21 de novembro de 2009
É proibido Pensar?
Entrevista com João Alexandre
João Alexandre Silveira nasceu em 29/9/64. É casado com Tirza, com quem tem um filho, Felipe.
João tem sido um profeta da música evangélica brasileira. Suas composições, sempre comprometidas com a Palavra e com a realidade, tanto social, política, quanto religiosa (e principalmente evangélica - triste realidade) são um alento em meio a tanta superficialidade e falta de criatividade e brasilidade em nosso meio musical.
CRER E PENSAR: João, seu novo CD, “É Proibido Pensar”, mal foi lançado e já virou comentário nacional, por causa da faixa-título e de um vídeo que faz sucesso na internet. Você esperava essa repercussão toda?
JOÃO ALEXANDRE: Esperava, mas nem tanto assim!
Minha música foi composta, intencionalmente, com todas as frases em letras minúsculas e as imagens do vídeo colocado no YOUTUBE, criadas por um internauta, por sua própria conta e risco, transformaram as frases em letras maiúsculas no ouvido das pessoas, por assim dizer, acirrando e atiçando uma discussão que já vem de muito tempo, inclusive em sites como o seu, CRER E PENSAR, entre outros!
Até quem não é “evangélico”, acabou assimilando a intenção da música por causa do vídeo e percebendo que nem todos os cristãos são condescendentes com tudo o que lhes é pregado nas igrejas pelo Brasil afora, portanto não sei se ele (o vídeo) foi ruim, acho que não!!Digo isso, porque está cada vez mais difícil dizer que os evangélicos são interdenominacionais, já que pregamos evangelhos diferentes, é ou não é?Penso que, se alguém tem que fazer críticas à Igreja, que seja ela mesma, certo?
Trabalho com Música há mais de 25 anos e nunca gastei dinheiro com divulgação, raramente faço lançamentos de meus CDs, sempre foi no boca a boca mesmo, pessoas que indicam meu trabalho pra outras pessoas!
Sendo assim, muita gente que nasceu, digamos, de 20 anos pra cá e que convive diariamente com toda mudança imposta no cenário cristão brasileiro desde então, acaba nem percebendo, no seu dia a dia, o quanto a MÍDIA, principalmente a MÍDIA cristã (rádios, televisões e a própria INTERNET) nos transforma em reféns, subjugando, além dos nossos ouvidos, também a nossa mentalidade!
As críticas que recebo, normalmente são distorcidas, desfocadas e desassociadas de meu trabalho com um todo, já que, quem realmente me conhece de perto e conhece minha trajetória, sabe que não componho só músicas desse tipo, muito menos sou membro ou “fundador” de algum movimento revolucionário anticristão que visa “dividir” a Igreja de Cristo, sou só um cristão músico!
Assim como um espelho, acho que essa música acabou por refletir especificamente em cada um, o comportamento da própria Igreja, da qual todos nós fazemos parte e, convenhamos, ver a própria imagem refletida agrada a alguns mas desagrada a outros, fazer o quê???!
Quando digo comportamento, me refiro aos desvios causados por ministrações malucas, associadas à distorções na pregação do evangelho, que, ao invés de trazer ao homem a Graça de Deus e o perdão incondicional para seus pecados, acabam por restringir o Todo Poderoso a “gente que faz”, mediante negociações com o Céus, como se isso fosse possível!
Se as outras canções que compus, CORAÇÃO DE PEDRA e TUDO É VAIDADE, não menos sutis e confrontadoras do que esta, fossem gravadas agora, seria a mesma coisa, ainda mais associadas a um vídeo, um estardalhaço total!
CRER E PENSAR: Você já trouxe, em outras canções, críticas ao modelo de igreja que percebemos crescer no Brasil (“Tudo é Vaidade”, “Coração de Pedra”, “Em Nome da Justiça”). Há espaço para a música crítica e de denúncia no espaço “gospel” brasileiro?
JOÃO ALEXANDRE: Mais do que cantar o que as pessoas gostam de ouvir, é preciso cantar o que elas precisam ouvir!
Músicas, não de açúcar, que adoçam os ouvidos, mas não mudam o coração e sim, música de sal, que entram pelos ouvidos, batem no coração, saem pela boca e temperam o mundo, conforme a ordem de Jesus!
Quando minha mãe me mandava arrumar meu quarto, eu ficava louco de raiva, mas ela tinha razão!
Assim acontece com qualquer crítica no sentido de tomarmos alguma atitude!
CRER E PENSAR: Quais são suas influências musicais? E quais pensadores cristãos você gosta de ler/ouvir?
JOÃO ALEXANDRE: Musicalmente, eu diria TAKE 6, Boca Livre, 14 Bis, Dori Caymi, Cezar Camargo Mariano, Leni Andrade, Bossa Nova em geral, Leonardo Gonçalves, Lenine, Céu na Boca, Carlinhos Veiga, Gladir Cabral, Stenio Marcius, Edilson Botelho, Kerr, Bolmilcar, Pimenta, Jorge Camargo, Gerson Borges, Estilo de Vida e por aí vai, mas gosto daqueles que têm uma veia brasileira, de preferência!
Tem muita gente conhecida e desconhecida e seria uma lista interminável e injusta até,, já que ouço de tudo mesmo, até algumas verdadeiras porcarias que não citarei aqui, mas que me ajudam a fugir delas ao invés de copiá-las!!!!
Mas, confesso que só ouço música quando preciso de referências, não vivo ouvindo música dia e noite não!
Entre os pensadores, Francis Shaeffer, Henry Nowen, Russel Shedd, Ariovaldo Ramos, Caio Fábio, Ed René, Ricardo Gondim, Ricardo Barbosa, Bráulia Ribeiro, Philip Yancey, entre tantos outros e especialmente você, Júnior Barbosa, com incríveis e inteligentíssimos artigos colocados em seu site!!
