Sei que todos nós passamos por decepções. Temos expectativas sobre como gostaríamos que as pessoas que amamos agissem, mas nem sempre elas vão corresponder. As pessoas têm conviccões diferentes umas das outras e precisamos entender isso. O nosso “certo” não é o “certo” do outro, e não podemos exigir que todos pensem como nós. Cada um tem um nível de egoísmo, de materialismo, e meu padrão só serve para medir a mim mesma, e não o outro.
Quando acontece uma ferida em um relacionamento, precisamos escolher amolecer o coração, e não endurecê-lo. Na nossa perspectiva podemos ter todos os motivos e razões para reter a raiva, a amargura, mas isso é como um veneno que nos fará adoecer. Tenho percebido que muitas vezes sofremos por pessoas que não estão sofrendo por nós ou pelo mal que nos causaram. Talvez elas nem se dêem conta do que nos feriu e decepcionou (ou se dão, não se importam). Por isso, para o nosso próprio bem, a raiz de amargura que brota no profundo do nosso coração deve ser arrancada, antes que cresça e se transforme em uma árvore que toma conta de tudo.
Lembro-me do texto de Hebreus 12:14, 15b ”Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor… nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, VOS PERTURBE, e por meio dela, muitos sejam contaminados.” (grifo meu)
A raiz de amargura, quando cresce, perturba a nós mesmos. Somos os primeiros e maiores prejudicados. Parece uma dor no coração que não sabemos como sarar. Depois, tudo ao nosso redor corre o risco de ficar contaminado. Perdemos o sabor da vida, outros relacionamentos sofrem por estarmos amargos, azedos. E por isso precisamos arrancar esta raiz enquanto está pequenina, no começo, antes que fique mais difícil e uma grande “cirurgia cardíaca” seja necessária.
Gustavo que, como cônjuge, sofre comigo a minha dor, estava orando e leu Marcos 11:25 “E, quando estiverdes orando, SE TENDES ALGUMA COISA CONTRA ALGUÉM, PERDOAI, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas”.
Como isso é interessante. É como se o Espírito Santo, que sonda e conhece nosso interior, não nos deixasse sossegados enquanto não perdoarmos quem nos ofendeu. Se não Lhe damos ouvido, mas continuamos indo diante de Deus em oração, corremos o risco de estar agindo religiosamente, e não em uma atitude de devoção sincera. É como se disséssemos: -”Sai pra lá, pensamento bobo! Estou aqui para orar por isso, aquilo, mas não para lidar com esse sentimento, com meu próprio coração. Estou aqui para ministrar, ou para cantar, para levantar as minhas mãos… deixa essa situação pra lá”. E vamos nos tornando hipócritas diante do Senhor. Só queremos falar e fazer, mas não ouvir o que Ele tem para nos dizer. Mas, se ao contrário, assim que Ele nos apontar onde precisamos ser tratados, nos quebrantarmos, receberemos a cura e a restauração.
Deus falou ao nosso coração que o poder para perdoar acontece na oração. Esse é o lugar e o momento em que podemos ser tocados por Deus. Somente se pararmos aos pés do Senhor, derramando e aquietando nosso coração na presença dEle, receberemos o poder para perdoar. Ouviremos e atenderemos. Escolheremos liberar perdão.
O perdão não vai brotar naturalmente. Pelo contrário, nossa mente nos levará a remoer e pensar muitas coisas que poderíamos dizer, cobrar, o que gostaríamos que acontecesse ao que nos ofendeu, e sentimentos terríveis de vingança podem surgir dentro de nós. Se não buscarmos uma intervenção divina dentro de nós, não conseguiremos perdoar. Perdoar é uma escolha, e só alcançaremos isso na força do Senhor em nós. Em oração, dia após dia, como em um processo do qual não podemos desistir, precisamos buscar a força de Deus para o perdão.
E então recebi outra instrução na Palavra. Olhar para o nosso exemplo maior, o próprio Senhor Jesus. As palavras dEle na cruz ressoavam em meu interior… “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Abri a Bíblia e li as várias descrições da crucificação nos Evangelhos até encontrar estas palavras libertadoras, que estão em Lucas 23:34.
