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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

30 de novembro de 2009

Topa tudo por dinheiro (gospel?)



Por Jacqueline Emerich

Um dia desses liguei a TV enquanto estendia roupas na área de serviço da minha casa. Sem saber bem em que canal o aparelho estava sintonizado, vi de relance uma platéia enorme, batendo palminhas ritmicamente. Por um breve momento pensei estar diante do programa de auditório Topa Tudo por Dinheiro, que, aliás, nem sei se ainda está no ar.

Logo vi que não era o famoso programa. Não era o Sílvio nem o Lombardi, tampouco havia aviõzinhos de dinheiro voando sobre a cabeça da mulherada eufórica. Era mais um programa evangélico apresentado pelos vendedores da fé. Mas não era um culto, não! Era um show... Sim! Um show da fé!

As palminhas acertadas que vi no início logo fizeram sentido – eram os fiéis cantando as canções do pastor. Mas o que me chamou atenção e me fez parar o serviço doméstico foi o momento dos testemunhos: um irmãozinho queria testemunhar sobre a cura que Jesus lhe proporcionara. Ele bem que tentou, mas não conseguiu terminar. O missionário logo o apressou para a parte mais interessante – a fidelidade de Deus depois de uma rechonchuda oferta para a igreja (o famoso sacrifício).

A verdade é que já está ficando chato falar sobre esse tal de comércio da fé. Está tão comum e banal as presepadas desses charlatões travestidos de bispos e missionários que criticá-los já não me anima tanto como outrora.

Confesso que estou meio enjoada ao escrever estas palavras, mas o fato é: vomitar algumas idéias numa página de internet é mais curador do que permanecer com o estômago embrulhado. Se fosse propaganda de sal de frutas, eu diria: é Alívio já!

Bem, depois de assistir ao Topa tudo por dinh... ops! Quer dizer, ao Show da Fé, bisbilhotei pela internet a casa de certo bispo canastrão e, admito, minha ira duplicou-se! Não, não foi a mistureba de estilos da casa que me irou - estilo normando, barroco, neoclássico e um pouquinho de rococó (se bem que, como arquiteta, isso já seria motivo suficiente para me nausear).

O que me ferveu o sangue foi ver incrustado nos móveis, no linho fino das cortinas, no lustre da sala e na cama colossal de veludo vermelho da suíte de 100m² do bispo Macedo o dinheiro de um povo cego. Sim, cego!

Às vezes me pego em dúvidas quanto ao tipo de sentimento a se ter com essa gente: não sei se sinto pena ou raiva.

Será que está tão difícil assim distinguir o evangelho sadio - o Evangelho de Jesus Cristo - desse evangelho doente e aprisionador que tem sido pregado sem nenhuma vergonha, com a cara mais lavada do mundo, pelos lavadores de dinheiro do mundo gospel? Será que está tão obscuro assim que ninguém vê a exploração da própria fé?

Infelizmente a resposta é SIM. Sim, está difícil distinguir esses dois evangelhos. Por quê? Bem, arrisco-me a dois palpites. O primeiro é que a maioria do povo que vive esse evangelho doente e de barganhas não está interessada em servir ao Rei, muito menos a tomar para si a cruz que Jesus exigiu de seus discípulos.

Estão mais interessados em servir aos seus próprios interesses – querem a “benção” material. Daí o interesse em permanecer num evangelho cor-de-rosa, no qual mansão, carro e poupança gorda é que é sinal de benção divina, e o sofrimento é coisa do diabo, o câncer é fruto de algum pecado e o desemprego é conseqüência da infidelidade nos dízimos e nas ofertas. (Neste momento estou dando tchau pra mensagem de sofrimento e perseguição da carta de Pedro aos forasteiros da Dispersão).

O segundo palpite é que nem mesmo esses tutores (ou pais-de-santo? Sim... porque são tantas as macumbas gospel!) entenderam a mensagem do Evangelho. E, se o fizeram e ainda assim continuam a armar esse circo em torno do cristianismo, é porque gostam mesmo é de encenar e tripudiar a fé dos outros.

Como cristãos precisamos ter compaixão não só pelas “almas perdidas”, mas também pelas “almas escondidas”. Almas escondidas em templos megalomaníacos, escondidas em envelopes de dízimos, escondidas em casas luxuosas, em carros importados. E ainda interceder pelos machucados de todo esse teatro grego, aqueles que ficam traumatizados por esse abuso espiritual e acabam tendo ojeriza pelo Evangelho sadio de Jesus.


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Jacqueline é estudante de Arquitetura na UFMT, membro do grupo da Aliança Bíblica Universitária de Cuiabá-MT, e articulista do site Visão Integral. Via: Púlpito Cristão

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