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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

18 de dezembro de 2009

QUE É O CALVINISMO?

1. O CALVINISMO NÃO É UM PENSAMENTO INTOLERANTE, CARRANCUDO, E
ELITISTA

Enquanto aprendemos no ensino médio que o pensamento reformado
exclui os pobres, é intolerante com quem pensa diferente, e promove a cara
fechada dos rabugentos, a História nos mostra evidências bastante diferentes.
Tomemos a intolerância por exemplo: enquanto outros sistemas
perseguiam sem piedade os divergentes, o calvinismo respeitou as diferenças de
visões, promovendo a verdadeira liberdade civil. Em Genebra Calvino lidava
constantemente com aqueles que pensavam diferente dele, e agia com verdadeiro
espírito tolerante e pacifcador. Os puritanos, que saíram da Inglaterra para as
colônias, fundaram o país reconhecido pela liberdade e tolerância, o lugar onde
pessoas dos mais variados credos poderiam se encontrar.
O calvinista Maurício de Nassau promoveu algo semelhante no Brasil
colonial. A região sobre a qual dominou era marcada pela convivência pacífca de
judeus, protestantes, católicos e índios.
O calvinismo soube lidar adequadamente com as correntes luterana,
anglicana, e anabatista, que divergiam ele em maiores ou menores pontos.
Certamente teceu críticas (muitas delas duras) a estas correntes, mas ainda
preservando a liberdade que cabia aos seguidores de tais correntes.
Várias são as pesquisas que demonstram a contribuição calvinistas para os
governos constitucionais e as garantias de liberdades civis. O calvinismo, com a
visão bíblica do papel do Estado, promoveu o respeito e a tolerância para o
homem criado à imagem de Deus.
Ainda hoje os calvinistas seguem o modelo escriturístico de respeito e
amor ao próximo. Eles condenam o erro, seguindo o padrão absoluto da Escritura,
mas sabem agir com tolerância e amor.
Carrancudo? As caricaturas sobre os puritanos em si são engraçadas, e
provavelmente os faria rir. Qualquer pesquisa mais séria sobre o puritanismo, ou
sobre o calvinismo como um todo, demonstrará que, na busca pela fdelidade às
Escrituras, também buscavam obedecer as recomendações bíblicas para vivermos
com alegria. Os puritanos não possuíam a mentalidade contemporânea de
entretenimento – eles tinham um modelo mais profundo de felicidade. Havia prazer
na família, no casamento, no trabalho, em Deus, ou seja, em todas as áreas da
vida. Alguns dos calvinistas conhecidos utilizavam constantemente o humor como
recurso (cf. Spurgeon), e outros continuam a utilizá-lo hoje (cf. Mark Driscoll). Há
calvinistas cujo assunto principal parece ser uma vida de prazer e alegria em Deus
(Jonathan Edwards e John Piper), e o sorriso é marcante em seus lábios. Não,
defnitivamente não são carrancudos.
Que tal elitistas? Ontem mesmo ouvi esta objeção. Precisamos fazer
ressalva de que os calvinistas não são um grupo de robôs que reagem exatamente
da mesma maneira a todos os fenômenos. Em maior ou menor grau, é possível
haver algum calvinista considerado intolerante por aí, como pode haver algum
rabugento, e, fnalmente, um elitista. Mas, no geral, a História nos mostra que não
é assim.
O pensamento calvinista alcançou as mais variadas esferas. Nobres e
camponeses, Intelectuais e analfabetos, todos se alegravam com a verdade da
Escritura ensinada pelos reformados. Uma das ênfases, aliás, era a compreensão
popular do que se queria dizer – por isso o fm das missas em latim – para isso, era
preciso falar com clareza. Calvino se preocupava com os pobres, e chegou a
afrmar que Deus abençoa os ricos para que eles possam abençoar os
necessitados.
O mesmo acontece hoje. As comunidades reformadas em alguns lugares
parecem estar restritas a bairros mais elitizados, mas isso não se dá pela
preferência pelos ricos. Em outros lugares, as comunidades reformadas têm maior
alcance entre os pobres. Existem vários aspectos a serem analisados nessas
situações, como a capacidade da igreja comunicar o evangelho ao bairro, a obra
soberana do Espírito Santo, a "competição" de outras igrejas que massifcam o
discurso e prometem bençãos para conquistar os féis, etc.
Novamente, pela fdelidade à Bíblia, os calvinistas não esquecem a
recomendação dada a Paulo, de que nunca deveria se esquecer dos pobres (cf.
Gl.2).
O calvinista não é carrancudo, nem intolerante, nem elitista. O que existe é
uma caricatura dele rolando solta por aí.

