A pastora Bianca Toledo prestou depoimento nesta terça-feira, 13, na 42ª DP do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, do Rio, sobre a acusação de seu ex-marido, Felipe Heiderich, de que ela seria responsável por tê-lo mantido em cárcere privado após ele supostamente ter tentado se matar. Minutos antes de chegar à delegacia, Bianca fez um post em redes sociais anunciando que o dia seria "totalmente fora do normal" e que faria a "cobertura" do dia em redes sociais.
Bianca falou com a reportagem do EGO ao sair da delegacia. "Felipe está sendo acusado de um crime inafiançável e está respondendo em liberdade condicional, sem tornozeleiras, pela falta da mesma. Enquanto ele aguarda pelo julgamento, cometeu um novo crime, de denunciação caluniosa, previsto no artigo 339. Durante uma viagem em que eu estava fora do país, ele fez um boletim de ocorrência alegando que eu armei um plano maquiavélico contra ele, dizendo que ele tinha sido dopado, internado à força e mantido em cárcere privado. Postou isso na internet e também informações do meu voo além de um pedido de esclarecimento da delegacia que ele chamou de intimação. Mas não era. Em nenhum momento foi instaurado um inquérito visto que não haviam provas suficientes para isso. O que houve foi uma VPI, a chamada verificação de procedência de informações, para averiguar se houve crime ou não", afirmou a pastora.
Ainda segundo ela, todas as testemunhas já foram ouvidas. "Todas as testemunhas da tentativa de suicídio dele foram ouvidas, inclusive o Corpo de Bombeiros que o encontrou desacordado na ocasião na cena montada por ele junto com uma carta de despedida. Funcionários da clínica em que ele foi atendido também prestaram depoimento e apresentaram laudos psiquiátricos que comprovavam a necessidade da internação apontando transtornos gravíssimos", contou Bianca.
Sobre a versão de Felipe de que Bianca teria sido a responsável por sua internação, rebateu: "Ela não é médica para internar alguém por indicação dela. A indicação de internação veio do Hospital Lourenço Jorge, que o atendeu e entendeu que ele deveria passar por avaliação psiquiátrica em uma clínica. Ela apenas assinou a autorização da internação que precisava ser feita por um familiar", disse Maia.O advogado da pastora, João Maia, afirmou que não foi aberto inquérito pois até o momento não há indícios de que houve um crime. "Se o delegado tivesse certeza de que houve um crime ele teria a obrigação de instaurar um inquérito policial, mas como ele teve dúvidas sobre a existência do crime está apenas esclarecendo os fatos", pontuou.
A pastora relatou que após assinar o documento, entrou em contato com a mãe de Felipe, que não mora no Rio, e pediu que ela viesse até a capital fluminense para acompanhar o tratamento do filho. "Tenho conversas no WhatsApp com ela que mostram isso", falou.
Bianca também garantiu ter provas de que o ex-marido de fato tentou se matar. "Tenho diversas provas como um áudio dele enviado a um amigo dizendo que tentou se matar com dois vidros de Rivotril, além de uma mensagem que ele mandou para outra pessoa dizendo que 'desistiu'", disse ela.
A pastora afirmou que de fato esteve na clínica onde Felipe foi internado junto com seu advogado e um pastor, mas disse que em nenhum momento ele foi coagido. "Eu estive lá para dizer que estava me separando, mas que eu e meu filho, como cristãos, o perdoávamos pelo que fez. O pastor que foi junto também o informou que ele havia perdido a licença pastoral. Ele me questionou por tê-lo denunciado e eu disse que mesmo que não quisesse continuar com isso o Ministério Público daria continuidade ao caso e que como mãe não poderia ser omissa sabendo o que aconteceu. Eu tive que denunciá-lo até porque se eu não faço nada seria cúmplice e poderia até perder a guarda do meu filho. E não ficaria sem meu filho nunca", declarou.
O advogado de Bianca disse que o delegado responsável deve apresentar uma conclusão em breve, mas que não há prazo para o desfecho do caso.
Outro lado
Felipe - que chegou a ser preso no início de julho após ter sido acusado de pedofilia pela ex-mulher e deixou a cadeia seis dias depois - usou as redes sociais para fazer acusações a Bianca no dia 31 de agosto. No post, o pastor disse ter sido vítima de um "plano maquiavélico" e se declarou inocente. Ele afirma ter sido mantido em cárcere privado, dopado e levado a uma clínica psiquiátrica, onde também teria sido dopado e amarrado. As afirmações confrontam a versão de Bianca, que no início do processo disse que o pastor teria confessado as acusações de abuso, tentado suicídio e sido avaliado em uma clínica psiquiátrica.
Procurado pelo EGO, o advogado de Felipe, Leandro Meuser, rebateu as acusações. "A Bianca não é médica, mas não também não existe nenhum laudo médico que indique o Felipe para a clínica psiquiátrica. Em momento algum ele foi atendido no hospital Lourenço Jorge, ele foi atendido na UPA da Barra da Tijuca."
