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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

30 de setembro de 2013

Bola de Neve: Esta igreja é mesmo do surf?

HARCORE
Alexandre Versiani
Fotos: Victor Moryana


No século 18, quando o navegador britânico James Cook desembarcou no Hawaii, o surf fazia parte da religião local. Um sistema de leis ancestrais, chamado Kapu, assegurava o direito sagrado de surfar com ensinamentos que iam desde a construção de pranchas até orações para os deuses enviarem as ondas. Dividida em classes reais e comuns, os tabus da sociedade havaiana também valiam dentro da água. Havia recifes onde só os reis tinham o direito de surfar e praias em que o esporte era liberado para todos. Um século depois da chegada de Cook, com os dolorosos processos de colonização, o surf acabou proibido no arquipélago por missionários cristãos que consideravam a atividade imprópria. Assim o esporte ficou banido da sociedade até o início do século 20, quando então foi salvo pelo “messias” Duke Kahanamoku.

Quase um século depois, a mentalidade das pessoas mudou e os próprios missionários se contextualizaram. Há 40 anos, não eram mais padres e pastores que recriminavam o esporte, mas a própria sociedade. Por muito tempo o surfista foi tachado de rebelde, vagabundo e maconheiro. Com a massificação do surf, todos esses rótulos ficaram no passado. Hoje ele conta com uma popularidade nunca antes vista, e sua imagem é usada até em comerciais de TV, novelas e revistas de celebridade. O surf entrou de vez na roda do capitalismo, não por menos, atualmente é um dos esportes mais praticados no Brasil e o mercado que o envolve injeta milhões de reais todos os anos nas indústrias da moda e do entretenimento. Todos querem um pedaço dessa imagem saudável, até mesmo a religião, que há séculos expulsou o surf pela porta dos fundos.

De todas as igrejas no Brasil, a que mais multiplicou o seu número de fiéis na última década usa uma prancha como púlpito (espécie de altar evangélico onde o pastor comanda o culto). 

Fundada em 2000, a Bola de Neve Church fugiu do estereótipo do “crente evangélico” com uma roupagem moderna que atraiu jovens de todos os tipos. Em dez anos, saltou de 150 para 60 mil fiéis. Hoje são 220 templos espalhados pelo Brasil e por países como Argentina, Peru, Chile, Uruguai, Paraguai, EUA (Los Angeles, Miami e Hawaii), Portugal, Inglaterra, Rússia, Austrália, Haiti, Bósnia e Moçambique. A avalanche não parou por aí. A Bola de Neve ainda conta com programa de esportes radicais – veiculado nas madrugadas de sábado para domingo na TV aberta (no mesmo horário do global Altas Horas); a rádio mais acessada via internet no Brasil; peças de teatro que atraem milhares de pessoas; cursos para a formação de novos pastores com 7 mil alunos, e uma faculdade de teologia que depende apenas da aprovação do MEC (Ministério da Educação) para sair do papel.

Idealizada em 1994 pelo empresário e surfista Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, a Bola de Neve nasceu como um ministério dentro da também neopentecostal (vertente da religião evangélica criada na metade da década de 70) Igreja Renascer em Cristo. Até 1999, atuou com o objetivo de levar o evangelho aos praticantes de esportes radicais promovendo encontros como apresentações de skate, capoeira e jiu-jítsu. Em 2000, Rinaldo fundou a sua própria denominação, a Bola de Neve Church. Church, igreja em inglês, porque era assim que os primeiros frequentadores chamavam o templo. O primeiro culto foi realizado em janeiro de 2000 em um prédio alugado na Rua Marco Aurélio, no bairro da Lapa, São Paulo. Antes disso, os encontros já aconteciam em um auditório improvisado na fábrica da marca de surfwear Hawaiian Dreams (HD) no centro da capital paulista. Na HD, onde era representante de vendas, Rinaldo e um grupo de surfistas – que posteriormente formaria o primeiro quadro de pastores da igreja – apoiavam a Bíblia em um longboard, assim surgiu a ideia de colocar a prancha como púlpito, uma das principais marcas da igreja atualmente.

Aos 41 anos, Rinaldo passou a ser o apóstolo Rina, pois hoje é o responsável por estabelecer os fundamentos da igreja e transmitir as “visões divinas” aos fiéis. Nascido em São Paulo em uma família de formação batista, trouxe muitos elementos dessa igreja à Bola de Neve como os ritmos dançantes e o ambiente familiar. Muitos deles se confundem com a própria personalidade de Rina, como o surf, por exemplo. O líder da Bola de Neve, que pega onda desde os 15 anos em picos como Camburi e Baleia, litoral norte de São Paulo, já tem no currículo viagens missionárias para lugares como Costa Rica, Peru, Hawaii, África do Sul e Califórnia. Nos anos 1980, frequentou baladas e casas de shows como o Olympia, por onde passaram roqueiros na capital paulista e hoje a casa da Bola de Neve em São Paulo. O gosto pelo surf e a música trouxeram uma abordagem diferente das organizações evangélicas tradicionais, o que ajudou a seduzir nomes como Dadá Figueiredo, Rodolfo Abrantes (ex-Raimundos), André Catalau (ex-Golpe de Estado), Zeider (Planta e Raiz) e mais recentemente Gabriel Medina e Miguel Pupo.

“Quando a igreja começou, ela era exclusivamente surfista (sic). Não porque a gente resolveu que esse seria o nosso target mas, como a maioria dos líderes praticava esporte, então nossos amigos e as pessoas que acabavam frequentando eram surfistas. Hoje ainda tem muita gente dessa área de esportes radicais”, conta Rinaldo.

Quando fundou a igreja, Rina tinha apenas 27 anos. Na época, uma viagem repleta de perrengues em Trindade, Paraty (RJ), e uma hepatite C agravada pelo abuso de maconha e cocaína no Carnaval fizeram o pastor beirar a morte e então decidir mudar de vida. Formado em marketing e pós-graduado em administração, estudava teologia quando abriu a igreja. Uniu esses aprendizados para fundar uma igreja que hoje tem templos faraônicos que comportam milhares de pessoas em lugares como São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e Santos – onde existe até academia de musculação e piscina olímpica para uso dos fiéis.


Mas Rina afirma que não mede a importância da Bola de Neve pelo seu tamanho. “Nunca fiz essa conta de medir, qualificar e quantificar. Não posso cair no erro de olhar para os frequentadores da igreja como um resultado ou um troféu. Isso tem que ser uma consequência natural de um trabalho”, diz. Mas demonstra-se obstinado quando o assunto é levá-la aos cinco continentes, e não mede esforços para entrar no último deles. Um novo pastor está sendo treinado para abrir uma filial no Japão. Por igrejas vizinhas, a Bola de Neve é tida como modelo em administração religiosa, dispondo de um prédio de três andares e 40 funcionários para cuidar exclusivamente dos departamentos jurídico, contábil e financeiro.

Não se sabe ao certo o quanto a Bola de Neve arrecada. Porém, um ex-presbítero (cargo abaixo do pastor) que trabalhou seis anos na igreja e prefere não se identificar afirma que a unidade no Rio de Janeiro “recolhia” R$ 250 mil por mês e até R$ 1 milhão em São Paulo no ano de 2010.

O estudante Marcello Comuna, 33, que entrou na Bola de Neve em 2007, saiu dois anos depois por acreditar que a igreja funcionava como um negócio. “Eu me apaixonei pela ‘visão’ da Bola. A proposta de levar o evangelho de uma forma mais descolada, com uma linguagem contextualizada me parecia bem familiar com o estilo do próprio Cristo de divulgar sua mensagem. Lá tinha gente como eu, no estereótipo e na história de vida. A diferença é que Cristo era transparente. Na Bola de Neve as aparências enganam”, diz Comuna.

Se antes todos os pastores e as primeiras unidades ficavam no litoral, hoje a realidade é bem diferente. A organização já está presente em 21 capitais e centenas de cidades, grande parte delas no interior. Em uma entrevista concedida em 2011, Rina disse que sua igreja ficou “estigmatizada” com essa “história de surfistas” e calculou que “nem 5%” do seu público praticava o surf. Um ano antes, Dadá Figueiredo já havia deixado a Bola de Neve. Ícone do surf nacional nos anos 1980 e convertido ao evangelho nos 1990, o surfista frequentava a igreja desde os tempos da HD, mas hoje afirma que, no seu entender, a organização não acrescenta nada ao esporte.