Li também a instrução de Jesus aos discípulos sobre como devemos orar, em Mt 6. Em secreto oramos, e o Pai, que vê em secreto, nos recompensará. E então passa a nos ensinar a orar. Até que lemos: ” E perdoa-nos as nossas dívidas, ASSIM COMO nós temos perdoado aos nossos devedores.” Mt6:12 (grifo meu).
E não termina por aí, mas os versos seguintes dizem: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” Mt6:14,15.
Por mais chocante que sejam as palavras de Jesus quanto à reciprocidade do perdão de Deus para nós à medida em que também perdoamos o outro, precisamos aceitá-la. Confesso que nunca ouvi uma pregação sobre isso. Ninguém nunca me disse que se eu não perdoar alguém, Deus também não me perdoará. Mas Jesus disse isso várias vezes, como no texto que o Gustavo também leu para mim.
Enchendo-nos da Palavra e perserverando nela, olhando para Cristo e Seu modelo, recebemos o poder para perdoar. Toda perturbação que a falta de perdão nos traz vai embora e a paz de Deus enche nosso coração e a nossa mente. Ao invés de um coração endurecido e amargurado, que contamina a tudo o que vemos e está ao nosso redor, retornamos à doçura da vida. Livres, perdoados, orando e perdoando.
Eu estava meditando nas Escrituras e me deparei com o episódio em que Jesus é testado pelos Fariseus. Eles trouxeram até o Senhor uma mulher que havia sido achada em adultério. A Lei ordenava que ela fosse apedrejada, e eles perguntaram a Jesus o que Ele dizia a respeito disso.
Jesus Se abaixa e começa a escrever na areia. Eles continuaram a questioná-lo, e Ele Se levantou e disse: “Se alguém entre vós não tem pecado, seja esse o primeiro a atirar uma pedra nela” Jo8:7.
Ele Se abaixou de novo e continuou a escrever. Não sabemos o que Ele escrevia, mas muitos pensam que poderia ser o nome de amantes de alguns ali, ou o nome dos pecados dos acusadores daquela mulher. Enfim, o que sabemos é que aqueles homens, a começar dos mais velhos até os mais jovens, foram embora e a mulher ficou sozinha, em pé, diante de Jesus.
Outra vez Ele Se levanta. Ele pergunta a ela onde estão os seus acusadores. Todos se foram sem condená-la, responde a mulher. E então, as palavras mais libertadoras que alguém poderia ouvir saem da boca do Senhor Jesus: ” Nem eu te condeno. Vá e deixe sua vida de pecado”.
Ele, o único que não tinha pecado algum, o único que poderia realmente atirar uma pedra naquela mulher, não a condenou. Pelo contrário, sabemos que Ele assumiria o lugar dela e receberia todas as “pedradas”, todas as dores dela, na cruz do calvário.
Outra vez o Senhor ministrou ao meu coração sobre o perdão. Ele é nosso exemplo. E se Ele, que poderia acusar, condenar, não o fez, quanto mais nós, cheios de pecados e faltas, devemos perdoar os que erram ao nosso redor. Precisamos ter um coração perdoador, e as mãos esvaziadas das pedras.
Quem sabe, se agirmos assim, o mundo à nossa volta será impactado pela presença de Cristo em nós. Pelos Seus olhos de compaixão através de nossos olhares misericordiosos. De Suas palavras doces em nossas palavras libertadoras. Quem sabe, assim como aquela mulher, as pessoas que atravessarem nosso caminho sairão diferentes, caminharão livres para uma nova vida depois de se encontrarem conosco.
Talvez seja até mais fácil viver isso com uma prostituta com quem conversarmos em um impacto evangelístico, nas ruas da nossa cidade numa noite dessas. Mas precisamos ter as “mãos sem pedras” quando as pessoas próximas de nós, da nossa convivência diária, errarem conosco. Podemos ter todo o direito e razão, mas Cristo, que tinha todo direito e razão, nos mostrou como devemos agir. Perdemos o direito e a razão quando nos tornamos Seus seguidores. Nos tornamos “bobos conscientes”, dando a outra face, caminhando a segunda, a terceira milha, perdoando 70 x 7, ou seja, infinitas vezes por dia. Jesus, nosso Mestre, nos ensina a perdoar.
Fonte: Diante do Trono
Via: Site creio
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