A Revolta da Mãe

              Sou corajosa, pois gosto de citar a Bíblia, para resolver qualquer pendência, embora, às vezes, seja odiada pelo interlocutor incrédulo, o qual tenta me deletar, na mesma hora.

            No ano passado, durante um congresso metodista que se realizava numa igreja próxima (com uma frequência enorme de iludidos pelo barulho e pelas pregações embasadas na prosperidade), fui policiada por duas WIBs (“Women in Black” = Mulheres de Preto) e, mais tarde, uma ex-membro da dita igreja me explicou o motivo do policiamento. Eu havia  citado a Bíblia, quando o preletor falou uma heresia cabeluda! Ela contou que isso é proibido e quando alguém cita a Palavra de Deus incorre na hipótese de estar possessa, porque Satanás citou a Bíblia, quando tentou Jesus Cristo, conforme Mateus 4:1-11. Este péssimo conceito foi herdado do Catolicismo Romano pelos líderes atuais, temendo ser contestados em seus pronunciamentos heréticos.

              O preletor do tal congresso (que viera da Igreja da Lagoinha em Belô e é um psicólogo) havia dito, entre outras abobrinhas: “Deus escolhe você por causa das suas qualidades”. Pedi a palavra e perguntei como ficavam a Soberania Divina e  a passagem de Filipenses 2:13, que diz: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”? Como ele parecia ser melhor na Psicologia do que na Bíblia, pediu que eu lesse a passagem, o que fiz, imediatamente, deixando-o sem argumento. Depois disso, comecei a ser policiada, provavelmente porque a liderança imaginou que eu estivesse possessa...

          Por falar em coragem, lembrei-me   de uma estória do século 19, que é muito interessante, sob o título“The Revolt of Mother”, a qual achei linda! Essa mãe de família morava numa cabana, há 40 anos, conquanto o seu marido lhe houvesse prometido, desde a noite de núpcias,  uma bela casa. Após 4 décadas de paciência, ela viu o marido construir um belo celeiro (de dois andares), para ali abrigar umas vacas que lhes davam leite, e outras, que ele fora comprar, numa cidade próxima, precisando ali demorar por uma semana.

A mãe resolveu dar um basta naquela falta de atenção do marido. Considerando que a filha ia se casar dentro de poucos dias e morar com os pais, o que seria um sufoco, pois ela dormia num quartinho apertado, perto da cozinha; e que o filho dormia num catre, também perto da cozinha, a mãe se encheu de coragem e tomou uma decisão. Pegou tudo que havia na cabana e se mudou para o novo celeiro de dois andares. Colocou as  vacas dentro da cabana e esperou que o marido voltasse.

Quando o marido voltou da viagem, com as vacas recém compradas, ficou abismado com a “rebeldia” da mulher e pediu uma explicação. Ela mandou que ele se sentasse numa poltrona velha e desabafou: “Marido, você me prometeu, há 40 anos, uma casa decente. Nunca me deu, mas agora construiu um novo e confortável celeiro para as suas vacas. Portanto, cheguei à conclusão de que você tem mais amor pelas suas vacas do que por mim; então, resolvi me rebelar. Agora, vá dormir em nossa cabana antiga, junto com as suas vacas amadas... Ou então, comece a construir, rapidamente, uma linda casa para mim e para os nossos filhos. É pegar ou largar”.

O homem baixou a cabeça, foi dormir na cabana e, dentro de três meses, aquela mãe estava entrando numa linda casa de madeira, com novos móveis e cortinas de renda bailando como sob uma valsa de Strauss.

Moral da história: Mulher que baixa a  cabeça diante de tudo que o marido promete ou ordena; ou diante de toda abobrinha que escuta dos lábios do pregador, é boba e merece morar num estábulo.

No tempo em que eu cursava teologia no Seminário Betel (RJ),  contei a meu marido que Salomão havia tido 700 esposas e 300 concubinas. Ele deu uma risadinha sarcástica e comentou, com um delicioso sotaque germânico: “Garanto que nenhuma dessas mulheres era cearense!”.

Mary Schultze, 21/03/2011 - www.maryschultze.com