Leandro também reafirma que seu cliente teria ficado em cárcere privado. "Felipe entende que ficou em cárcere privado porque não era vontade dele e até hoje não tem nenhum laudo de encaminhamento para a clínica. Nenhum médico indicou isso. Não existe depoimento de Bombeitos. E entendo o fato dos funcionários da clínuica tentarem se defender porque a clínica é uma das investigadas. O Felipe não cometeu crime algum, até porque quem fez esse registro fui eu com procuração dele, eu apenas relatei para que fosse investigado se houve ou não crime. Eu fiz uma denúncia porque eu entendi que havia uma situação de cárcere privado, eu denunciei o fato e o delegado está investigando se há crime ou não."
Leandro acrescentou que Felipe ainda será oivido pela polícia. "O Felipe aguarda o preocedimento das investigações e ainda não deu o depoimento dele."
Veja o depoimento completo do pastor:
"A calúnia tem um poder de destruição tão grande que a própria Palavra de Deus declara veementemente que aqueles que falam mal do seu irmão não herdarão o Reino de Deus (1Co6.10) e também que Deus abomina aquele que planta contendas entre irmãos (Pv 6.19). Mesmo tendo sido vítima de um plano maquiavélico, quase impossível de ser acreditado, decidi não revidar da mesma forma. Não foi assim que meus pais me ensinaram e não foi assim que eu aprendi na Bíblia. Não irei à mídia para contar os podres da outra parte e quem me conhece sabe disso, e, por isso tem sido tão cruel. Minha defesa será mostrando minha total e plena inocência em todos os pontos acusados. Hoje mais um capítulo se desenrola. Infelizmente apenas o primeiro deles."
Felipe segue o depoimento fazendo acusações, mas sem citar o nome de Bianca em nenhum momento: "Durante oito dias fui mantido em CÁRCERE PRIVADO. Fui dopado e levado a uma Clínica Psiquiátrica (hospício) e mantido lá, dopado e por vezes amarrado, sofrendo coisas que, só de mencionar, angustia a alma. Quando a Justiça foi atrás de mim, eu me entreguei. SIM, EU MESMO ME ENTREGUEI e acreditei que minha inocência me daria a plena liberdade. Hoje temos provas de que fui refém e mantido em cárcere e coagido. A Autoridade Policial entendeu que a denúncia era grave e tinha provas suficientes para justificar a abertura de procedimento investigatória, intimando todos os envolvidos a prestarem suas declarações, ao contrário de mim a outra parte simplesmente resolveu não aparecer à delegacia, ignorando a intimação e mostrando total desrespeito às leis do nosso país, e no dia seguinte viajou para os EUA como se nada devesse esclarecer. Coloco aqui a intimação e a passagem de ida. Cabe a Justiça julgar."
Relembre o caso
Conhecida no meio evangélico por relatos de seu testemunho após quase morrer, a pastora Bianca Toledo fez um desabafo nas redes sociais no dia 6 de julho contando ter descoberto que o marido é homossexual e ainda afirmando que ele estava "acautelado por crime de pedofilia". Bianca contou que o marido, que também é pastor, confessou as acusações, tentou suicídio e que foi avaliado em uma clínica psiquiátrica.
No dia seguinte ao desabafo, a Polícia Civil confirmou que a prisão do marido de Felipe Heiderich aconteceu por causa de um suposto estupro ao filho de cinco anos de idade da religiosa, fruto de seu primeiro casamento. E mais: segundo a titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), Cristiana Bento, o crime teria sido cometido no interior da residência da casa dela com Heiderich, localizada no bairro do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Em nota enviada ao EGO, a polícia informou que a pastora Bianca foi à delegacia no dia 22 de junho denunciar o suposto crime. A defesa de Felipe Heiderich negou as acusações. "Venho a público informar que as acusações formuladas contra Felipe são inteiramente falsas e que a polícia saberá investigar para ao final esclarecer a verdade. (...) Iremos, sim, provar a inocência de Felipe nos autos do inquérito policial, confiando no trabalho da polícia e da Justiça", anunciou o advogado Leandro Meuser pelas redes sociais.
Felipe Heiderich foi preso no dia 4 de julho, na Cadeia Pública José Frederico Marques (Bangu 10), no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Ele deixou a cadeia no dia 10 e três dias depois publicou um vídeo se defendendo das acusações. "Não sei quem em sã consciência saberia lidar com o choque de saber que a criança que eu amo estava sendo abusada por alguém. Isso pra mim já seria o suficiente para... Não sei como reagir. Segundo: essa pessoa ser você. Chorei muito nesse dia, li a Bíblia", disse ele.
Bianca Toledo e o advogado João Maia deixam a DP (Foto: Priscila Bessa / EGO)
Bianca Toledo e o advogado João Maia foram depor nesta terça, 13 (Foto: Priscila Bessa / EGO)
Bianca Toledo e o advogado João Maia (Foto: Priscila Bessa / EGO)
Bianca Toledo e o advogado João Maia deixam a DP (Foto: Priscila Bessa / EGO)
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