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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

11 de outubro de 2009

Mais de 60% das crianças e jovens vítimas de exploração sexual já pensaram em suicídio


É o que revela uma pesquisa inédita sobre o perfil de meninos e meninas explorados que estão em instituição de atendimento.


Os dados foram encomendados pela World Childhood Foundation (WCF) no Brasil, entidade internacional que trabalha no combate à exploração sexual. Foram ouvidas 66 meninas e 3 meninos entre 10 e 19 anos de oito Estados (Pará, Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul), que foram vítimas de exploração sexual e hoje são atendidas por instituições especializadas.

"O índice de crianças e jovens que já pensaram em suicídio nos chamou muito a atenção. É muito grave. Ele reforça a existência de uma situação de exploração e abuso, que provoca angústia e o sentimento de 'falta de sentido para viver', por isso precisa ser aprofundado", disse a coordenadora de programas da Childhood, Anna Flora Werneck.

Segundo ela, pesquisas anteriores apontaram que 6% dos jovens em situação de risco no Brasil apresentavam esse comportamento. O percentual obtido neste levantamento é, portanto, dez vezes maior.

O relatório mostra ainda que o abuso leva também a outras situações traumáticas, como a gravidez indesejada, o aborto e o abandono dos filhos. Três em cada dez meninas vítimas de exploração sexual já ficaram grávidas pelo menos uma vez na vida, sendo que 17% delas perderam os filhos por abortos naturais (6%) ou provocados (11%). Das que levaram a gravidez adiante, apenas 5,8% vivem com seus filhos hoje.

Violência sexual e consumo
Outro dado que chama a atenção é o de que muitas das vítimas não estão em situação de miséria a ponto de trocar sexo por comida. A pesquisa aponta uma clara relação entre a manutenção da exploração e o benefício econômico declarado pelas vítimas.

Dos entrevistados, 40% dizem que usam o dinheiro recebido no abuso para autossustento, mas 65% relatam que gastam comprando objetos pessoais, como celulares e roupas de marca.

"Não podemos generalizar, mas constatamos histórias de vida semelhantes em todos os Estados. Temos que questionar que sociedade de consumo é essa que leva a esse tipo de comportamento, que leva as crianças a venderem o corpo para conseguir esse dinheiro", avaliou Werneck.

Para 30% das vítimas, o dinheiro obtido com o sexo é usado para comprar drogas, especialmente álcool (88%) e cigarro (63%) -- substâncias lícitas no Brasil, mas proibidas para menores de 18 anos. Maconha (32%), inalantes (32%), como loló e cola, e remédios (23%) também aparecem como as drogas mais procuradas por crianças e jovens.

Diante da "fissura" por consumir droga, 42% das vítimas disseram que "transam" ou fizeram sexo oral para conseguir dinheiro, ressalta Werneck.

De acordo com o relatório, o valor médio recebido pelas relações é de R$ 37, mas varia entre R$ 10 e R$ 150. O pagamento acontece na forma de dinheiro em 82% dos casos, mas ele também pode ser feito na forma de presentes (26%) ou favores (14%).

Vale ressaltar que, além da relação sexual, a violência contra crianças e adolescentes acontece mais comumente na forma de conversas sobre sexo (74,2%), manipulação de partes íntimas do corpo da criança/adolescente (50,7%) e pedidos para ser tocado (43,1%).

Família desestruturada
A coordenadora ressalta que a falta de uma família estruturada, onde é evidente a ausência da figura do pai, e o abandono da escola estão entre os principais fatores para que as vítimas continuem sendo exploradas sexualmente.

Mais de 88% dos entrevistados moram com a família, apesar de frequentarem as instituições e mesmo tendo relatado história de abuso dentro da família ou envolvimento dos parentes na manutenção da situação de exploração. Mas 20% não moram com a mãe e mais de 70% não moram com o pai.

De acordo com o relatório, nota-se em geral uma família abusadora e conivente, mas que não recebe nenhum tipo de assistência.

"Quanto mais cedo as crianças começam a ter uma vida sexual, e em grande parte das vezes isso acontece em forma de abuso sexual, mais chances elas têm de permanecer na situação de exploração. Então, a escola tem papel fundamental. Quem se manteve na escola conseguiu sair da situação de exploração mais rapidamente. Ou seja, é preciso investir nisso", disse Werneck.

"Além disso, percebemos também que as instituições especializadas tem falhado e não conseguem atuar sozinhas. É preciso atuar em rede, com as escolas e os postos de saúde, por exemplo, e envolver a família", completou.

Outro dado que a pesquisa destaca é o alto percentual de abuso cometido por colegas, amigos da família e namorados, que normalmente acontece em motéis (45,7%), em casa (24,4%), na rua (20,5%), em bar ou bordel (17,8%) e também em posto de combustível (10,9%).

Mais da metade das meninas acaba em situação de exploração sexual por influência de amigas (52%) ou de cafetões (38%).

Fonte: UOL

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