Atualmente nos cultos realizados pela Bola de Neve, uma das únicas coisas que lembram o surf é a velha prancha como púlpito. É difícil achar um espaço nos encontros que acontecem nas quintas e nos domingos na sede da igreja em São Paulo. Chamado de “Casa de Deus”, e antigo reduto do rock, o Olympia hoje conta com capacidade para 4 mil pessoas, temakeria e lanchonetes que usam skates como prateleira. O público não mudou muito, exceto pelas Bíblias debaixo do braço. O próprio Rina é quem dá as boas-vindas aos fiéis. Sua esposa, pastora Denise, convertida depois de uma overdose de cocaína, é a encarregada da apresentação musical com batidas de rock e reggae que lembram alguns hits do passado. A diferença está nas letras, compostas pela própria Denise, que clamam a Deus com palavras fortes como “queimo de amor por ti” ou “te persigo violentamente”. A acústica do Olympia continua impecável como nos tempos de Ramones, Planet Hemp e Deep Purple. A apresentação é um verdadeiro espetáculo gospel. O show acaba e duas belas garotas gritam “Aleluia”.
Foto: Victor Moryana

Depois da música, é a hora dos recados da igreja: congresso para mulheres, campanha de doação de alimentos e uma peregrinação religiosa a Israel para quem estiver disposto a desembolsar US$ 4 mil. Rina volta ao palco, faz brincadeiras com o público, lê o Salmo e fala pausadamente sobre a importância do dízimo para as “atividades da igreja”. Logo três enormes filas se formam. Ao centro, os fiéis que pagam em dinheiro. Nas laterais, um pouco mais discretamente, há a opção de doar no cartão de crédito ou débito.

Para o teólogo Paulo Monteiro, professor de ciência da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de diversos livros sobre a corrupção nas igrejas, a ideia da doação material é tida como fundamental para se obterem as graças esperadas em igrejas evangélicas. “Uma das características da cultura brasileira é a transgressão. A voracidade de levar vantagem em tudo. Infelizmente, vários aspectos negativos da cultura brasileira foram assimilados pela igreja evangélica no Brasil. Muitos líderes de instituições religiosas com grande entrada de recursos se perdem ao longo da caminhada”, afirma.

O tema polêmico é tratado com clareza por Rinaldo. “Meu papel é ensinar o princípio. Como uma igreja sobrevive? Ela não vende produtos, não tem ajuda do governo, de empresas. As obras sociais da igreja sobrevivem de quem faz parte dela. Você não vê na igreja, entre uma música e outra, uma propaganda no telão dizendo beba Coca-Cola ou compre Volkswagen”, diz.

Apesar de Rina dizer que não vende produtos, a Bola de Neve tem uma série de mercadorias ligadas ao seu nome como Cd’s, DVD’s, livros, camisetas e adesivos. E se não recebe ajuda do governo, a igreja tampouco responde pelos seus lucros. Assim como sindicatos e partidos políticos, os templos religiosos possuem imunidade tributária garantida pela Constituição. Ao contrário de uma empresa tradicional, a igreja não paga impostos sobre os ganhos ligados à sua atividade. Na última década, não houve nada mais lucrativo no Brasil do que abrir uma igreja evangélica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, o número de pessoas que se declararam adeptas dessa religião aumentou 61,45% em dez anos. Hoje, um a cada cinco brasileiros é evangélico. Dados disponibilizados pela Receita Federal ao jornal Folha de S.Paulo revelaram que em 2011 as igrejas – entre católica, evangélica e outras – arrecadaram R$ 20,6 bilhões. A maior parte veio dos dízimos: R$ 14,2 bilhões.

Fotos: Victor Moryana / Hardcore -rep.

Na tentativa de ampliar a sua influência junto ao Estado, as igrejas evangélicas frequentemente também elegem seus próprios candidatos e assim concentram grande parte das decisões na câmara com a chamada bancada evangélica. Na Bola de Neve não foi diferente. Na última eleição municipal, apoiou Eduardo Tuma (PSDB), frequentador assíduo da Bola de Neve, para vereador em São Paulo. Os laços com o Partido da Social Democracia Brasileira começaram a ser estreitados antes, nas eleições de 2008, quando apoiou o candidato Geraldo Alckmin para prefeito. Chamado ao palco para receber uma chuva de aplausos, Alckmin chegou a falar que “nunca havia se sentido tão próximo de Deus como na Bola de Neve”, mas não passou nem do primeiro turno. Em 2012, a entidade apoiou o também tucano e candidato à prefeitura José Serra, que chegou a ser multado em R$ 2 mil pelo Tribunal Regional Eleitoral por fazer propaganda política dentro de um culto religioso da Bola de Neve.

A derrota sofrida pelos tucanos nas duas eleições municipais não foi o maior baque sofrido pela Bola de Neve em sua curta trajetória. Em 2010, o pastor Gilson Mastrorosa acabou desligado da igreja por manter relações sexuais com uma frequentadora, menor de idade, desde os seus 14 anos. Gilson, na época casado com Priscila Seixas, irmã do pastor Rina, era líder da igreja na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e foi prontamente expulso depois de uma série de escândalos envolvendo o seu nome.

Outra crítica de pessoas que deixaram a Bola de Neve é a sua aproximação com o lado mais radical do neopentecostalismo. Durante congressos promovidos pela igreja com líderes de outras denominações, os membros mais próximos eram orientados a passar por exercícios de cura espiritual, parecidos com as sessões de descarrego. O skatista Thiago Marcone, que se formaria no curso de líderes de célula em São Paulo, relata que a cada seis meses era obrigado a repetir por horas frases como “eu peço perdão pelos meus pecados”, entre outras similares, com o objetivo de ser libertado de possessões demoníacas e malignas que poderiam estar agindo sobre ele.

Rina defende que essas sessões eram realizadas em congressos esporádicos, organizados pela Bola de Neve com a intenção de oferecer a chance de membros e pastores da igreja conhecerem outras linhas neopentecostais. “A gente procura se relacionar, fazer ponte com gente de todas as linhas possíveis para não ficar parecido com uma seita. Mas não são esses caras que determinam o que a gente vive”, esclarece.

Para uma turma de surfistas que ainda resiste na Bola de Neve, a igreja tem sido muito mais uma solução do que um problema. Ailton da Silva, por exemplo, superarou problemas como drogas e violência depois de passar a frequentar os cultos da igreja. Ex-segurança de eventos como o WQS do Guarujá, Ailton da Silva, 43, “aceitou Jesus” há cinco anos em Florianópolis. Antes, local do canal 1 de Santos, chegou a roubar e expulsava a socos quem ousasse rabear sua onda no Quebra-Mar. Diz ter aprendido a amar e a pedir perdão na igreja e afirma ter mudado de vida.

Bem mais conhecido, Gabriel Medina começou a frequentar recentemente a unidade da Bola de Neve em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo. O top do WCT tem até aulas de ukulele – tradicional instrumento havaiano de cordas – com André Catalau, o ex-líder da banda de rock Golpe de Estado e hoje pastor da unidade que ainda tem o veterano Wagner Pupo, pai do top Miguel Pupo, como diácono. Longe dos templos luxuosos e ostensivos que caracterizam a Bola de Neve em lugares como São Paulo, Santos, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte, a filial de Boiçucanga ainda preserva as mesmas características do início da igreja que ajudaram a atrair surfistas e esportistas radicais. Um espaço sem pomposidades, localizado em uma comunidade extremamente carente e administrado por um líder que procura falar a linguagem dos surfistas.