2. O CALVINISMO NÃO É UM SISTEMA QUE SE ALEGRA COM A DESTRUIÇÃO
DOS HOMENS
A doutrina da predestinação é o "terror" de muitos crentes. É também
objeto de muita controvérsia, e o ponto preferido de quem deseja caricaturar um
calvinista.
Para muitos o calvinismo é um sistema cruel que se alegra com a idéia de
que alguns foram predestinados para o céu, enquanto outros estão reservados ao
inferno. Não poucas vezes ouvi o "argumento emocional" - pessoas acusando os
calvinistas de insensíveis. Há quem fale em tom melancólico a respeito das
"criancinhas inocentes" que, por não se encaixarem no sistema exclusivista dos
reformados, seriam lançadas no inferno por toda a eternidade.
Muitos ainda pintam a fgura de um Deus perverso, foçando uns a entrarem
no céu contra a vontade deles, enquanto impede outros – bastante desejosos da
salvação – de entrarem no paraíso. Esta é, para eles, uma representação adequada
do que ensina o calvinismo.
Novamente, não é necessário ser um grande estudioso para perceber que
há algo errado em tais representações. Primeiramente, elas são caricaturas, então
trazem um elemento ora jocoso, ora raivoso, que impede a compreensão
adequada do que se pretende refutar. A história está cheia de exemplos contrários
a tais perspectivas.
Uma breve digressão: do ponto de vista doutrinário, a salvação das
crianças está sujeita a alguma discussão – mesmo entre os reformados existem
compreensões diferentes. Ainda assim, nenhuma dessas perspectivas considera as
crianças inocentes diante de Deus – elas nasceram em pecado (Sl.51.5) e, se
forem salvas, é pela graça de Deus, e não por uma inocência inerente a elas.
Voltando: os calvinistas seguem muito de perto o apóstolo Paulo. Ao
começar a tratar da soberania de Deus na salvação, ele demonstra o amor pelos
judeus perdidos, e fala que se entregaria, se isso tornasse possível a salvação
deles (cf.Rm.9). Ainda assim, segue afrmando que Deus tem misericórdia de quem
Ele quer.
Isso lembra o aluno de João Calvino – John Knox. Ele cria na verdade da
predestinação, e orava suplicando a Deus: "Dê-me a Escócia ou eu morro!". O
próprio Calvino fundou uma academia para o treinamento de líderes e o anúncio do
Evangelho, para que a salvação chegasse aos eleitos. O pai de missões modernas –
William Carey – era um ferrenho calvinista, e encontrava nisso força para o
evangelismo.
Como podem ser cruéis e se alegrarem com a destruição de muitos, se os
calvinistas se esforçam na evangelização dos perdidos?
Muitos confundem submissão com agressividade. Explico: quando um
reformado afrma que alguns foram predestinados para o céu e outros para o
inferno, não está buscando ser agressivo. Apenas repete aquilo que crê ser a
verdade da Escritura. A lógica de muitos que ouvem esse discurso é que, se o
calvinista afrma isso, ele emocionalmente odeia os perdidos, e se alegra com a
sua condenação. Não há nada que demonstre esse salto lógico.
Pelo contrário, o calvinismo, como demonstrado acima – e poderíamos
passar vários posts dando exemplos – se preocupa com a evangelização e a
salvação das pessoas. Mais ainda: nos países infuenciados fortemente pelo
calvinismo, não somente a destruição eterna foi combatida, mas as "destruições
temporais". Nesses lugares houve verdadeiro engajamento cultural para a
transformação da realidade, a fm de que a graça de Deus fosse sentida em cada
esfera.
A história dos primeiros missionários no Brasil, que eram calvinistas,
desmente mais uma vez esta afrmação. Vieram para proclamar o evangelho, e
terminaram mortos por sua fé. Quanto amor é necessário para entregar a vida pela
causa do evangelho? Eu não diria que tais pessoas se alegram com a destruição...

