Torna-se imperativo e é oportunamente válido destacar com letras garrafais que o problema não é a Igreja, mas sim as igrejas. É verdadeiro postular que os fundamentos deixados por Cristo e subseqüentemente preservados pelos apóstolos não são ultrapassados e muito menos ineficazes para a igreja da atualidade. Entretanto, o que me deixa profundamente decepcionado é perceber que inúmeras igrejas estão edificando propositalmente outra Pedra Angular para a Igreja e assim intencionalmente desfocando a esperança cristã dos recônditos eclesiais. Gente esta, que de forma voluntária tentam banalizar a obra da cruz, se esquecendo que a maior vitória que nós podemos ter nesta vida já foi suficientemente conquista por Cristo no Gólgota, a nossa salvação. Deste modo, em defesa da Igreja, que tanto amo e sirvo, declaro: “não quero uma igreja de vencedores!”
A máxima busca por uma igreja de vencedores tem sido compartilhada pelas diversas denominações evangélicas, e das mais diversificadas linhas teológicas. E por mais distinto que seja o mundo evangelical, uma máxima me parece estar sendo comum, e não seria exagero afirmar que até se tornou um clichê do evangeliquês pós-moderno. Estou me referindo a tão aclamada vitória que é vivificada nas bocas dos líderes que a engordurando de positivismo afirmam: “você nasceu para vencer”, ou se apresenta no costumeiro: “hoje a sua vitória vai chegar”, ou então o clássico: “você não vai sair daqui sem sua vitória”. Estes se esquecem que a função básica da igreja é reconciliar o homem com Deus, sendo, portanto, fundamental que a Eclésia prime por modelar os neófitos ao caráter de Cristo, não viciá-los em vitória.
O meu constrangimento surge da intenção de descobrir as razões do porque e o que queremos tanto vencer. E mais instigante ainda, o que seria, então, vencer? Na tentativa de responder a tais questionamentos temos que “cavucar” um pouco mais nos calabouços das igrejas. Inicialmente acredito que uma das principais causas de encontrar algumas igrejas fanáticas por vitória e não mais encantada com a simplicidade das boas novas de Cristo Jesus se justifica pela secularizada literatura cristã sobre o tema liderança. Literatura esta que se caracteriza mais como auto-ajuda motivacional do que necessariamente bases cristãs para a liderança. Fica claro que o modelo de simplicidade, humildade e espiritualidade estampado na pessoa de Cristo não é mais o predileto das mega palestras. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Na “crista da onda” deste turbilhão de desconstrução bíblica acerca da liderança está o famoso e aclamado autor John Maxwell que axiomaticamente não escreve livros sobre o assunto liderança pensando em modelos de igrejas, mas sim em gestão empresarial. Desde antes de meus tempos de estudante de teologia até a presente era os livros de Maxwel ditam o que é um líder vitorioso. E posso afirmar com toda segurança de que não é este o modelo que deveríamos estar ministrando em nossas igrejas, pois não contempla a espiritualidade e nem a dependência em Deus, mas concentra-se na força de vontade e na determinação humana. Aqui, vencer é conseqüência da capacidade de influenciar pessoas. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Outro fator que tem colaborado substancialmente para que algumas igrejas evangélicas prefiram pregar vitória ao invés da mensagem do Carpinteiro Jesus se dá, pelo triste fato, de que as massas só estão buscando Cristo para resolver os seus problemas pessoais. Logo, fala-se tanto de vitória nos púlpitos, pois as pessoas estão tão preocupadas em como resolver as dificuldades causadas pelas más escolhas que intencionalmente fizeram ao longo da vida. Estes fanáticos por vitória não conseguem entender que estar na igreja é assumir uma nova identidade, é viver como peregrino nesta terra e é desejar ardentemente a pátria superior. Não podemos aceitar a liturgia dos cultos se tornarem completamente antropocêntrica, visando somente o homeopático alivio do homem nesta terra. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Caminhando quase que ainda na mesma linha de pensamento, é oportuno ponderar sobre as descristianizadas músicas do ramo gospel que insistem no tom do vencer. Encabeçando esta frenética busca pela vitória e embalada pelos melancólicos acordes podemos destacar a música de Jamily, intitulada: “conquistando o impossível”. Este é o tipo de música que representa com exatidão a vitória que o público evangélico está buscando: “Acredite é hora de vencer, essa força vem de dentro de você (...) nossos sonhos, a gente é quem constrói...”. De repente, quase que sem sentido, aparece a palavra Deus no meio da música, como que em um suspiro de consciência religiosa. No entanto, fica notória que a cantada proposta de vitória centraliza-se na iniciativa humana. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Os cultos dominicais, momento este que limitadamente resume a fé de muitos, ali mais uma destorcida razão de vitória nos solta aos olhos. Estou me referindo a tão desejada “numerolatria” – neurose e paixão obsessiva por crescimento numérico. Por motivo de profissão e ministério sempre convivo com pastores e líderes evangélicos e neste ciclo já me acostumei com a pergunta: “quantos membros tem sua igreja?”. Ao que parece é isto que determina hoje se uma igreja é vitoriosa e bem sucedida. Ensinaram-nos a mensurar a obra de Deus pela quantidade de simpatizantes. Portanto, os membros se tornam clientes e a igreja uma grande loja de conveniência, daí a relação está estabelecida, afague o cliente que ele voltará outras vezes, e quase sempre trará mais outro cliente-membro. Sendo assim, a igreja consegue reunir grande quantidade de pessoas não pelo poder de transformação do evangelho, mas sim pela capacidade de entreter e satisfazer. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Há ainda algo que me incomoda muito mais nesta busca por construir uma igreja de vencedores. Um insight que me vem a mente é que o princípio básico para que haja vencedores é que igualmente haja perdedores. E se, ao que parece como descrito nas linhas acima, a vitória se resume a conquistas humanas, os perdedores também nesta relação serão humanos. Tal alínea é antagônico ao apóstolo Paulo, que afirma: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” – Efésios 6:12. Esta vitória que produz perdedores não é a maneira bíblica de vencer. Portanto, este tipo de igreja de vencedores eu não quero!
Por fim, não quero uma igreja de vencedores, pois estes insistem em ensinar que quem congrega nestas igrejas nunca fracassam a não ser que tenham dado brecha para o maligno ou por incapacidade de fé. O fracasso não é bom, disto tenho plena convicção. Contudo, não posso negligenciar o fator pedagógico presente no “não vencer”. O fracasso tem uma função didática de fundamental importância, pois prova o caráter e solidifica convicções. Gente que só sabe vencer não aprende a perder, daí quando este fatídico dia chega, os “vencedores” apelam (leia-se, abandonam a fé). Por isto o escritor de Eclesiastes afirmou: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.” – Eclesiastes 7:2.
Qualquer tipo de vencer que constrói seu júbilo sobre as cinzas dos outros não merece receber a coroa de vencedor. Qualquer vitória que não seja banhada pela pessoa de Jesus Cristo deve ser refugada pela cristandade. Qualquer sucesso que se centraliza na força humana não deve ocupar lugar na espiritualidade evangelical. Creio que todos querem ser vitoriosos, e a bem da verdade esta é uma atitude nobre. Entretanto, o que deve ser questionado é que tipos de vitória estão pregando em nossos púlpitos. Por fim, reafirmo que meu mais profundo anelo é vencer, em todos os aspectos da minha vida, mas não seguindo estes preceitos pregados pelas “igrejas vencedoras”.
Que Deus nos abençoe!
Fonte: Que post de Evangelho é esse?