Nos últimos dias, o mundo gospel e o mundo “normal” têm repercutido o caso do suposto abuso sexual ao filho da pastora, cantora e missionária Bianca Toledo por parte de seu atual ex-marido Felipe Heiderich. Segundo acusações da cantora gospel, seu segundo ex-marido haveria lhe confessado ser homossexual e ter abusado de seu filho por anos. Antes dele, Bianca Toledo também teve um divórcio turbulento de Renato Pimentel, a quem acusa de negligenciá-la e se aproveitar dela para ganhar dinheiro, enquanto Pimentel a acusa de tê-lo traído enquanto estavam casados. E Renato Pimentel, pai da criança supostamente abusada, colocou-se em posição de prudência em relação às acusações de Bianca a Heiderich. Enfim, tragédia sobre tragédia.
Mas não é nossa intenção transformar esse artigo num “Casos de Família”. Até porque não há como testificar quem está com a razão. A Verdade talvez só os envolvidos saibam. E Deus, é claro.
O que gostaríamos de destacar são as implicações que tal caso traz ao universo religioso, mais especificamente à pregação do Evangelho. Afinal, os envolvidos são pessoas que lideram ministérios e têm alguma fama no meio gospel, e tal caso serve de exemplo para muito do que acontece em boa parte das igrejas evangélicas.
A vontade humana como sendo a vontade de Deus
Bianca Toledo vendeu seu segundo casamento como um conto de fadas moderno gospel. Heiderich era um príncipe, era a “promessa de Deus”, a “recompensa” após todo o sofrimento pelo qual passara. Porém, nos últimos dias vimos tal príncipe sendo taxado como sapo.
Muitas vezes vemos líderes religiosos impondo suas vontades aos fiéis sob a justificativa de ser a vontade divina. É deus falando que o fiel precisa pedir emprestado para doar para a igreja, caso não tenha dinheiro na hora; é deus mandando casar com fulano e separar de sicrano; é deus ordenando o fiel a seguir cegamente as instruções de seus líderes religiosos, afinal são “ungidos” pelo divino; é deus prometendo curas e no final trazendo a morte do fiel (que deixou o tratamento crendo na “promessa”); é deus falando e não cumprindo.
A vontade de deus é a justificativa perfeita para o aumento das heresias em nosso meio. Afinal, se o (im)pastor diz que deus mandou (mesmo que tal mandamento contradiga a Bíblia), quem sou eu para duvidar? E a vontade de deus é quase sempre a mesma, com algumas poucas nuances: que a igreja e os líderes religiosos enriqueçam sobremaneira e que cresça o número de membros para, assim, aumentar ainda mais a arrecadação.
Em Oseias vemos Deus (o de verdade) ordenando ao profeta que se case com uma mulher adúltera. Mas nesse caso Deus não escondeu o pecado de Gomer: Oseias não se casou enganado. E esse casamento serviu como uma alegoria de como Israel adulterava religiosamente (ou seja, nada parecido com a “promessa de deus” de Bianca Toledo).
Colocar vontades humanas como sendo divinas é uma das estratégias de engano de lideranças religiosas. É como se mistificassem cada escolha, cada passo dado. É como se dissessem que Deus controla tudo em suas vidas, porém na verdade tal controle pertence unicamente a esses religiosos. E é como se colocassem num patamar superior espiritualmente, mais próximos de Deus que os demais, afinal Ele lhes mostra Sua vontade em todos os aspectos de suas vidas.
O mercado dos testemunhos gospel
Bianca Toledo foi catapultada ao subestrelato gospel após divulgar aos quatro cantos seu testemunho de vida, no qual passou por uma grave enfermidade, chegando muito próximo da morte. Esse testemunho não foi apenas contado em igrejas. Virou livros, seminários, dvds (preste atenção no plural: não foi um livro e um dvd, embora o testemunho fosse o mesmo). Enfim, digamos que rendeu – e rende – um bom dinheiro para a cantora.
Intriga que uma das acusações de Bianca Toledo ao primeiro ex-marido era de que ele estava lucrando com sua doença, vendendo os medicamentos fitoterápicos que ela então utilizava.
Mas enfim, se alguém quer ganhar muito dinheiro no mundo gospel, uma das alternativas é ter um testemunho impactante para vender para a plateia. Não vale dizer que era um pecador e um dia Cristo lhe tocou: tem que ser ex-aidético, ex-macumbeiro, ex-bruxo, ex-satanista, ex-gay, e se for todas essas coisas ao mesmo tempo, então o sucesso gospel é garantido!
