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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

26 de setembro de 2012

Aviva-nos!


Nos últimos anos tenho escutado muito sobre avivamento. Tenho acompanhado pregadores, pastores e ministérios locais, nacionais e internacionais falarem sobre avivamento. Referências a obra de Leonard Ravenhill, a Jonathan Edwards, Charles Finney, D. L. Moody, Billy Graham, aos recentes Avivamento de Pensacola, nos Estados Unidos, bem como a Benção de Toronto, da Airport Christian Fellowship. Além da incorporação de práticas espirituais pouco ortodoxas, exóticas e até então alheias ao cotidiano da maioria das denominações – o que não nos leva a nenhuma conclusão sobre seus efeitos ou validade.
Em meio a isso tudo, não são raras as canções clamando por avivamento ou representando um avivamento, um despertamento como as canções da Hillsong ChurchGateway ChurchChris Tomlin, dentre outros. São incontáveis ministérios de louvor, de dança, de expressão corporal, todos muito semelhantes, cantando em suas letras as mesmas coisas, traduzindo os ícones mundiais da música cristã, fechando acordos de parcerias para versões em seu território nacional, gravando DVD’s e CD’s com exacerbado zelo e qualidade, concorrendo e ganhando prêmios e chamando a atenção dos meios de comunicação e gravadoras seculares.
Jargões do crentes foram expandidos aos alheios ou avessos ao meio religioso. Não raro ouvimos um “Misericórdia”, “Tá amarrado em nome de Jesus”, “Ô, benção!”, “Glória a Deus”, saído das bocas de quem nunca pisou numa igreja. Para os otimistas e avivalistas de plantão, isso é a igreja influenciando o mundo. Mesmo que tenhamos em nossas igrejas fenômenos interessantes como os crentes não praticantes, piriguetes gospel, dentre outras coisas que prefiro não mencionar.
Temos de fato vivido um avivamento cultural, mas estamos longe de um avivamento genuíno, espiritual. Vivemos na mais completa superficialidade, achando que por seguir o fluxo do mainstream, somos descolados e espirituais ou se ouvirmos o que não está moda, somos de fato espirituais e não cults (como seríamos definidos secularmente).
Cantamos canções que falam de amor, de entrega e até que exaltam a centralidade, a majestade ou poder de Deus, mas isso não se converte em uma vida que ama, reconhece a centralidade, majestade e supremacia de Deus. O que vemos são pessoas deficientes, egoístas, incapazes de amar e se submeter uns aos outros, como nos exorta a Palavra de Deus (Efésios 5.21). Estamos nos púlpitos falando em amor, ministrando canções de exaltação a Deus, mas quando descemos da plataforma somos soberbos, não falamos com as pessoas, não as cumprimentamos socialmente, falamos uns dos outros, assistimos pornografia na internet, somos incapazes de receber a correção e somos ávidos críticos dos nossos líderes. Ficamos ofendidos e inconformados com tudo que nos desagrada e, frequentemente, estamos mal quando estamos inativos ou quando quem está à frente são aqueles que não gostamos.
Somos invejosos, rancorosos e falsos. Não temos devoção ao outro, mas afirmamos ter devoção a Deus. Não somos capazes de se alegrar com os que se alegram ou de chorar com os que choram (Romanos 12.15), de estender a mão a quem necessita, mas isso se deve pelo fato de nunca perguntarmos como o outro está e, quando perguntamos, em 90% das vezes não queremos saber como de fato o outro está e, nos outros 10%, queremos sondar sobre a veracidade de algum boato ou fofoca que está acontecendo.
Citamos os puritanos e as transformações que suas pregações provocaram no mundo, citamos grandes homens de Deus usados pela Sua graça e vontade e entendemos ou cremos que com isso deixamos a superfície e aprofundamos mais e mais na nossa vida cristã. O crescimento espiritual se dá em uma única direção: a da cruz de Cristo. Quando estivermos dispostos a morrer, Deus se disporá a nos trazer vida! Esse é o real sentido do avivamento: Cristo em nós!
O genuíno avivamento produz uma mudança de mente, uma mudança de atitude, uma mudança social. Ele não produz grandes pregadores, mega-ministérios, manias de grandeza. Já percebeu como todo cara que toca no louvor da igreja, quer gravar CD? Quer viver da música e ficar famoso? Raramente, eu os ouço dizer: “Quero viver para Deus! Quero servir a minha igreja!”.
