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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

8 de abril de 2010

5 argumentos contra o marketing e a mídia na Igreja


por Jason Coker, do blog Pastoralia
(tradução gentilmente autorizada pelo autor)
5 argumentos contra o uso do marketing
e da mídia na Igreja


O evangelicalismo americano foi sempre pragmático com a mídia. De Charles Fuller a Billy Graham, a comunicação de massa tem sido utilizada para transmitir a mensagem do evangelho a multidões. Mais recentemente, nós nos esprememos em televisão, propaganda, posicionamento de marca e multimídia para atrair multidões e transmitir-lhes a mensagem. Videoconferências (parte da abordagem múltipla da igreja) são a última inovação aceita.

Simultaneamente, a Igreja americana está numa crise de frequência de membros e de caráter, e o debate missionário inclui parcialmente repensar a eclesiologia exatamente por aquela razão. Eu penso que é necessário repensar o nosso uso dos modernos métodos de marketing e tecnologia de mídia também. Tenho cinco preocupações:

A tendência ao engano:

A propaganda é um meio inerentemente capcioso. Tanto se estamos produzindo um comercial de TV ou produzindo um folheto ou vídeo, o propósito é geralmente persuadir alguém, e isso se sobrepõe ao nosso desejo inato de sermos vistos como melhores do que realmente nós somos.

Publicidade emocionalmente orientada é um substituto pobre para o fato de se ter uma identidade derivada de ser criado à imagem de Deus.

Exagero artificial do mundano:

Um dos meios mais efetivos de se conter as pessoas é tornar as coisas tipicamente mundanas mais atraentes. Na TV e no cinema, se consegue alcançar esta meta através de "eventos técnicos" artificiais, como edição, movimento de câmera, fading, trilha sonora, efeitos especiais, etc. Tudo isto cria a ilusão de movimento e profundidade a uma experiência que – de outra maneira – seria entediante (televisão e vídeo despidos de ornamentos são inerentemente chatos e entediantes).

Nós fazemos essencialmente a mesma coisa com os cultos na igreja, reuniões de jovens, e ministérios infantis. Nós construímos sets musicais de adoração e pregamos mensagens concebidas para produzir um crescendo emocional, ou usamos os artifícios da cultura teen americana como apetrechos do texto bíblico. Este tipo de publicidade exagerada cria uma falsa percepção da realidade uma perspectiva padrão autodestrutiva porque nós nos tornamos superestimulados ao ponto onde o nível normal de repercussão agora se torna o novo mundano. Quando as nossas velhas técnicas não funcionam mais, nós precisamos saltar ao próximo decibel.

A promoção exagerada é um substituto pobre para o ato de cativar a fé pelos olhos e ouvidos, de maneira que possamos reconhecer o mover de Deus nas coisas simples.

A mediação da experiência:

As pessoas tendem a pensar que elas experimentaram alguma coisa simplesmente por causa do que elas viram na televisão. Milhões de adolescentes acham que eles conhecem os Jonas Brothers por causa do Disney Channel. Na minha geração nós pensávamos que conhecíamos a Mônica e o Chandler também.

Um retiro de fim de semana pode ser uma experiência que muda a vida de muitas pessoas. Mas quando nós mostramos um vídeo disso no domingo, centenas ou milhares de pessoas de repente "se apropriam" da experiência. Porque elas pertencem a uma igreja que faz este tipo de coisas, eles se veem como participantes daquela realidade. Mas elas não são. Quanto mais tecnicamente eficiente a mídia, mais apropriação substitutiva ocorre e mais pessoas são levadas a um estado do qual eles não escapam (o verdadeiro significado da palavra "entretenimento"). Esta mesma mediação substitutiva pode ocorrer com a pregação, e é provável que ocorra quando as pessoas reais tenham sido substituídas por facsímiles visuais em vídeoconferências.

A mediação através da tecnologia é uma substituta pobre para a prática de discipulado.

