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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

15 de dezembro de 2010

O Pregador da Buchada



           Ontem, quando eu estava numa locadora evangélica, em busca de alguns filmes interessantes, encontrei um pentecostal assembleiano, o qual me aconselhou, entusiasticamente, a trazer para casa o DVD de um pregador (baiano) de sua denominação, o qual, segundo ele, é simplesmente fantástico!
         Como sou pesquisadora de assuntos bíblicos, aceitei o conselho e trouxe o DVD do pregador para ver e escutar. Tomei uma caneca de café, às 16 horas, deitei-me no sofá e comecei a assistir à pregação do tal pentecostal. 
Ele leu Êxodo 12:1-14, falando sobre a instituição da Páscoa. Até aqui, tudo bem. Só que o dito citou mais de dez vezes o verso 9, referindo-se ao cordeiro pascal, que diz: “Não comereis dele cru, nem cozido em água, senão assado no fogo, a sua cabeça com os seus pés e com a sua fressura”. Ele parecia sentir um prazer enorme em citar a cabeça, os pés e a fressura do cordeiro, chamando a fressura de “buchada” e detalhando cada entranha que os judeus deveriam comer, segundo ele, como sobremesa. Aplicou esta passagem, aconselhando cada cristão, ali presente, a “comer a buchada” do cordeiro, para ficar bastante esperto, contra as ciladas do Diabo, como os judeus ficaram (?). Suponho que ele quis dizer que o cordeiro era o Senhor Jesus e que Suas entranhas derramadas na cruz são uma “buchada”.
         Por incrível que pareça, o objetivo da pregação era explicar o que é lícito ou ilícito no procedimento de um cristão. Por que ele não usou a 1 Coríntios 10, principalmente o verso 23, que diz: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam”? Eu mesma respondo: Porque os pregadores pentecostais são viciados no Velho Testamento, colorindo suas mensagens, tentando conseguir adeptos para os seus desvarios; por isso desprezam as Cartas de Paulo.
         De tanto escutar a palavra “buchada” (que minha avó costumava usar, quando a família matava um carneiro ou um cabrito), comecei a sentir enjoo e acabei “jantando” apenas duas tangerinas.
         Quando ele citava o vocábulo “prostituta”, sempre usava o nome “Raabe”, e foi por aí, durante uns quinze minutos. Em seguida, ele passou a se autoglorificar, contando como veio de uma família miserável, que morava numa choupana de palha, dentro de um roçado, no interior da Bahia... Dali ele foi para Salvador, onde “desabrochou” como um pregador, que até já pregou nos Estados Unidos e na Europa. Para ser justa, ele até não cometeu tantos erros de linguagem, mas é pobre na maneira de se expressar, inclusive se autodenominando “erudito”, quando contou determinado lance, dentro de um avião, no qual ele desbancou um advogado ateu, com os seus conhecimentos teológicos.
Quando quis explicar a origem da Palavra “soteropolitano”, fez questão de esclarecer que a palavra “sotero” significa salvação (OK) e se origina do hebraico (Eu sempre pensei que era do Grego).
         A verdade é que 2/3 da pregação foi de auto-afirmação mas, para disfarçar, ele falou, algumas vezes, que tudo era “para a glória do Senhor”.
         Da próxima vez em que me aconselharem a trazer um DVD de pregador pentecostal para casa, vou preferir um filme com o Brad Pitt, igual a um  que eu trouxe hoje, filme evangélico narrando a história de um jovem, que, nos anos 1920,  se desgarrou do recinto familiar, onde os pais eram piedosos, correndo em busca dos prazeres do mundo. Terminou tragicamente sua vida de aventuras, assassinado, num bordel.  Imagino que este enredo tenha sido inspirado na Parábola do Filho Pródigo. Sobre o mesmo assunto vi, em Munique, em 1967, a ópera em três atos,  “The Rake’s Progress”, cujo libreto é de W. H. Auden e Chester Kallman, com epílogo de Igor Stravinsky,..Graças a Deus, os autores da ópera não usaram a palavra “buchada” e, por isso, quando a peça terminou, meu marido, nossa filha e eu entramos num restaurante alemão, para comer uma boa quantidade de torradas com caviar russo. Esta sim, é uma “buchada” européia... Ovas de esturjão!

Mary Schultze, 12/12/2010 - www.maryschultze.com


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