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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

28 de julho de 2010

Eu profetizo!

Uma radiografia do desespero profético

"Profetizar é negócio perigoso para os que não são objeto de inspiração". (R. L. Dabney)

O apóstolo Paulo fez uma pergunta aos gálatas: "Quem vos fascinou?" (Gl. 3.1). Fascínio. Essa é uma das armas mais utilizadas na profetomania. O status que os dons carregam é prato cheio para os caçadores de holofotes. É preciso tomar muito cuidado com o fascínio. A pergunta de Paulo precisa ter ressonância urgente hoje.

Os dons – sejam quais forem – são para a "utilidade de todos" (Ef. 4. 11, 12). Quando Paulo escreve aos coríntios acerca dos dons (I Co. 12-14), não é por acaso que o capítulo 13 versa sobre a excelência do amor. O que o apóstolo está enfatizando é um padrão divino: os dons precisam ser exercidos em amor. O círculo paulino é claro: amor, verdade, dons e serviço. O amor produz o serviço; esse serviço vai usar os dons; o dom mais elevado é o ensino da verdade, e a verdade, por sua vez, deve ser dita em amor.

É raro encontrarmos hoje as duas dimensões juntas: a profecia e o amor. Quando essa dicotomia se faz realidade o produto final é sempre destrutivo.


Entre a fala e a vida: a contradição perigosamente tolerada

Quantas vezes você já ouviu a seguinte frase: "Ele prega muito bem, mas a vida não condiz com a pregação, fazer o quê... o povo gosta". O que é terrível é que o "pregador" descrito continua "pregando" e sendo agendado. Tolera-se a contradição em "respeito" aos talentos que ele tem. Atitude, no mínimo, perigosa.

Essa é uma espécie de tolerância inevitável: convivemos com esses profetas da duplicidade não porque os aprovamos, mas simplesmente porque não conseguimos ignorá-los, evitá-los. Em nome de uma "necessidade", assistimos de camarote as peripécias proféticas de indivíduos sem autoridade existencial.

Por causa da falta de um apurado senso crítico (bereano), ouvimos a fala profética e a divorciamos do profeta que fala. Essa quebra gera a raiz das deformações. Abrimos todas as portas de nossa intimidade para palavras soltas sem o embasamento de uma vida. O chamado profético genuíno jamais pode se legitimar no paradoxo que fala da vida sendo uma morte.

Essa contradição é o outro nome da hipocrisia. A palavra "hipócrita", em grego, é sinônimo de ator. O teatro comportamental dos profetas da atualidade é pródigo em multiplicidade. Os profetas da mutação não se cansam de trocar de pele. As muitas faces variam de acordo com o momento, a pessoa (alvo da profetada) e a própria "mensagem" profética. Mascarados e beirando o cinismo, os adeptos da profetomania brincam com as emoções e prestam um perigoso culto ao espelho distorcido das ilusões. Alguém disse que "a ilusão é a mentira que a mágica conta para os olhos".

O clima de decepção com as chamadas "profetadas" gera um desconforto com as grandes promessas de Deus. Se pequenas profecias não se cumprem, os pequenos desapontamentos tendem a crescer. O desespero profético da atualidade conturbada faz nascer o germe da desconfiança e do indiferentismo.

Fernando Pessoa escreveu: "Estou farto de semideuses!". A igreja não precisa de entidades espirituais (des)encarnadas, mas gente de carne e osso no chão da história. Não precisamos de gente se achando divina, mas de uma gente santa, com coragem para assumir que é pecadora. É perigosamente possível que essa confusão profética seja apenas "a ponta do iceberg" de um problema ainda mais grotesco: o abandono das essências.

A inversão teológica é outra marca dessa contradição: os profetas bíblicos profetizavam em nome do Senhor Jeová, os da atualidade já começam com seu próprio egocentrismo traduzido na expressão: "eu profetizo". Eugene Peterson diz que o "eu é a alma sem Deus". Contradição pior é quase impossível: uma alma sem Deus falando em nome de Deus.

Tentar olhar desconfiadamente para o universo profético da igreja é abrir espaço para a artilharia pesada dos clichês ("não toque nos ungidos"; "teólogo só faz polêmica", etc.), e também para o ódio teológico que é sempre crescente em nossos quintais "santos". A mania profética (profetomania), além de chata, é perigosa. Ela alimenta o charlatanismo religioso que compra e vende emoções baratas, além de dar um "toque" divino nas mais bizarras experiências.

Sinceramente, cansei. Não consigo mais conviver passivamente com toda essa divinização duvidosa. É triste ver pessoas entrando e saindo dos templos com expectativas irreais do tipo: "quando é que essa profecia vai se cumprir?", quando sei que na maioria das vezes a frustração vai destruir essa expectativa com uma ferocidade assustadora. Não consigo mais "engolir" profetas sem testemunho de vida, ou profetas sem espelho. Essa coisa toda dá uma enorme dor de cabeça...


 Por Alan Brizotti no Genizah
Postado por Alan orenegado



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