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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

12 de janeiro de 2012

“Caixa Pesada” e os “Ratos de Ouro”

 

"Caixa Pesada" era o apelido de José da Silva, um pedreiro fluminense, que andava sempre com uma caixa entulhada de ferramentas, quando ia exercer o seu ofício de pedreiro. (QUEM SABE DELE FOI COPIADA A CAIXA DE FERRAMENTAS USADA PELA HEROÍNA "PEREIRÃO" DA NOVELA GLOBAL!)

Ele não gostava do apelido, mas achava que o dito lhe caía bem e por isso deixou de contestá-lo. Com o curso secundário incompleto, oCaixa (que não é Econômica) tinha prazer na leitura e andava com uma porção de revistas, para se distrair na hora do almoço.

Certo dia, Caixa entrou numa igreja, onde o pastor pregava prosperidade, sinais e maravilhas, e, mais que depressa, resolveu se "converter", pois estava cansado da vida simplória, misturando cimento, areia, pedra e água, empurrando carrinhos de mão cheios de tijolos e pedras e escutando, várias vezes ao dia, um mestre de obras exigindo mais urgência na construção, pois "o doutor engenheiro não gosta de moleza!"

Caixa começou a ler a Bíblia, tendo encalhado no Velho Testamento, no qual o pastor da igreja era totalmente "viciado", mesmo porque o Novo, (principalmente as Cartas de Paulo), não dá lucro e nem pode ser floreado. Isso porque é o Evangelho da Graça, condenando as obras da lei, as quais os crentes, espiritualmente débeis, continuam praticando, por exigência dos pastores modernos. (Leiam GÁLATAS, por favor!)

Certo dia, quando lia o Primeiro Livro de Samuel capítulo 6, sem entender bem o contexto do capítulo, Caixa teve uma ideia, que deve ter vindo do abissal porão do engodo, ou seja, a de fundar a sua própria igreja. Procurou, ali mesmo, descobrir um nome para a  futura "casa de oração" e seus olhos caíram sobre a expressão "ratos de ouro"."É esse, é esse mesmo! Vou faturar com ele!"

Sua casa - num lugarejo perto de Caxias, RJ - tinha um quintal espaçoso e foi ali que o Caixa construiu  sua "igreja", usando a própria mão de obra e uns trocados que estavam guardados na CEF, para  serem usados, futuramente,  na  expansão da casa, quando a família crescesse.

A novidade chamou a atenção dos vizinhos, que depressa afluíram à nova "instituição eclesiástica", trazendo muitos convidados, os quais ficavam maravilhados diante da "promessa divina" de riqueza fácil. Agora ostentando o pomposo título de "Doutor em Teologia" (comprado de um vendedor de títulos eclesiásticos, amplamente anunciados na Internet),  Caixa pregava ostensivamente a "Palavra", enveredando no labirinto da fé/prosperidade, conforme havia aprendido nos livros de Kenneth Hagin, Benny Hinn, Peter Wagner e outros malandrões da Reforma Apostólica,  traduzidos para a língua vernácula.Caixa continuava um assíduo leitor do Velho Testamento e  dos "teólogos da prosperidade", esperando que a Igreja Pentecostal Ratos de Ouro lhe trouxesse muito lucro e o prestígio com o qual sonhava, desde os tempos de pedreiro.

A "sinagoga", impropriamente chamada "igreja", foi crescendo, agora funcionando num belo edifício. O barulho da banda Funk, os gritos alucinados  da plateia e os "sinais e maravilhas" ali apresentados eram estonteantes! O povo continuava vibrando de emoção e pagando pelos cultos-shows ali apresentados. Caixa não usava mais aquelas calças Jeans e camisetas baratas; andava de terno e gravata, de marca, com uma aparência de Lord inglês.

Passados alguns anos, o Pr. José da Silva havia comprovado ser, realmente, um "Caixa Pesada", pois sua conta na CEF agora apresentava um saldo piramidal! Firmado em seu novo ofício, com a igreja sempre lotada de gente esperando enriquecer e ser abençoada pela fiel entrega dos dízimos e ofertas, o "pastor" continuava pregando, sem o menor pudor, sinais, maravilhas e prosperidade no púlpito de madeira de lei com tampo de cristal... Claro que houve uma enorme prosperidade... para o Caixa.

Quando a poupança na CEF já estava bem mais gorda dos que os "ratos de ouro" e as "hemorróidas"  do I Samuel, Caixa teve mais uma de suas costumeiras "visões" e deu um testemunho, que sensibilizou profundamente os membros da "igreja": "Meus irmãos, eu tive uma visão gloriosa!!! Vi claramente o Senhor Jesus chegando até a minha pessoa e dizendo: 'José, você tem um carro pequeno e isso não condiz com a prosperidade de sua igreja, nem de suas ovelhas. Você precisa de um carro maior e melhor, digamos um "Corola", pois o saldo na CEF deve ser usado para que o meu povo compreenda que realmente minhas promessas não falham. Amanhã mesmo, compre esse carro para você e um Peugeot para sua mulher... Isto é uma ordem!'". (Todo pastor que tem visões acaba criando uma seita perigosa!)

As incautas vítimas do engodo, sempre distanciadas da leitura do Novo Testamento e obviamente enroscadas nas artimanhas dos pastores malaquianos,   acreditaram piamente na visão de Caixa.  Dias depois,  o ex-pedreiro apareceu com um carrão importado, mostrando a todos os fiéis da "igreja'' que eles poderiam também possuir um carro igual, se continuassem fiéis "ao Senhor",  na entrega dos dízimos e ofertas.

Na semana seguinte, Caixa desceu à cidade grande, a fim de pregar "prosperidade" numa igreja incipiente, na zona norte da cidade do RJ. Na volta para casa, depois de um lauto jantar na casa do futuro "anjo próspero" de mais  uma igreja malaquiana, meio sonolento ao volante, de repente Caixa foi obrigado a frear o carro, pois havia uma barricada, a poucos metros de distância. Seis homens encapuzados surgiram do nada e o obrigaram a sair do carro, que por eles foi levado;  e só não o mataram porque Caixa não reagiu e ainda lhes mostrou a carteira de pastor, provando que não era um policial e implorando piedade (um dos bandidos era crentel e se comoveu com a "humildade" do Caixa). Naquela noite fatídica, José da Silva dormiu num cantinho do asfalto, até que o dia clareou e ele pôde usar os 20 Reais que havia escondido na capa da Bíblia e conseguiu voltar para casa.

Agora ele está dirigindo o Peugeot da esposa, funcionária da Prefeitura de uma pequena cidade serrana, cujo salário jamais daria para comprar sequer um Ford KA, e muito menos um Peugeot. MasCaixa é "very clever" e já está bolando uma "visão" espetacular, com redobrados pedidos de dízimos e ofertas, para conseguir um carrão. Ele sabe que logo estará comprando mais um carro importado, pois a prosperidade pode não ser uma realidade espiritual para os membros das igrejas malaquianas, mas para os pastores... "of course que sim" ... Como diria o personagem de uma novela antiga.

 

(Sátira inspirada num caso verídico - atualizada em 2012.)

Mary Schultze, www.marychultze.com

1 comentários:

  1. Ah, eu já i isso...Lembrei! Aqui em João pessoa tem m "após-tolo" que tem um programa de rádio... Ml sabe falar... Na igreja dele tem uns famigerados carnês de oferta, e ele sempre convoca os irmãos a manterem seus carnês em dia, pois, segundo ele, "Deus me falou que quer me ver andando de Hilux Zero!"...

    Durma-se com este barulho!!

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