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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

4 de dezembro de 2009

A (in)utilidade de ser cristão


Acordei. Depois do ritual da manhã (lavar o rosto, escovar os dentes, tomar café, ler a bíblia, fazer oração) sai de casa rumo ao trabalho.

Pelo caminho deparei, com o que classificamos a escoria da sociedade. Indigentes, moradores de rua, jogados na calçada, embriagando-se, sem nenhuma perspectiva de vida. Tive dó. Mas logo meu senso moral me fez chegar a seguinte conclusão: a culpa era deles. Bando de vadios, alcoólatras. E assim, prossegui em paz, agradecido a Deus por não ser como eles.

Hora do almoço. Arroz, feijão, carne, salada, refrigerante ou suco. Sobremesa. Senhor Jesus obrigado por essa refeição, foi a oração que acompanhou esse momento sagrado. Logo após encontrei-o: um homem com seus filhos e mulher desempregada, morando de aluguel e salário maravilhoso de R$350, 00. Suas refeições muitas vezes sem a saborosa mistura, as crianças sem o leite para o café da manhã. As crianças ajudando o pai catando papelão e latinha na rua, sem tempo de ir à Escola, praticar esportes, ler livros, ver desenho animado - se não trabalhar não come. Ao ouvir o relato fiquei espantado e indignado com o governo e a sociedade! Culpei-o por fazer tantos filhos, por ser inconseqüente, irresponsável e alienado. E fiquei satisfeito por saber que a vida não esta fácil pra ninguém. Antes de despedi-lo, lhe dei-lhe um folhetim de evangelismo com o endereço da igreja. Nesse, estava escrito que ele era um misero pecador e estava condenado ao inferno. Ficou feliz. Até que enfim encontrou razão para tanto sofrimento. Para o inferno que estava vivendo. A culpa era de Deus. 

Ele se foi. E eu agradeci a Jesus por não ter vergonha de anunciar o evangelho. Afinal de contas, que ousadia a minha. Mais um folheto entregue!

Chegando em casa, tomei um belo banho. Entre varias peças de roupa, escolhi a mais nova. Diante a vários pares de sapato, achei um que combinasse com a roupa. Propus-me a jantar, e que jantar abençoado... Em seguida fui à igreja. Orei. Cantei louvores. Li as Sagradas Escrituras. Gritei aleluia, gloria a Deus. Que coração quebrantado. Escutei pacientemente um maravilhoso e longo sermão sobre as bênçãos de Deus por ser seu filho. Após o culto, o comentário habitual - fofoca gospel era sobre ela. 17 anos. Quando criança ate freqüentou a igreja. Agora esta grávida. O pai do bebe. Está preso. Traficante e bandido, tem 18 anos e ainda não tomou rumo. Eles mantêm relações sexuais na cadeia. Culpada é a mãe. Prostituta. Que exemplo deu a filha! E foi ela quem mandou namorar marginal!

Fui pra casa, assistir televisão. Corrupção, desigualdades sociais, mortes, estupros, tráfico, policia invadindo o morro, o morro invadindo a cidade, PCC, mensalão, máfia de sanguessugas. Era o relato do jornal de mais um dia nesse mundo que jaz no maligno. O capeta. A culpa e toda dele. 

Antes de deitar, li a bíblia e fiz a oração da noite: “obrigado Jesus por me abençoar tanto, pela salvação. Ah! Quero te fazer um pedido. Preciso ganhar mais no meu emprego para obter mais conforto. Preciso prosperar, afinal sou dizimista fiel...” enquanto orava adormeci na minha confortável e segura casa, no meu colchão de R$900,00.


Ricardo Perpétuo da Silva, aluno do 3º ano da Escola Teológica da América Latina, seminarista da Igreja Presbiteriana do Brasil.

1 comentários:

  1. O que eu poderia dizer sobre isso?

    Despertai?

    Acorda?

    Seu Me****?

    Nada disso... o que posso dizer, é que o IDE é muito mais do que entregar um folhetinho...

    O jejum que agrada a DEUS em Isaías 58 fala muito, na verdade grita em meus ouvidos todos os dias...

    As palavras de MEU MESTRE entorpecendo meus sentidos e dizendo: Quando fazer algo a qualquer um desses pequeninos, a mim fazeis...

    O que ELE faria? O que o MESTRE faria?

    O que o AMOR faria?

    Perguntas que nosso ego insiste em reprovar, em esquecer... Mas a realidade é outra.

    Devemos não só responder estas perguntas, mas também com atitude.

    Atitude de um servo do Cristo, que fez, faz e ainda há de fazer muito por nós.

    Pensem nisso.

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