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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

21 de dezembro de 2009

Sou um mar de alguma coisa


Sou um mar de alguma coisa


Confesso que sou bagunçeiro e, muitas vezes, atrevido. Quando ainda era criança minha mãe dizia que eu tinha formiga no "rabicho". Continuo assim. Prefiro a bagunça e zoeira, as refeições com muitas pessoas. E se não tomar cuidado, facilmente caio na baderna e volto a ser criança. Porém sempre ou muitas vezes, volto a ter fogo no "rabicho" como diz minha mãe.

Essa minha índole baderneira não me importuna, mas eu percebo que ela causa alguns constrangimentos principalmente na vida e cotidiano de alguns "certinhos" e "não me toque" que existem por ai. Poucas vezes escrevi textos cinzentos, dramaticos ou melosos, mas logo fui docemente aconselhado a não repetir tal deslize. Por exemplo, na minha adolescência frequentei igrejas evangélicas que preparava os "Fiéis" a lidar com a tristeza. E que as pessoas gostam de artigos otimistas. Realmente! O movimento evangélico se alastrou no final do século XIX, num tempo em que se respirava um clima de grande otimismo. Acreditava-se que em poucos anos, evangelistas, missionários e pastores converteriam o mundo, antecipando o iminente reino milenar de Cristo. Nosso berço foi embalado com a promessa de que seríamos a "última geração antes do arrebatamento". Nascemos num clima de euforia. Portanto, não toleramos qualquer mensagem que revele um jeito menos bem-sucedido de encarar a vida.

Sinto-me censurado quando exponho meus sentimentos contaminados de uma vaga e doce tristeza. Dentro dessa bagunça e farra, existem sentimentos que, a bem da verdade, me comprazem e me conduzem à depressão intelectual. Mas como explicar isso para minha geração? Fico sem saída, pois não quero só escrever textos sobre como me sinto campeão; recuso teatralizar minha solidez e não quero enganar sobre minha santidade. Faço faculdade, sou evangélico, não falo palavrão, não bebo bebida alcoolica, porém, jogo basquete, Ping-Pong, pratico Kung-fu, JiuJitsu, gosto de ver programas de luta livre e por isso sou fã e ex-lutador WWE.

Em diversas ocasiões tenho a sensação de que estou só entre gigantes da fé. Haveria mais gente como eu ? Sei que existem profetas, poetas e santos que também convivem com o desalento. Celebro a honestidade de todos os que, corajosamente, detectam sentimentos menos brilhosos e, iguais a mim, não se sentem culpados.

Sou muito bagunçeiro, danado de inquieto, mas, choro. Ditosos os que choram, pois reconhecem que a vida não é composta só de luzes. Quem busca apenas o riso, querendo perenizar o prazer, cairá no profundo abismo do desencanto. Só os tristes sabem os segredos das noites sem lua e que algumas dimensões nobilíssimas da nossa humanidade somente se expressam em corredores de morte. Grandes são todos os que permanecem em pé mesmo quando não há luz nenhuma.

Quem ri, tabém chora, quem faz rir, também sente tristeza. Os que ocultam suas inquietações com frases e clichês, se condenam à superficialidade. Não existe tese que consiga se impor com mais força que a própria vida. De nada vale repetir slogans que prometem um mundo cor-de-rosa. Mais cedo ou mais tarde virá a tempestade que assola a casa. Ventos contrários varrerão projetos cautelosos e, quem não edificar sua vida na verdade, ruirá implacavelmente.

Bendito os que choram. Eles sabem que ninguém possui controle direto sobre suas emoções e reconhecem, inclusive, que serão traídos pelos incidentes do cotidiano. Eles vão até o fundo do poço e não se sentem fracassados, pois sabem que tanto alegrias como tristezas são passageiras.

Gosto de rir, e gosto de chorar, gosto dos que riem e dos que choram. Eles não tentam sublimar as inquietações com ativismos. Sofrimento é a única dimensão da vida comum a todos os homens e mulheres. Quem tenta blindar-se das tristezas precisa também se proteger da alegria. Fugir do sofrimento significa amortecer a felicidade.

Ditosos os que podem lamentar em público. Eles não precisam de sorrisos plásticos, de discursos demagógicos ou da arrogância religiosa, pois se sentem acolhidos em sua honestidade. Eles sabem que não serão apedrejados quando se mostram frágeis, porque vivem entre amigos verdadeiros.

Ditosos os que choram. Esses ditosos podem seguir tranqüilos pela vida, porque a tristeza, segundo Deus, não é para a morte.

Jeferson Queiroz (Recebi do autor por e-mail)


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