Hermes Fernandes
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”.
Mateus 5:5
A palavra traduzida por manso no Sermão da Montanha é praus, que pode significar “gentil”, isto é, aquele que cede seu lugar, ou que não exige seus direitos, ou ainda, que não está apegado à coisa alguma. Do versículo 38 ao 42, Jesus nos oferece um quadro do que é mansidão. Ele diz:
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a caminha uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes”.
Somente quem não faz questão de nada, está pronto para possuir tudo. Os mansos é que herdarão a terra!
E é por não ter o coração em absolutamente nada, que o manso encontra descanso para a sua própria alma. Foi Jesus quem disse: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt.11:29b).
A Bíblia dá testemunho de que Moisés foi o homem mais manso da Terra em seu tempo (Nm.12:3). E podemos verificar alguns traços distintivos de sua personalidade. Tomando Moisés como referência, podemos afirmar que o manso manifesta as seguintes características:
1. Não está apegado a nada – “Pela fé Móisés, sendo já homem, recusou ser chamado filho da filha de Faraó. Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que, por algum tempo, ter o gozo do pecado. Teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito, porque tinha em vista a recompensa”(Hb.11:24-26).
2. Não é monopolizador – “Moisés (...) ajuntou setenta homens dos anciãos do povo (...) Então o Senhor desceu na nuvem, e lhe falou, e tirou do Espírito que estava sobre ele, e o pôs sobre aqueles setenta anciãos. Quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram (...) Josué, filho de Num, servidor de Moisés deste a juventude, disse: Moisés, meu Senhor, proíbe-os! Moisés respondeu: Tens ciúmes por mim? Oxalá que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!” (Nm.11:24-29).
3. Não guarda rancores – “Miriã e Arão falaram contra Moisés (...) Diziam: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? (...) Então o Senhor desceu numa coluna de nuvens, pôs-se à entrada da tenda, e chamou a Arão e a Miriã (...) A ira do Senhor se acendeu contra eles, e ele se retirou (...) Quando a nuvem se afastou de sobre a tenda, Miriã se achou leprosa (...) Então disse Arão a Moisés: Ah! Senhor meu, não ponhas sobre nós este pecado, que loucamente cometemos (...) Moisés clamou ao Senhor: Ó Deus, rogo-te que a cures” (Nm.12:1-13).
As qualidades manifestadas no caráter de Moisés encontram sua maior expressão em Jesus. Nunca houve, nem haverá alguém tão manso quanto Jesus. Ele abriu mão de tudo. Em nenhum momento advogou em causa própria. Por isso, o escritor sagrado nos conclama a olhar firmemente para Jesus, “autor e consumador da nossa fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb.12:2). Devemos aprender d’Ele, para sermos verdadeiramente mansos e humildes de coração.
Enquanto Moisés trocou o palácio de Faraó pelo deserto, Jesus trocou Sua glória pela dor da humilhação. Com muita maestria, Paulo nos pinta um quadro real do que Jesus foi capaz de fazer para que o propósito de Deus fosse executado. E diz que devemos ter “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp.2:5-8). De acordo com o apóstolo, ter o mesmo sentimento que houve em Cristo significa:
a) Nada fazer por contenda ou por vanglória, mas por humildade (v.3a);
b) Considerar os outros superiores a si mesmo (v.3b);
c) Não cuidar apenas do que é seu, mas também do que é dos outros (v.4)
Pode parecer simples, mas não é. Implica abrir mão de uma vida centrada no ego, na satisfação pessoal, para viver em função do bem comum.
O manso é aquele cuja escala de valores difere da do mundo. Para ele, o que faz a vida valer a pena é o propósito para o qual ela foi criada, e não os bens ou a reputação.
Paulo descobriu este novo estilo de vida, e foi capaz de abrir mão de tudo o que possuía. No capítulo 3 de sua epístola aos Filipenses, ele nos apresenta seu currículo, para depois rasgá-lo com a declaração: “Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo” (vv.7-8). Afinal, como disse o Senhor Jesus, “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc.12:15b).
Não há nada de errado em ter bens, o que não podemos é ser possuído por eles. Paulo diz que é chegado o tempo em “os que compram”, devem portar-se “como se nada possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não abusassem. Pois a aparência deste mundo passa” (1 Co.7:30b-31). Se tivermos que nos apegar a alguma coisa, apeguemo-nos à Palavra de Deus, pois ela não passa. As demais coisas são fugazes. Dinheiro, fama, conforto material, tudo isso é efêmero. Mas os que confiam no Senhor permanecerão para sempre. Afinal, são os mansos que herdam a Terra.
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Hermes Fernandes é um dos mentores desta subversão aqui no Genizah
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