André Catalau, 54, que já abriu show para o Deep Purple no Olympia em 1988, talvez seja o maior exemplo de superação dentro da Bola de Neve. Perdeu a irmã de overdose, o irmão de cirrose e por muito pouco também não morreu pelos excessos no álcool e na heroína. Conheceu a igreja através das clínicas de recuperação pelas quais passou. A convite de Rina, aceitou ser pastor e comandar a unidade de Boiçucanga e hoje adotou o discurso da igreja. “Quando comecei a ler o evangelho, queria mostrar o quanto aqueles caras eram fanáticos e bitolados. Queria provar que Jesus era um playboy. Fui encostar ele no corner e acabei nocauteado. A partir daí, parei de usar drogas, não me pergunte como”, conta o ex-vocalista, que possui a tatuagem “Jesus é o messias” no braço.

Assim como a maioria das igrejas evangélicas, a Bola de Neve é criticada – muitas vezes justificadamente – por ter um foco demasiado em crescimento financeiro, sem pagar impostos ou divulgar seus ganhos. Por outro lado, é inegável que a igreja trouxe benefícios a muitas pessoas que antes não identificavam-se com nenhum tipo de organização religiosa.

Mas até que ponto é justificável uma religião que não representa todos os surfistas, nem suas ideologias, associar sua imagem ao estilo de vida do surf?




Equilibrando-se na corda bamba da graça






Por Hermes C. Fernandes


Estou ciente de todos os riscos de se viver a graça até às últimas consequências. Não encontro melhor analogia disso do que andar na corda bamba. Não se pode fazer estripulias ali. Há que se tomar os devidos cuidados, vigiando cada passo, sem olhar nem para a direita, nem para esquerda, muito menos para trás ou para baixo. Nossos olhos devem ser mantidos na direção do alvo que se deseja alcançar. Olhar para qualquer outra direção poderá provocar vertigem e, eventualmente, nossa queda.


Se pendermos para a esquerda, cairemos no fosso do legalismo, onde nossa liberdade é restringida por regras e tradições humanas. Se pendermos para a direita, cairemos no abismo do pecado, onde a liberdade é confundida com licenciosidade e libertinagem.




Geralmente, o equilibrista recorre ao uso de um bastão que o acompanha em sua caminhada sobre a corda bamba. Se quisermos alcançar o equilíbrio em nossa caminhada sob a graça, teremos que recorrer constantemente à cruz. Não é à toa que a cruz tem duas hastes, uma vertical e outra horizontal. Repare que a horizontal, sobre a qual os braços de Jesus foram estendidos, aparece numa posição reta, sem pender para nenhum dos lados. Uma graça sem cruz não passa de desgraça em potencial.



A corda da graça é suspensa sobre o abismo. Qualquer desequilíbrio pode ser fatal e provocar uma queda livre. Dura coisa é cair da graça! Mas isso só ocorre quando nos separamos de Cristo, apelando à nossa justiça própria. Todos os que recorrem à prática da Lei para serem justificados por Deus acabam separando-se de Cristo e caindo da graça. Veja o que Paulo diz sobre este terrível risco:

“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.”Gálatas 5:4
Não é possível caminhar por esta corda bamba sem depender inteiramente de Cristo. Para tal, nosso ‘eu’

tem que estar crucificado. Em outras palavras, nosso ‘eu’ é alguém com quem não podemos mais contar, pois está definitivamente morto. Paulo percebeu isso e, por isso, já não se atrevia a depender de si mesmo. Ele sabia que se retornasse às obras da Lei, Cristo de nada o aproveitaria (Gl.5:2). Estar firme na liberdade conferida pela graça não é algo facultativo (Gl.5:1). Negligenciar isso é o mesmo que separar-se de Cristo e de Sua cruz, caminhando sobre a corda bamba sem um bastão para dar equilíbrio.


Lembre-se de que não há rede protetora lá embaixo. A queda é livre! Por isso, resta-nos fazer coro com o apóstolo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu em vão” (Gl. 2:20-21).
Alguém se atreve a dizer que Cristo morreu em vão? Mas é justamente isso que dizemos quando teimamos em depender de nossos próprios esforços para nos manter de pé. Graça sem cruz é corda bamba sem bastão para equilibrar-se. Não arrisque! Fie-se na obra consumada na cruz e não em sua performance religiosa. Não vá meter-se a fazer malabarismo, misturando lei e graça num mesmo combo. Ou vivemos toda a liberdade que a graça dá ou voltamos para debaixo do jugo da Lei.

Fonte: http://www.hermesfernandes.com/2013/09/equilibrando-se-na-corda-bamba-da-graca.html

26 de setembro de 2013

Jovens de diversos países da América Latina farão jejum para denunciar a fome




Nos dias 23 e 24 de março, adolescentes e jovens de 13 países da América Latina e Caribe farão jejum de 24 horas denunciando o problema da fome no mundo. Além disso, eles renunciarão também a comodidades como TV, celulares, Ipods e outros gostos pessoais lembrando os milhões de pessoas que ainda sofrem com a má distribuição dos alimentos e desnutrição. O evento da campanha Diga Não à Fome no Brasil vai acontecer em Curitiba, na sede da Igreja Bola de Neve.

Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), 31% da população, ou seja, 177 milhões de pessoas na região são pobres e 55 milhões sentem fome. Já de acordo com dados do Programa Mundial de Alimentos (PMA)*, agência das Nações Unidas, uma criança morre a cada seis segundos por causas relacionadas à fome no planeta. Quase 1 bilhão de pessoas sofre regularmente com a fome, sendo a maioria mulheres e crianças.

A campanha está sendo desenvolvida também pelos escritórios da Visão Mundial na Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Peru e República Dominicana, com o apoio de parceiros como universidades, igrejas e outras ONGs e terá transmissões ao vivo através das mídias sociais da organização.

Além de chamar a atenção sobre a situação de fome que ainda afeta significativamente as populações mais vulneráveis, a campanha vai arrecadar recursos para beneficiar projetos de redução da fome e desnutrição no Brasil e no Chifre da África, onde a organização vem respondendo à situação de emergência com a falta de alimentos.

www.diganaoafome.org.br

*Dado referente ao ano de 2011.
Fonte: Visão Mundial

Leia mais http://crentassos.com.br/blog/2012/03/jovens-de-diversos-paises-da-america-latina-farao-jejum-para-denunciar-a-fome.html#ixzz2g3GYzRH1
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24 de setembro de 2013

O que um pastor foi fazer no Rock in Rio?



Hermes C. Fernandes

Depois de dois cultos para lá de especiais, antes da bênção apostólica anuncio ao povo que eu, meu filho e um grupo de pastores da Reina (Pr. Cecílio, meu irmão, Pr. Rodrigo e Pr. Bruno) estaríamos no último show do Rock in Rio, prestigiando a um irmão em Cristo, Nicko Mcbrain, baterista da maior banda de Heavy Metal do mundo, o Iron Maiden. Pedi que os irmãos orassem por nós, já que estaríamos expostos a todo tipo de críticas. Nem precisei me dar o trabalho de ficar explicando o que faríamos lá. Graças a Deus, os irmãos da Reina já estão acostumados comigo e sabem que eu seria incapaz de me esconder atrás de uma justificativa mentirosa.

Confesso que estava muito cansado. O domingo foi, como sempre, de muito trabalho pastoral. Todavia, eu não poderia deixar de aproveitar os ingressos que um grande amigo nos conseguiu de graça. Afinal, esperei quase trinta anos para assistir à banda responsável pela trilha sonora da minha juventude.

Assim que chegamos ao local do show, surpreendi-me com o clima familiar. Tratava-se de um encontro de gerações. Avôs, pais e filhos se reuniam para ouvir sua banda predileta. Alguém disse que o Iron não tem fãs, mas fiéis. Não é uma modinha passageira, mas algo que se passa de pai para filho. Não encontrei um clima devasso, como alguns poderiam supor. Havia quem se exacerbasse um pouco, bebendo além da medida. Mas não precisa estar num show de rock para assistir a isso.

Quando vi aquela multidão, o primeiro comentário que fiz ao meu amigo Pr. Bruno foi que pareciam ovelhas sem pastor. Antes de começar o show, perguntava-me a mim mesmo o que fazer para alcançar aquela gente com o evangelho. A primeira coisa que me ocorreu foi que precisaríamos remover de nossa abordagem todo tipo de caretice.

