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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

25 de novembro de 2013

Fé e Ciência.



Luis A R Branco

Durante algum tempo da minha vida cristã fui ensinado que questionamento é o oposto da fé e que enveredar por estes caminhos trariam grande dano a minha fé e relação com Deus. Atrelado a isto acompanhava o ensino de me afastar de certos escritores tais como Friedrich Wilhelm Nietzsche, René Descartes, Bertrand Russell, entre outros, por serem nocivos à fé cristã. No entanto, a curiosidade e minhas faculdades naturais me levaram justamente a ler tais escritos proibidos.

No entanto, como amantes dos livros, em simultâneo lia os clássicos da literatura cristã com suas teologia sólida e inabalável. Me deliciei em Martin Llloyd-Jones, João Calvino, Charles H. Spurgeon, Agostinho, Eli Stanley Jones, entre outros. Se por um lado havia questionamentos profundos, sinceros e honestos, por outro lado recebi respostas satisfatórias, profundas e honestas. Hoje, com meus quase quarenta anos, não vejo brechas em minha fé, ao contrário a vejo fortalecida.

Eu poderia até fazer uma declaração de fé para que não reste dúvida daquilo que creio, mas acho desnecessário, quem quiser ter certeza das minhas convicções basta passear pelos meus muitos artigos teológicos e concluirá por si mesmo. Concluirá também que não me identifico com a teologia da prosperidade e boa parte daquilo que é chamado de teologia neo-pentecostal. Estes sim, são os grandes nocivos à fé cristã.

O Apóstolo Pedro ao escrever sua carta deixou a seguinte orientação ao crentes dispersos por várias partes do mundo antigo, onde eram expostos às mais diversas filosofias: “Antes, reverenciai a Cristo como SENHOR em vosso coração, estando sempre preparados para responder a qualquer pessoa que vos questionar quanto à esperança que há em vós.” (1 Pe 3:15 BKJ - grifo meu). O cristão de hoje está despreparado para responder às perguntas que o mundo tem para fazer. Somos insistententes em responder perguntas que ninguém fez, a dar respostas a quem não nos pediu nenhuma, a insistir com assuntos que pouco interessa a sociedade e despreparados para aquilo que é o mais relevante na exortação de Pedro, que é mostrar ao mundo qual o real motivo da nossa esperança.

Se desejamos fazer isto teremos que reassumir algumas dianteiras há muito tempo abandonadas pela igreja, nos campos das ciências em geral. Os reformadores foram grandes entusiastas das descobertas científicas e sob os auspícios de Lutero e Calvino os cientistas antes oprimidos pela igreja romana, gozaram de liberdade no exercício de suas funções. Segundo o documento “A CIÊNCIA E A REFORMA PROTESTANTE” de Robert Hooykaas (Universidade de Utrecht) e resumido por Guilherme V. R. Carvalho do Centro Kuyper BH/Fate BH:

“Os cientistas não eram obrigados a aceitar o juízo de não cientistas em assuntos científicos, nos países protestantes. Assim aristotélicos, cartesianistas e defensores da separação entre filosofia e teologia, geocentristas e copernicanos se degladiavam sem qualquer intervenção de sínodos ou consistórios eclesiásticos. A reforma científica, como a reforma religiosa, rejeitou a crença humanista na infabilidade dos antigos.Propunha-se o retorno às fontes: ao livro das Escrituras e ao livro da natureza, e afirmava-se a liberdade de pensamento contra o controle dogmático. Assim Kepler, devoto luterano, proclamava: “Santo é lactâncio, que negava que a terra fosse esférica; santo é Agostinho, que admitia a esfericidade da Terra, mas rejeitava a existência das antípodas; santo é o Ofício, que aceitou os antípodas, embora rejeite o movimento da Terra ... porém mais santa ainda para mim é a Verdade, que revela que a Terra é uma pequena esfera, que os antípodas existem, e que a Terra está em movimento” (HOOYKAAS, 1988, p. 146).[1]


