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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

7 de maio de 2012

Um tristemunho que Deus transformou em testemunho


Este artigo vai ser um pouco mais longo que os demais. É um resumo de parte da minha vida, em especial o porquê de eu ter me “convencido”, e depois como fui verdadeiramente convertida a Cristo. Demorei para escrever sobre isso, por ser um assunto muito dolorido. Porém, as dores se passaram, tudo se fez novo, e espero que esse testemunho sirva para ajudar a muitos que sofrem por aí, inclusive por causa de “revelamentos” nas igrejas.
Desde sempre fui católica. Lembro-me pequenina, dez ou onze anos, indo sozinha à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Cambuci (São Paulo), assistir à missa semanal e para participar dos grupos (catecismo, filhas de Maria, depois grupo de jovens e Renovação Carismática). Sempre fui considerada uma pessoa muito inteligente, com uma incrível facilidade para aprender e para escrever (nunca faço rascunho dos meus textos, começo a escrever e rapidamente termino, com as idéias colocadas em ordem – talvez, se rascunhasse, poderia escrever coisas melhores). Essa “inteligência” fez com que, com o passar dos anos, embora continuasse aparentando a menina meiga e prestativa de sempre, por dentro me enchesse de orgulho e vaidade.
Dos meus quinze aos dezessete anos aconteceram coisas meio absurdas. Eu morava no último andar de um pequeno prédio e não havia imóveis altos ao redor, de modo que eu podia ver todo o céu da minha sacada. Todas as noites, eu “ouvia” um chamado para ir à sacada, e lá estavam um, dois, três, quatro OVNI’s que ficavam bailando na minha frente. Bastava eu gritar para alguém da minha casa ver os discos e eles fugiam na velocidade da luz. Mas na próxima noite lá estavam de novo, e então me cansei de chamar os outros e passei a curtir sozinha aquelas aparições.
Aos dezoito anos prestei meu primeiro concurso público, e passei. Aos vinte, comecei a trabalhar. E, um mês depois, começaram a acontecer coisas horríveis e inexplicáveis comigo.
Era muito estranho. Bastava chegar no trabalho, e eu começava a exalar cheiros horríveis, de forma que todo o setor ficava incomodado. Eram cheiros de enxofre, peixe, borracha queimada, suor, urina, fumaça. Era totalmente absurdo, mais ainda porque bastava eu sair do serviço e os cheiros sumiam. Pegava os ônibus, metrô, chegava em casa e tudo ia bem.
Isso ocorreu durante um ano, após o que tirei férias. Nesse tempo, todos os dias orava o terço inteiro em casa, louvava com meu violão, clamava a Deus, a Maria, e nada. O pessoal da igreja católica ia à minha casa fazer novenas, todos oravam comigo e nada adiantava. Durante minhas férias os cheiros desapareceram. Saía, passeava, tudo normal. Porém, no meu primeiro dia de trabalho tudo voltou. Pedi demissão, já que o problema parecia ser o serviço, mas acabei sendo afastada.
Fui ao médico. Primeiro, exames neurológicos, que não acusaram nada. Check-up também deu negativo. Então me enviaram para o psiquiatra, que passou a me tratar como esquizofrênica, afinal a esquizofrenia pode dar ilusão de cheiros. Durante sete anos estive licenciada, sendo que nos primeiros três fiz uso de vários medicamentos (Anafranil, Rivotril, Frontal, Efexor etc). Após isso, passei a mentir que tomava os medicamentos, já que não via resultado algum.
E nesses sete anos fui obrigada a repensar meu orgulho e vaidade. Ora, de que adiantava ser uma pessoa com um QI razoável, se não conseguia sequer colocar um pé na rua, com medo de cheirar mal e as pessoas me humilharem? Numa comparação tosca, dadas as devidas proporções, me sentia meio “Jó”, pois de uma hora para outra perdi meu serviço, meus estudos (queria fazer faculdade, mas como?), meus amigos (afastei-me de todos, não retornava ligações, afinal se me encontrasse pessoalmente poderia “cheirar mal”), meu namorado de seis anos (que se separou, afinal segundo ele eu era um “fracasso”). Só não perdi minha família, afinal morava com eles.