3. O CALVINISMO É UMA FORMA DE VER DEUS
As últimas três proposições poderiam tranqüilamente ser conjugadas em
uma frase: "O calvinismo é uma forma de ver Deus, o homem, e o mundo". Para
efeitos de uma análise mais cautelosa, contudo, é razoável tratar os três itens
separadamente.
O calvinismo é uma forma de ver Deus. Há uma perspectiva própria a
respeito da Divindade entre aqueles que pensam a partir da visão reformada. Os
atributos – as qualidades – que a Escritura confere ao Senhor, são profundamente
considerados e percebidos em sua extensão e implicações.
O calvinista compreende que não é possível limitar o Criador diante das
criaturas, por isso as Suas características sempre determinam o tom da relação
entre ambos. Trocando em miúdos: o amor de Deus não depende dos seres
amados, a graça Divina não depende dos agraciados, e assim por diante.
Muitas expressões dentro do ramo evangélico buscam reduzir a visão sobre
Deus diante da necessidade de valorizar o homem. Há quem fale do amor do Pai
pela humanidade com base na "beleza" do ser humano – ou pior: na "inocência".
Há quem decida analisar a justiça de Deus a partir das suas impressões sobre o
que é correto.
Essas manifestações resultam em alguma perda no relacionamento com o
Senhor. Quando a justiça de Deus é avaliada conforme as impressões humanas,
por exemplo, é questionada a idéia de que Deus pode abençoar a alguns e não a
outros.
Seguindo esta linha, o Criador tem Seu poder de atuação e Seu caráter
"restringido"pelas criaturas. Para o calvinismo, porém, não cabe ao ser criado
avaliar o Senhor. A ele, basta reconhecer quem Deus é com base na Escritura. Se a
Bíblia afrma a justiça de Deus, e apresenta a verdade de que Ele abençoa a uns e
não a outros, o reformado aceita esta apresentação como legítima, e vê nisto
mais uma motivação para adorar ao Todo-Poderoso.
Qualidades como a Soberania, a Majestade, a Justiça e o Amor, são melhor
compreendidas em um sistema que permita tais atributos "falarem por si". O
calvinismo é esta perspectiva.
As implicações disto para a práxis reformada são incontáveis. Se existe
uma percepção de um "Deus ilimitado", então Ele tem a autoridade absoluta sobre
o todo da vida humana. Se a soberania de Deus é considerada com verdadeira
seriedade, sem restrições, então cabe ao calvinista viver em obediência e
submissão ao Deus soberano. Se o controle absoluto do Pai sobre o universo é
percebido em sua inteireza, então o reformado confará na Providência, e
reconhecerá que nada acontece fora dos planos Divinos.
Como conseqüência desta perspectiva, existe verdadeiro incentivo à
evangelização, à santidade, e à adoração.
O calvinista exalta um Deus verdadeiramente digno de ser exaltado. Ele
adora o Senhor de todas as coisas. Prostra-se diante daquele Ser reconhecido pela
natureza inanimada (Sl.19).
Existe um Deus com "d" maiúsculo no calvinismo.

