
Já fui provocado e desafiado a envolver-me em polêmicas, e bate-bocas principalmente religiosos. Vez por outra, sou desafiado por gente boba que acaba de sair de um seminário ou outros que estão a anos e pega carona numa controvérsia para ganhar fama e ficar conhecido.
Lamento afirmar, mas já caí na armadilha!
Por esses dias fui desafiado em um programa de rádio por um "pastor" metido a sabidão e inteligente, que se dizia conhecedor e estudado. Com perguntas sobre " o sexo de deus, os olhos dos anjos, usos e costumes, pintura, corte de cabelo, deve ou não deve... etc"
Nossas igrejas está povoada de intolerantes que se enxergam separados e sabidões metidos a conhecedores de tudo; e como se deliciam em ridicularizar e debochar dos que não se conformam com suas teses. A gente precisa ficar esperto para não embarcar em suas provocações.
Paulo aconselhou ao seu discípulo Timóteo que não entrasse em debates infrutíferos.
Seguindo seu conselho, preciso aprender a também debochar dos que me desafiam para o ringue teológico e escapar das teias montadas pelos que se enxergam escolhidos e sabidos demais para protegerem o que julgam ser a Verdade.
A um ano atraz li um estudo do moçambicano Mia Couto (Estórias Abensonhadas – Caminho, Portugal, 2002) e me acabei de rir. Parecia que ele conhecia o ambiente dos sabidões da teologia que se cresce no Brasil religioso; considerei tão interessante que transcrevo:
“Uma vez dois palhaços se puseram a discutir. As pessoas paravam, divertidas, a vê-los.
- É o que?, perguntavam.
- Ora, são apenas dois palhaços discutindo.
Quem os podia levar a sério? Ridículos, os dois cômicos ripostavam. Os argumentos eram simples disparates, o tema era uma ninharice. E passou-se um inteiro dia.
Na manhã seguinte, os dois permaneciam, excessivos e excedendo-se. Parecia que, entre eles, se azedava a mandioca.
Na via pública, no entanto, os presentes se alegravam com a mascarada. Os bobos foram agravando insultos, em afiadas e afinadas maldades. Acreditando tratar-se de um espetáculo, os transeuntes deixavam moedinhas no passeio.
No terceiro dia, porém, os palhaços chegavam a vias de fato. As chapadas se desajeitavam, os pontapés zumbiam mais no ar que nos corpos. A miudagem se divertia, imitando os golpes dos saltimbancos. E riam-se dos disparatados, os corpos em si mesmos se tropeçando. E os meninos queriam retribuir a gostosa bondade dos palhaços.
- Pai, me dê as moedinhas para eu deitar no passeio.
No quarto dia, os golpes e murros se agravavam. Por baixo das pinturas, o rosto dos bobos começava a sangrar. Alguns meninos se assustaram. Aquilo era verdadeiro sangue?
-Não é a sério, não se aflijam, sossegaram os pais.
Em falha de trajetória houve quem apanhasse um tabefe sem direção. Mas era coisa ligeira, só servindo para aumentar os risos. Mais e mais gente se ia juntando.
- O que se passa?
Nada. Um ligeiro desajuste de contas. Nem vale a pena separá-los. Eles se cansarão, não passa o caso de uma palhaçada.
No quinto dia, contudo, um dos palhaços se muniu de um pau. E avançando sobre o adversário lhe desfechou um golpe que lhe arrancou a cabeleira postiça. O outro, furioso, se apetrechou de simétrica matraca e respondeu na mesma desmedida.
Os varapaus assobiaram no ar, em tonturas e volteios. Um dos espectadores, inadvertidamente, foi atingido. O homem caiu, esparramorto.
Levantou-se certa confusão. Os ânimos se dividiram. Aos poucos, dois campos de batalha se foram criando. Vários grupos cruzavam pancadarias. Mais uns tantos ficaram caídos.
Entrava-se na segunda semana e os bairros em redor ouviram dizer que uma tonta zaragata se instalara em redor dos dois palhaços. E que a coisa escaramuçara toda a praça. E a vizinhança achou graça.
Alguns foram visitar a praça para confirmar os ditos. Voltavam com contraditórias e acaloradas versões. A vizinhança se foi dividindo, em opostas opiniões. Em alguns bairros se iniciaram conflitos.
No vigésimo dia se começaram a escutar tiros. Ninguém sabia exatamente de onde provinham. Podia ser de qualquer ponto da cidade. Aterrorizados, os habitantes se armaram. Qualquer movimento lhes parecia suspeito. Os disparos se generalizaram.
Corpos de gente morta começaram a se acumular nas ruas. O terror dominava toda cidade. Em breve, começaram os massacres.
No princípio do mês, todos os habitantes da cidade haviam morrido. Todos exceto os dois palhaços. Nessa manhã os cômicos se sentaram cada um em seu canto e se livraram das vestes ridículas. Olharam-se, cansados.
Depois, se levantaram e se abraçaram, rindo-se a bandeiras despregadas. De braço dado, recolheram as moedas nas bermas do passeio. Juntos atravessaram a cidade destruída, cuidando não pisar os cadáveres. E foram à busca de uma outra cidade“.
Gostei deste texto do Mia Couto. E a moral da estória seria: Aqueles que gostam de discutir apenas para ganhar pelejas ou apenas brigam para se aperecer e demonstrar o quanto são santos inteligentes, acabam se transformando em palhaços. E enquanto estamos dabatendo e desafiando nosso próximo só para provar para midia que eu sou "o cara" , muita gente pode morrer.
Assim, reservo-me a só conversar, sim, escultar, sorrir, chorar com pessoas que são simples, tecer os mistérios divinos e ser confrontado em ambientes onde existe afeto, compreensão, amor e respeito. Não quero cair nas artimanhas de palhaços metidos e arrogantes inteligentes. Se alguém quizer descultir, debater, desafiar, ou ir na frente da TV ou no radio só para na verdade se aparecer. Que procurem palhaços para o seu espetáculo de sabedoria santa !
É meu caro, situação complicada.
ResponderExcluirContendas inúteis.
Reservo-me a responder quando sou questionado, não chego a discutir, apenas exponho meus pontos de vista. Cabe a pessoa aceitar ou não.
Mas que tem gente que gosta de tirar a gente do sério, ahhh isso tem.
Abraço