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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

20 de abril de 2010

Adoradores 2010



  Surgiu no Reino Unido como Pop Idol em 2001, chegou aos Estados Unidos como American Idol em 2002 e desembarcou no Brasil como Ídolos em 2006, primeiramente no SBT (até 2007) e agora na Record (desde 2008). Trata-se dum programa que seleciona, entre milhares de candidatos, cantores que passam por três jurados de meter medo em qualquer um no início da competição, mas que no final acabam levando os "sobreviventes" até a estratosfera de tanto massagearem o ego deles. O objetivo dessa franquia de reality show é revelar novos talentos na música secular e, como o próprio nome parece sugerir, colocar em evidência um cantor ou cantora capaz de marcar seu nome para sempre na música popular brasileira, adorado como um verdadeiro ídolo (claro que não um deus, pois nós, cristãos, sabemos que somente há um único e verdadeiro Deus). 
  Suponhamos que um empresário evangélico consiga pagar uma fortuna aos detentores dos direitos da franquia britânica e crie uma versão gospel do reality show. Chamaremos essa versão hipotética de Adoradores 2010. Tudo o que vocês verão a partir de agora é fictício e nenhum nome de instituição ou igreja real será citado para evitar problemas judiciais (sim, eles são mesmo capazes de processar o autor destas linhas se eu os citar nominalmente). 

  As audições ocorreriam em cinco capitais: Belém/PA (02/05/2010), Salvador/BA (09/05/2010), Brasília/DF (16/05/2010), São Paulo/SP (23/05/2010) e Florianópolis/SC (30/05/2010). Participariam delas solistas de todas as denominações reconhecidamente evangélicas: neopentecostais, pentecostais, tradicionais e até fundamentalistas. Solistas de seitas que se autoproclamassem como as únicas detentoras da verdade absoluta não poderiam participar do programa. 

  No total, cerca de 50.000 candidatos participariam das audições. Em cada uma delas, os candidatos passavam primeiro por um produtor do programa e por um especialista na área musical; os que eram aprovados nessa primeira peneira seriam examinados pela direção do programa; finalmente, após a segunda peneira, os restantes passariam pelos seguintes jurados:

=> Pr. Jeremias Pacheco - Líder duma famosa igreja pentecostal de Belo Horizonte/MG, tem cinco filhos, todos eles ligados à área da música. Sua igreja tem um ministério de louvor que arrebata multidões, já lançou doze discos e tem até gravadora própria, além duma emissora de televisão, que por acaso é a que transmitiria o reality show.
=> Débora Rute Ester Azevedo Lopes Pereira - Uma das maiores cantoras gospel do Brasil. Tem 15 anos de carreira (ué, não era para ser "ministério"?), já gravou 13 discos e vendeu mais de vinte milhões de cópias, chegando até a receber vários prêmios no Brasil e no exterior. É dona duma voz poderosa e tem dezenas de fãs-clubes, além de comunidades na Internet.
=> Péricles Gonçalves Munhoz - Dono de uma das maiores gravadoras gospel do Brasil. Tem quase trinta artistas em seu cast, entre solistas e conjuntos musicais dos mais variados estilos. O caráter mercantilista e mercenário de sua gravadora coleciona críticos ferozes até nos meios pentecostal e neopentecostal. 

  Os três, ao selecionarem os candidatos, não estão nem aí para quesitos como sinceridade, entrega ou consagração espiritual. Os critérios de avaliação deles são meramente técnicos. Às vezes, quando eles têm dó de um candidato ou quando a maioria dos candidatos anteriores recebe dois ou três "nãos" cada um, eles acabam aprovando alguém. Isso sem falar do carisma e da possibilidade do sujeito vender horrores caso ele seja contratado por alguma gravadora gospel. Mais durão, Péricles chega a humilhar alguns candidatos ("Você não serve nem para ser cantor de chuveiro!", "Você é simplesmente ridícula!", "Cantando com essa apatia você não vende nem sorvete caseiro!"); Débora se limita a falar o que faltou (feeling, garra, determinação, emoção...) ou sobrou (idem) em cada competidor; e o Pr. Jeremias fazia minipregações para cada um que aparecia em sua frente, chegando a ser repetitivo de tanto que falava em unção e na necessidade do(a) solista ser um(a) "levita consagrado(a)". Isso sem falar nas indiretas que Péricles e o Pr. Jeremias lançavam um contra o outro, já que ambos eram donos de gravadoras e quase disputavam os candidatos no tapa [estou conjugando os verbos de maneira diferente de propósito, como se a hipótese se tornasse mesmo algo real]...

  Os 100 concorrentes que passassem para a próxima fase cantariam numa famosa casa de espetáculos da Capital mineira nos dias 05 e 06/06/2010, onde o programa passaria a ser exibido. Munidos de microfones e auxiliados por uma banda, eles cantariam os maiores sucessos da música cristã contemporânea brasileira: no dia 05/06, seriam primeiro divididos em vinte grupos de cinco, tentando mostrar aos exigentes jurados a capacidade de interação entre si; no dia 06/06, cada um cantaria individualmente durante no máximo cinco minutos, num total de oito horas de audição, interrompidas apenas para o pessoal almoçar. Apenas quinze candidatos passariam para a fase seguinte e ficariam hospedados numa mansão que receberia o pomposo nome de Casa dos Adoradores.

  Nos cinco programas seguintes, cada candidato cantaria uma única música, que seria sempre diferente da anterior, e os três menos votados pelo público na Internet seriam eliminados. Logo, o papel dos jurados não era mais o de determinar quem sairia ou quem ficaria, mas apenas o de incentivar e elogiar os melhores ou de alertar os piores sobre seus defeitos. Nos dois programas seguintes, os dois menos votados é que voltariam para casa.

  Finalmente, os três finalistas se apresentariam na antepenúltima noite do reality show cantando dois cânticos cada um, sendo um bloco com cânticos escolhidos pelos próprios candidatos e outro com cânticos escolhidos pela produção. A partir daí, o público escolheria por telefone, por mensagens SMS e pela Internet quem continuaria no programa. Na penúltima noite, os três escolheriam cânticos dum(a) mesmo(a) cantor(a) ou conjunto num bloco e cânticos livres noutro bloco; no fim dessa noite, a votação seria encerrada e as duas mais votadas iriam à final.

  A final teria três blocos, cada um deles com a participação de grandes (e a grandeza de Deus, que lhes deu o talento, onde está?) nomes da música gospel. Em cada um dos dois primeiros blocos, as duas finalistas, a pernambucana Quéren-Hapuque Pessoa (que usa e abusa da voz, como se fosse uma diva da música romântica estadunidense) e a carioca Feliciana Monteverde (que mistura canto lírico e levada blues com uma leve inclinação para a worship music australiana em suas apresentações), entoaria dois cânticos. A votação seria encerrada no início do terceiro bloco e, ao final deste, Feliciana Monteverde, aos prantos e ajoelhando com as duas mãos apontando para o céu (agora se lembra de Deus, não é?), conquista o prêmio máximo do programa. Resta saber agora onde Feliciana gravará seu primeiro CD: se na gravadora de Péricles ou na do Pr. Jeremias...

 Agora me respondam: o que a proclamação do Evangelho em nossa pátria ganharia com isso?
 
Escrito pelo nosso amigo Paulo Martins de Oliveira Belo, conhecido aqui no blog como Sorokbano. Mais um que é conhecido como Herege por muitos...

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