Enquanto transitava por entre a multidão, pensei: - Como posso estar aqui sem julgar quem quer que seja? Como posso enxergar-me como um deles, tão carente quanto qualquer outro da graça divina?

Das várias cenas que assisti, talvez a que mais me chamou a atenção foi a de um senhor cadeirante que não conseguia ficar parado durante as apresentações, fazendo manobras com sua cadeira de rodas, celebrando o fato de estar vivo.

Pr. Bruno Jardim, Pr. Cecílio, bispo Hermes, Rhuan e Pr. Rodrigo

Resolvi, então, partilhar com meus amigos do facebook aquele momento tão importante para mim. Bastou que postasse duas fotos para que surgissem as mais inusitadas reações. Houve quem me acusasse de estar levando para o inferno todos que me seguem. Em pouco tempo, perdi vários seguidores (ao menos oito, num universo de cinco mil).

Alguém me perguntou se minha presença ali tinha objetivo evangelístico. Para muitos, esta seria a única razão que justificaria que um ministro do evangelho estivesse num show de rock. A verdade é que eu estava ali para me divertir ao lado do meu filho e dos meus companheiros de ministério. Curti cada canção do Iron. Foi como tomar um elixir da juventude.

Como me arrependo de ter quebrado todos os meus discos do Iron assim que ingressei no ministério. Que mal faz o legalismo! Mas pelo menos, minha esposa se libertou dos Menudos...rs

Tenho sérias dificuldades para entender as razões pelas quais alguns cristãos abominam o tipo de performance do Iron. Será que não percebem tratar-se de dramatização? Então, por que assistem a filmes de terror? Por que conceder licença poética ao cinema, ao teatro, aos livros, mas não à música?

A maioria sequer se deu o trabalho de examinar as letras bem trabalhadas da banda. Algumas falam de demônios, 666, mas sempre em tom irônico ou crítico. O Iron é uma das poucas bandas de rock que não fazem apologia às drogas e ao sexo livre. Bruce Dickinson, seu vocalista e principal compositor é professor de história e, nas horas vagas, piloto de avião.

Eu poderia ter levado folhetos evangelísticos para distribuir ali, mas será que funcionaria? Talvez eu pudesse usar isso como álibi ou mesmo para driblar minha consciência. Mas, sinceramente, seria inútil. Em momento algum minha consciência se viu violada.

Para mim, o ponto alto do show foi quando os Irons tocaram “I’m running free”. Ali estava a graça de Deus revelada numa canção de Heavy Metal. Ocorreu-me, imediatamente, a passagem em que Paulo declara: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.”

Ao decidir escrever este post, pensei em apresentar razões teológicas para estar naquele show. Lembrei-me, por exemplo, de Mesaque, Sadraque e Abedenego que estavam presentes naquela convocação do rei, e ao ouvirem a música, não se prostraram diante daquela escultura. Apesar de ter sido uma convocação, Daniel parece não ter atendido. Ou então, teremos que admitir que ele se prostrou. Todavia, cheguei à conclusão que seria um desperdício de tempo tentar me justificar. Parafraseando Paulo, que não iria a um show de rock, não julgue quem o faça, e quem foi, como eu, não julgue que jamais iria. O que autentifica nossa fé não são os ambientes que frequentamos, mas o amor que revelamos em qualquer lugar.

Em pleno Rock in Rio, eu e meus pares não fizemos proselitismo, não exibimos camisetas com dizeres evangelísticos, mas buscamos encarnar o evangelho, amando cada pessoa, sem julgá-la ou enxergá-la de cima para baixo.


Hermes Fernandes é chapa do Genizah apesar de não gostar dos menudos...




Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz2fqAjPgV6
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O “mega projeto social” de Silas Malafaia: ganhar dinheiro vendendo seguro para crente pobre


Página de abertura do site Vitória em Cristo (21/09/2013)

Página de abertura do site Vitória em Cristo (21/09/2013)

No programa Vitória em Cristo de hoje o filho do pr. Silas Malafaia declarou que seu pai anunciaria, no final, seu "mega projeto social" que abençoaria muitas vidas. Ao ouvir isso fiquei na expectativa, afinal será que Malafaia teria resolvido ajudar os desfavorecidos ao invés de ajuntar tesouros na terra?

Realmente seria um sonho o Malafaia mudar seu discurso da Teologia da Prosperidade de um dia para o outro. Seria um sonho vê-lo desprendido dos bens materiais em favor do próximo. Seria um sonho vê-lo vivendo o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. No final do programa, o próprio Malafaia explicou seu "mega projeto social" 

Pois é, o "mega projeto social" do Malafaia nada mais é do que sua parceria com uma seguradora para a venda de seguros de vida bem populares, propagandeados como algo "inédito" no mercado brasileiro.

Mas será mesmo?

O tal seguro de vida do Malafaia cobre apenas morte acidental em transporte coletivo (50 mil) e morte acidental (25 mil). Se você adquirir o seguro e tiver morte natural, ou decorrente de uma doença que poderá adquirir com o passar dos anos, seus beneficiários não receberão nada. Ora, é muito mais fácil morrer de morte natural ou por doença do que por acidente! Mas vamos lá…

Fora isso, o tal seguro inédito do Malafaia prevê desconto em farmácias e desconto em procedimentos médicos (consulta e exames). Como o tal seguro tem como público-alvo as classes D e E (que andam de transporte coletivo, uma das coberturas), mesmo com desconto é meio difícil esse pessoal poder usufruir de consultas e exames pagos. Mas ainda assim vamos lá…

blog52O tal seguro também tem cobertura residencial para incêndio, raio, explosão e implosão (50 mil). Ora, é sabido que seguro residencial é o mais barato possível, uma vez que as taxas de sinistro são baixíssimas. E como as coberturas anunciadas são as mais básicas possíveis, e esse tipo de seguro só cobre residências em alvenaria e que não estejam em reforma ou construção (e casa de pobre passa anos em reforma ou construção, até ser finalmente finalizada), muita gente que adquirir o tal seguro do Malafaia não poderá usufruir dessa cobertura, embora isso não tenha sido veiculado abertamente pelo tal (im)pastor.

A propósito, informações veiculadas abertamente não são o forte de instituições bancárias e securitárias. Normalmente, para garantir a venda, o vendedor apenas pincela os benefícios do produto em questão, enquanto o consumidor apenas assina enormes contratos com letras pequenininhas e termos jurídicos que inviabilizam, para muita gente, entender o que realmente está comprando. Aí, na hora do sinistro, do desespero, após anos e anos pagando pelo produto, muitas vezes o consumidor acaba ficando no prejuízo por não ter atentado para os "poréns" que impedem o pagamento do seguro.

Assim, como bom vendedor que é, o Malafaia expôs apenas as vantagens e deu o telefone e o site para a contratação do seguro, que custa R$ 9,99.

Cá para nós, esse preço está bem alto, levando em conta que não cobre morte natural. As instituições financeiras brasileiras também possuem seguros direcionados para o público de baixa renda, contendo assistências adicionais à cobertura de morte mais utilizáveis e por preços melhores:

BB Seguro Vida
Cobertura de morte natural e acidental, indenização extra
Assistências pessoal em viagem, desconto em farmácia (isso não é inédito, Malafaia!), chaveiro residencial e auxílio-funeral de R$ 3.000,00.
Preço: R$ 8,39 por mês

Vida da Gente (CEF)
Cobertura de morte natural e acidental.
Assistências funeral, check-up lar, auxilio alimentação de R$ 1.000,00 em caso de sinistro, assistência viagem, 4 sorteios mensais de R$ 15.000,00.
Preço: R$ 9,26 por mês

Como para garantir a venda vale tudo, vale até chamar a parceria entre o Malafaia e a tal seguradora de "Rede Abençoadora". Afinal, se está abençoando é porque é algo de Deus. E, se é algo de Deus, os crentes não podem perder essa chance!