4. O CALVINISMO É UMA FORMA DE VER O HOMEM
Conhecer a Deus é conhecer a si mesmo. Calvino demonstra bem o ponto
no seu primeiro livro das Institutas. À medida que o conhecimento da Divindade
cresce, o auto-conhecimento se torna possível e viável em uma perspectiva bem
mais completa, pois o Criador é a melhor fonte de conhecimento sobre a criatura.
O calvinismo promove percepção privilegiada do homem. Trabalhando a
partir da tríade Criação – Queda – Redenção , os reformados desenvolvem uma
antropologia coerente do ponto de vista teórico e prático.
Esse ponto pode ser percebido por contraste. Correntes da psicologia ou
psicanálise buscam abordar o homem negando a Queda. Para tais visões, o homem
é livre de um "pecado original" que o escravize, e assim as "práticas negativas" ou
foram socialmente aprendidas, ou são produto da criatividade humana.
Embora algum tipo de coerência lógica seja possível nessa visão, ela não
condiz com a realidade. A maldade inerente ao coração humano revela inclinação
natural – algo da natureza dos homens – que foge ao controle social. Tais
cientistas não conseguiriam explicar, por exemplo, a manifestação da culpa em
cada ser humano (mesmo nos isolados – o que foge da explicação de que a
sociedade criou a noção de culpa).
No outro extremo, existem aqueles que percebem apenas o homem caído.
São flósofos ou pensadores que cederam ao desespero, vendo os outros como "o
inferno" ou desprezando a sua existência e a dos demais. Para essas pessoas, a
vida é injustifcada, nada faz sentido, e o que resta é (1) o desespero, ou (2) a
passagem pela vida sem a busca de um propósito – pois ele não existe.
Negar a Queda ou supervalorizá-la cria problemas sérios para uma visão do
homem. O calvinista é equilibrado e considera ambos os pontos.
Alguém argumentaria que isto não é exclusividade calvinista. Outros
cristãos, como os arminianos, também defendem a Criação, a Queda e a Redenção.
Embora em sentido amplo esta frase seja verdadeira, existe um considerável
contraste entre a antropologia reformada e a das demais tradições do
cristianismo. Como a perspectiva arminiana tem muita expressão (embora muitos
não saibam que são arminianos), ela será utilizada como exemplo.
Para o arminiano comum, a Queda foi um evento histórico com efeito
limitado. Ela produziu sérios danos à humanidade, mas não violou a capacidade
humana de se voltar para Deus e de escolhê-Lo para a salvação. Em outras
palavras, o homem não estaria morto espiritualmente, mas ferido, e assim com
auxílio (da Graça e do Espírito Santo) ele pode se voltar para Deus. Com esta
visão, eles defendem o livre-arbítrio dos homens, e afrmam que é possível ao
pecador caído e não-regenerado o aceitar ou rejeitar ao Senhor.
O calvinista considera o impacto da Queda como mais que um ferimento.
De fato, a entrada do pecado na história da humanidade gerou a morte de cada
ser (Ef.2.1, 5). Como conseqüência da Queda, os homens se tornaram escravos do
pecado (Jo.8.34) e de satanás (2Tm.2.25,26), incapazes de entender as coisas
espirituais (1Co.2.14 – para aceitar ou rejeitar seria necessário entender), cegos
para a glória de Cristo (2Co.4.4), e inimigos de Deus (Rm.8.7). O efeito do pecado
foi tão intenso que deixou o homem em uma situação na qual apenas Deus pode
retirá-lo de onde está. Não há livre-arbítrio e nem auxílio que o salve – é necessário
uma ação intensa, de regenerar, dar vida a quem está morto.
Partindo desta compreensão da Queda, as demais áreas são afetadas. O
evangelismo arminiano, por exemplo, busca auxiliar o homem a "se decidir" por
Jesus. O calvinista prega sabendo que o indivíduo não pode se salvar, e espera que
o Espírito Santo produza vida naqueles que ouvem o evangelho. A perspectiva
sobre a educação, também, varia conforme a sua convicção a respeito da
infuência do pecado na vida da criança.
A visão calvinista do homem ainda se destaca, na História, pela valorização
da imagem de Deus no homem caído. Embora pecador, este ser não perdeu o valor
e a possibilidade de cumprir o mandato cultural dado pelo Senhor. A doutrina da
Graça Comum possibilitou a percepção das bênçãos de Deus na vida daqueles que
não são regenerados.
Com isto em mente, os calvinistas não apenas souberam valorizar os
homens enquanto homens, mas apreciaram e promoveram o desenvolvimento das
artes de outras áreas não-religiosas.
É no contexto do calvinismo que as expressões artísticas são libertas da
escravidão eclesiástica, e a dicotomia sacro/profano é quebrada. Para o
reformado, Deus é glorifcado em uma bela obra de arte, mesmo que ela não tenha
conteúdo religioso.
O calvinismo possibilitou o engajamento em áreas como a política e a
economia, permitindo conquistas como a de William Wilberforce e o fm da
escravidão na Inglaterra, ou Abraham Kuyper e a fundação da Universidade Livre
de Amsterdã, e do Partido Anti-revolucionário na Holanda.
Para resumir o ponto: O calvinismo compreende o homem de maneira
peculiar. Ele reconhece a Criação e o valor do indivíduo, considera seriamente os
efeitos da Queda, e assim possui o diagnóstico correto do problema humano.
Confa na ação de Deus para a Redenção, por isso não entra em desespero, mas
luta incessantemente para a restauração de vidas e da cultura, vivendo para a
glória de Deus (Soli Deo Gloria).

