"Sou pentecostal, amo falar em línguas estranhas. Mas, por favor, mas respeito. Falar em línguas estranhas não é um cursinho de ingles e espanhol." Jeferson Queiroz
Há uns quinze dias atrás, fui procurado por um teólogo católico alemão que pesquisava o movimento pentecostal no Brasil. Precisei desse rapaz em uma pesquisa sobre a igreja católica no começo desse ano. O jovem seminarista desejava conhecer melhor o que ele considerava como "o mais democrático fenômeno religioso" já visto. Extasiado com o que testemunhara na baixada fluminense, com novas igrejas brotando todos os dias, queria saber mais.
Realmente, o movimento pentecostal marcou o século 20. No Brasil, a Assembleia de Deus chegou a somar quase a metade de todos os protestantes. A capilaridade do movimento é fenomenal. Entre 2000 e 2007, como evangelista associado de uma missão, visitei todo tipo de congregações pelo Brasil. Espantei-me com a autonomia dos pentecostais, que nunca esperavam por determinações dos líderes para se expandir.
De onde vem essa enormidade numérica? As respostas variam. Os próprios pentecostais são categóricos: o Espírito Santo age em suas igrejas. Outros atrelam o avanço do movimento ao êxodo do campo. O teólogo Harvey Cox percorreu o mundo em busca de respostas. Concluiu que o sucesso do pentecostalismo se deve à sua capacidade de preencher o vazio de uma geração e alcançar "além dos limites do credo e da cerimônia para chegar ao âmago da religiosidade humana".
Acredito que o fenômeno das línguas estranhas explique alguma coisa. A princípio criticado por tirar as pessoas do pleno controle de suas faculdades, o falar em línguas estranhas (glossolalia) serviu para atrair milhões. A experiência de falar em uma língua desconhecida vem de John Wesley, que ensinou que a santificação dos crentes acontece em uma segunda experiência.
Assim, quando os cultos da rua Azuza, em Los Angeles, se tornaram notórios, essa segunda experiência não se restringiu à santificação; o êxtase veio acompanhado de línguas para capacitar na tarefa de evangelizar o mundo. Os crentes poderiam evangelizar as nações, sem precisar aprender idiomas; Deus habilitaria o missionário para pregar e ser compreendido. Os dois capítulos iniciais de Atos foram invocados como base. Assim, os pentecostais, desavergonhados, assumiram o falar palavras ininteligíveis como marca distintiva do movimento.
O pentecostalismo nasceu, portanto, da euforia missionária do início do século 20, que esperava o arrebatamento da igreja. Era necessário "apressar" a volta de Cristo evangelizando os confins da terra. Assim, enquanto as escolas tradicionais gastavam anos no preparo de evangelistas, o forno aquecido da reunião de oração pentecostal despachava milhares de pregadores leigos. Voluntários certos da capacitação extraordinária que receberam estavam dispostos a se embrenharem nos lugares esquecidos do planeta.
Enquanto fundamentalistas ressaltavam a necessidade de conhecer os idiomas originais da Bíblia para uma interpretação acurada, homens e mulheres semi-analfabetos afirmavam ter adquirido capacitação espiritual de não apenas entender as Escrituras, como também de proclamá-la além-mar.
Depois, os próprios pentecostais perceberam que a glossolalia não ajudava na comunicação do evangelho. Porém, para não abandonar a ideia de que o falar em línguas era um dom de poder, passaram a ensinar que o dom sinalizava o poder que reveste os crentes para serem mais eficazes em suas ações. Mais tarde, com o movimento de renovação entre protestantes tradicionais e católicos, línguas estranhas ganharam outro significado: comunicação íntima com Deus para a edificação do crente.
À medida que a doutrina se sofisticou, passou-se a considerar dois tipos de língua estranha: como sinal inicial do batismo no Espírito Santo e como variedade de línguas, para enriquecer a vida devocional.
Fui batizado no Espírito Santo em uma reunião de oração na Assembleia de Deus de Mauá - SP, em 1993. Falei em línguas em um êxtase que jamais esqueci. Dali, senti-me impulsionado a pregar.
Assim Como os primeiros negros americanos, parti para fazer missões, certo que Deus me revestira de seu poder. Sendo com doze anos, começei a viajar e pregar.
Infelizmente, observo que o dom de línguas perdeu valor e sentido entre os pentecostais.
Vale a crítica de que no pentecostalismo alguns se consideram privilegiados e menosprezam os que não falam em línguas, considerando-os menos especiais. Também, o movimento exagerou na individualidade do dom de línguas, que já não mobiliza para missões como em tempos passados.
Evangelistas gostam de entrecortar suas pregações com Línguas estranhas para se exibirem como ungidos. Atualmente, neopentecostais dão curso para ensinar línguas estranhas, com técnica e tudo mais. Já vi igrejas anunciando cursos e tipo de línguas estranhas que você pode escolher e aprender a falar. Basta se escrever e fazer o curso.
O pentecostalismo clássico no Brasil perdeu embalo. Engessado pelo legalismo e desarticulado por politicagem interna, cedeu espaço a igrejas neopentecostais midiáticas que usam a teologia da prosperidade como carro-chefe.
Já visitei programas de rádio em que o locutor estava falando línguas estranhas e brigando aos tapas com o sonoplasta por ter colocado o louvor errado. Em uma total falta de reverencia e respeito, quem está do outro lado ouvindo o "tal pastor" falar em línguas, vai se impressionar. Mas na verdade não sabe o que se passa do outro lado.
Sou pentecostal, amo falar em línguas estranhas. Mas por favor, mas respeito. Falar em línguas estranhas não é um cursinho de ingles e espanhol.
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