Muito triste ver essa sutil mistificação de um reles negócio entre empresários (Malafaia e a seguradora) para melhor vender entre os crentes mais humildes. Sim, pois os crentes bancarizados já possuem seguros de vida dos bancos onde recebem seus salários ou guardam suas economias. Ou, se ainda não possuem, é porque assim decidiram, pois os bancos não se cansam de ofertar esse tipo de produto, que traz muita rentabilidade e ajuda a alavancar os pornográficos lucros que anunciam no início de cada semestre.

blog7O que mais me assusta é que a venda de seguros gospel é só a ponta do iceberg malafaiano. Lembram-se que tempos atrás esse pastor se vangloriava de vender seus produtos nas revistinhas do Avon, mas talvez por conta de ameaça de boicote por parte dos homossexuais a parceria foi rompida? Meses depois o Malafaia anunciou sua própria "avon gospel".

Pois é, o Edir Macedo (IURD) já possui seu próprio banco, o Banco Renner. Alguém duvida que num futuro não muito distante seja esse o objetivo do Malafaia? Hoje são seguros de vida gospel, amanhã previdência, depois o céu (ou melhor, o inferno) é o limite.

O pior é que não podemos nem mais nos escandalizar com o Malafaia, afinal, meses atrás, ele mesmo disse na abertura da FIC (Feira Internacional Cristã) que tudo isso "é business"…

Quanta tristeza!!! Quando pensamos que os líderes evangélicos brasileiros chegaram no fundo do poço da idolatria e da heresia, eles pegam a pá e cavam mais um pouco. O problema é que multidões têm seguido esses lobos devoradores, e junto a eles estão caindo cada vez mais fundo.

Que Deus abra os olhos do seu povo, e não permita que os Seus sejam feitos comércio:

"E também houve entre o povo falsos profetas, como  entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente  heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si  mesmos repentina perdição.
E muitos seguirão as suas dissoluções,  pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.
E por avareza farão de vós negócio com  palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença,  e a sua perdição não dormita." – 2 Pedro 2:1-3

Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!

POR ESTRANGEIRA

22 de setembro de 2013

Amor sem proselitismo e outras intenções



Por Hermes C. Fernandes

Deus não nos enviou ao mundo para convertê-lo, mas para amá-lo. Conversão são outros quinhentos  e não cabe a nenhum de nós. Achar-se capaz de converter o mundo beira à presunção.

O amor deve ser totalmente despretensioso, entregando-se voluntariamente sem esperar resultado algum. De modo que, se não formos correspondidos, isso não nos afetará. Nem mesmo a ingratidão nos fará desistir de amar. O alvo supremo do amor sempre é o bem de quem se ama.  

Qualquer coisa que se faz na expectativa de algum retorno não é amor, mas barganha, e, portanto, contrário ao espírito do evangelho.

Muitas igrejas têm promovido trabalhos sociais dignos de louvor. Todavia, o índice de frustração é muito grande, pois os mesmos não vêm acompanhados de resultados considerados satisfatórios.

A meu ver, precisamos rever nossos paradigmas.

Aproveitar a dor alheia para empurrar nossa visão religiosa não é evangelismo, mas proselitismo, do tipo adotado pelos fariseus; em vez de alívio, agrava o sofrimento, tornando-o insuportável. Jesus os advertiu, dizendo:Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mt. 23:15).

Nosso modelo de evangelização ainda está atrelado à visão colonialista europeia. Nossa abordagem está contaminada pela presunção de que temos algo que os outros não têm. Somos os civilizados, e eles, os selvagens. Somos os cristãos, e eles, os pagãos. Temos Cristo, eles não.

Oferecemos ajuda humanitária como uma moeda de troca, exatamente como os espanhóis e portugueses faziam com os índios ao oferecer-lhes bugigangas tais como espelhos e pentes.

É claro que almejamos compartilhar Cristo ao maior número possível de pessoas. Todavia, antes disso, devemos compartilhar nossa própria alma de maneira despretensiosa (1 Ts.2:8).  

Por conta do forte proselitismo de algumas igrejas e instituições cristãs, as pessoas já estão escaldadas. Qualquer aproximação é vista com suspeita. Nossas obras sociais e humanitárias se tornaram a isca que camufla o anzol.

Jesus disse que faria de Pedro e André pescadores de homens. Todavia, o tipo de pesca que eles faziam era com rede e não com vara. Portanto, dispensava o uso de iscas.

Será que a intenção de Jesus ao multiplicar aqueles pães e peixes era meramente proselitista? Então, por que não houve um “apelo evangelístico” após alimentar a multidão?

E quando a igreja em Jerusalém resolveu assumir os cuidados das viúvas da comunidade, elegendo diáconos para dedicar-se a esse “importante negócio”, havia alguma intenção “evangelística”? Ou teriam sido movidos exclusivamente por amor?

Alguns poderão contestar dizendo: Se amamos as pessoas, queremos vê-las salvas. Concordo! Mas não me parece ético se aproveitar de uma necessidade material ou emocional para apresentar o evangelho. Seria mais ou menos como um político cheio de boas intenções oferecendo dentaduras e botijões de gás para quem lhe der o voto.

Repito: precisamos rever nossos paradigmas.

Quero propor aqui uma abordagem diferente.  Em vez de presumir que levaremos Deus a eles, nossa visão será a de buscar Deus neles.

Haveria algum embasamento bíblico para isso?

Jesus disse que no último dia seríamos julgados pelo bem que houvéssemos feito a Ele próprio, isto é, pela comida com que O alimentamos, a roupa com que cobrimos Sua nudez, a visita que Lhe fizemos na cadeia, etc. E quando perguntássemos quando tais coisas teriam ocorrido, Ele responderia: Quando fizeram a um dos meus pequeninos.

Engana-se quem pensa encontrar Cristo na suntuosidade das catedrais. Ele está à nossa espera sob as marquises e pontes dos grandes centros urbanos, nas cadeias superlotadas, nos lixões e bolsões de miséria.
Em outras palavras, aquele gente sofrida tem muito mais a nos oferecer do que nós a ela. Seu sorriso é o sorriso de Cristo. Abraçá-la é sentir o calor dos braços d’Aquele a quem servimos.

Antes de querer convertê-los a Cristo, devemos descer de nosso pedestal religioso e converter-nos a eles.
O tipo de amor que devemos dispensar-lhes é aquele esboçado por Paulo ao declarar: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Coríntios 12:15).

Não espere resultados! Apenas, ame. Gaste-se. Doe-se. Entregue-se por inteiro. E tudo isso só será possível onde houver a morte do nosso eu com todas as suas pretensões e presunções. Somente aí o fruto virá. Jesus diz que “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12:24). Talvez esta seja a razão pela qual os frutos têm sido escassos. O grão tem caído na terra, mas não tem morrido. Temos amado, mas quando não somos devidamente correspondidos, sentimo-nos frustrados e desistimos de amar.


Para reverter isso, a única saída é a cruz. Nosso “eu” não merece outro tratamento senão a morte. Então, o fruto virá em abundância. Colheitas ocorrerão naturalmente, sem que tenhamos que recorrer a expedientes mirabolantes. Deixemos nossas estratégias marqueteiras. Façamos com a mão direita sem que a esquerda tome conhecimento. Sejamos movidos exclusivamente por amor e não por interesses, ainda que os mais nobres.  O máximo que conseguiremos através de nossas estratégias serão adesões. Entretanto, os frutos não permanecerão. Deixemos por conta d’Ele aquilo que só Ele é capaz de produzir: verdadeiras conversões. Quanto a nós, amemos... não só com palavras, mas de fato. 

Fonte: http://www.hermesfernandes.com/2013/09/amor-sem-proselitismo-e-outras-intencoes.html

Apoio de igrejas à ditadura continua sendo discutido nas Comissões da Verdade.

Matéria da Agência Brasil:


Depoimentos nas comissões da Verdade apontam apoio de setores das igrejas à ditadura militar

Cristina Indio do Brasil

Rio de Janeiro - O golpe de 1964 no Brasil teve apoio de parcelas importantes das igrejas. Essa foi uma das conclusões da segunda série de depoimentos, hoje (17), durante audiência pública da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Comissão Estadual da Verdade, na sede Caixa de Assistência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Seccional Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense. A educadora Letícia Cotrim, o pastor emérito presbiteriano Zwinglio Motta e o pastor luterano Mozzart Noronha relatam experiências que vivenciaram durante a ditadura militar.

