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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

16 de março de 2010

O Evangelho Avatar


          O cinema é hoje o meio mais popular de influenciar as culturas em escala mundial. Ele tem funcionado neste sentido, por mais de meio século. Ele é e sempre tem sido uma [verdadeira] máquina de ensino.

          Embora a maioria das pessoas encare o cinema simplesmente como uma válvula de escape, ou uma forma de entretenimento, de qualquer maneira, ele ensina sempre alguma coisa. Este fato se tornou chocantemente claro para mim, dias antes de me tornar um cristão, quando eu estava no Irã, trabalhando como roteirista numa produção de Hollywood. Isto aconteceu exatamente antes do Xá ser destronado, em 1979. A revolução foi literalmente deslanchada pelos clérigos muçulmanos, os quais ordenaram aos seus seguidores que incendiassem as casas de cinema (repletas de audiências). Era um protesto contra o ensino e a influência da cultura ocidental contidos nos filmes, especialmente a imoralidade e a conduta degenerada que ali eram apresentadas.  Com reações e consequências obviamente inferiores, nenhum lugar ficou isento da influência do cinema, não importa para onde se viaje, nos dias de hoje.

          Certamente, até hoje, um dos filmes mais dispendiosos, tendo custado um quarto de bilhão de dólares, foi o AVATAR, o qual já faturou dois bilhões de dólares. Nenhum filme, até hoje, havia igualado o seu espantoso custo de produção, ao criar um fantástico mundo de personagens virtuais, os quais, de um modo diferente, se encontram e interagem com os atores físicos do mundo que nós conhecemos. A crença é o "agir ou morrer", uma qualidade de cada filme de todo tipo, e AVATAR inclui  os crentes, - que são os mais críticos frequentadores do cinema - entre alguns que se lamentaram que esta extraordinária produção não valeu o dinheiro gasto para assisti-la.

        Meu objetivo ao escrever este artigo não é me queixar da produção do filme (paguei um ingresso de idoso numa matinê, o que, dificilmente, teria me lesado), mas apenas com a intenção de dar a minha visão sobre a teologia entregue no AVATAR. Nós, na TBC, temos recebido muitas consultas de pais preocupados, os quais não tinham certeza se este filme seria apropriado para os seus filhos adolescentes assistirem, desejando saber como poderiam discutir com eles o conteúdo do filme. Minha preocupação maior é com a teologia do  AVATAR.

          Antes de tudo, não é surpresa que as crenças da maioria das pessoas não tenham vindo da Escola Bíblica Dominical, nem dos ensinos da igreja, mas, em vez disso, sejam ideias religiosas colhidas de uma ampla variedade de fontes, à medida em que as pessoas seguem pela vida. No meu caso, antes de nascer de novo e me tornar um cristão bíblico, eu havia recebido uma grande quantidade de instrução religiosa (tendo crescido como católico) à qual acrescentei todos os tipos de doutrinas e ideias espirituais, desde a reencarnação e negação do inferno, até a salvação universal [Universalismo] de cada pessoa. Eu havia conversado com os que afirmam ter a Bíblia como sua única regra de fé e prática, mas conservam ideias captadas de Oprah Winfrey ou de alguns dos seus convidados novaerenses. Em geral, a humanidade parece um ímã para atrair todos os tipos de crença em Deus e isto não incluiria apenas os religiosos, mas os agnósticos e até mesmo os ateus.

          Geralmente, o cinema ensina teologia. Alguns filmes têm influenciado grandemente as nossas duas últimas gerações sobre o caráter e as qualidades de Deus, nenhum deles talvez mais do que a série "Guerra nas Estrelas", iniciada nos anos 1970. Esta série promoveu a divindade suprema como sendo uma impessoal e amoral Força de energia, a qual pode ser controlada e usada para o objetivo pessoal de alguém, através de técnicas mentais. "Que a Força esteja com você" era, muitas vezes, interpretado por alguns cristãos sinceros (embora errados) como sendo Jesus a verdadeira "Força". Esta promoção atribui a Jesus características que tanto distorcem como minimizam o Seu caráter, conforme Ele é apresentado nas Escrituras, resultando, portanto, num "outro Jesus". A série "Guerra nas Estrelas" captou suas crenças e práticas do Hinduísmo, numa saga de alta tecnologia e ficção científica.  Obi Wan era um feiticeiro; Yoda era um praticante da ioga por desígnio e prática, e a série de filmes, incrivelmente bem sucedida, impulsionou o misticismo oriental nas mentes juvenis do Ocidente. AVATAR tem feito o mesmo em relação ao Xamanismo.

