Sabão Teológico

 

       Estou iniciando este artigo às 21,30 horas, ao chegar de um culto naCatedral Metodista, que fica a uma quadra do meu apê. Poucos minutos antes, quando o culto ainda estava no início, uma amiga ex-pentecostal ligou para me avisar sobre o evento, onde estaria pregando um pastor de fora. Fiquei curiosa para ver e ouvir o tal pregador e saí correndo, com a roupa do corpo.

Cheguei exatamente quando o pregador estava sendo anunciado. Vi que se tratava de um afro descendente, jovem e bonito, de porte elegante e muito carismático. Gostei do jeito dele, até que o dito começou a vomitar as heresias da fé/prosperidade, no púlpito. Ele mandou que os crentes lessem parte do capítulo 1 do I Samuel (que ele fez questão de chamar “Primeira”) e falou várias vezes sobre a oração de Ana, a qual foi atendida porque Deus “não negou resposta a uma oração feita com tanta unção”. Ele exigia que os crentes repetissem, aos gritos, certas palavras ou frases, pelo menos três vezes, numa espécie de lavagem cerebral. Falou uma porção de heresias, como por exemplo “Digam: eu uso sapatinhos de fogo e por isso sou um vencedor”.Outra heresia que ele falou é que Jesus (ele nunca dizia “Senhor Jesus”) só prometeu vitória aos crentes e que o Espírito Santo é quem retira os demônios da maldição hereditária, que se alojam nos crentes. Que eu saiba, nenhum crente pode ser possuído por demônios e o Espírito Santo não veio ao mundo para expulsar demônios dos crentes, mas para enaltecer a obra de Cristo e “nos convencer do pecado, da justiça e do juízo”.

O pregador estava tão cheio de “unção” que “expulsou” vários demônios, “curou” vários enfermos, prometendo vitória a todos os que gritassem: “Viva Jesus!”, de mãos levantadas, e que ninguém sairia dali sem  experimentar “o poder”! A cada promessa de poder e vitória, a platéia delirava, gritando e rebolando sob incontrolável emoção!

Ele e a platéia gritavam tanto que meus ouvidos ficaram pipocando. Nunca vi gargantas tão poderosas! Além dos gritos, o pregador rugia como um leão e falava com a língua enrolada, fingindo que se tratava de  língua estranha.

Quando vi uma senhora e um rapaz, bem intencionados e elegantemente vestidos, de braços erguidos, requebrando, gemendo e gritando, sob o comando do tal pregador, perdi a paciência e comecei a doutrinar os dois contra os excessos ali observados, usando a Bíblia para comprovar minhas palavras. Uma mulher de vestido longo rebolava, o tempo todo,  esfregando-se de maneira tão indecente no companheiro (marido?)  que fiquei enojada.

Como havia saído de casa às pressas, não levei cartão com o endereço do meu site e e-mail, mas o rapaz ao lado demonstrou interesse em minhas críticas e logo pediu que eu copiasse o endereço do site, para consultar meus artigos.

Antes do encerramento do culto, observei que o pregador estava saindo às pressas e fui atrás dele. Quando me apresentei, ele me estendeu displicentemente  a mão, supondo que eu iria fazer rasgados elogios à sua pregação. Em vez disso, e para não ser considerada racista, falei: “Amigo, você é um pregador jovem, muito bonito e elegante”. Ele sorriu e agradeceu. Então, continuei: “Pena que você tenha pregado tantas heresias no púlpito. Traduzi o Comentário do Novo Testamento de John Wesley, conheço bem a sua teologia e posso garantir que o que você pregou ali nada tem a ver com Wesley”. Ele me olhou surpreso e falou: “Sim, senhora, sim senhora". Prossegui: “Você pregou a falsa teologia da fé/prosperidade, de  Kenneth Copeland, Benny Hinn e outros hereges emergentes. Quando eu chegar em casa, vou escrever um artigo, contando sobre suas heresias, e vou jogar na Internet para mil leitores. Mas, não se preocupe que não vou citar o seu nome”. Ele repetiu, humildemente: “Sim, senhora, sim, senhora!”  E como eu sou má, prossegui: “Vou contar aos meus leitores como esta igreja vive convidando pregadores, que nunca leram uma linha sequer do fundador da denominação, os quais estão pregando tudo que Wesley condenou: palmas pra Jesus, barulho, danças, glossolalia, mãos erguidas... Enfim, uma confusão generalizada em o nome do Senhor Jesus. Ah! quando você voltar a pregar, use sempre o título de “Senhor”, antes do nome “Jesus”, pois falar dele com tanta intimidade não é sinal de espiritualidade, mas falta de respeito.”

Depois  que dei este sabão teológico no pastor, saí às pressas, antes que ele se refizesse do susto. Que Deus me perdoe tanta maldade! Mas, esses pregadores de araque precisam escutar a verdade, para se libertarem do engodo teológico!

Mary Schultze, 05/01/2011 - www.maryschultze.com