5. O CALVINISMO É UMA FORMA DE VER O MUNDO
A visão de Deus e do homem produz uma maneira de observar o mundo – a
realidade criada. Alguns dos pressupostos reformados evidenciam a sua
perspectiva peculiar em seu contato com a criação.
A compreensão da soberania de Deus, por exemplo, torna possível a ver
mundo como "o teatro da glória de Deus", como diria Calvino. Partindo de uma
percepção adequada do Senhor, o reformado olha para a criação como ambiente
da manifestação Divina, em graça e juízo.
Compreender a criação, imagem de Deus e queda do homem, permite ao
reformado se relacionar com os seus pares de maneira sábia, sem superestimá-los
ou o contrário. Ele vive os relacionamentos humanos com o equilíbrio de quem
possui a mente de Cristo (1Co.2.16).
O reformado percebe que a maldição do Éden foi lançada sobre o planeta,
e assim a terra é, de alguma maneira, maldita por causa do homem. Ao mesmo
tempo, reconhece que o Senhor não retirou o seu mandato cultural dado ao
homem. Isto signifca dizer que, apesar da maldição por causa do pecado, ainda
cabe ao homem cultivar a terra em seus mais diversos sentidos – produzir cultura.
Voltando um passo na discussão da "mente calvinista aplicada", no âmbito
das pressuposições o pensamento reformado já se destaca: uma das
pressuposições reformadas é a de que são necessárias pressuposições adequadas
para enxergar a realidade. Como no Sl.119.9, é preciso observar o seu caminho a
partir da Escritura. O calvinista não é ingênuo a ponto de pensar que existe uma
forma neutra de observar a realidade – ele caminha no sentido de aprimorar uma
cosmovisão cristã, que brota da Escritura.
Quando fala em cosmovisão cristã, o reformado entende que cada aspecto
da vida humana precisa estar submetido ao senhorio de Cristo. A implicação disto
é que as dicotomias como sacro/profano são abandonadas, e tudo passa a ser
pensado com a mentalidade cristã.
Os exemplos históricos disso são por demais variados – para os fns desta
introdução, é sufciente observar a Política, a Filosofa, e as Artes.
No campo da Política homens como Calvino e Abraham Kuyper
contribuíram amplamente. Calvino lançou bases que Kuyper aproveitaria
posteriormente para fundar o partido anti-revolucionário (ele chegou a ser Primeiro
Ministro da Holanda). Vivia a política a partir da perspectiva reformada.
No âmbito da Filosofa, o nome de Herman Dooyeweerd merece destaque.
Este flósofo e jurista (também) holandês desenvolveu um projeto flosófco,
denominado Filosofa da Idéia de Lei, ou Filosofa Cosmonômica – intimamente
ligado à Filosofa Reformacional. O modo de pensar calvinista aplicado à Filosofa
deu origem a um sistema que busca observar a realidade de maneira integrada,
respeitando as esferas de soberania, e percebendo os elementos estruturais e
direcionais para uma vida adequada.
Rembrandt é conhecido no campo das artes. O que talvez poucos saibam é
que ele pintava a partir dos pressupostos reformados. Seu compromisso calvinista
o levou a cumprir a sua vocação com obras admiradas até hoje.
Alguém perguntaria: "mas o calvinista não observa a Queda como
elemento comprometedor da humanidade?". É certo que sim, mas há outro lado
nessa moeda. Assim como o pecado afetou o homem em todas as suas
faculdades, a graça de Deus continua a capacitar os indivíduos para o
cumprimento de sua vocação. A doutrina da Graça comum permitiu aos
reformados contemplarem o belo na cultura, e se engajarem em seu contexto com
verdadeira esperança de redenção.
O calvinista não foge da realidade, ele luta para transformá-la, entendendo
que a natureza geme, aguardando a restauração de Deus (Rm.8.18-27).