Duas vezes por semana eu precisava ir no psiquiatra. Então elaborei uma estratégia: aprendi a fumar. Assim, bastava colocar o pé na rua que eu acendia um cigarro, e fumava um atrás do outro até chegar novamente em casa, pois achava que o cheiro do cigarro poderia disfarçar outros cheiros que surgissem. Também descobri que, se estivesse “alegrinha”, os cheiros não aconteciam. Então, quando era necessário sair com os amigos, tomava todas as cervejas possíveis e impossíveis, até chegar num estado de um mínimo de lucidez, porém tendo que ser escorada pelos amigos. E cigarro, sempre.
No primeiro dos sete anos, passei a buscar explicação na Parapsicologia. Lá descobri que os cheiros eram materializações da minha mente, de coisas ruins que estavam em meu inconsciente. Fiz terapia por um ano com uma parapsicóloga e nada adiantou. Deixei o catolicismo e busquei o Mahikari (uma religião oriental que trabalha com energização por imposição de mãos). Depois frequentei a Messiânica (outra religião oriental), e minha ex-futura-sogra me indicou o espiritismo kardecista. Lá descobri que era “médium”, e que os cheiros eram dos espíritos desencarnados, que ficavam me atormentando, afinal eu tinha a capacidade de fazê-los se comunicar com os vivos mas não desenvolvia tal faculdade. Aí, a duras penas fiz o curso de médiuns e passei a trabalhar num centro espírita, onde fiquei por seis anos.
Numa das sessões, aconteceu algo que me encheu de esperanças: a sala se encheu com perfume de rosas, todos ficamos impregnados com tal perfume. Assim, achei que se continuasse lá poderia ser usada para a criação de cheiros bons, não ruins. Mas foi tudo uma ilusão.
Bom, como não tinha contato com seres de carne e osso (exceto no centro espírita e no psiquiatra), passei a viver pela internet. Lá conheci o Paulo Siqueira, hoje meu marido. Encontramo-nos, depois passamos a namorar. O engraçado é que ele nunca sentiu cheiro nenhum, e eu continuava sentindo quando saíamos, e percebia que as pessoas ao redor também sentiam. Mas enfim, depois de um ano de namoro deixei o centro espírita e me converti (hoje digo “me convenci”, pois me converti aos ensinos de um falso evangelho).
Passei a frequentar uma igreja perto de casa, que estava imergindo na batalha espiritual e G12. O pastor, apesar de muito bom e bem intencionado, estava naquelas loucuras de que é tudo eram satanistas atrás dos cristãos, tanto que logo de entrada me recomendou a leitura da trilogia do Daniel Mastral, livros que falavam sobre como o satanismo supostamente agia nas igrejas. Nem é preciso dizer que passei a ver o demo em tudo quanto era lugar, mas tinha que obedecer cegamente à minha liderança, um dos preceitos do G12.
Participei do tal “encontro”, fui no púlpito dizer que ele era “tremendo”, mas algo me incomodava. Cinco dias depois criei coragem e, após pesquisar na internet sobre o assunto, descobri que tinha cometido heresias naquele “encontro”. Pedi perdão a Deus, com o tempo deixei a denominação, e fui para outra.
Nessa outra, o pastor me disse que meu problema seria resolvido indo na Neuza Itioka. Inscrevi-me, contrariando o Paulo, afinal era a esperança de voltar a ter uma vida normal, sem cheiros ruins. Eu não sabia o que me esperava lá.