Letícia ficou presa por 14 dias no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), uma semana no quartel da Polícia Militar no centro do Rio e um mês e três dias em um quartel do Exército em Petrópolis, na região serrana fluminense. Apesar de ter recebido apoio de integrantes de destaque da Igreja Católica, como dom Aloísio Lorscheider, ela disse que parte da igreja ficou omissa.

“Foram pessoas que nos ajudaram em uma hora de sofrimento. Eu tive isso, mas não quer dizer que a igreja era homogênea. Houve quem deu e quem não deu apoio. Foi pedido por mim a dom Eugênio Sales, e dom Eugênio não deu apoio para falar com quem tinha me prendido, que eu tinha uma história na igreja. Eu fui dada como uma pessoa subversiva e que não estava acontecendo nada comigo, quando na verdade estava”, disse Letícia, que participou desde a adolescência do Movimento Ação Católica.

Zwinglio Motta chegou a ser expulso da Igreja Presbiteriana do Brasil por defender questões contrárias às posições conservadoras da instituição. O pastor disse que foi preso por ser irmão de Ivan Motta Dias, militante desaparecido político, e, de acordo com informações levantadas pela família, foi morto em um dos locais de tortura em Petrópolis. "A repressão queria saber onde estava ele. Tentava por todos os meios e não conseguia. Descobriu-me, alguém me delatou, e fui preso por isso”, declarou.

Para Zwinglio, o trabalho da comissão em apurar a atuação da igreja no período da ditadura e no golpe de 1964 é importante para a história política do país. “Recuperar a memória é muito importante para que as gerações futuras tenham acesso ao que aconteceu para que isso não volte a se repetir”, disse o pastor emérito que depois, junto com 80 religiosos, fundou a Igreja Presbiteriana Unida.

O pastor luterano Mozzart Noronha, que fez parte de um movimento de resistência dentro das igrejas protestantes, também falou sobre a falta de apoio da instituição. Ele disse que recebeu suporte apenas de pessoas envolvidas com o movimento ao qual pertencia. “A igreja oficial não me deu nenhum apoio, mas aquela comprometida, que nós chamamos a do Cristo fora dos muros. Pessoas e indivíduos, embora membros da igreja, mas não respondiam institucionalmente por ela, essas pessoas nos deram apoio, não somente no tempo da nossa atuação clandestina contra a ditadura, mas também fora do país”, declarou o pastor que precisou se mudar para a Europa.

O coordenador do Grupo de Trabalho Papel das Igrejas durante a Ditadura, na Comissão Nacional da Verdade, Anivaldo Padilha, disse que os depoimentos confirmam que as igrejas tiveram postura contraditória, algo surpreendente porque era de se esperar que tivessem uma posição clara contra a violação dos direitos humanos, a tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados. E isso, segundo ele, não ocorreu. “Alguns setores importantes das igrejas apoiaram a ditadura e setores minoritários se opuseram à ditadura", destacou.

Para o professor de direitos humanos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e membro da Comissão Estadual da Verdade, João Dornelles, a participação das igrejas se modificou com o trabalho de integrantes que se opunham aos militares e desenvolveram trabalhos com movimentos sociais de atuação mais política. "Surgiu, a partir da Igreja Católica, uma série de instituições que passou a cumprir um papel de denúncia de violação de direitos humanos, e a própria CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] se posicionando contra a ditadura, principalmente no decorrer dos anos 1970, na luta pela anistia e libertação dos presos políticos, junto com igrejas presbiterianas e metodistas”, analisou.

Edição: Aécio Amado

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21 de setembro de 2013

A força das pastoras.



As mulheres ganham espaço nos altares evangélicos do Brasil, conquistando cada vez mais fiéis para essas denominações. Em algumas igrejas, quase metade do corpo pastoral é feminino

Rodrigo Cardoso, na IstoÉ

O papa Francisco voltou a surpreender o mundo na quinta-feira 19, quando, durante longa entrevista, de 29 páginas, publicada no jornal jesuíta italiano “La Civiltà Cattolica”, não se furtou a falar sobre assuntos indigestos para a Igreja Católica, como aborto, gays e o papel das mulheres. “É necessário ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. O gênio feminino é necessário nos locais onde se tomam decisões importantes”, afirmou, num discurso que, à primeira vista, pode soar progressista, mas continua tão engessado quanto as colunas da Praça de São Pedro. Em seu comentário, o pontífice enaltece o gênero, mas o coloca como apêndice dos homens na estrutura da Santa Madre Igreja. Ou seja, nada mudou desde sua visita ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, há dois meses, quando, na volta para o Vaticano, foi questionado por um jornalista durante o voo, sobre o direito das religiosas. Francisco, assim como fizeram seus antecessores, deixou claro que as mulheres são semelhantes aos homens – mas não iguais; são importantes para o crescimento do catolicismo – mas jamais irão atingir o status de sacerdotes. “Sobre a ordenação das mulheres, a Igreja falou e disse: não! Esta porta está fechada”, sentenciou. Enquanto a Igreja Católica segue acorrentada a essa tradição milenar, o grupo dos evangélicos, aquele que mais cresce e faz frente aos católicos no País, anda em sintonia com as mudanças em relação ao lugar das mulheres na sociedade. Transformações essas que vêm fazendo com que elas ocupem cada vez mais postos de liderança e atraiam milhares de fiéis para os templos cristãos.

O mais novo e fulgurante exemplo de liderança feminina religiosa é Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. A jovem acaba de superar a marca de um milhão de cópias vendidas de seu livro “Casamento Blindado” e faz sucesso na tevê à frente do programa “Escola do Amor”, na Record, que apresenta junto com o marido, Renato. “Entendemos que a liderança da mulher é uma necessidade da igreja e vai muito além do título ou cargo que ela exerce”, afirma Cristiane. “Temos pastoras consagradas no Brasil e ao redor do mundo.” Quem abriu caminho para Cristiane e tantas outras foi Sônia Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo. Apesar de Estevam Hernandes, seu marido, ter o título de apóstolo, é atribuído à bispa Sônia o papel de protagonista. É ela quem arrebata multidões na Marcha para Jesus e reúne milhares de evangélicos nas ruas de São Paulo todos os anos. “Sem o viés feminino que Sônia trouxe à igreja, por certo a denominação não teria tido tanto avanço como houve no Brasil, sobretudo em São Paulo”, afirma Rogério Rodrigues da Silva, pesquisador da Universidade de Brasília.


LIDERANÇA
Apresentadora da Rede Record, Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo,
da Universal do Reino de Deus, vendeu mais de um milhão de exemplares de seu último livro

Para a professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), em muitas instituições religiosas as mulheres conseguem criar uma empatia muito mais sólida com a comunidade do que os homens. Na Igreja Batista da Lagoinha, fundada em Belo Horizonte (MG), 44,6% do corpo pastoral é do sexo feminino – a cultuada cantora gospel Ana Paula Valadão é uma delas. Entre os metodistas, as mulheres representam aproximadamente 30% dos pastores – a mesma porcentagem é verificada entre os presbíteros da Igreja Anglicana. Até mesmo uma das mais conservadoras denominações pentecostais brasileiras, a Assembleia de Deus, tem aberto caminhos para as fiéis ocuparem altos postos na sua hierarquia. No mês passado, a denominação permitiu pela primeira vez em sua história que mulheres assumissem o cargo de evangelistas. Para essa posição, que permite, por exemplo, que a eleita dirija um templo, duas jovens foram consagradas no ministério do Brás, em São Paulo. “Já não dá mais para negar a importância da mulher dentro das nossas igrejas”, diz Samuel Ferreira, pastor da Assembleia. “Eu não tenho o direito de negar a elas a prerrogativa de exercerem essa liderança.” Especialistas no tema ouvidos por ISTOÉ têm notado um aumento no número de ordenações de mulheres, principalmente daquelas que estudam para atingir um alto posto na instituição. Ainda é bem maior o contingente de religiosas escaladas para tarefas como limpar e ornamentar a igreja, cozinhar e assessorar pastores em visitas externas. Mas vê-las pregando em púlpitos, batizando, realizando casamentos e celebrando a ceia são cenas vistas já com normalidade e frequência em muitos templos.


