Alucinação, a verdade do evangelho.
“Deus tem um tempo determinado para tudo, tudo é no tempo dele, cura, emprego, sorrisos e dias felizes”. nbsp;
Jeferson Queiroz
Tenho muita pena de alguns crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do, “me engana que eu gosto”.
Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões e pregações satisfatória, gostamos só das melhores mensagens. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, viver sempre empregado, ganhar na mega-sena, viver sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.
Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns morreram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram seus maridos agonizarem sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca ver a promessa se cumprir.
Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes(lobos vestidos de pastores) acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina ou esperar pelo milagre divino que vem no tempo de Deus, pode ser agora ou amanhã, mais vem – ou quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”, não que Deus não cure, ele cura sim, amis não sobre pressão humana ou dizimo alto. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes. Diria também que Deus tem um tempo determinado para tudo, tudo é no tempo dele, cura, emprego, sorrisos e dias felizes.
Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, os motoristas, os cozinheiros, as enfermeiras, os pedreiros, as professoras, vão ter dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.
Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.
Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentassem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos utópicos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.
Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando... Pode ser que uns poucos prestem atenção
26 de agosto de 2009
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