Quando fui chamada para a salinha, lá estavam a Liliam Latorraca e uma intercessora. Essa tal Latorraca é braço direito da Itioka, e disse que tinha sido “sacerdotisa da Fraternidade Branca”, ou alguma organização de et’s. Quando leu minha carta (todos têm que escrever todos os contatos esotéricos que porventura tiveram, mesmo antes de aceitarem a Jesus) e viu que eu via OVNI’s na adolescência, se exasperou, afinal já tinha tido o “revelamento”: os et’s haviam me abduzido, colocado chips em meus ombros e apagado esse fato da minha memória. Os chips eram para eu ser monitorada pelos demônios-et’s 24 horas por dia, segundo ela, e só ela sabia como tirar tais chips. Porém não poderia fazer nada por mim, pois eu havia pecado um mês antes e ela não acreditava que nunca mais eu iria pecar – caso eu pecasse, abriria uma brecha para os demônios-et’s atormentarem a mim e a ela, e a coitada temia isso.
Fui para casa arrasada, e arrasada fiquei por dois anos, tempo em que fiquei esmolando para os ministérios de libertação e cura interior Ágape (Neuza Itioka) e Shekinah (Jesher Cardoso) para ser atendida. Já tinha voltado a trabalhar (deixei a licença logo que me “convenci”), mas os episódios de mau cheiro continuavam. Não era o tempo todo, mas de uma hora para outra acontecia. Escrevi várias cartas, emails, ligava para esses ministérios, mas não conseguia ministração. Cheguei a me inscrever no Curso de Libertadores do Ágape (nesse consegui ser aceita, bastava manter em dia as mensalidades), mas abandonei, pois os “demos” não pareciam permitir – certa vez, estouraram os pneus do carro do Paulo no caminho para lá, em plena Radial Leste no horário de pico (18 horas).
Também tentava em outros ministérios. Fui, por exemplo, num “encontro apostólico” qualquer, e o preletor ficou uns 40 minutos falando de dinheiro, de oferta, e disse que quem desse seu melhor naquela noite, Deus lhe daria três desejos que ele colocaria em nossa mente até o final daquele ano. Eu tinha esquecido o talão de cheques justamente naquele dia, e como nunca ando com dinheiro (e como aquele encontro era antiquado, não tinha maquininha de cartão), o jeito foi dar o relógio que o Paulo tinha me dado meses antes. Porém, o tal ano acabou e os desejos (entre eles, minha cura dos cheiros) não foram realizados.
Enfim, minha vida cristã se resumiu, por anos, em obedecer a homens na tentativa de ser curada por Deus. Até que, finalmente, o Espírito Santo me abriu os olhos espirituais e minha ficha caiu (para a felicidade do Paulo), e passei a entender o verdadeiro Evangelho de Cristo, que nada tem dos aprisionamentos e superstições gospel.
Começamos a escrever em nossos blogs. Começamos a fazer protestos pacíficos em prol da volta do ensino do verdadeiro Evangelho. Pessoas feridas vieram nos procurar, e tudo isso foi sendo um bálsamo para mim, embora os cheiros volta e meia aparecessem para estragar meu dia.
Casei, um ano depois engravidei, amamentei meu filho até outubro de 2010. Em novembro do mesmo ano, ainda de licença-maternidade de 6 meses + férias, assisti por acaso (mentira: por obra e graça do Senhor) a um episódio do Enigmas da Medicina, e pasmem, nesse episódio o Espírito Santo me deu a resposta que procurei por tanto tempo…
Os cheiros que me perseguiam não eram obra de espíritos zombadores, como me diziam os kardecistas. Também não eram materializações do meu inconsciente, como a Parapsicologia me fez pensar. Muito menos cheiros dos locais por onde as naves espaciais passaram quando me abduziram, como me fez pensar o pessoal dos ministérios de libertação e cura interior. E muito menos eram obra de demônios que visavam me enlouquecer, como o “espírito santo” revelou a muitos profetas e profetisas de igrejas pentecostais, nas quais passei. Era muito mais simples do que tudo isso.
