Batistas presos alegam que tentavam salvar 33 crianças do Haiti
Dez americanos que foram presos ao tentar retirar ilegalmente 33 crianças do Haiti negam a acusação de tráfico e alegam que estavam apenas "seguindo os princípios cristãos" e tentando salvar as jovens vítimas, afetadas pelo terremoto de 7 graus ocorrido no último dia 12.
Segundo a BBC, o grupo de dez americanos deverá comparecer a uma corte nesta segunda-feira em Porto Príncipe. Ontem, o secretário de Justiça do Haiti, Amarick Louis, disse que uma comissão decidiria hoje para determinar se os americanos seriam julgados.
Os detidos --que incluem membros da Igreja Batista de Meridian e Twin Falls (Idaho)-- dizem que queriam somente resgatar e auxiliar as crianças "abandonadas e traumatizadas".
"Em meio ao caos no Haiti neste momento, tentamos fazer a coisa certa", disse a porta-voz do grupo, Laura Silsby, na sede policial de Porto Príncipe, para onde os americanos detidos foram levados na sexta-feira (29), ao tentarem ir à República Dominicana com as crianças.
Silsby, 40, admitiu que eles não possuíam documentos haitianos para as crianças, cujos nomes estavam escritos em fitas pregadas nas camisetas. Com idades entre 2 meses e 12 anos, as crianças foram levadas a um orfanato do SOS Children, estabelecido pela Áustria. Segundo o porta-voz George Willeit, elas estavam "com muita fome e muita sede".
Um bebê de 2 meses estava desidratado e teve que ser hospitalizado, segundo ele.
"Uma menina de 8 anos gritava e dizia: 'Eu não sou órfã, eu ainda tenho meus pais'. Ela achava que ia para um acampamento de férias ou algo assim", afirmou Willeit
O SOS Children agora trabalha para devolver as crianças às suas famílias, em um esforço conjunto com o governo do Haiti, da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
De acordo com Willeit, um membro do grupo de religiosos havia passado algum tempo em Porto Príncipe para ganhar a confiança da população, antes que as crianças fossem levadas.
Indignação
O primeiro-ministro do Haiti, Max Bellerive, disse neste domingo que estava "ultrajado" com a tentativa do grupo de traficar as crianças, em um país que tem um longo histórico de interferência estrangeira.
No entanto, supostamente muitos pais no Haiti --o país mais pobre da América, que está em uma situação ainda mais precária depois do tremor, que destruiu grande parte de sua infra-estrutura-- preferem que seus filhos sejam levados para onde possam "viver melhor".
"Alguns pais já deram suas crianças a estrangeiros", disse Adonis Helman, 44, à Associated Press. "Eu estou pensando qual deles escolherei para dar, provavelmente o meu mais novo".
As crianças representam 45% da população haitiana e estão entre os grupos mais vulneráveis dos sobreviventes do terremoto do último dia 12.
Embora não haja um número oficial, a ONG Save The Children estima que haja 1 milhão de crianças órfãs, desacompanhadas ou que perderam ao menos um dos pais no terremoto. Muitas delas agora vagam nas ruas de Porto Príncipe em busca de comida e de algum familiar.
Jean-Claude Legrand, assessor de proteção da infância do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), disse na semana passada que o tráfico de crianças já existia no Haiti antes do terremoto, com vínculos com redes internacionais de adoção ilegal.
Os traficantes, contudo, aproveitam tragédias como o terremoto para roubar crianças que ficaram órfãs ou cujos parentes ainda não foram encontrados.
Tragédia
O terremoto aconteceu às 16h53 do último dia 12 (19h53 no horário de Brasília) e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, que ficou virtualmente devastada. O Palácio Nacional e a maioria dos prédios oficiais desabaram. O mesmo aconteceu na sede da Minustah, missão de paz da ONU, liderada militarmente pelo Brasil.
Ainda não há um dado preciso do total de mortos. O balanço das Nações Unidas divulgado nesta segunda-feira indica um total de 112.250 mortos e outros 194 mil feridos. Já o governo haitiano confirmou neste domingo que o número de mortos no país já atingiu 150 mil somente na região metropolitana de Porto Príncipe.
Entre os brasileiros, 21 morreram, sendo 18 militares e três civis --a brasileira Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, o chefe-adjunto civil da missão da ONU no Haiti, Luiz Carlos da Costa, e uma brasileira com dupla-cidadania europeia que não teve a identidade divulgada a pedido da família.
Fonte: Folha Online/ BBC
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