É importantíssimo restaurar esta tradição reformada do envolvimento da igreja com a ciência para que possamos continuar a ser relevantes num mundo de constantes mutações. Calvino reprovava os que negligenciavam o estudo da natureza e outras ciências, fazendo com que o protestantismo assumisse a vanguarda da academia no período pós-reforma. É possivel dizer que a reforma protestante garantiu inclusive a liberdade de pensamentos que vieram desafiar a autoridade, inerrância e inspiração das Escrituras Sagradas, como o racionalismo e hoje, a nova crítica hermenêutica. No entanto, apesar dos seus desafios à fé, não devemos temer a nenhuma corrente que porventura decida desafiar às Escrituras Sagradas, o que a igreja precisa fazer é estar apta para responder aos desafios que surgem no nosso tempo. Numa perspectiva muito particular, não acredito que a homosexualidade deva ser a ênfase apologética da igreja brasileira. Devemos sim, através das vias legais, procurar formas de salvaguardar nossos direitos, mas hoje, o que vemos dos dois lados, tanto gayistas como homofóbicos, procuram distrair a atenção da igreja e da sociedade daquilo que verdadeiramente importa, que é mostrar ao mundo qual o real motivo da nossa esperança.

Infelizmente o que observamos por parte de determinados grupos é a manipulação da Escritura e até mesmo um pseudo conhecimento cientifico para a enfatizar alguns pontos, explorando-os para conseguirem cada vez mais protagonismo. João Calvino escreveu: “É uma audácia próxima ao sacrilégio usar as Escrituras como nos apraz e brincar com elas como se fossem uma bola de ténis, como muitos já fizeram anteriormente... a primeira tarefa de um interprete é deixar que o autor diga aquilo que expressa de fato, em vez de atribuirmos a ele aquilo que achamos que ele quer dizer.”[2].

E no que diz respeito a confiabilidade das Escrituras Sagradas, nenhum outro grupo religioso possui as prerrogativas que os cristãos possuem, tendo em vista que nenhum outro texto antigo possui tanto elementos científicos e tenha vencido todos os testes de confiabiliade sofridos pela Bíblia. Se somarmos todos os manuscritos antigos testados em sua confiabilidade, apenas o Novo Testamento contou com vinte e quatro mil, duzentos e oitenta e seis manuscritos, seguido pelo Ilíadas de Homero com seiscentos e quarenta e três manuscritos. Ao examinar o Novo Testamento os cientistas concluiriam que há 99% de precisão entre os textos copiados nos referidos manuscritos, e ainda que estes apresentam um grau de 98,33% pureza em seu conteúdo, e que 99,9% do Novo Testamento foi reconstruído. Estes números são elevadíssimos num processo científico. Motivo pelo qual boa parte das academias, influenciadas pela nova critica, marxismo ou humanismo, não permitem que a Bíblia Sagrada seja estudada cientificamente em pé de igualdade com as demais teorias, pois seria o caos destas diante da Bíblia.

Concluímos este breve artigo com uma chamada para que possamos incentivar nossos jovens universitários e também seminaristas, para que sejam excelentes profissionais e teólogos, capazes de responderem com convicção aos questionamentos da sociedade atual, sem medo da ciência ou do evangelho. Como disse certo teólogo uma vez: “Se o evangelho for uma fraude, quero descobrir o quanto antes para não perder meu tempo, mas a verdade é que quanto mais estudo e ponho a prova as suas verdades sou convencido da sua inteira confiabilidade.”


Luis A R Branco é colunista do Genizah

[1] Guilherme de Carvalho, “,” Guilherme de Carvalho, November 18, 2013, accessed November 18, 2013, http://www.freewebs.com/guilhermecarvalho/a_reforma_e_a_ciencia.htm.
[2] Costa, H. (2006). Calvino de A a Z. São Paulo: Editora Vida.


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