PROTAGONISTA
O carisma, na Renascer em Cristo, está em poder
da bispa Sônia Hernandes: referência para as fiéis

Aos 48 anos, a gaúcha Margarida Ribeiro é reverenda da Igreja Metodista, que possui uma bispa entre as oito pessoas que ocupam esse posto no Brasil. Para tanto, ela encarou seis anos de preparação por meio de estudos teológicos e experiências em comunidades. Hoje, em 27 anos de pastorado, já foi titular em 20 igrejas. Mas o início não foi fácil. Quando pisava em alguma comunidade para pregar a palavra, Margarida ouvia o seguinte questionamento: “Você quem vai fazer o culto? Onde está o seu pai ou marido?” Hoje, no entanto, conta com orgulho que, ao ser convidada a dirigir cultos em igrejas pentecostais que possuem dois púlpitos, é frequentemente instada a pregar no principal, local costumeiramente ocupado por um homem. A reverenda, hoje, cuida da criação da primeira comunidade em Santa Isabel, interior de São Paulo. No Rio Grande do Sul, já esteve à frente de templos em zonas rurais, atuou na pastoral do agricultor, desenvolveu atividades sociais, ecumênicas e com mulheres, além de ter supervisionado trabalhos de outros pastores.

“Uma liderança feminina dá credibilidade à igreja evangélica.
Mulher não é vista como exploradora da fé”
Bispo Hermes C. Fernandes, da Igreja Reina

Para Margarida e outras lideranças femininas de origem protestante histórica, a ascensão dentro da hierarquia está muito atrelada à formação teológica, o que facilita o acesso delas a posições de destaque. É o que aponta a professora Sandra, da Umesp. No universo pentecostal e neopentecostal, no entanto, fazer parte do corpo sacerdotal depende em muitos casos do apadrinhamento de personalidades da instituição. Recentemente, só para citar um exemplo, um ministério da Assembleia de Deus consagrou compulsoriamente todas as mulheres de pastores presidentes no Brasil. “Ordenar ou não mulheres não classifica uma igreja como mais ou menos patriarcal. Ter mais mulheres na hierarquia pode significar apenas um dado”, alerta a professora Sandra.


BELAS DA FÉ
Em Vila Velha, no Espírito Santo, três amigas fundaram e administram
uma igreja desde 2011: únicas pastoras de um templo

Sarah Sheeva é alvo de preconceito até hoje simplesmente por ser uma mulher que constrói sua trajetória no meio evangélico sem ser referendada por alguém do sexo masculino. Filha de Baby Consuelo e ex-membro da Igreja Celular Internacional, ela se tornou pastora aspirante aos 38 anos, depois de 16 dedicados à denominação. Hoje, aos 40, ela acaba de se mudar do Rio de Janeiro para Goiânia. Deixou de ser pastora da igreja local e, em vez de administrar uma igreja, preferiu ser pastora missionária e viajar pelo Brasil para realizar palestras e conferências em diferentes denominações evangélicas. “Pessoas ficam com um pé atrás quando chego. Pensam: ‘Mas é essa jovem que vai trazer a palavra, ministrar um congresso?’”, diz. “Temos de nos esforçar duas vezes mais para ganhar a confiança.” A missionária Sarah, ex-ninfomaníaca assumida e mãe de uma jovem de 21 anos, tem um canal no YouTube que já foi visto por dois milhões de pessoas. Alguns vídeos nos quais comanda o culto das princesas, uma espécie de pregação misturada à autoajuda, somam 150 mil visualizações. O que ela fala tem ressonância também no Twitter, onde é seguida por 120 mil pessoas, e no Facebook – sua página já recebeu 325 mil curtidas. Muitas são as confissões evangélicas que reconhecem o dom espiritual das mulheres, mas lhes negam um título, como o de pastora. “Dizem que não há respaldo na Bíblia”, afirma a pastora Simone Saiter, 40 anos, da Igreja Viva Praia da Costa. Uma passagem do apóstolo Paulo é frequentemente usada por lideranças evangélicas que excluem as mulheres de seus quadros: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei” (1Coríntios 14:34).


PREPARO
A gaúcha Margarida tornou-se uma referência na Igreja Metodista
depois de estudar seis anos antes de ser consagrada

O silêncio exigido naquela época, porém, fazia parte de um contexto cultural. Os cristãos se reuniam em sinagogas, onde as mulheres não podiam se manifestar. Para evitar atrito com os judeus, eram orientadas a apresentar seus questionamentos em casa, junto dos maridos. Hoje, a realidade é outra. A pastora Simone e duas amigas, casadas e formadas em teologia, resolveram dar voz à palavra que aprofundavam em núcleos de estudo. Decidiram abrir uma igreja evangélica, a Viva Praia da Costa, em Vila Velha, no Espírito Santo, em 2011. As três são as únicas pastoras da denominação, hoje frequentada por cerca de 100 membros. “Uma liderança feminina dá credibilidade. Mulher não é vista como exploradora da fé, como ocorre com os homens”, diz o bispo Hermes C. Fernandes, da Igreja Reina. Instituição com cerca de 120 templos, a Reina tem 40 mulheres entre seus 160 pastores. Uma delas, a carioca Miriam de Lourdes Silva, realiza uma próspera obra à frente de um templo na comunidade de Acari, no Rio de Janeiro. Naquela área dominada pelo tráfico de drogas, Miriam, 48 anos, já converteu cerca de 20 pessoas, segundo suas contas, todas ex-traficantes. Detalhe: nenhum de seus antecessores do sexo masculino conseguiu tal feito. “Teve um pastor que gastou R$ 20 mil para blindar a igreja dele. A nossa é blindada pelo Espírito Santo”, diz ela.




CORAGEM
Em Acari, uma comunidade dominada por traficantes, a pastora
Miriam já ficou no fogo cruzado entre bandidos e a polícia:
cerca de 20 ex-traficantes foram convertidos por ela

Um dos motivos para o aumento do número de mulheres no corpo pastoral, segundo o sociólogo Ricardo Mariano, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio Grande do Sul, é o crescente sucesso do movimento gospel, onde as estrelas são as cantoras. Aos 37 anos, Ana Paula Valadão é um dos maiores expoentes do gênero no País. “O movimento gospel colocou não somente homens, mas também mulheres em evidência”, diz Ana Paula, que estudou em um seminário para poder ser consagrada. “Algumas cantoras começaram a se destacar nos grupos de louvor e um dos desdobramentos disso foi o reconhecimento da capacidade que a mulher tem para exercer a função de liderança, inclusive em outras frentes.” Não é um diploma que faz uma pastora. Esse título se ganha na prática, com a comprovação da vocação e dos dons espirituais. Mesmo assim, a presença de fiéis do sexo feminino em seminários evangélicos é crescente já há duas décadas. A porta para o exercício do pastorado pode não se abrir para boa parte delas. Mas a busca por conhecimento é a melhor forma de forçar a maçaneta.


PRESENÇA
Na Igreja Batista da Lagoinha, onde a cantora Ana Paula Valadão
é pastora, 44,6% do corpo pastoral é composto por mulheres


Fonte: http://www.pavablog.com/2013/09/21/a-forca-das-pastoras/

20 de setembro de 2013

Robocop Gay, Feliciano e Outras Bibas - Refletindo a Graça 15



Neste episódio dou minha visão sobre o assédio que Felciano sofreu por um grupo de pessoas durante um vôo, onde cantaram Robocop Gay em sua homenagem.





Link do vídeo do ocorrido:
http://www.youtube.com/watch?v=10o1G51Hoek

Canal do Sérgio Carmo (Receita de Pai para Filha):
http://www.youtube.com/user/depaiprafilha

19 de setembro de 2013

Papa: Igreja não pode "interferir espiritualmente" na vida dos gays

Novas declarações de Francisco foram publicadas em revistas jesuítas

Papa Francisco chega para conduzir sua audiência de quarta-feira na praça de São Pedro, no Vaticano, no último dia 4 Foto: Tony Gentile / Reuters

O Papa disse que a Igreja tem o direito de expressar suas opiniões, mas não pode "interferir espiritualmente" nas vidas de gays e lésbicas. Em uma entrevista divulgada nesta quinta, Francisco afirmou também que as mulheres deveriam ter papel nas decisões da Igreja e desconsiderou as críticas daqueles que dizem que ele deveria lutar contra o aborto e o casamento entre homossexuais.