TMAU ou Trimetilaminúria. Esse é o nome da doença que, desconhecida pelos médicos e pela população brasileira, provoca cheiros horríveis ao redor dos seus portadores. Tudo ocorre por uma falha genética (gene FMO3, graças a Deus bem recessivo), que não permite que o fígado quebre as moléculas de trimetilamina e seus precursores (colina e carnitidina) dos alimentos. A não quebra das moléculas faz com que esse gás se acumule no organismo, até chegar num ponto em que ele sai por quaisquer poros do corpo. A válvula de escape dos cheiros tem ligação emocional, e isso explica eles não acontecerem quando eu estava em casa, mas sempre quando estava perto de outras pessoas (meu medo de algo acontecer desencadeava o processo). Não há cura ainda para esse mal, porém uma dieta bastante restrita controla a doença.
E é o que tenho feito desde então. São muito poucas as coisas que posso comer, e tenho usado suplementos alimentares para repor vitaminas. Sempre gostei muito de comer, e no começo foi muito difícil, mas agora já estou adaptada. E melhor, depois que descobri sobre a doença passei a pesquisar mais, e posso dizer que pelo menos 10 pessoas em todo o Brasil, que também sofrem desse mal, já entraram em contato comigo e estou passando para eles minhas experiências. No início, através de emails. Agora, através do blogTMAU Brasil.
Muitas foram as lições de tudo isso. Sei que bem daria um livro, e até um poderá ser. Mas as coisas mais importantes, resumidamente:
- tem muito “profeta” falando da sua mente, ou por direção de demônios, e achando que é pelo Espírito Santo. Ora, em todos esses anos, em todas as igrejas e congressos evangélicos que fui, com todos os líderes que oraram e impuseram suas mãos sobre mim, será que o Espírito Santo não ia dizer que meu problema era apenas uma doença rara? Por que Ele me faria achar ser uma endemoniada, ou uma atormentada por demônios-et’s? Bem sabemos quem é o Pai da mentira, e o que ele veio fazer. Quantos cristãos não são mortos em sua fé por conta de “revelamentos”?
- por mais talentos que tenhamos, não somos nada sem Deus e Seu Amor.
- tem muito líder pregando falsos evangelhos, evangelhos de escravidão, não de liberdade. Nesses ministérios de cura interior, por exemplo, Jesus Cristo não serve de nada, já que é preciso confessar todos os pecados seus e de seus antepassados. Um pecadinho que seja, escondido, é a desculpa deles para o milagre da libertação não acontecer. Fora isso, fica claro em meu testemunho que eles aproveitam as coisas que escrevemos para então dizer que foi “deus” quem revelou. Será que eu seria uma abduzida-chipada, caso não tivesse relacionado meus contatos com OVNI’s?
- enquanto buscava as orientações dos homens de Deus para a cura do meu problema, nada de bom aconteceu. Só obtive a “cura” quando finalmente deixei meu problema em segundo plano e passei a buscar a Deus simplesmente por quem Ele é, não pelo que Ele pode fazer. Maldito o homem que confia no homem.
- por mais problemas que parecemos ter, sempre há alguém que podemos ajudar. Essa doença bizarra e raríssima me proporcionou uma busca e pesquisa que está sendo de grande ajuda para alguns, e espero, muitos brasileiros que sofrem silenciosos por conta de uma doença que não é diagnosticada por desconhecimento, e que por isso mesmo é muito fácil de espiritualizar e, literalmente, de demonizar. Quantos, nesse Brasil afora, estão sendo vítimas de igrejas que “revelam” serem problemas espirituais doenças desconhecidas do grande público? E quantos não estão morrendo por causa disso?
- o verdadeiro Deus não deixa Seus Filhos sem resposta (embora, às vezes, ela pareça demorar a chegar). E a resposta sempre vem no tempo certo. Se eu soubesse do TMAU antes, faria a tal dieta paupérrima em colina, substância essencial para o desenvolvimento dos neurônios dos bebês. Meu filho poderia ter sérios problemas de retardo mental, mas é saudável porque pude me alimentar com todos os nutrientes que ele precisava. MUITO OBRIGADA JESUS, O SENHOR SEJA LOUVADO SEMPRE!!!!

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