Blogroll

"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

9 de setembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA

A Hermenêutica é uma ciência muito valorizada na atualidade. Fala-se em Hermenêutica Histórica, Filosófica, Jurídica e, obviamente, Teológica. Fazer uma leitura hermeneuticamente correta significa, a grosso modo, interpretar devidamente aquilo que nos está sendo transmitido. Os meios variam, a forma objetiva da interpretação, não. A correta interpretação do mundo é o que nos possibilita fundarmos instituições, construirmos aquilo que chamamos de “conhecimento”; e isto também diz respeito ao universo bíblico. A Bíblia é um aglomerado de livros, o qual entendemos ser a Palavra inspirada de Deus. Quando falamos “Palavra”, referimo-nos a um discurso, um texto coeso, um logos racional, cuja interpretação correta é crucial para que entendamos o objetivo de Deus ter-se revelado. A Igreja não deve, portanto, economizar recursos – materiais e intelectuais – quando o assunto é o estudo da Palavra de Deus; estudo esse que deverá propiciar a correta interpretação dos textos sagrados. E o exercício da correta interpretação bíblica deverá influenciar diretamente até a maneira como encaramos a tarefa máxima da Igreja que é a transmissão da mensagem do Evangelho.
Um jargão que tem estado cada vez mais presente nos círculos cristãos é a palavra “contexto”. O entendimento contextual é, de fato, absolutamente necessário ao processo hermenêutico (interpretativo). Porém, contexto é uma palavra de ampla abrangência. O contexto vai muito além do que o simples texto anterior e posterior àquele que estamos lendo. Na verdade, assim como há diferentes processos hermenêuticos, para diferentes áreas do conhecimento humano, há diferentes subprocessos para a construção de uma sólida hermenêutica bíblica. Um desses é o conhecimento, não de um único contexto, mas dos “contextos” bíblicos, isto é, do contexto histórico que cerca o texto no qual estamos despreendendo tempo e leitura; o contexto sócio-cultural do autor e do destinatário; o contexto geo-econômico, teológico, político. Entender estas nuances constitui-se em um poderoso ferramental para que encaixemos com maior precisão as declarações bíblicas às suas respectivas realidades imediatas, para, daí em diante, podermos esboçar um elo com a nossa própria realidade hoje. Tendo em mente a característica da atemporalidade bíblica, devemos finalmente aplicar os princípios daquilo que estamos lendo à nossa própria vida.

Digno de nota é o fato de que, apesar de ser um conjunto de livros escrito por um período de aproximadamente 1.500 anos (3.500 a 2.000 anos atrás), a Bíblia mantém uma excepcional coesão intertextual. A racionalidade do corpus bíblico prevalece baseada – e melhor explicada – pelo princípio de inspiração e canonicidade, que foi adotado pela Igreja. Assim, é tarefa da Igreja, em todos os séculos, acumular os conhecimentos e descobertas que tiver feito acerca das Escrituras – e isto se dá pelo processo interpretativo. Não podemos dizer que, no período da chamada “Igreja primitiva” (até fins do primeiro século depois de Cristo), a doutrina da própria Igreja tivesse a multiplicidade e diversidade intterpretativa que vemos em períodos mais recentes. É importante ressaltarmos que, a despeito de toda a controvérsia que um assunto como este suscita ou já provocou, a oportunidade de povos distintos, com distintas culturas, florescerem como a mesma Igreja – até com suas diversidade interpretativas – é uma bênção, quando tudo o mais gira como algo periférico à centralidade da fé. Aqui, uso o vocábulo “fé” do modo que Paulo o faz na sua Primeira Carta a Timóteo, capítulo 4, versículo primeiro, quando refere-se a “código de doutrina”: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios”.
Observa-se claramente que, pelo texto anterior, o nosso “código doutrinário” será um dos alvos preferidos pelos principais opositores da fé. A apostasia, predita pelo apóstolo Paulo, que acontecia já nos seus dias, pode se dar por vários motivos diferentes, mas penso eu que um que é crucial é a frouxidão doutrinária com a qual a Igreja conviveria. É por isso que a doutrina é tão zelosamente preservada pelos apóstolos e discípulos de Jesus Cristo, nos primórdios da Igreja. Isto é patente nas cartas paulinas, gerais, nos livros e evangelhos. O texto conhecido como “Grande Comissão”, conforme foi registrado por por Mateus, em 19:20-21, afirma que os discípulos teriam a incumbência de irem fazer mais discípulos, batizando-os (…) e ensinando-os a guardarem todas as coisas que o Senhor Jesus ordenara. É necessário que, para que a suma tarefa da Igreja seja cumprida, ela mesma se muna de um ferramental necessário para que os discípulos que vierem a compor suas fileiras sejam, do mesmo modo, munidos do arcabouço espiritual e intelectual necessários, afim de que sejam, por sua vez, bons transmissores a outros. O correto entendimento da Igreja acerca daquilo que ela entende ser a “Palavra de Deus” é a cerne deste arcabouço; e a geração seguinte à que vivemos é aquela para com quem já possuímos uma dívida: a transmissão, hermeneuticamente correta, de tudo o quanto Jesus fez, viveu e ensinou.
Esta é a tarefa da Igreja. Não apenas falar, mas fazer discípulos. Engajemo-nos, pois, em fazê-lo!
Pr. Artur Eduardo para o site Cânticos.

0 comentários:

Postar um comentário

Comenta! Elogia! Critica! É tudo para o Reino!

Considere apenas:
(1) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com modos.

(2) A única coisa que eu não aceito é vir com a teologia do “não toque no ungido”, que isto é conversa para vendilhão dormir... Faça como os irmãos de Beréia e vá ver se o que lhe foi dito está na Palavra Deus!
(3)NÃO nos obrigamos a publicar comentários ANÔNIMOS.
(5) NÃO publicamos PALAVRÕES.

“Mais importante que ser evangélico é ser bíblico” - George Knight .