Por Bob Kauflin
Hebreus 10.24,25 – “E consideremos uns aos outros para nos
incentivarmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como
igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns
aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.”
Mais de uma vez ouvi cristãos afirmando que o culto deve ser
divertido, ou agirem como se eles tivessem uma responsabilidade de
provar que os cristãos sabiam como “curtir” na igreja. Sempre me senti
desconfortável com essa conexão, então comecei a pensar sobre o lugar da
“diversão” no culto, e se isso realmente existe. Gostaria de tratar a
questão respondendo como eu a fiz, e então considerando duas maneiras
pelas quais ela pode ser reescrita.
O culto deve ser divertido? Se tomarmos o testemunho exaustivo da
Escritura, a resposta poderia ser um ressoante NÃO. “Diversão” não
parece caracterizar muitas das cenas onde o povo encontra Deus na
Bíblia. Somos ensinados a adorar a Deus com reverência e respeito, pois
ele é fogo consumidor (Hb 12.28-29). Ter “diversão” nunca deveria ser
nosso motivo principal quando nos reunimos. Nosso alvo é lembrar a
grandeza de Deus, apresentar nossas petições diante dele, e agradecê-lo
por suas misericórdias abundantes em Jesus Cristo. Celebração certamente
deve ser incluída nisso, mas existem também momentos em que adorar a
Deus produz temor, lágrimas de arrependimento, e um profundo silêncio.
Mas, deixe-me refazer a questão. O culto pode ser divertido? Depende
de como definimos “diversão”. Eu sei que alguns de vocês não acreditam
que eu esteja realmente levando em consideração essa ideia. E é possível
que ganhe alguns comentários a esse respeito. Mas acredite: não estou
tentando ser leviano. De fato, estou, no momento, na conferência de
pastores de John Piper e, na última noite, ouvi uma mensagem de R.C.
Sproul sobre a santidade de Deus em Isaías 6. Foi poderosa, convincente e
sóbria. Adoramos a um Deus santo.
Se “diversão” for definida como uma atividade leve, sem propósito ou
significado, estritamente a fim de entreter, então a resposta a “o culto
pode ser divertido” deve certamente ser não. Quando adoramos a Deus
juntos, não estamos procurando ser meramente entretidos ou
momentaneamente distraídos dos cuidados deste mundo. Recreação não é o
mesmo que adoração. Nossa alegria e prazer devem estar sempre
fundamentados e formados pelos atos, natureza e atributos de Deus.
Entretanto, quando procuro por “diversão” em meu dicionário, o
primeiro significado é “agradável”. Se estamos perguntando “adorar a
Deus pode ser agradável?” então certamente a resposta deve ser sim.
Isaías 6 não é o único capítulo da Escritura que descreve como nos
relacionamos com Deus. Houve inúmeras vezes em que estive liderando o
culto ou cantando como parte da congregação e pensei “eu amo fazer
isso!”. O prazer inundou minha alma, e eu pude legitimamente dizer que
eu estava tendo “diversão”!
Talvez isso seja semelhante ao que os israelitas experimentaram em 2
Crônicas 30. Eles estavam gostando tanto de celebrar a Festa dos Pães
Asmos por sete dias que Ezequias e o povo espontaneamente decidiram
manter a festa por mais sete dias (2 Cr 30.22,23)! Deve ter sido uma
bela celebração! Em outra ocasião, Esdras e os sacerdotes disseram ao
povo para que não se entristecessem ou chorassem porque aquele dia era
“consagrado ao Senhor”, e que a alegria do Senhor era a força deles (Ne
8.9,10). Santidade e alegria não são necessariamente exclusivas.
Quando meus filhos estavam crescendo, eu queria que eles desejassem
cantar músicas de louvor, e não vissem o relacionamento com Deus como
algo que era apenas sério, sóbrio e solene. Afinal de contas, cantar ao
Senhor deveria ser prazeroso (Sl 135.3; Sl 147.1). Davi dançou na
presença do Senhor com toda sua força enquanto trazia a arca de volta a
Jerusalém (2 Sm 6.12-15). O Salmista alegrou-se quando lhe disseram:
“Vamos à casa do Senhor!” (Sl 122.1). Então, sim, quando definido como
prazer, e não visto como o único aspecto do culto, adorar a Deus pode
ser muito “divertido”. As pessoas não deveriam achar nossas reuniões
sombrias ou sem vida. Sorrisos e mesmo risadas deveriam fluir enquanto
consideramos quão bom, misericordioso e gracioso Deus tem sido a nós (Sl
126.2)!
Mas, deixe-me reescrever a questão mais uma vez, para expandir a
aplicação. “Nossa diversão deveria ser um culto”? Bem, agora a resposta
deve ser certamente “sim”. Somos ensinados em 1 Co 10.31 que quer
comamos ou bebamos ou façamos qualquer coisa, façamos tudo para a glória
de Deus. Ao invés de enfocar ou fazer a nossa adoração corporativa
divertida, deveríamos dedicar mais tempo tendo certeza de que nossa
“diversão” é adoração.
Aqui estão algumas questões que podem nos levar nessa direção:
Eu escolho uma atividade divertida porque não há nada mais para fazer
ou porque eu creio que de alguma forma ela levará ao crescimento do meu
amor pelo Senhor?
Quando eu jogo algo, participo de esportes ou me dedico a um hobby, minha atitude demonstra o fruto do Espírito?
Quando eu saio com um grupo de amigos, estou apenas procurando
divertir-me, ou glorificar a Deus através de encorajamento, luta contra o
pecado e serviço a eles?
As atividades que eu considero “divertidas” aumentam minhas afeições pelo Senhor ou a diluem?
Eu enxergo meu tempo livre como pertencente a mim ou ao Senhor?
A diversão que o mundo oferece é insatisfatória, enganosa e
temporária. Não vamos idolatrá-la ou cair por causa dela. Como cristãos,
podemos desfrutar de atividades divertidas sem acreditar que elas são
as raízes de nossa alegria. A diversão, alegria, prazer e celebração que
experimentamos quando adoramos a Deus é maior que o mundo poderá
conhecer, porque a raiz dela é saber que somos completamente perdoados
através do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo. Nossa alegria está
no próprio Deus. Seríamos tolos de procurá-la em outro lugar.
Fonte: Ipródigo
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