"Não gostam que o prendam... O importante é não pressioná-lo, porque, como sabem, ele é selvagem. Não se trata de um leão domesticado."
O texto citado acima faz parte da obra literária As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa, do escritor irlandês C.S. Lewis. A obra literária As Crônicas de Nárnia conta as aventuras e desventuras de algumas crianças (e de alguns adultos também, porém de maneira secundária) num mundo chamado Nárnia, e é dividida em sete livros que foram escritos separadamente. Esta obra era praticamente desconhecida no Brasil até o lançamento do primeiro filme, o que fez com que o livro fosse um dos mais vendidos no país. Esta obra foi um grande sucesso na Europa na segunda metade do século passado. Infelizmente foi superado pelas obras da escritora britânica J. K. Rowling com o seu Harry Potter.
As Crônicas de Nárnia tem muitos elementos cristãos, o que me leva a aconselhar aos internautas a lerem os livros da série. Entre os elementos cristãos, temos a figura do leão, que representa a pessoa de Jesus Cristo. Bem, aí está o "por quê" deste post.
Ao ler o trecho do texto citado acima, me deparo com uma reflexão: o leão é um animal selvagem. Quando digo selvagem, estou querendo dizer que o leão é um animal que não pode ser domesticado, ou seja, é um animal que não está adaptado para sobreviver, ou conviver, com a ajuda de (ou sob o controle de) humanos. Não pode ser educado aos nossos costumes, e nem pode ser ensinado para fazer nossas vontades. É um animal que não admite ser submisso a ninguém.
Não acho que foi por acaso que C.S. Lewis elaborou este pensamento. Com essa idéia, o escritor irlandês nos passa a imagem de que Jesus Cristo, sendo Deus, não pode ser domesticado. Deus não pode ser ensinado nos costumes dos homens. Deus não pode ser ensinado a fazer as vontades dos homens. Deus não pode ser moldado aos prazeres dos homens. Será que C.S. Lewis já convivia com um evangelicalismo que domesticava a Deus?
Uma coisa é certa: Lewis já apontava um terrível erro do evangelicalismo para o futuro. E esse futuro chegou a nós.
O que estamos presenciando em nossas igrejas é um evangelho onde Deus é ensinado a fazer as nossas vontades. Os líderes eclesiásticos estão apresentando um deus que pode ser moldado aos diferentes problemas da vida, e com um detalhe animador: para cada problema, há uma solução! Por isso, os pregadores evangélicos não medem esforços para trazerem o máximo de pessoas às suas igrejas, prometendo um deus que pode, perfeitamente, resolver qualquer problema da vida: seja enfermidade, seja financeiro, seja na vida amorosa, sentimental... Não há nada mais confortador do que isso: que Deus vive para mim e para resolver meus problemas.
Que tipo de transformação é operada nos corações dos evangélicos? Nenhuma! Por que é o homem que tem que ser transformado? Afinal de contas, Deus me aceita do jeito que sou, não é mesmo? E por isso mesmo, é Deus quem se transforma para ser acomodado às circunstâncias da vida de cada um. A única transformação operada é no status do homem: é só dar alguns R$ 1.000,00 para a igreja que já tenho direito a uma bênção! É só participar de algumas "campanhas financeiras" que a minha empresa irá prosperar! É só dar uns R$ 900 para ganhar uma bíblia (que custa uns 30 reais em algumas livrarias evangélicas) e minha vida já será transformada! É só dar o trízimo (dízimo para cada pessoa da trindade) que minha vida será recompensada! Simples assim!!!
Mais tem também uma mudança na saúde e na vida amorosa. Basta participar de algumas correntes (e levar alguns bons trocados no bolso), que aquele meu amor platônico será finalmente meu, ou que aquele vizinho que botou mal-olhado pra mim será castigado, ou que aquela doença incurável deixará de existir no meu corpo... Enfim, é uma infinidade de milagres que o deus domesticado irá operar na vida de todo aquele que se mostrar generoso ($$$$$) para com a igreja, ou para que algum programa de televisão se matenha no ar.
Francamente, estou enojado desse evangelho farrapado, minúsculo e mesquinho pregado nessas igrejas neopentecostais, apresentando um evangelho fácil, que não exige sacrifício do homem, que não exige transformação de vida, que não exige o abandono do pecado, que não exige temor e reverência da parte do homem para com Deus.
Todos esses profetas de Baal, ministros de Satanás receberão as devidas recompensas pelos atos praticados soberbamente e egoisticamente. A parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre (Ap 21.8). Não tenho dúvidas de que muitos desses falsos profetas serão desconsiderados por Deus no último dia: "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7.22,23).
Não é Deus que tem que ser domesticado, e sim o homem. É o homem que tem que aprender a fazer a vontade de Deus, a ser educado nos princípios e mandamento de Deus. É o homem que tem que ser submisso à vontade de Deus. Submissão essa que não considera nada em troca, senão unicamente a condição de dependência do homem a Deus. O homem precisar ser ensinado a reconhecer a sua condição de miséria por causa do pecado. O homem precisa aprender a chorar pelo seu pecado, a lamentar sua depravação, a morrer para os prazeres do mundo, da carne e do pecado e a reconhecer a soberania divina sobre a sua vida. O homem precisar ser ensinado a viver uma vida de acordo com os princípios bíblicos de santidade e pureza, olhando sempre para o alto, onde o seu coração deve repousar.
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