        Xamanismo é a religião da natureza e dos espíritos, sendo a mais difundida entre todas as religiões do mundo. Ela é encontrada em cada grupo indígena, em toda a terra, e suas crenças e técnicas são as mesmas, onde quer que ela se encontre. Isso porque o Xamanismo é uma prática oriunda do reino espiritual, com os próprios espíritos não ficando restritos às longínquas localizações geográficas. O termo "xamã" provém do povo Tungo da Sibéria, tendo se tornado o preferido dos antropólogos em vez dos termos "feiticeiro", "mago", "mágico", etc. Conforme a notável autoridade de Michael Harner, um antropólogo e xamã, "um xamã entra num estado de consciência alterada, desejando obter conhecimento e poder, a fim de ajudar outras pessoas. Um xamã tem, pelos menos, um ou mais de um espírito a seu serviço particular. Para realizar a sua obra, ele depende de um poder especial, o qual, em geral, lhe é suprido pelo seu guardião e pelo auxílio dos espíritos".

          AVATAR é uma plataforma espetacular para a pregação do Xamanismo.  A história do roteiro não é original nem complicada. Um distante planeta lunar, chamado Pandora, começa a ser colonizado por uma corporação, que está extraindo um metal de grande valor para a terra, cujo povo ficou zangado por causa da exploração dos seus próprios recursos naturais. Entrementes, a empreitada é detida por uma tribo de humanoides, chamada Na'vi, cuja vila e terra cobrem o exato centro do precioso metal. As tentativas diplomáticas no sentido de persuadir os na'vis a se estabelecerem em algum outro lugar, redundaram em fracasso, principalmente por causa da religião dos Na'vis, o Xamanismo. Os na'vis adoram Eywa, uma deusa afim daquela que os gregos chamam Gaia ou Mãe Terra. Eywa parece ser uma força igual ao deus impessoal, a qual é responsável por manter o equilíbrio da vida. Tudo em Pandora está ligado mística e biologicamente a Eywa.  A ênfase biológica amplia a natureza crítica da preservação ecológica do planeta, para a sua futura sobrevivência.  Demonstrando a conexão de todas as formas de vida, os espíritos dos animais mortos para alimentação, em autodefesa, são contatados pelos na'vis, quer seja por gratidão ou apologeticamente.

          Nada deste gênero é encontrado entre os humanos. A empresa está extraindo o minério através de soldados mercenários, os quais se valem de máquinas para remover os na'vis, que, finalmente, se recusassem a evacuar a terra.

          O herói do filme é um ex-marinheiro paraplégico (Jake Sully), o qual aprende o modus vivendi dos na'vis, utilizando um corpo híbrido na'vi-humano, uma criação tecnológica, incrivelmente desenvolvida, da biotecnologia.  Ele [o corpo híbrido] é chamado AVATAR. Jake, em seu corpo avatar, é aceito pelos na'vis, por causa dos sinais iniciais com os quais ele é favorecido, para algum propósito, por Eywa e os espíritos. 

          O diretor e escritor James Cameron deixa muito clara a sua inclinação teológica (e ecológica) em cada parcela do filme. O título e as imagens dos na'vis, no filme, foram copiados do deus hinduísta Vishnu, encarnado como Krishna, um avatar de pele azulada. O Hinduísmo ensina que, através da história, os avatares têm se manifestado na forma de homens ou de animais, a fim de restaurar o equilíbrio entre o bem e o mal. A ênfase sobre árvores, no filme, combina com o Xamanismo. A imensa árvore-lar que hospedava os na'vis e é destruída no ataque feito pelos humanos, representa a provisão de Eywa para os na'vis, através da "Mãe" natureza. A luminescente Árvore das Almas, que torna direta a comunicação com Eywa, é também um poder central, que transfere as almas para outros corpos. No Xamanismo universal, a árvore é um médium de comunicação, pelo qual essas culturas se comunicam com os xamãs falecidos, com os ancestrais e com os próprios espíritos.

