Quando se reúne gente desta ou daquela Igreja para falar de ecumenismo, dois tipos de reações são possíveis. Um é de alegria por finalmente termos acordado para essa necessidade; é a reação mais comum porque pessoas que se dão ao trabalho de sair de casa para ouvir falar desse assunto em geral já estão interessadas nele e até inquietas por perceberem a urgente importância do tema. Mas é possível um outro tipo de reação, que acontece mais quando o pessoal é apanhado de surpresa. Aí há pessoas que perguntam (ou pensam, sem coragem de falar): Isso existe mesmo? E pode? Não será conversa simpática para atrair a gente para outro grupo? É coisa séria, que a Igreja poderia aprovar? Como se faz? Por que deveríamos fazer isso? Temos vários excelentes motivos para cultivar uma postura ecumênica. O primeiro – e mais importante – está embutido num pedido do próprio Jesus. Ele ora dizendo: Pai, que todos sejam um, para que o mundo creia. O movimento ecumênico mundial cresceu muito a partir do momento em que constatou na prática a sabedoria do que Jesus já tinha dito. Em 1910, na cidade de Edimburgo, houve uma grande assembléia missionária. Lá os destinatários da missão falaram da dificuldade que tinham em aceitar Jesus quando aqueles que anunciavam estavam divididos, quando um declarava que o Cristo da outra Igreja não era o verdadeiro. Em linguagem simples, poderíamos traduzir assim o recado que eles comunicaram: Entendam-se primeiro e depois venham juntos falar conosco porque de outro jeito fica difícil acreditar em vocês. Às vezes não percebemos, mas para quem nos olha de fora nossas divisões são um contra testemunho poderoso. Quando uma Igreja tenta crescer combatendo as outras a evangelização fica parecendo briga de supermercado disputando freguês. O evangelho não merece isso! Um segundo importante motivo é a própria necessidade de transformar a sociedade na direção dos valores do Reino. È tarefa gigantesca, que se realiza melhor em parceria. Muitas vezes nos dizem que não se pode mudar o mundo, que sempre houve guerra, injustiça, violência, que não há mesmo outro jeito de viver. Igrejas que conseguissem superar séculos de dolorosa história de rivalidades e acusações mútuas teriam uma autoridade muito maior para dizer ao mundo que a paz, a solidariedade, a superação do mal podem ser tarefas difíceis, mas não impossíveis. Além de serem mais fortes juntas, seriam um testemunho vivo da força reconciliadora do amor fraterno. Uma outra vantagem está nas qualidades que pessoas e Igrejas precisam desenvolver para se envolverem em trabalho ecumênico. Não dá para ser ecumênico de verdade sem paciência, humildade, amor à verdade, alegria pelo bem que outros realizam, lealdade, talento para ouvir sem preconceito, sinceridade, espírito de serviço, reconhecimento do valor alheio. Qualquer pessoa ou Igreja que desenvolva essas qualidades não estará somente mais preparada para viver o ecumenismo: terá dado em salto de qualidade tanto na direção da santidade como na capacidade de desenvolver boas e construtivas relações humanas. Temos também muito que aprender uns com os outros. Cada Igreja tem lá suas especialidades, suas experiências bem sucedidas. Todo ponto de vista é a vista a partir de um ponto. A realidade total é melhor percebida quando é vista de várias pontos que se complementam. O progresso, até mesmo na ciência, depende muito do confronto de posturas diferentes. A uniformidade não costuma ser criativa. Para quem gosta de gente, o relacionamento ecumênico tem uma atração a mais, imperdível: ficamos conhecendo pessoas ótimas, com capacidade para se tornarem companheiras, amigas. E não há como negar: fazer amigos é muito mais gratificante do que combater concorrentes...
Therezinha Motta Lima de Cruz | |
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10 de março de 2010
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Ser ecumênico? Por quê?
3/10/2010 02:17:00 PM
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