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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

26 de maio de 2010

DÁ VONTADE DE CORRER, DÁ VONTADE DE GRITAR, DÁ VONTADE DE PROTESTAR!



O Culto é uma das mais sublimes formas de o povo de Deus expressar o seu temor e reverência ao Todo-Poderoso. O Culto bíblico é sempre marcado pelo respeito e acatamento. A centralidade do Culto bíblico está em Deus e sua glória. O Deus que é “santo, santo, santo”, (Is 6. 3), Altíssimo (Sl 47. 1) e “tremendo nos seus santuários” (Sl 68. 35), cuja glória é como um fogo consumidor (Ex 24. 16) e diante da qual ninguém pode permanecer (Ex 40. 34; 2 Cr 5. 13 e 14). Percebe-se no Antigo Testamento um sentimento de medo dos adoradores diante do Deus que adoravam. As manifestações visíveis da glória de Deus enchiam o coração do povo de temor e, algumas vezes, de pavor. Eles tinham a exata noção de diante de quem estavam reunidos. “Ai de mim!”, exclamou Isaías, desesperado no templo. Diante da presença de Deus não havia gritos nem gestos espetaculosos, mas espanto e apreensão.

Alguém pode dizer: “Mas nós estamos no tempo da graça, pastor. O véu se rasgou. Hoje nós tempos liberdade para entrar na presença de Deus sem medo”. Estes são argumentos que justificam a desordem que se pratica no culto de hoje.

Estamos debaixo da graça? Sim, não duvido. Mas no tempo da graça não há reverência? No tempo da graça não há temor? Não creio que a graça dispense o temor, a reverência nem mesmo o medo, pois o Deus da graça continua sendo santo, tremendo e Altíssimo. Foi assim que se expressou o escritor da carta aos Hebreus: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12. 28 e 29). Graça e temor não são incompatíveis no culto. Ninguém adora verdadeiramente a Deus, ninguém o serve dignamente sem temor e reverência.

O véu se rasgou? Sim, a Bíblia diz. O véu representava a separação entre o homem e Deus, que foi rompida pelo sacrifício de Cristo. O véu do templo não representava a reverência, como se, ao ser ele rasgado, tal exigência fosse rompida. O véu se rasgou, mas Deus permanece no templo. Não reverenciamos o véu, mas o Deus Todo-Poderoso que se faz presente no culto.

Temos acesso à presença de Deus? Sim, a Bíblia assim garante. Mas ela não garante que podemos entrar na presença de Deus de qualquer maneira. “Tendo, pois, intrepidez para entrar no Santo dos Santos (...) aproximeno-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb 10. 19, 22). Veja que o autor faz referência ao ritual de purificação ao qual o sumo-sacerdote deveria se submeter para entrar no recôndito do Tabernáculo. Hoje nós temos acesso a esse lugar, antes reservado ao sumo-sacerdote, mas a necessidade de temor e reverência não foi retirada. Além disso, não temos acesso por méritos próprios, e sim “pelo sangue de Jesus”. Ou seja, só entramos no santuário de Deus em plena dependência do sacrifício de Jesus. A intrepidez de que fala o autor do livro de Hebreus é confiança nos méritos de Cristo, não um atrevimento irreverente.

Muitas pessoas justificam um culto irreverente nas palavra do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 3. 17: “Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”. A má interpretação deste texto justifica cânticos aberrantes como o que diz: “Quando estou em tua presença, dá vontade de pular, dá vontade de correr, dá vontade de gritar, dá vontade de dançar”. E tome gritos, pulos, danças e histeria. Mas será mesmo que a liberdade de que Paulo falou é esta?

É preciso ser cuidadoso no momento de usar um texto bíblico para justificar alguma prática, afinal, todo texto bíblico está inserido em um contexto que não pode ser ignorado. Paulo quando diz que há liberdade onde o Espírito do Senhor está, não estava falando de culto, nem advogando nenhum tipo de irreverência litúrgica. Ele falava a respeito da liberdade que hoje temos, em Cristo, em relação à morte, ao pecado e ao esforço inútil de obedecer à lei pela nossa capacidade própria. Paulo não pensava em culto quando ele falou a respeito da liberdade que temos no Espírito. Aliás, quando falou a respeito de culto, Paulo não admitiu irreverência, mas exortou a Igreja quanto á necessidade de “decência e ordem” (1 Co 14. 40).

Decência e ordem é o que falta em muitas manifestações de culto na igreja do nosso tempo. O que se observa, muitas vezes, são pessoas irreverentes, pulando, gritando, dançando ao som de músicas histéricas tocadas a níveis insuportáveis de altura. São verdadeiros cultos à liberdade de expressão humana, ao subjetivismo e ao emocionalismo. O critério último é: quanto mais extravagante, melhor. Aliás, quem nunca ouviu falar na tal “adoração extravagante”?

Extravagante significa: “Que anda fora do seu lugar; que se afasta do habitual, do comum, singular, original, estranho, excêntrico”. Extravagante é tudo que não combina com a verdadeira adoração. “Adoração extravagante” é uma absurda contradição, uma tola e irresponsável invenção da cultura gospel.

Quando observo algumas manifestações de culto hoje em dia sinto vontade mesmo de correr, de gritar, de protestar. Não é este o culto que Deus deseja receber. É inadmissível a idéia de um culto a Deus sem temor e respeito. Se quisermos saber como Deus quer ser verdadeiramente adorado precisaremos ir às páginas das Escrituras. Não podemos inventar ou imaginar o jeito que Deus deseja receber honra e glória. Senão partiremos para o bizarro como fez o povo de Deus no episódio do bezerro de ouro (Ex 32). Senão vamos abrir mão do temor achando que Deus é como um de nós. Senão entraremos correndo, gritando, pulando e dançando em um lugar onde não se pode entrar de outro modo, a não ser de joelhos, em silêncio e com o coração cheio do temor que exclame: "Ai de mim!”.

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