          Cameron acrescenta sua própria inclinação em favor do Xamanismo, ao fazer com que os na'vis se comuniquem com Eywa, com os espíritos e com os animais, usando fibra ótica nas franjas de suas caudas. O na'vi liga os fios nos mecanismos semelhantes compatíveis, conforme encontrados nos animais e nas plantas. Mesmo ao contrário da verdadeira prática do Xamanismo, isto reflete a necessidade de se experimentar um deus que não possa ser "conhecido" através da razão, do intelecto ou da ciência. Isto resolve também um problema para Cameron, o criador do filme. Sem dúvida alguma, no que se refere ao seu ofício, ele deixou de mostrar o método geralmente usado pelos xamãs, a fim de contatarem os espíritos: inspirando ou ingerindo drogas alucinógenas. O uso de drogas pelos na'vis teria feito o AVATAR ficar fora da classe de um PG-13, eliminando, assim, o grupo etário mais pronto a ver o filme muitas vezes, bem como a ser um consumidor extremo da mercadoria relacionada ao AVATAR.

          No verdadeiro Xamanismo, não existe ligação nem comunicação direta com os espíritos. Estes são entidades não físicas. Ao contrário das drogas ingeridas, a fim de produzir o estado de consciência alterada, a conexão com os espíritos é um processo mental. Mesmo assim, o desvio de Cameron do verdadeiro Xamanismo é a crença em Eywa.

          A Dra. Grace Augustine, a cientista no filme, declara que todo o chamado fenômeno espiritual que ela observou em Pandora pode ser biologicamente explicado. Contudo, no final, a Dra. Grace passa por uma conversão. Quando está morrendo, sob a Árvore das Almas, suas últimas palavras são as de um materialista, que permite sua "experiência" superar a "ciência", quando ela declara sua crença na deusa panteísta dos na'vis – "Eywa! Eu a vejo! Ela é real!" Desse modo, Grace se tornou o que C.S. Lewis descreveu como sendo a obra ideal de  Satanás - uma "mágica materialista". Ela se submeteu a um deus "Força", sem reconhecer a realidade dos espíritos pessoais, por trás dessa entidade folclórica, ou seja, os demônios. Por ouro lado, Jake, embora tenha inicialmente desdenhado do que ele chamava "Árvore do Abraço" dos na'vis, finalmente se entrega totalmente ao seu modo natural de vida e à sua deusa mãe - Eywa.

        Após ter lido dúzias e dúzias de  comentários feitos pela juventude enamorada pela teologia do AVATAR, torna-se aparente que o seu falso evangelho está encontrando um solo fértil no mundo inteiro, ao ser apresentado, atraindo milhões de frequentadores do filme para o Xamanismo. James Cameron apresenta o que a Bíblia chama "doutrina de demônios", promovida por Satanás, o pai da mentira  e ensinada, diretamente, pelos demônios. As crenças pagãs de Cameron são diametralmente opostas ao que a Bíblia ensina. Além disso, sua visão idealista da pureza natural de uma tribo indígena, como a dos na'vis é mera propaganda (Vejam minha entrevista com o ex-xamã Yanomami, na TBC de novembro 2003). A crença de que o naturalismo produz uma vida de harmonia, frutificação e paz é uma mentira ensinada por muitos antropólogos, porém contraditada pela experiência de cada sociedade xamanista, onde quer que estas sejam encontradas. Como posso ter tanta certeza? Todos os grupos indígenas são compostos de pessoas iguais às de toda parte, todas elas pecadoras. Além do mais, este mal inato é composto por espíritos sedutores inclinados a enganar e destruir os humanos, que se tornam seus escravos. Nenhum antropólogo, em tempo algum, produziu qualquer tribo que fosse uma exceção a esta regra destrutiva.