As pessoas não querem mais ouvir a Palavra. Como dito em 2 Timoteo 4.4, a plateia prefere dar ouvidos às fábulas. E aí, para tornar os testemunhos mais emocionantes (e mais lucrativos), muitos dão uma “melhorada” na história. E o povo, tocado pelo consumismo e pela idolatria gospel, passam a comprar todo e qualquer material do testemunhante e a considerá-lo alguém mais santo e ungido que os demais, afinal Deus fez um grande milagre em sua vida. Porém, o grande milagre de Deus é a salvação, seja do que estava perdido nas drogas e nas sarjetas, seja daquele que nasceu e viveu em berço cristão.
Não somos contra testemunhos. Eles podem ajudar a fortalecer nossa fé. Somos contra o mercado dos testemunhos e todos os males que lhe advém.
A indústria do espetáculo gospel
George Orwell já previa um mundo dominado por câmeras em seu 1984. Andy Warhol foi além, ao constatar que num futuro próximo todos teriam seus 15 minutos de fama. E o mundo gospel se irmanou com o mundo “normal”, abarcando todas essas teorias que se tornaram realidade.
Bianca Toledo precisava da mídia gospel para “vender” seu testemunho. Mas a mídia (seja gospel ou qualquer outra) dá com uma mão e tira com a outra. Para a mídia, o que interessa é a fofoca, o escândalo. Menininha doando sua mesada para alimentar crianças pobres não vende jornal. Mas menininha sendo estuprada por 3o, aí…
Boa parte dos líderes evangélicos vivem na mídia e pela mídia, pois através da divulgação que ela lhes traz é possível arregimentar novos e mais fiéis, que por conseguinte aumentarão a arrecadação e a manutenção de suas vidas nababescas. Assim, se desaparecem da mídia, logo buscam chamar-lhe a atenção. Vemos subcelebridades anunciando cirurgias íntimas com a mesma tranquilidade que vemos líderes religiosos chamando minorias para o “pau”, afinal uma coisa e outra dá Ibope. E a plateia adora um espetáculo, adora tomar partido de um e de outro, adoro uma fofoca gospel, adora saber dos pecados dos outros (mas não contem os meus, por favor).
Ou seja: quem quer fama gospel dá o que a plateia quer. Um alimenta o outro, e ambos vão juntos para o abismo, pois Deus nada tem a ver com isso.
A fama a qualquer custo?
No meio de toda essa sujeira está uma criança. Uma criança cuja foto é visível para qualquer pessoa no Google, e que está desde agora taxado nacionalmente como vítima de um crime deplorável. Daqui a 2 ou 3 anos, seus amiguinhos na escola lerão as notícias na internet, e como sabemos que as crianças são expert em bullying, o que será desse menino?
Não importa. O que importa é expor nacionalmente todo o caso, para “justificar” mais um divórcio (e pior, um divórcio de um casamento dos sonhos de deus) perante os seguidores e fiéis. Abrindo o jogo, lançando fogo midiático contra o adversário (mesmo que respingue no filho, no chamado “fogo-amigo”), obtém-se a chance de manipular a opinião a seu favor e ainda abrir caminho para um futuro terceiro casamento pela “vontade de deus”.
E ainda abre espaço para novos livros e dvds contando mais essa trágica história…
…
Imagino a dor dos envolvidos, mas imagino também que o desfecho seria bem diferente caso o centro de tudo fosse Jesus Cristo. Porém, muitos crêem que o caminho para Cristo passa pela fama, sucesso, dinheiro gospel. Muitos se esquecem que Ele é o único caminho, verdade e vida.
Que Deus tenha misericórdia de todos, e que Ele restaure os corações e traga a cura para as almas. E que Sua justiça permaneça para sempre, doa a quem doer.
Voltemos ao Evangelho puro e simples,
O $how tem que parar!
O $how tem que parar!
É fácil julgar quando não é o seu filho que está no caso. Acho que ela pensou em tudo isso, no seu ministério, no seu filho e sua vida social, na opinião pública em geral, em ter certeza concreta e quem sabe, uma chance de perdão caso houvesse arrependimento da parte de Felipe. Lembrem se tudo que a Bianca passou. A probabilidade de alguém que passou o que ela passou inventar tudo isso é quase ínfima; já esse tal Felipe, (que até bíblia satânica tinha), surgiu do nada, pelas redes sociais e só ganhou destaque por causa da Bianca.
ResponderExcluirPensem antes de julgar e colocar títulos parciais e sugestivos. Se estiverem errados, vocês não terão humildade para virem pedir perdão.
É fácil julgar quando não é a sua vida nem o seu filho que está em jogo.