A armadilha do posicionamento profissional:

Para ser um consumidor americano se requer que eu mantenha uma contínua suspensão da des-crença. O Wal-Mart me diz em milhares de maneiras que eles se importam com o meu bem estar. Mas eles não se importam. Como um consumidor pragmático eu estou a par disso. Trata-se de um segredo aberto que eu conheço desde que tinha 4 anos de idade e meus pais me ensinaram a assistir os comerciais de TV com suspeita. Mas mesmo que eu saiba disso, eu suspendo a minha des-crença de consumir porque eu quero acreditar que os produtos deles me deixarão mais feliz. Eu me disponho a experimentar isso na eventualidade disso ser uma verdade acidental. Isto cria uma dicotomia interna pela qual eu amo o comerciante (se eu gostar dos seus produtos) e duvido dele ao mesmo tempo. Mas eu convivo com o paradoxo desde que eles sejam os melhores ou os mais baratos ao mesmo tempo – ou ambas as coisas. Esta é uma enraizada resposta do consumidor aos sempre crescente esforços de marketing.

Quando as igrejas se engajam nas mesmas práticas de marketing nós estimulamos a mesma resposta dúbia. Se os materiais de marketing são bons, a pessoas são impressionadas porque o profissionalismo é um ponto de venda altamente efetivo; a aparência de competência torna mais fácil a suspensão da des-crença. Mas o que nós colhemos em troca não é um compromisso firme, mas uma lealdade à marca. Isto aleija as igrejas no longo prazo porque se trata apenas de uma questão de tempo antes que outra pessoa ofereça um produto de Jesus melhor ou mais barato. Pior, isto debilita a capacidade de crer do crente porque a nossa mensagem implícita é que o cristianismo é apenas outro produto de motivação dúbia à disposição no mercado.

Posicionamento de marca é um substituto pobre para o poder espiritual genuíno.

A deterioração de comunidades familiares:

A comunicação de massa tem uma tendência inerentemente fascista porque ela atomiza e imobiliza as pessoas com o fim de moldar o seu comportamento (não há necesidade de ditaduras em nações saturadas pela televisão). O resultado é um consumidor-espectador passivo. O mesmo fenômeno ocorre em igrejas que dependem de mídia de massa. Eis uma razão para isso: pequenas comunidades (famílias, tribos, etc.) aderem uns aos outros mediante presentes, mutualismo e afeto, e elas comunicam valores e tradições através dos laços familiares resultantes. Esta é a moeda dos pequenos grupos. Mas entre populações maiores as pessoas num conseguem manter uma plenitude de laços familiares. É aqui que a mídia de massa e o mercado entram. O mercado permite a mediação de relacionamentos numa população maior porque o dinheiro permite uma interação livre de obrigações relacionais. A mídia de massa preenche a lacuna de comunicação criada pela perda de familiaridade e, no retorno do feedback, a suplanta ao mesmo tempo, dirigindo a população ao mercado. Desta forma, quanto maior o grupo, mais orientado para o consumo ele se torna por necessidade, e mais ele precisa confiar na comunicação de massa para criar unidade, e mais a população se tornará passiva. De fato, quanto maior a população, mais necessário se torna criar passividade a fim de governá-la. Estou convencido de que esta é uma razão decisiva pela qual mega-igrejas lutam para se tornarem genuinamente missionárias.

Comunicação de massa e mercado são substitutos pobres para a comunidade genuína.

Permitam-me esclarecer: não estou sugerindo que a mídia não possa ser utilizada pela igreja com integridade. Penso que pode ser, e tenho amigos que o fazem – mas isto deve ser feito com tremenda precaução, mantendo em mente estes inerentes perigos e intencionalmente controlando-os. Por fim, creio que a chave para usar estes meios de comunicação é dizer a verdade e distribuir poder – um desafio não pequeno já que esses objetivos são geralmente opostos pelos meios que distorcem a verdade e obtêm poder pelo redesenho que fazem. Dizer a verdade e dar poder às pessoas através da mídia de massa é algo parecido com fazer paz com a guerra.

Fonte: Contorno da Sombra

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