A entrevista, segundo a rede CNN, foi divulgada hoje por revistas jesuítas em 16 países e em diferentes línguas, aprofunda a visão de Franciso a respeito da Igreja Católica Romana. Eric Marrapodi e Daniel Burke, comentaristas de religião da rede de TV americana, acreditam que os comentários do Papa não fere a política ou a doutrina católica, mas mostram um movimento que vai da censura ao engajamento (em relação à polêmica).

"A Igreja, às vezes, se fecha em si mesma em coisas pequenas, em regras pequenas", disse o chefe da Igreja de Roma. "As pessoas de Deus querem pastores, e não clérigos agindo como burocratas ou oficiais do governo", acrescentou. Segundo Francisco, se a Igreja falhar em achar equilíbrio entre as missões espiritual e política, "vai ruir como um castelo de cartas".

No final de julho, quando voltava a Roma depois da Jornada da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, Francisco já havia feito declarações parecidas. "Se a pessoa é gay, procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?", disse o Papa na época.

Fonte: http://t.co/GWaUnliNoj

17 de setembro de 2013

ONU premia freira que atende vítimas de estupro


 

Ao anunciar na segunda-feira 16 a freira congolesa Angélique Namaika como vencedora do Prêmio Nansen, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) chamou a atenção para o conflito na República Democrática do Congo (RDC) - ofuscado atualmente pelos caráter sectário de ataques em meio à guerra civil síria, dos atentados quase diários no Iraque e das consequências da ocupação militar do Ocidente ainda em curso no Afeganistão. O prêmio é considerado o mais elevado tributo a defensores dos direitos humanos.
Contra todas as recomendações para sua segurança pessoal, Angélique, de 46 anos, percorre de bicicleta a região de Dungo, no nordeste da RDC, para atender famílias deslocadas pelos combates entre o Exército de Resistência do Senhor (ERS) e o Movimento 23 de Março (M23), também conhecido como Exército Revolucionário Congolês, contra as tropas do governo do país.

Mulheres e meninas tornaram-se vítimas de um armamento hediondo: o estupro. Thethe, Zena e Mboyo, todas refugiadas no Brasil e atualmente vivendo em São Paulo, são testemunhas vivas da brutalidade cometida contra famílias e mulheres na RDC, o antigo Zaire.

No dia 11, ao serem informadas da premiação de Angélique pelo conjunto de sua obra de assistência - aplicada primeiramente a mulheres sem estudos e, desde 2009, também a vítimas do conflito congolês -, as três aplaudiram espontaneamente. Não conhecem Angélique pessoalmente. Mas, sem notícias sobre o destino de suas famílias no Congo, atestam o valor da possibilidade de auxílio aos seus parentes.

"Amo meu país e tento salvar pessoas que vivem aqui", afirmou Angélique, de Dungo, durante uma teleconferência organizada pelo Acnur.

Em 2003, a religiosa começou a auxiliar mulheres congolesas em oficinas de costura e de panificação. Seis anos depois, com o novo ciclo de violência protagonizado pelo ERS no país, passou a trabalhar com vítimas do conflito. No Congo, mais de 2,6 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas desde 2009, entre elas a própria Angélique, que afirma ter sido obrigada a se esconder na floresta para escapar da violência dos rebeldes.

Atualmente, 150 mulheres estão sob os cuidados da freira em Dungo. Mais de 2 mil pessoas já receberam sua ajuda desde 2003. Segundo Angélique, mulheres e meninas sequestradas pelos insurgentes estão sujeitas a violência sexual, espancamento e desgastes físicos causados pela subnutrição e pelo trabalho trabalhos escravo - principalmente como carregadoras. Algumas têm os lábios cortados, como punição. Entre as que sobrevivem e escapam, a rejeição se soma ao trauma, pois maridos e pais as expulsam de casa ao saberem dos estupros.

"Quando fui expulsa, sofri a dificuldade de encontrar alguém que me ajudasse. Essas mulheres sofreram muito mais do que eu. Elas foram vítimas de atrocidades", disse a freira. Thethe, Zena e Mboyo não tiveram saída a não ser deixar o país. Ajudadas por diferentes organizações humanitárias, elas chegaram no Aeroporto de Guarulhos.

A triste jornada de Thethe, hoje empregada em uma lavanderia em Itaquera, na zona leste de São Paulo, começou em 2008 em Kinshasa, quando rebeldes mascarados entraram em sua casa e mataram seu pai, um funcionário do governo, com dois tiros na cabeça. O governo, dias depois, expulsou a família da casa onde viviam.

O refúgio na casa de um irmão durou até o fim de setembro de 2010, quando novamente todos foram forçados a abandonar o lar, desta vez pelo ERS. No caminho da casa da avó materna, rebeldes pararam a caminhonete, roubaram os pertences da família e dividiram o grupo. Thethe e sua irmã mais nova seguiram mata adentro com parte dos soldados, carregando o produto do roubo. A mãe e o irmão foram por outro caminho. Nunca mais se viram. As duas moças foram estupradas inúmeras vezes durante três semanas. Thethe ainda exibe a cicatriz de um ferimento profundo na nuca, resultado de uma coronhada.

"Eles fizeram o que quiseram conosco. Depois nos abandonaram, famintas, na floresta. Estávamos sozinhas, não sabíamos o que fazer. A minha nuca, inflamada, doía muito", relatou Thethe, de 30 anos, na unidade da ONG Cáritas do centro de São Paulo, onde recebe auxílio psicológico. "Eu preferia ter morrido", disse.

As jovens foram socorridas na beira de uma estrada por dois homens em um carro, que as levaram para um hospital. De lá, organizações locais providenciaram passaporte e visto - e ambas seguiram para o Burundi e, depois, para o Brasil. "Não há esperança, no Congo, sobretudo no leste. As pessoas sofrem demais. O país parece ter sido sacrificado", disse.

O marido de Zena, assessor político do prefeito da cidade de Bena, foi assassinado em agosto do ano passado. A família foi expulsa de sua casa por soldados do governo, após Zena ter sido estuprada diante de seus três filhos. Levada para um hospital, recebeu auxílio de um padre, que a transferiu com as crianças para um convento. De lá, a família foi acompanhada por um grupo de religiosos até São Paulo, onde hoje vive em um abrigo da Prefeitura, e obtém ajuda financeira da Cáritas. "Com três crianças, não tenho como trabalhar aqui nem como voltar ao meu país. Minha mãe não sabe se estou viva e não tenho como saber se ela está", relatou Zena, de 27 anos.

Mboyo, o marido dela, um técnico de informática, e seus cinco filhos fugiram de um ataque do ERS no ano passado. Mas, em busca de proteção em outra cidade, novamente foram surpreendidos no meio do conflito e se separaram em dois grupos. Mboyo acabou estuprada por rebeldes diante do único filho que a acompanhou. Nunca mais ouviu notícias de seu marido e de seus outros quatro meninos. Recebeu socorro de um religioso, que providenciou sua vinda ao Brasil. "Meu filho me pergunta todos os dias onde está seu pai e seus irmãos. Eu não tenho como encontrá-los", afirmou Mboyo, de 36 anos, que fala apenas seu dialeto nativo.

Histórias como as de Thethe, Zena e Mboyo estão espalhadas pelo mundo, nas memórias de milhares refugiadas congolesas. A irmã Angélique preferiu não sair do país, mesmo sob a ameaça latente de entrar para as estatísticas da violência sexual. Nos últimos anos, ela depôs sobre as atrocidades em seu país diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, na sede da Acnur, em Genebra, e em reuniões dos governos dos quatro países afetados pela ação do ERS - além do Congo, República Centro-Africana, Sudão do Sul e Uganda. No dia 2, antes de receber oficialmente o Prêmio Nansen, ela será recebida pelo papa Francisco, no Vaticano.



Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,onu-premia-freira-que-atende-vitimas-de-estupro,1075435,0.htm