“Hoje vou começar um sermão em três partes com o tema ‘Jesus era HIV positivo’”, disse recentemente o pastor sul-africano Xola Skosana, em um culto dominical. Essas palavras inicialmente surpreenderam sua congregação no bairro Khayelitsha, na Cidade do Cabo, deixando todos em silêncio. Depois, geraram todo tipo de comentário nas igrejas do país. Alguns cristãos ficaram ofendidos, afirmando que o pastor retratou Jesus como alguém sexualmente promíscuo.
O vírus HIV é transmitido principalmente através de relações sexuais, mas também pode se propagar através de agulhas compartilhadas, sangue contaminado, gravidez e amamentação. No entanto, como disse o pastor Skosana (foto) aos que estavam reunidos no modesto salão da escola Luhlaza usado para os cultos semanais, em muitas partes da Bíblia Jesus se colocou no lugar dos miseráveis, dos doentes e dos marginalizados.
“Sempre que você abre as escrituras, vê Jesus se colocando na pele de pessoas que experimentam quebrantamento. O texto de Isaías 53, por exemplo, pinta claramente um retrato de Jesus tomando sobre si as enfermidades e os males da humanidade”, disse ele à BBC. Skosana também é rápido em salientar que está usando essa metáfora para destacar o perigo da pandemia do HIV/Aids, que ainda carrega um estigma em favelas da África do Sul.
“Claro, não há nenhuma evidência científica de que Jesus tinha o vírus HIV em sua corrente sanguínea“, diz o pastor, cujo ministério não-denominacional Hope for Life [Esperança para a Vida] é parte de um crescente movimento carismático na África do Sul.
“O melhor presente que podemos dar às pessoas que são HIV positivas é ajudar a fazer AIDS deixar de ser estigmatizada e criar um ambiente onde elas sabem que Deus não está contra elas, que não se envergonha delas.”
Zombando de Cristo
No entanto, o pastor Mike Bele, que dirige a Igreja Batista Nomzamo no bairro vizinho de Gugulethu, disse que a maioria do clero em Khayelitsha e em outros bairros da Cidade do Cabo se opõem fortemente a essa associação de Jesus com o HIV.
“A ilustração que apregoa Jesus ser HIV positivo é grave“, diz ele. ”Acredito que nenhum líder ungido e com bom entendimento das escrituras e o papel de Cristo em nossas vidas, iria deliberadamente arrastar o nome de Cristo na lama.”
Para o pastor Bele, retratar Jesus dessa forma faz com ele se torne parte do problema, não da solução. ”O pastor precisa explicar o que aconteceu para trazer Cristo ao nosso nível, pois Cristo é supremo e é Deus”, diz ele. ”Há uma preocupação de que os não-crentes zombem de Jesus e tentem reduzir sua importância, colocando-o em oposição à força poderosa que acreditamos que seja.”
O pastor Skosana, que está no ministério há 24 anos e perdeu duas irmãs para a Aids, argumenta que os líderes religiosos têm um papel muito maior no combate à propagação da pandemia na África do Sul. Afinal, cerca de 5,7 milhões de pessoas vivem com o vírus – mais do que em qualquer outro país.
Ele concluiu a última parte de seu sermão de três semanas fazendo o teste de HIV em frente à congregação. Depois, 100 fiéis seguiram o seu exemplo.
“A mensagem à igreja é que não é suficiente dar comida às pessoas contaminadas, devemos criar um ambiente que as fortaleça, porque a maioria das pessoas HIV positivas não morrerá necessariamente de doenças relacionada à Aids, mas por estar de coração partido, rejeitadoa”, disse.
Medo e ignorância
Em meio à polêmica, o reverendo Siyabulela Gidi, diretor do Conselho Sul-Africano de Igrejas, saiu em apoio ao pastor Skosana, dizendo que seu ponto de vista está teologicamente correto.
“O que pastor Skosana está dizendo é que Cristo, se viesse ao mundo nos dias de hoje, estaria ao lado das pessoas que são HIV positivas – pessoas que estão sendo deixadas de lado pela própria igreja que agora o ataca”, afirma o sacerdote anglicano. ”Felizmente o pastor Skosana gerou diálogo sobre o assunto no país e no mundo, é para isso que a teologia existe.”
Fora dos círculos religiosos, o pastor Skosana também recebeu apoio de ativistas do combate à Aids. “O sermão do pastor tira o estigma de que HIV é um pecado e um castigo de Deus”, diz Vuyiseka Dubula, secretário-geral do poderoso grupo de combate à Aids Treatment Action Campaign.
“Associar Jesus com o HIV é algo forte, principalmente para aqueles que vão à igreja Agora as pessoas estão começando a pensar:. ‘Se Jesus podia ser HIV positivo, quem sou eu para não tê-lo, mesmo se frequento a igreja?’”
Professor de direito marítimo e ambiental na Universidade da Cidade do Cabo e HIV positivo há 25 anos, Jan Glazeski escreveu uma carta para o jornal Cape Times, onde identificou-se com a ideia de que Deus estava do lado dos pobres e marginalizados. ”A metáfora do pastor dá força a todos nós”, disse ele. “Ao ligar Jesus ao HIV, sua mensagem provocou protestos e expressões de raiva. Isso acontece por causa do medo e da ignorância.”
É essa luta contra o medo e a ignorância que o pastor Skosana está determinado a continuar. “Quanto mais falamos sobre isso em nossos púlpitos e mais pedirmos às pessoas para fazer o teste voluntariamente na igreja, melhor. Uma das coisas mais efetivas que atualmente podemos fazer como igreja é dizer que Jesus foi e é HIV positivo.”
Fonte: BBC / Gospel+
Tradução: Jarbas Aragão
Via: Pavablog
Tradução: Jarbas Aragão
Via: Pavablog
Jesus pode amar quem tem HIV, mas chegar ao ponto de dizer que 'Jesus tinha HIV' - mesmo com o intúito de dar forças a quem tem a dença - é algo abominável. Nas Escrituras não vemos dizendo que Cristo tem HIV, por isso não devemos fazer tal suposição. É afirmar o que não existe, é inventar algo pecaminoso.
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