,
fazer tudo com motivações completamente diferente do mundo ao redor, ou
seja, completamente centrados na glória de Deus e não no homem, evitar
ser como os hipócritas quando damos, oramos, jejuamos...
E logo
depois da exortação de Mateus 7.1, Jesus diz para não dar o que é santo
aos cães ou pérolas aos porcos, nos guardar dos falsos profetas... É
óbvio que seria impossível obedecer a esses mandamentos sem usar o
julgamento crítico que flui das definições bíblicas sobre a vida. Só
podemos, é claro, obedecer a esses mandamentos e determinar nosso
comportamento em relação aos “cães”, “porcos”, “falsos profetas”,
“mundo”... se usarmos um julgamento crítico conduzido pela verdade sobre
todas essas coisas.
Quando
esquecemos tudo isso começamos a citar versos bíblicos como o diabo
citou diante de Cristo na tentação no deserto. Por isso a Bíblia está
cheia de mandamentos para fazermos julgamentos:
“Todo
aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a
Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como
ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o
recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte
nas suas más obras.” – 2 João 9-11
“Ora,
se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se
te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo
um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a
palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se
também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” - Mateus 18:15-17
“E
rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos
contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não
servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves
palavras e lisonjas enganam os corações dos simples.” - Romanos 16:17-18
“Eu,
na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já
determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou...” - 1 Coríntios 5:3
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” - Gálatas 1:8
“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” - Filipenses 3:2
“Ao
homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, Sabendo que
esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado.” - Tito 3:10-11
“Amados,
não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus,
porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” - 1 João 4:1
“Tenho
escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado,
não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele
faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com
isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os
lança fora da igreja.” - 3 João 1:9-10
Agora, devíamos olhar especialmente para João 7.24 – onde o próprio Jesus diz: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” - João 7:24
O que é, então, que Jesus quis dizer em Mateus 7:1-6 ?
Parece
que Jesus está proibindo o tipo de crítica julgamento que é hipócrita,
que nos torna apenas farejadores de falhas, destrutivos, amargos... Ele
está proibindo o tipo de julgamento que fazemos aos outros não por
preocupação com sua saúde e bem-estar espiritual, mas unicamente para
desfilar nossa suposta justiça diante dos homens.
Não
devemos julgar os outros como um meio de auto-justificação. Algo comum –
ao apontar o erro de pastores ou da igreja, por exemplo, tento
justificar minha falta de compromisso com o corpo de Cristo. Tento usar o
erro dos outros para justificar minha falta de submissão... denuncio
apenas pecados externos e visíveis como roubo, assassinato, injustiça
social... para minimizar os internos como amargura, ciúme, luxúria...
Essa forma de julgamento nada mais é do que auto-justificação.
Em Mateus 7.6 Jesus aponta para o perigo oposto: “Não
deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas
pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos
despedacem.” – Ele aqui aponta para o perigo de sermos homens
indulgentes e sem discernimento num mundo que despreza completamente
Deus. Pensando em amar os nossos inimigos, andar a milha extra e não
fazer julgamentos injustamente... corremos o grande perigo de nos
tornarmos insossos, não mais sal e luz, não fazer mais distinções
essenciais entre o certo e o errado, a verdade e a falsidade, a luz e as
trevas, o viver santo e a impiedade, o ser igreja ou ser o mundo
debaixo da ira de Deus.
Fonte: Josemar Bessa
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