Por Hermes C. Fernandes
Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou em uma escola municipal em Realengo, zona oeste do Rio, na manhã desta quinta-feira, 7 de abril, atirando contra alunos em salas de aula lotadas, matando onze, e deixando treze feridos, quatro em estado grave. Antes de entrar na escola, Wellington já havia baleado dois alunos do lado de fora. Alvejado por um policial, suicidou-se.
Conhecido na escola por ser ex-aluno, ele teria entrado sob alegação de que iria fazer uma palestra. De acordo com a polícia, Wellington não tinha antecedentes criminais.
Na carta encontrada com ele, o atirador fala de questões religiosas, pede perdão pelo crime e dá indícios de que o ataque foi premeditado.
Abaixo, um trecho da carta:
“Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida.”
Percebe-se, nesta parte da carta, que o atirador seguia uma linha religiosa de cunho fundamentalista, principalmente ao demonstrar preocupação com quem tocaria seu cadáver, exigindo que fossem pessoas castas. Chegou-se a ventilar que ele fosse muçulmano, o que logo foi desmentido pelo presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil, Jamel El Bacha. Ademais, se fosse um seguidor do Islã, não teria mencionado a vinda de Jesus para despertá-lo “do sono da morte para a vida”, aludindo à crença cristã na ressurreição dos mortos por ocasião do segundo advento de Cristo.
Alguns dos episódios semelhantes ocorridos nos Estados Unidos também envolviam religiosos fundamentalistas. Em um dos últimos, ocorrido em 16 de abril de 2007, o coreano Seung-Hui Cho, depois de haver tirado a vida de 32 pessoas no campus da Universidade de Virginia Tech, deixou um vídeo gravado comparando-se a Jesus Cristo. Assista ao vídeo aqui.
Desprovido de senso crítico, um fundamentalista religioso é capaz de nutrir ódio, preconceito e discriminação contra grupos que professem religião ou ideologia diferentes da sua, ou que pertençam a outra etnia. Tais características são encontradas tanto em grupos fundamentalistas islâmicos, quanto cristãos.
Não é raro encontrar sites ou blogs de conteúdo cristão fundamentalista que pregue, entre outras coisas, a superioridade de uma etnia sobre outras, o direito da população de armar-se, e, pasmem, até a escravidão como alternativa válida para os nossos dias. Geralmente, são contra o aborto, mas a favor da pena de morte. Acham que o Estado não tem o direito de intrometer-se na economia, mas dão ao Estado o direito de tirar a vida.
Alguns beiram ao fascismo e ao nazismo.
Encontrei quem dissesse, por exemplo, que os negros deveriam agradecer por terem sido trazidos como escravos para as américas, pois aqui teriam encontrado vida melhor do que tinham em seu próprio continente. É difícil crer que alguém creia desta maneira em pleno século XXI. O mesmo afirma em outro vídeo postado no Youtube que os baianos atuais já nascem burros, e que, ao ser acusado de racista, alegou em sua defesa que baiano não é raça. Por incrível que pareça, esta pessoa que se apresenta como filósofo, apesar de não ser evangélica, tem sido mentor de muitos blogueiros evangélicos ultra-conservadores, que se escondem sob a capa de defensores da moral e dos bons costumes.
Moro atualmente nos Estados Unidos com a minha família, e sei o que meus filhos têm sofrido na escola por causa do conservadorismo americano. A região mais racistas deste país é justamente a conhecida como “Bible Belt” (Cinturão bíblico), de maioria conservadora e fundamentalista. Apesar de todo o conservadorismo, o uso de droga é cada vez mais comum. O bullying é fartamente praticado, principalmente contra alunos pertencentes a minorias. Quando vamos a uma igreja americana, meus filhos ficam escandalizados ao verem lá alguns dos seus colegas parecendo santos, enquanto no ambiente escolar se revelam racistas, promíscuos, mentirosos. Para eles, o aquecimento global seria uma farsa engendrada pelos comunistas. Antes da crise econômica que abate esta nação, os imigrantes eram vistos como mão-de-obraescrava, quer dizer, barata. Hoje, são vistos como invasores, que estão aqui para tomar seus empregos. Muito da admiração que eu nutria por este país cedeu a uma decepção profunda. É claro que não se pode generalizar. Há muitas pessoas generosas, receptivas, verdadeiros cristãos, mesmo entre os conservadores e fundamentalistas.