PRA ENCERRAR A CONVERSA (POR ENQUANTO)
Cinco proposições foram comentadas, na tentativa de descrever o que é, e
o que não é o calvinismo:
1. O Calvinismo não é um pensamento intolerante, carrancudo, e elitista
2. O Calvinismo não é um sistema que se alegra com a destruição dos homens
3. O Calvinismo é uma forma de ver Deus
4. O Calvinismo é uma forma de ver o homem
5. O Calvinismo é uma forma de ver o mundo

Estes comentários não têm a pretensão de esgotar o assunto, nem de ser
a palavra fnal em termos de descrição do pensamento reformado. Homens como
Spurgeon fzeram um trabalho melhor em sintetizar tudo na máxima: "O calvinismo
é o evangelho".
À guisa de conclusão, como quem vai se preparando pra levantar em uma
mesa de café – naquele bate-papo agradável –, cabe destacar cinco princípios da
Reforma, que ilustram adequadamente o espírito calvinista:
Sola Scriptura A Bíblia é a fel Palavra de Deus, bem como a autoridade
fnal do que crer e como viver.
Sola Gratia A Graça é a ação Divina em favor de pecadores indignos. A
salvação se dá unicamente pela vontade de Deus, a despeito do imerecimento
humano.
Sola Fide – A fé é o meio estipulado na Escritura para recebermos a bênção
do Senhor. Nenhuma obra pode nos fazer aceitáveis ao Pai, precisamos apenas
crer, desistindo de tentar comprar a salvação.
Solus Christus – O objeto da fé precisa ser exclusivamente o Senhor Jesus.
Não basta ter apenas fé, mas fé em Cristo. Ele morreu na cruz para salvar
pecadores. Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2.5).
Soli Deo Gloria – A vida do cristão precisa ser vivida somente para a glória
de Deus. Todas as circunstâncias são transformadas em momento de adoração,
independentemente de sua aproximação com o que é "religioso". O objetivo de
vida do reformado é glorifcar a Deus em tudo.

Com as cinco proposições e estes cinco princípios, é possível um vislumbre
adequado do pensamento reformado. O espírito calvinista, longe das caricaturas
de pessoas malvadas e arrogantes, é de indivíduos que amam a Jesus e à Sua
verdade.
É certo que, pelos caminhos da vida, vamos encontrar um ou outro
reformado irritante – aqueles "caras de um assunto só". Têm essa habilidade
especialmente aqueles que acabaram de descobrir a fé reformada e precisam falar
sobre isso de cinco em cinco minutos. Demos a eles o devido desconto. Em breve
descobrirão a amplitude do pensamento reformado, e terão vocabulário bem mais
extenso.
Enquanto isso, o resto dos calvinistas aguarda ser percebido como um
grupo de servos de Deus, comprometidos com a Sua Palavra e com uma visão de
mundo que brota da Verdade Divina.
Quando encontrar um calvinista, você já sabe o que esperar.    

Autor: Allen Porto

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(2) A única coisa que eu não aceito é vir com a teologia do “não toque no ungido”, que isto é conversa para vendilhão dormir... Faça como os irmãos de Beréia e vá ver se o que lhe foi dito está na Palavra Deus!
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