Condicionamento relacionado à culpa é coisa muito séria e persistente.
Lembro do tempo em que deixei de ser “membro local”, passando a dedicar-me exclusivamente ao “ministério itinerante”, quando, como nunca antes, senti a culpa de não ir “à igreja” no domingo cedo, na Escola Dominical.
Ora, não se tratava de um desconforto para o qual eu não tivesse uma resposta consciente e bíblica, porém, a alma condicionada, não reconhece nem mesmo as verdades da Palavra.
Assim, eu pregava a semana toda, no mínimo duas vezes por dia, mas, aos domingos de manha, eu queria descansar, já que à noite eu pregaria mesmo, de qualquer maneira.
Aí, porém, morava o problema; posto que ficasse sempre aquele sentimento de culpa, como se minha ausência do lugar fosse emocionalmente semelhante a ter se distanciado de Deus.
Prova disso está no simples fato de as pessoas se referirem à freqüência às reuniões como “ir à igreja”.
Há mesmo os que dizem que “não entram numa igreja” há muitos anos; embora eles mesmos não se sintam mais longe de Deus.
“Teologicamente”, todos os que estão em Deus estão na Igreja, embora, muitas vezes, não estejam em “igreja” alguma.
Entretanto, a designação da experiência com a igreja como sendo algo que caiba no movimento de ir ou não ir, já demonstra o dado psicológico de que a igreja é, para muita gente, um lugar; e, portanto, quando se associa tal realidade a Deus, não ir à igreja é, no inicio, como não ir a Deus, ou como estar fora de Deus.
Há o mandamento bíblico [Hebreus 13] no sentido de que não se deixe de congregar, como é costume de alguns.
Ora, isto é dito em Hebreus no mesmo contexto em que se denuncia a presença ritualística aos cultos, escravizando-se a alma aos padrões antigos, infantis e pagãos.
Portanto, não se diz que não ir seja um problema, mas sim se diz que o deixar de viver a vontade de encontro com os irmãos, é algo que pode dês-aquecer a alma e tirar a alegria e a exultação horizontal da pratica da fé.
Quando eu sou igreja [e assim entenda!], mesmo quando não vou aos encontros, sou; e isto jamais muda em mim.
Porém, quando a minha alma se desconecta do compromisso histórico da fé [que é sempre horizontal, e, portanto, com os irmãos], a primeira coisa que acontece é que se faz da não idaalgo mais sério do que de fato seja; e, em tal caso, torna-se algo sério, não por não se ir ao ajuntamento, mas sim em razão de que não se vai por se julgar existir uma briga entre nós e Deus.
E mais:
Muitas vezes não se acha uma comunhão espiritual que justifique a saída de casa.
Ora, em tal caso não se deve ir mesmo a lugar algum aonde se vá apenas para que se cumpra um rito mágico ou um dever devocional, pois, não tem sentido ou mesmo valor algum.
Durante uns três anos, entre 1999 e 2001, senti muito culpa quando minha mãe e minhas irmãs iam aos domingos de manhã à Escola Dominical e eu ficava em casa cuidando do jardim e descansando porque no sabado havia pregado o dia todo além da vigilia.
Parecia que eu estava negando a fé; e, por mais eu me dissesse que não era assim, no entanto, dado aos poucos anos de pratica, indo aos cultos pregar e ensinar todos os domingos, o sentimento se manifestava mesmo contra os meus argumentos.
Ora, é neste ponto que se percebe o quanto se está religioso.
E mais:
Sempre que tal culpa bate no coração não havendo razão para tal, é prova de nossa religiosidade.
Não devemos deixar de nos congregar; ao mesmo tempo em que congregar-se jamais deve ser algo movido pela culpa ou pela irrazoabilidade das neuroses religiosas.
Assim, se você não encontra mais onde se sinta bem para cultuar comunitariamente, ao invés de “se afastar de Deus” pela culpa da não freqüência, ame ainda muito mais a Deus e aos homens; e, desse modo, busque, sem neurose, uma boa oportunidade de encontrar os irmãos-amigos; ou, então, de iniciar uma comunhão simples com irmãos e irmãs amados e singelos no crer.
Não se faça culpado de uma culpa que não existe, se não está contente em sua igreja você pode procurar outra, mas não fique sem congregar!
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