        Certamente, Cameron está decidido a pregar o evangelho xamanista avatar.   Contudo, os cristãos precisam ser avisados sobre o material do qual vão ser alimentados, junto com  a pipoca de preço elevado. É uma completa falta de discernimento sobre o que é sempre perigoso e espiritualmente traiçoeiro para a geração atual de crentes. A parte letal vem, quando os crentes [N.T.: em vez de ler e meditar na Bíblia] tentam ver o Cristianismo através de filmes populares, os quais são inteiramente contra Jesus Cristo. Isto acontece com as séries "Guerra nas Estrelas", "Harry Potter" e tantas outras.

          Uma conclusão antecipada é que vemos muito disto no AVATAR. A Christianity Today, por exemplo, sempre se inclina a ungir os engodos populares do mundo, apresentados como sendo cristãos. Em seu blog dirigido às mulheres, intitulado "Her'meneutica" (ironicamente um jogo de palavras, interpretando a exata  interpretação bíblica), uma aluna do Seminário Princeton escreve um artigo sugerindo que o caráter e a graça (supracitados) possam ter sido o caráter cristão do AVATAR, acrescentando, em seguida uma qualificação: "Bem, é uma maneira quase cristã". "Quase cristã?"  James Cameron ficaria escandalizado diante desta sugestão! Eu estou furioso! A única inserção de algo "cristão" em todo filme é o nome da região da montanha flutuante - Aleluia, bem como a menção do nome do Senhor, usado como uma palavra de maldição. Trata-se de um paradoxo para uma história estabelecida há mais de mil anos, aparentemente muito distanciada do conteúdo que, supostamente, os missionários usavam para "prejudicar a pureza" dos nobres selvagens. Embora o Cristianismo tenha falecido no futuro estabelecido no filme, ironicamente, o seu Deus permanece na psique e nos lábios carnudos dos personagens do filme.

          A Christianity Today, o Movimento da Igreja Emergente, o programa Global PEACE de Rick Warren e os que fazem parte de  alguma missão ou organização para-eclesiástica, (como, por exemplo, os seguidores da liderança e dos ensinos de C. Peter Wagner) têm uma tendência a encontrar pérolas ocultas de Cristo nas culturas, e vice-versa. Muitos estão ao ponto de santificar e redimir o paganismo da sociedade, ou, pelo menos, tentando se harmonizar e operar com todas as religiões. Todos eles estão alimentados com o sincretismo e o ecumenismo [N.T.: conduzindo o moderno Cristianismo a uma apostasia generalizada]. Eles estão contribuindo para a religião do Anticristo. A. W. Tozer se empenhou tremendamente em observar que Moisés não entrou num painel de discussão com os israelitas a respeito do bezerro de ouro; nem Elias tentou construir um insight com os profetas de Baal, assim como Jesus também não buscou um acordo de pensamento com os fariseus. Isto sem falar que promover "aquele abraço" com as religiões contrárias, tentando resolver os problemas do mundo, trata-se, no mínimo, de uma grande ilusão.  Sobre isto, temos a visão absolutamente clara do profeta, em Isaías 8:20: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles".

        As admoestações na Palavra de Deus são sempre claras a respeito de uma grande batalha espiritual que está sendo travada ao redor de todos nós, que estamos vivendo num tempo de rompante apostasia na igreja, sendo submetidos a um falso Cristianismo no mundo. Neste caso, o que um cristão deve fazer? Ele deve seguir o programa de prevenção e proteção do Senhor, tendo o coração conforme o Salmo 1: "BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá".

            Mas, claro que existe mais: a oração e a comunhão, por exemplo.  Às vezes, devemos nos aventurar, para proteção, conselho, encorajamento e conselho espiritual, ministrando uns aos outros. Quando estas coisas se tornam a nossa prática de vida, mesmo que a apostasia resseque o ambiente espiritual ao nosso redor, nós e nossas famílias continuaremos frutificando no Senhor.

 

TBC, Março 2010. - "The Avatar Gospel" – Dave Hunt.

Traduzido por Mary Schultze, em 08/03/2010.

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