Espero que este episódio ocorrido em Realengo não seja presságio de que mais um vício da sociedade americana desembarcou em terras tupiniquins. Já temos violência demais. Não precisamos de mais uma categoria.
Em vez de nos preocupar apenas com quem colocou aquelas armas nas mãos do atirador, deveríamos estar mais procupados com que tipo de mensagem ele andou ouvindo ou lendo. Parentes e conhecidos disseram que ele não saía da internet. Seria bom que a polícia examinasse e divulgasse o conteúdo contido na memória de seu computador.
Há conteúdos que são extremamente nocivos à alma humana. Principalmente quando instigam o embate entre grupos divergentes.
O que difere o cristianismo sadio do fundamentalista é o conceito de graça, que nos torna seres humanos mais compassivos e equilibrados, menos dados a extremismos.
Deixo uma sugestão aos meus colegas blogueiros: verifiquem em seu blogroll se você não está ajudando a difundir blogs nocivos. Vamos espalhar a graça, o amor, a justiça e a verdade, e coibir a difusão de qualquer ideologia ou doutrina importada que seja danosa à sociedade.
Fonte: Hermes Fernandes
Uma das característica do evangelho de Jesus Cristo é a valorização da vida. A valorização da vida é tão forte que existe a promessa de vida eterna. "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17:3)
ResponderExcluirPara se valorizar a vida não podemos matá-la por isso existe o mandamento não matarás (Êxodo 20:13). Não devemos matar o próximo e nem a nós mesmo. Acredito que este é o básico da valorização humana.
Uma religião precisa enfatizar este ensinamento de não matar, pois esse é um dos sentidos de uma religião. Não matar fisicamente, socialmente, psicologicamente, pedagogicamente...Temos ainda o ensinamento de amar a Deus e amar ao próximo(Mateus 22:36-40). E o próximo mais próximo de nós e nós mesmo então temos que aprender a nos amar, a ter uma boa estima. Esta estima tem que nos promover a vida sem dificultar a vida das pessoas que estão ao nosso redor. Guerras, revoluções, conflitos armados, massacre, chacina não fazem parte deste tipo de pensamento. Uma religião que falha neste sentido precisa urgentemente repensar seu processo de ensino e aprendizagam. Dizer que não é a favor de guerras não é o suficiente. Tem qie ser a favor da vida. Tem que se preocupar com o amor ao próximo. Tem que se preocupar com o ser humano como um todo, fisicamente, socialmente, psicologicamente... Nós seres humanos temos que viver em sociedade, precisamos de outros seres humanos para nos desenvolver. Estamos sempre aprendendo com uma outra pessoa. Na verdade o processo de ensino e aprendezagem é potencializado quando estamos sempre em contato com outro seres humanos. Mesmo atravez de conversas, de livros... Sempre haverá um outros ser humano nesta nossa vida.
Percebe-se que este fato mostra que aconteceu por muitos motivos. Os psicólogos e psiquiatras poderam contribuir muito. Da mesma forma sociólogos, filósofos, neurologistas e pedagosos. Toda contribuição para se entender melhor o ocorrido é bem vindo.
E um destes motivos é uma errada interpretação das escrituras. Como um impuro não pode tocar uma pessoa. Um dos atos mais impuros é promover a morte de outros seres humanos! E Deus não faz acepção de pessoas (Atos 10:34). Deus quer o desenvolvimento de todas as pessoas e quer que todos tenham a oportunidade de se desenvolverem. Precisamos dar oportunidade a amizade com as pessoas. E aprender com elas e é lógico que as pessoas iram aprender conosco.
Uma religião séria irá sempre lembrar que temos o amor ao próximo é o que move o desenvolvimento humano! Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros: como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." (João 13:34-36)
mais bizarro seria saber que seu pedido foi atendido!
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