Hoje gostaria de lhes falar sobre um grande erro de interpretação das Escrituras que atualmente tem se tornado quase uma doutrina cristã na maioria das Igrejas. É o tal do devorador.
Muitas igrejas pregam que o devorador é um demônio (ou o próprio Satanás) que age especificamente na área financeira da pessoa, quando esta não entrega o dízimo na casa do tesouro. A passagem mais usada (e que eu saiba, a única) para respaldar essa afirmação é a seguinte: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos.” – Malaquias 3.10,11
Antes de prosseguirmos é importante falarmos sobre uma área de estudo com nome estranho, mas que é essencial para o correto entendimento das Escrituras: A hermenêutica.
A hermenêutica é, à grosso modo, um conjunto de regras específicas para a interpretação correta de textos, no nosso caso, as Escrituras Sagradas.
Essas regras são frutos de séculos de conhecimento literário, científico, etc.
Pois bem, para uma saudável interpretação das Escrituras precisamos seguir essas regras que servem como balizamento para o nosso entendimento. Certo?
Para este texto de Malaquias gostaria de ressaltar algumas regras da hermenêutica que nos ajudarão a desfazer este grande erro que tem ocorrido nas igrejas.
1- A Escritura interpreta a Escritura: Ou seja, a própria Escritura contém o material necessário para o seu correto entendimento. Isso significa, também, que devemos nos ater ao que o texto tenciona dizer, e não o que queremos que ele diga.
2- Deve-se utilizar o texto considerando o seu contexto social, histórico e cultural: Aqui vemos que, ao ler um livro milenar como a Bíblia, é necessário que assumamos o ponto de vista dos primeiros leitores, levando em consideração os fatores sócio-culturais de sua época.
3- Deve-se levar em conta a intenção do autor: Não podemos utilizar um texto que diga “A” para tentarmos afirmar “B” se esta não foi a intenção original do autor.
Vamos juntos, aplicar estas três regras ao texto de Malaquias?
Primeiramente, fica a pergunta: O que a Bíblia quer dizer com devorador? Será um simbolismo para algo maior? Será uma casta de demônios?
Apliquemos então a primeira regra de interpretação. Aonde mais na Bíblia aparece este termo “devorador”?
Sua primeira, e mais definidora, aparição nas Escrituras é a seguinte: "Deles comereis estes: a locusta segundo a sua espécie, o gafanhoto devorador segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, e o gafanhoto segundo a sua espécie." (Levítico 11 : 22)
Ou seja, a própria escritura nos mostra que o devorador nada mais é do que uma espécie de gafanhoto, que possui esse nome por conta de seu grande poder de devorar as plantações que infesta.
Vamos mais adiante, agora analisando o contexto do livro do profeta Malaquias. Em que situação essas profecias foram escritas? Veja aqui como este texto é mal empregado nos dias atuais. A grande reivindicação de Malaquias não é contra o povo, pois este trazia sim os dízimos aos sacerdotes. No entanto, estes desviavam os dízimos. Por isso o clamor do profeta (e o de Deus) para que o dízimo fosse levado para a casa do tesouro, porque os sacerdotes estavam roubando a Deus.
Vamos finalizar a análise do texto com a intenção que o autor tinha: Isso era uma grande denúncia contra os sacerdotes, e foi isso o que os leitores daquele tempo entenderam do que Malaquias pregou. Para contextualizar, Malaquias fez o que o Wikileaks está fazendo hoje.
Malaquias estava gritando para os quatro ventos a corrupção da classe sacerdotal de Israel.
Ora, a praga de gafanhotos fora enviada pelo próprio Deus para corroborar a denúncia do profeta acerca da vigarice dos sacerdotes. Por isso a promessa de retê-los, mediante o cumprimento da Lei acerca desta situação.
A afirmação contemporânea de que o devorador é um demônio que afeta a área financeira das pessoas não passa de uma eisegese, ou seja, forçar o texto para tirar dele algo que, na verdade não está lá. Ou como dizem por aí, tá mais pra exejegue. Não há em nenhum local da Bíblia Sagrada a simples referência ao devorador como uma entidade espiritual ou qualquer outra coisa.
Hoje aprendemos que a denúncia de Malaquias era contra a corrupção dos sacerdotes (parecido com hoje?) e que o devorador não passa de uma espécie de gafanhoto famoso por devastar plantações.
Que este texto sirva, de algum modo, para libertá-lo dessa corrente de medo, culpa e controle imposta por uma má e tendenciosa interpretação bíblica. Fique tranquilo meu irmão, Deus não vai mandar um demônio devorar sua vida financeira!
Deus lhe abençoe!
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