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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

19 de abril de 2010

PENITÊNCIA AOS CRISTÃOS

Papa Bento XVI pede que cristãos reconheça erros cometidos
 

     Em um sermão nesta quinta-feira, 15, o papa Bento 16 afirmou que é preciso que os cristãos façam penitência em meio aos ataques que a Igreja Católica tem enfrentado em todo o mundo. Apesar de o pontífice não ter se referido de forma direta aos casos de abusos sexuais cometidos por religiosos contra crianças, o sermão representou a primeira vez que ele se referiu às críticas à atitude negligente da mais alta hierarquia da Igreja Católica perante as denúncias sobre padres pedófilos. 

     Por causa da indignação provocada pela revelação de inúmeros casos de padres pedófilos na Igreja, o pontífice pediu aos cristãos que façam penitência e reconheçam os erros cometidos.

     "Nós cristãos nos últimos tempos temos evitado a palavra penitência, que parecia dura, mas agora, sob os ataques do mundo, que nos falam dos nossos pecados, vemos que poder fazer penitência é uma graça, vemos como é necessário fazer penitência", afirmou o papa durante uma cerimônia na Capela Paulina, no Vaticano.

     "Abrir-se ao perdão, preparar-se ao perdão, e se deixar transformar. A dor da penitência, isto é, da purificação e da transformação, essa dor é graça, porque é renovação, obra da Misericórdia divina."

     A inesperada homilia foi feita ante os membros da Comissão Bíblica e foi em boa parte improvisada. Bento 16 havia evitado falar dos escândalos durante a semana passada na Santa Sé.

     O pronunciamento foi interpretado como uma espécie de mea culpa do papa, explicou à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni. "Não é uma declaração solene, mas uma espécie de mea culpa. O papa disse que sente profundamente toda essa tormenta, no coração", acrescentou.

      Ditaduras

     O papa falou sobre penitência ao refletir sobre a primazia da obediência a Deus, que concedeu a Pedro a liberdade de se opor ao Sinédrio, a corte suprema judia, que tinha a missão de administrar a justiça aplicando a Torá, a Lei de Moisés.

     "É preciso obedecer a Deus e não aos homens. A obediência a Deus dá a Pedro a liberdade de se opor à suprema instituição religiosa. Nos tempos modernos, teorizou-se a liberação do homem, inclusive da obediência a Deus, o homem seria livre, autônomo e nada mais. Mas isso é uma mentira, que a chamada autonomia não libera o homem", disse Bento 16.

     Na homilia o papa disse que, as "ditaduras nazista e marxista", que não podiam aceitar um Deus sobre o poder ideológico, não existem mais, mas há outras formas de ditaduras.

     "Hoje, graças a Deus, não vivemos em ditaduras, mas existem formas mais sutis de ditaduras, um conformismo que leva a agir como agem todos e pode ser uma verdadeira ditadura", afirmou.

       Sob pressão

     Bento 16 chegou a ser acuado pela imprensa alemã de ter acobertado um padre pedófilo quando era arcebispo de Munique. Também sofreu denúncias da imprensa americana de que teria se recusado a punir um padre acusado de abusos quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antes de ser eleito pontífice, em 2005.

     As declarações do papa ocorrem três dias depois de o Vaticano ter publicado em seu site um guia de normas a serem seguidas em casos de acusações de abuso sexual contra sacerdotes.

     Embora as regras não sejam novas, a divulgação do texto reflete a determinação da Igreja Católica Romana de rebater as críticas de que sua reação aos escândalos de abusos sexuais vem sendo burocrática, sigilosa e defensiva.
 

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