CRER E PENSAR: É difícil ser um músico cristão realmente comprometido com a Palavra?
JOÃO ALEXANDRE: Se ele não for comprometido com Jesus, não é cristão, porque, assim como outras tantas atividades e profissões que existem, ele está sempre exposto às pessoas e à critica alheia!
Colocarei a opinião do grande Abraham Laboriel, que faz parte do meu livro “ Músico: Profissão ou Ministério? “:
O Senhor repetidamente nos advertiu sobre os perigos do julgamento temerário. Não obstante nós continuamos a praticá-lo repetidamente. O trabalho de muitos músicos é bastante visível aos outros, seja ele um trabalho ao vivo ou gravação em estúdio. As pessoas que assistem tais músicos trabalhando chegam a pensar que estão em posição de julgá-los. Elas não estão. Estas pessoas são as mesmas que pensam saber quais ritmos são divinos e quais aqueles que não o são, quais progressões harmônicas vêm de Deus e quais vêm do Diabo, quais passos de dança que são corretos e quais os que são pecaminosos. O músico é responsável por sua própria conduta e será conhecido pelos seus frutos.
Não é de se surpreender que muitas pessoas tenham reservas quando se trata de ouvir as Boas Novas do amor de Deus. Aqueles que endureceram os seus corações contra o Evangelho, ou pior, contra o Evangelho o qual pensam ter ouvido, mas não ouviram, são bastante hostis à idéia de se relacionarem com qualquer “cristão”. Muito freqüentemente, estas pessoas aprendem mais sobre juízo do que propriamente o amor de Deus quando em contato com muitos cristãos.
Aprendi que sou sempre aceito na proporção em que amo de maneira genuína aqueles com quem convivo. Não tenho direito de fazer qualquer outra coisa. Algumas vezes as pessoas gracejam comigo — dizendo que não podem xingar ou contar as mesmas piadas que contariam se eu não estivesse por perto. Eu nunca disse a nenhum deles o que fazer. Mas por causa do amor deles por mim — e, creio eu, por causa da presença de Deus, que é gracioso em habitar em mim — minha presença, algumas vezes, constrange certas pessoas a não praticarem certas coisas. Tudo o que desejo ser é um servo genuíno e um amigo, assim como Deus me chamou a ser. Dito isso, estações de radio que tocam canções que com conteúdo explicitamente satânico, com espiritualidade Nova Era, com mensagens Hindu e Budistas, distanciam-se até mesmo da musica jazz instrumental que faça a menor menção de Deus ou de Jesus. Somos chamados a construir pontes, a derrubar os muros existentes entre nós e outras pessoas à medida que permanecemos fiéis ao Senhor que nos amou antes mesmo de O conhecermos.
CRER E PENSAR: Você tem valorizado, nos últimos CD's, compositores brasileiros que não estão na “mídia gospel”, como Stenio Marcius, Gladir Cabral, Edilson Botelho, que são compositores e poetas brilhantes. Na sua opinião, por que esses “feras” não são tão conhecidos?
JOÃO ALEXANDRE: Por causa do subproduto da mediocridade musical imposto no Brasil, dentro e fora do meio cristão!
Assim como a comida, a bebida, as roupas, o carro, o emprego, a carreira, etc., música é uma questão de escolha, portanto, cada um tem a música que merece, é triste, mas verdadeiro!
O único problema é que a Fé vem pelo ouvir, então, é bom não ouvir “qualquer” coisa pra não comprometer a nossa Fé, só isso!
CRER E PENSAR: Uma última pergunta: Afinal de contas: Quem poderá resolver nosso problema? Rsrs
JOÃO ALEXANDRE: A resposta é implícita, pois também cada um tem o Evangelho que merece!Particularmente, acho que serão os que pensam!!!“
O meu povo padece porque lhe falta entendimento”
“Amar a Deus de todo vosso coração e com todo vosso entendimento”
A única coisa que nos difere dos outros animais é aquilo que insistimos em não usar:
A razão.
CRER E PENSAR: Deixe um recado para os leitores do “Crer e Pensar”.
JOÃO ALEXANDRE: Pensem crendo e creiam pensando!!!
Fonte: Crer e Pensar
1 comentários:
Comenta! Elogia! Critica! É tudo para o Reino!
Considere apenas:
(1) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com modos.
(2) A única coisa que eu não aceito é vir com a teologia do “não toque no ungido”, que isto é conversa para vendilhão dormir... Faça como os irmãos de Beréia e vá ver se o que lhe foi dito está na Palavra Deus!
(3)NÃO nos obrigamos a publicar comentários ANÔNIMOS.
(5) NÃO publicamos PALAVRÕES.
“Mais importante que ser evangélico é ser bíblico” - George Knight .
Gostei dessa entrevista.
ResponderExcluirTrabalho com música há anos, e me surpreendo quando vejo um músico como o João.
Músicas harmoniosas, com letras inteligentes, tocantes.
Graças a DEUS ainda existe esperança, pois estou cansado de ouvir as melodias dos anos 70 e 80 cantadas com letras evangélicas.
Copiar coisas do mundo? PQP!!!
Povo sem noção, acho um absurdo quando estou em algum lugar e toca uma música dessa.
Sou um pouco bruto e dá vontade de socar quem faz isso.
Será que DEUS não dá criatividade?
Ele não capacita os escolhidos?
Bahhh... Se não tem inspiração divina, vaza... cante em bares e faça disso sua profissão.
E parem de me encher com estas porcarias.
Abraços