Rafael Alberto / Redação
Nos últimos dias, têm-se intensificado a série de denúncias de possíveis abusos sexuais cometidos por membros da Igreja. Também aumentam as insinuações de que a hierarquia católica se omita e, em alguns casos, proteja os acusados. Nem o papa Bento 16 foi poupado das acusações.
O que os cristãos católicos, em plena celebração do mistério central da sua fé, que é o Tríduo Pascal, devem pensar desses acontecimentos? Em entrevista exclusiva a O SÃO PAULO, o cardeal dom Odilo Scherer pede senso crítico aos fiéis e garante que "a Igreja não nega, mas lamenta imensamente os males causados a outros e a ela própria por membros dela".
"A Igreja não ensina a cometer crimes, não os aprova e não os acoberta e deixa claro que cada um deve responder pelos seus atos perante Deus e a lei dos homens também", garante o cardeal. Leia a íntegra:
O SÃO PAULO – Como os cristãos devem agir diante de tantas notícias de escândalos de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja?
Dom Odilo – Os cristãos são convidados a ter senso crítico e a manter sua serenidade e sua confiança na Igreja. É preciso separar o joio do trigo. A Igreja não nega, mas lamenta imensamente os males causados a outros e a ela própria por membros dela. A Igreja não ensina a cometer crimes, não os aprova e não os acoberta e deixa claro que cada um deve responder pelos seus atos perante Deus e a lei dos homens também. Mas as notícias sobre uma presumida responsabilidade pessoal do papa no acobertamento de crimes de padres é forçada e instrumentalizada, em função de intenções não declaradas. E a aplicação dos crimes cometidos por alguns a toda a Igreja e a cada padre é injusta. Por outro lado, é preciso reconhecer que, quando se apontam "defeitos" na Igreja, ou nos seus membros, é porque se esperam dela e de cada um de seus membros comportamentos e atitudes que deixem claros e perceptíveis os altos valores e ideais que ela prega e nos quais ela crê. E isso também nos foi recomendado pelo próprio Jesus: "brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus" (Mt, 5,16). Isso é missão e tarefa de todos nós.
O SÃO PAULO – Bento 16, já na época em que era prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, fez muito contra a pedofilia. A que o senhor atribui essas tentativas de passar a imagem de que a Igreja é conivente com tais delitos, quando, na verdade, é muito severa nestes casos?
Dom Odilo – Primeiramente, é próprio da realidade da nossa Igreja que o bem de um membro seja o bem de todo o corpo; e o mal de um membro seja sentido por todo o corpo... Pena que se prefere lançar todos os faróis sobre os males e fraquezas existentes na Igreja, passando a impressão de que toda a Igreja está mergulhada num mar de lama. Toda pessoa bem intencionada sabe que não é assim. É preciso distinguir, e não lançar indevidamente os comportamentos reprováveis de alguns membros da Igreja a toda a Igreja. Tenho a impressão, infelizmente, que também existe uma ação orquestrada para, de modo forçado, responsabilizar pessoalmente o papa por todos esses males. É injusto, lamentável e causa muita dor. De fato, em primeiro plano não aparece a defesa das vítimas dos crimes, mas os ataques ao próprio papa e à Igreja. A quem isso interessa? Rezemos pelo papa e mantenhamos firme a nossa confiança na Igreja. Ela precisa, em cada um de seus membros, de constante conversão e busca da santidade; mas, tenhamos a certeza disso: Jesus prometeu estar sempre com ela.
O SÃO PAULO – Em relação à reportagem da revista "Istoé" da semana passada, afirmando que a Santa Sé está treinando exorcistas por atribuir os escândalos sexuais à possessão demoníaca... Existe esta orientação?
Dom Odilo – A reportagem citada é sensacionalista. Embora a Igreja nunca tenha deixado de ensinar que o demônio existe e é um ser pessoal, e não uma "energia negativa", e tenha sempre mantido o rito de exorcismos, não tenho nenhum conhecimento de alguma recomendação especial do papa para que, agora, se intensifiquem exorcismos na Igreja, nem que os exorcismos resolveriam o problema dos escândalos sexuais de alguns membros do clero... Isso é ridículo. O que resolve mesmo é a conversão da vida e levar novamente a sério os mandamentos da Lei de Deus, os preceitos morais decorrentes do Evangelho de Cristo e da lei natural. E isso é muito mais urgente que treinar exorcistas. Por falar nisso, já reparou que, antes do Natal e da Páscoa, costumam aparecer reportagens "de fundo" sobre religião e cristianismo? Geralmente são de cunho bastante sensacionalista e servem apenas para desviar as atenções do conteúdo central da nossa fé e da pregação da Igreja. Não devemos deixar-nos levar por essa "marquetização" da religião e da nossa fé. Nossa tarefa é promover com coragem e intensidade o anúncio da verdade e a formação das consciências à luz da verdade da Palavra de Deus e na retidão da lei moral.
Card. Dom Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo, 30.03.10
FONTE: Jornal " O São Paulo" / Arquidiocese de São Paulo/SP
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