Eu creio que nos últimos anos, a igreja brasileira viveu um “avivamento”, mas um avivamento inverso, recebemos e nos enchemos da vida do mundo, dos valores e do sistema do mundo. Queremos pregar o agradável, pois estamos preocupados com números. Se temos o “número”, não precisamos de qualidade. Nunca a igreja esteve tão distante do conhecimento da Palavra de Deus, nós não sabemos mais o básico da nossa fé, pois estamos indo a igreja para nos divertir, para fazer amigos legais e obedecer a nossas vontades.
Aderimos as correntes que queremos, estamos em igrejas que não gostamos do pastor, dos irmãos, do louvor, mas como fazemos algo nos apegamos a um ministério, a panelinhas, a namoros (cada vez mais parecidos com o mundo). Onde estão os adoradores do Senhor? São os mesmo que exaltam a Deus com suas bocas e o envergonham com suas atitudes? São os mesmo que celebram aniversários com temas sensuais como oncinha e coisas do tipo? Onde vamos parar nas celebrações de casamento com motivos sadomasoquistas?
Levantamos nossas mãos no culto, cantamos as coisas certas, pronunciamos as palavras certas, mas desejamos as erradas. Alimentamos a nossa maldade, a nossa vaidade, mordemos com frequência a língua que louva a Deus e amaldiçoa o irmão. A mesma língua que trama contra a liderança, que acusa o outro, que rotula maldosamente o pecador ao invés de amá-lo e acolhê-lo.
Andamos como nômades de igreja em igreja, de congresso em congresso, de conferência em conferência, de movimento em movimento, de novidade em novidade, sob a desculpa de que a igreja precisa de novidade. Colocamos desculpas e maquiamos a verdadeira face do problema, qual seja realmente precisamos de novidade: de novidade de vida. Não precisamos de aperitivos, quando Deus nos propõe um banquete. Não precisamos das migalhas, mas do Pão da Vida.
Em verdade, não existe avivamento sem cruz, sem renúncia, sem lágrimas, sem devoção, sem morte. Avivamento não tem o som de festa, mas o som de choro e quebrantamento. Avivamento é o transpassar do barro pelos dedos das mãos do oleiro, enquanto o amassa. Avivamento gera cristãos fortes, comprometidos e focados e não fervorosos animadores de culto. Avivamento conduz a verdadeira adoração, a consciência de que somos lixo e de que Deus não necessita de mim ou de nada que eu faça. Avivamento nos leva a consciência de que sou eu quem necessita de Deus e isso me conecta ao Seu querer e a Sua vontade. Avivamento me leva a amar o pecador e abominar o pecado. Avivamento me leva a chorar pelos que se perdem, a amar os oprimidos, a buscar a cura aos enfermos, a clamar por salvação aos perdidos. Avivamento não é aparente, mas profundo e transformador.
Avivamento é iceberg, ainda que só percebamos uma parte que emerge a superfície, sabemos que a uma montanha escondida nas profundezas de nosso ser. E tal qual o iceberg, podemos até colidir contra os navegantes, podemos até nos ferir com a colisão, mas permaneceremos imponentes, sólidos e fortes nas profundezas do oceano.
Precisamos parar para refletir em que Deus é e em quem nós somos e despertar para quem está ao lado, para a criação que aguarda com grande expectativa que se manifestem os filhos de Deus (Romanos 8.20-22). Há mais de trinta anos, Keith Green cantava que estávamos adormecidos na Luz, estamos letárgicos, presos a uma religiosidade estéril que não produz conversão, mas adesão; que não gera mudança e transformação de vida. Mais recentemente, Leeland canta em uma de suas letras que quando um acorda, ele desperta o outro e quando três estão acordados uma cidade inteira desperta e percebe que Jesus Cristo é o Senhor! Mas que palavras, mas que eventos, mas que movimento, precisamos despertar para o Reino de Deus, abandonando os currais, desapegando-se das cargas e das pessoas, para amar o que Ele ama, ouvir o que Ele diz e fazer o que Ele faz (João 5.19).
Chega dessa mentalidade de oba-oba, desse cristianismo do agradável, da benção, da vitória, para vivermos o cristianismo da cruz, da morte, do sangue, da remissão. Esse cristianismo produz devoção, entrega, renúncia, amizade, amor, vida. Esse cristianismo nos desperta do profundo sono em que estivemos vivendo e nos faz viver o verdadeiro avivamento.
Dr. Lloyd-Jones pregou certa feita que o avivamento é uma necessidade da igreja de hoje, é uma emergência! Urge sermos avivados! E diz que quando realmente compreendermos o que produz o verdadeiro avivamento, seremos capazes e oraremos com fervor e tremor: “Senhor, aviva-nos! Aviva-nos!”.


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